Crítica
cinematográfica do filme Sete Anos no Tibete, escrita pelo jornalista José
Roberto de Almeida. “Brad Pitt ainda vai fazer 53 anos. O ator nasceu no dia 18
de dezembro de 1963. Ainda é um galã e casado com uma das mulheres mais bonitas
do mundo, a atriz Angelina Jolie (1975- ). Mesmo ricos, bonitos e
famosos, têm participado de ações humanitárias em diversos lugares do mundo. O
casal tem seis filhos, três deles adotados. Antes de trabalhar em Sete Anos
no Tibete, o filme que iremos comentar, Brad Pitt já era um ator
reconhecido e prestigiado na América e em todo o Ocidente. Atraídos Pelo
Perigo, O Príncipe da Sombra, Thelma & Louise, Entrevista com o Vampiro e
Lendas da Paixão, foram realizados antes do longa do francês Jean-Jacques
Annaud (1943- ). O diretor Annaud não tem tantos filmes conhecidos
no currículo quanto o ator. Mas pelo menos três de suas obras, além de Sete
Anos no Tibete, tiveram boa aceitação da crítica e do público: O Amante,
O Urso e principalmente O Nome da Rosa, baseado no livro de Umberto
Eco. Sete Anos no Tibete também é baseado num livro. O autor, Heinrich
Harrer, conta sua grande aventura de alpinista que termina preso na segunda
guerra mundial, foge e vai parar no Tibete, país localizado na Ásia Central,
num dos pontos mais altos do planeta. Por conta das questões políticas, o filme
de Jean-Jacques Annaud (1943- ) não pôde ser filmado na China. Muitas
das locações foram feitas na Cordilheira dos Andes, nas proximidades da
Argentina. O visual do longa é extraordinário. São mais de duas horas de
cenários deslumbrantes, exóticos, de rara beleza mesmo. Só este aspecto do
filme já confere ao mesmo um charme especial. E a sensibilidade do diretor, o
olhar da câmera sobre a natureza fazem de Sete Anos no Tibete um produto de arte.
Terminamos por fazer uma viagem cultural e espiritual ao assistir essa produção
americana (embora o diretor seja francês). Heinrich Harrer (Brad Pitt) é o mais
famoso alpinista austríaco. É um sujeito convencido, egocêntrico que coloca em
primeiro lugar as suas façanhas, ao ponto de deixar em segundo plano a vida
familiar, a esposa, o filho que vai nascer. Sua mulher está grávida, porém seu
interesse é escalar o Nanga Parbat, um dos lugares mais altos do mundo,
na região do Himalaia. Onze pessoas de quatro equipes alemães diferentes já
tinham tentado chegar a este alto e falharam, morreram durante a missão. Harrer
transformou essa conquista em obsessão e estava disposto a tudo para escalar o
Nanga Parbat. A aventura de Heinrich tem início quando a Alemanha tentava
realizar o sonho maluco de Adolf Hitler (1889-1945) de dominar o mundo; começava o Terceiro Reich em 1933. A
Áustria, país de origem do alpinista, já estava sob o domínio dos nazistas. A
escalada do austríaco e sua equipe não é bem sucedida e Harrer com seus amigos
terminam por ser presos pelos ingleses, então já em guerra com a Alemanha. O
personagem, teimoso ao ponto de arriscar a vida usando de toda sua arrogância
contra os soldados britânicos, tenta mais de uma vez fugir de sua prisão.
São sempre tentativas individuais que não dão em nada. Quando prisioneiros se
organizam coletivamente para a fuga e Henrich depois de ironizar com o plano
deles decide ir junto, o alpinista consegue se livrar da prisão. Alguns morrem,
outros adoecem e voltam para o campo, mas o alpinista e seu colega Peter
Aufschnaiter, David Thewlis (1963- ) conseguem sobreviver. Depois
de muitos sustos e sofrimentos chegam a Lhassa, a cidade sagrada do
Tibete. Neste local os moradores vivem em clima de completa espiritualidade.
