sexta-feira, 27 de março de 2015

A Tragédia do Avião A320 da Germanwings.



O desastre com o avião A320 da Airbus da Germanwings também nos comoveu aqui no Brasil. As circunstâncias em que se deu o acidente, após as conclusões dos peritos investigadores, deixa-nos mais consternados com esse suposto suicídio, seguido de crime coletivo. Pessoas de várias nacionalidades como alemão, espanhol, francês, australiano, americano, argentino, marroquino, cazaque, mexicano, israelense, japonês, holandês, dinamarquês, colombiano e belga estão incluídas dentre as vítimas. O brasileiro Rafael Rebello morando em Barcelona, tinha passagem comprada para esse voo, mas um inesperado telefonema de sua mãe do Brasil, em (23/03) véspera do acidente, dizendo que estava chegando para comemorar seu aniversário com ele, o impediu de embarcar. Um presente, e ao mesmo tempo um milagre, que ele recebeu vindo de sua mãe. Alguns dos vitimados passavam férias, outros foram assistir à partida de futebol entre o Real Madrid e o Barcelona. Uns estavam a negócios; um grupo de adolescentes fazia intercâmbio cultural; outros participavam de festival de moda e feira de gastronomia, alguns estavam em turnê pela Europa dentre outras atividade. Inacreditável imaginar, que o copiloto foi capaz de mudar o roteiro de bordo do avião, alterando-o à uma descida brusca de 10 mil metros à 30 metros; fazendo a aeronave despencar, chocando-se nos Alpes Franceses.    Segue transcrição da notícia tirada do site www.correioweb.com.br, (26/03/15). “O copiloto alemão Andreas Lubitz, que hipoteticamente jogou o Airbus da Germanwings contra os Alpes Franceses, foi afastado do trabalho em 2009 por sofrer com depressão. A informação foi dada por amigos ao jornal The Guardian. As investigações sobre a tragédia indicam que Lubitz teria derrubado o avião deliberadamente conforme revela o áudio da caixa preta. Em declarações ao periódico alemão Bild, amigos informaram que o sonho de Lubitz era ser piloto e planejava casar no ano que vem. Segundo Carsten Spohr, CEO da Lufthansa, Andreas tinha 630 horas de voo e era um funcionário tranquilo e exemplar. Ainda de acordo com o Spohr, o copiloto passou por todos os testes psicológicos e técnicos feitos pela empresa e estava 100% apto para o voo. Os investigadores alemães revistaram nesta quinta-feira (26/03) as duas residências do copiloto alemão que supostamente jogou o Airbus da Germanwings contra as montanhas dos Alpes Franceses, anunciou o Ministério Público em Dusseldorf - Alemanha. As revistas dizem respeito ao apartamento do copiloto e também em Montabaur, onde ele vivia na casa dos pais, informou o procurador Ralf Herrenbruck. O copiloto, sozinho na cabine, acionou deliberadamente o mecanismo de descida do Airbus A320 da Germanwings, segundo Rice Robin, promotor público de Marselha – França. A provável intenção de Lubitz era destruir o avião, afirmou Robin, que coordena a investigação da tragédia aérea que deixou 150 pessoas mortas. Segundo o promotor francês Brice Robin, o copiloto estava aparentemente bem e não parecia ter sofrido algum problema de saúde. Durante os dez minutos finais do voo, ele não abriu a porta e não emitiu nenhuma palavra. O áudio indica que o piloto, do lado de fora da cabine, bateu na porta repetidas vezes. Os gritos dos passageiros só são ouvidos nos instantes finais da gravação, recuperada junto à caixa preta da aeronave”. Começo meus comentários sobre essa “fatalidade”, citando a frase da mexicana Daniela Ayon Razo, 36 anos, uma das 150 vítimas da queda do avião da Germanwings. Daniela era instrutora de yoga originária da cidade de Tampico no México, vivendo em Barcelona na Espanha a 11 anos. Segundo seus familiares seu lema de vida era, “estamos aqui de passagem, viemos apenas de férias. É preciso viver a vida ao máximo e sempre deixar pegadas”. Daniela é mostrada em uma foto, na posição tradicional da yoga, meditando, encostada num poste de iluminação, numa movimentada estrada, provavelmente, no centro de Barcelona. Destacarei as proposições desse silogismo, sugerido pela Daniela para tentarmos compreender o mistério da vida. Primeiro. Estamos aqui de passagem. Temos estudado atualmente o budismo tibetano, e percebido que o conceito de vida é extremamente abrangente, perpassando o micro e macro cosmo (humano e o universo). O começo da vida é quase, impalpável e indefinível. Certeza temos, que num momento do tempo, nascemos e continuamos prosseguindo nascendo. O ensino budista concebe, penso, a existência a partir da faísca luminosa (Atma) que incidi sobre um fragmento de rocha, ou um minúsculo grão de poeira num dos determinados planetas de nosso sistema solar. Tento simplificar, ao máximo, esse conceito profundo e misterioso, para que tenhamos uma visão ao menos, plausível de ser alcançada pela nossa lógica humana. Não sabemos quando aconteceu nosso germinar da existência, mas podemos compreender que foi nesse primórdio da consciência latente e propulsora; que dando iniciou ao coptar da interação dos cristais minerais, desencadeou o princípio do eletromagnetismo da consciência, que evoluiria por milhares de nascimentos, mortes e renascimentos. O estarmos aqui de “passagem” singulariza, a decadência e elevação do Ser, nos vários estágios pelo qual deve passar (mineral, vegetal, animal e humano) para evoluindo, alcançar a completude com a Consciência Universal. A “passagem” mostra que estamos presos a um sistema de nascimento e morte chamado no budismo de Samsara, gerando sofrimento, angústia e aflição. Tudo isso, é proveniente do nosso carma, gerado pelos vícios e pecados que cometemos em nossa encarnação atual. Budha Sakyamuni nos ensina que podemos reduzir ou acabar com esse estado de dor e “morte”, trilhando o caminho da liberação, que possibilitará sairmos desse ciclo do Samsara. Segundo. Viemos apenas de férias. Aqui parece que podemos fazer a distinção entre vida e existência. A vida está circunscrita ao tempo e espaço. O limite físico e psicológico do Ser enquanto consciência presente, na finitude do agora. Entretanto, como nosso conceito de vida, recebido do cristianismo, introduziu a eternidade fora do Ser, tendemos a admitir que apenas com a morte, entramos na perpetuidade. O texto sagrado de Eclesiastes 3:11 é categórico: “Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também colocou no coração do homem o desejo profundo pela eternidade; contudo, o Ser humano não consegue perceber completamente o que Deus realizou”,  mesmo assim, não é profundamente examinado