Respeitam a natureza e cada ser vivo do planeta. A tal ponto que ao
empreenderam a construção de um cinema, para atender ao desejo de sua Santidade
o Dalai Lama, que era um garoto à época, e atualmente seu nome é Tenzin Gyatso
(1935- ), os homens se recusam a trabalhar porque as minhocas
corriam o risco de morrer. Harrer, que dirigia os trabalhos atendendo um pedido
do líder espiritual, precisa encontrar um jeito de prosseguir sem que os
pequenos seres vivos sejam sacrificados. Enquanto o alpinista passa pelas suas
desventuras sua esposa dá a luz, pede o divórcio e casa novamente, por sinal
com um dos seus amigos dos tempos da Áustria. Nosso “herói” sofre o baque,
posteriormente começa a escrever cartas para o filho pequeno, até que recebe
uma resposta: “Você não é meu pai, pare de me escrever”. Ao tempo em que
Heinrich Harrer tenta escalar, falha, é preso e passa “sete anos no Tibete”, o
mundo passa por profundas transformações. Hitler, inicialmente vitorioso ao se
apossar de vários países, como a Tchecoslováquia, Áustria, Polônia, França
(...) termina por não resistir à grande aliança comandada pelos americanos,
russos e ingleses. A guerra está para terminar, com a derrota do nazismo,
e na China Mao Tse Tung (1893- 1976) chega ao poder com os
comunistas. Os novos dirigentes chineses são frios e materialistas. Um momento
muito forte do filme é quando generais do regime de Mao visitam a cidade
sagrada de Lhassa, desrespeitam todas as crenças e costumes, um deles soltando
esta pérola: “Religião é veneno”. Uma leitura incompleta de Karl Marx
(1818-1883), no local e na hora errada. A religião pode ser mesmo um ópio e
servir para anestesiar o povo. Muito se usa o nome de Deus para explorar e até
matar. Existem porém doutrinas, filosofias, correntes espirituais que buscam
sinceramente a harmonia com o Universo e a sintonia com o Divino. Os tibetanos
podiam ser primitivos ou inocentes, naquele momento histórico, mas eram puros e
humanos, se comparados aos brutais chineses. Será que matar pessoas indefesas,
praticar massacres, pisar seres humanos como se fossem formigas não é um veneno
muito mais perigoso do que a religião? O Dalai Lama à época em que Heinrich
estava no Tibete era quase um garoto. Mesmo assim passou ao austríaco muita
sabedoria, como também aprendeu muitas coisas com este. Os chineses mataram
mais de 1 milhão de tibetanos para “exterminar o veneno”. Ainda hoje o Dalai
Lama, Tenzin Gyatso (desde 1959, na Índia) e muitos seguidores estão no exílio.
Heinrich voltou para casa na Áustria. Não reconquistou a esposa, que estava bem
casada com seu amigo, porém conseguiu se reconciliar com o filho. Já no final,
aparecem pai e filho fazendo alpinismo. Sete Anos no Tibete é como um
tesouro. Tem beleza, história, política, cultura e uma grande lição de
vida. Brad Pitt e Peter Aufschnaiter, os dois atores que viveram os personagens
principais do longa e se identificaram com a população do Tibete; até hoje são
proibidos de entrar na China”. Passo a fazer algumas observações. Algumas cenas
da filmagem são belíssimas, só isso, é suficiente para assistir a película. Em
Viena, Áustria, a despedida de Heinrich da esposa grávida, mostra sua obsessão
pelo objetivo de alcançar o topo da montanha. Um propósito perseguido pelo
Fuhrer através da organização de três expedições, mas sem sucesso. Ela tenta dissuadi-lo
dessa meta, mostrando a necessidade do filho tê-lo nos primeiros anos de vida,
mas sua decisão fora antecipadamente tomada. Quase chegando no topo da
montanha, escorrega num paredão de gelo quebrando a perna, e uma geada destrói
o acampamento onde estavam. Vários companheiros morrem, e os sobreviventes são
capturados pelo exército inglês estacionado na fronteira da Índia com o Tibete.
Após fugir da prisão, depois de várias tentativas, Heinrich e Aufschnaiter têm
uma convivência difícil, e numa discussão separam-se, principalmente, devido a
soberba e egoísmo de Heinrich, mas logo esse procura o companheiro arrependido,
e ambos prosseguem a viagem rumo a Lhasa, capital do Tibete. Num dos confrontos com os
transeuntes, peregrinos, que circulam na tríplice fronteira entre Índia, China
e Tibete, recebe de um deles o retrato de sua Santidade o Dalai Lama, segundo
dito, para dar sorte na jornada que empreenderiam. Quando faziam a fundação
para a construção do cinema, pedido por sua Santidade, um tibetano rejeita
matar a minhoca dizendo a Heinrich, que ela possivelmente poderia ser sua mãe
em encarnações passadas. Assim, numa conversar com o Dalai Lama, ele explica
que o Budismo Tibetano principia por não ofender (matar, machucar) nenhum ser,
desde os considerados insignificantes pelos ocidentais aos mais importantes. O
jovem Dalai, em sonho, prevê a invasão chinesa à sua pátria, começando de sua
cidade natal. Heinrich atrapalhasse ao ser levado à encontrar-se pela primeira
vez com o jovem Dalai em sua (palácio) residente mosteiro, quando honrando sua
santidade encurvando-se ao chão por três vezes. Torna-se amigo do jovem Dalai
Lama, indo a sua casa para dar-lhe aulas sobre variados assuntos como:
geografia, cinema, condutor de automóvel e outras. Heinrich celebra o natal
cristão em Lhasa com convidados tibetanos. Conta sua história para sua
santidade, que o encoraja a voltar para Viena, rever seu filho. A esperança
voltou depois dessas palavras motivadoras. Concede ao seu amigo Aufschnaiter um
relógio mont blanc como recordação de sua amizade no dia da natividade.
Interessante a entronização do jovem Dalai Lama, Tenzin Gyatso, no palácio
real, sendo considerado a 14ª reencarnação do (Budha) bodhissatva da compaixão.
As palavras ditas nessa cerimônia religiosa são de grande sabedoria, mostrando
o compromisso de sua Santidade com seu povo, sua religião (Budismo Tibetano) e
o entendimento da fraternidade humana num pacifismo universal. A audiência
concedida por sua Santidade aos generais chineses, que se apossaram, a força,
do território tibetano, mostra o orgulho e soberba dos militares. Diante do
jovem Dalai não disseram uma única palavra, saíram menosprezando o povo e
ridicularizando sua religião. Pouco antes de retornar a Viena, Heinrich,
encontrasse com seu amigo Aufschnaiter em sua casa em Lhasa, agora casado;
conversam, tomam chá, sendo-lhe oferecida mais uma xícara, ao que recusa, mas
Aufschnaiter diz-lhe que àquela, será guardada, para que ele regresse
novamente. Sua esposa anteriormente num diálogo diz a Heinrich que os tibetanos
não entendem o esforço dos ocidentais em serem famosos, alcançado prestígio e
glórias terrenais. Isso acontece quando ele, mostra a ela, seus feitos
memoráveis nas Olimpíadas esportivas alemãs. Ela diz-lhe que os tibetanos
procuram viver de maneira simples, esforçando-se pelo desapego material e
prazeres mundanos. Vivendo uma religiosidade e espiritualidade vinculada ao
cotidiano. Heinrich recebe de sua Santidade uma caixa de música, que chegando
em Viena, anos após o final da 2ª Guerra, oferece à seu filho. O filme termina
com pai e filho no topo de uma montanha gelada, reatando assim a amizade
filial, lembrando, que Heinrich escreverá várias cartas a ele, e em uma delas
ele disse para desconsiderá-lo como seu filho. Passasse a impressão nessa
última cena que o filho perdoou o pai e o pai perdoou o filho, assim, retomando
a harmonia entre ambos. Abraço. Davi.
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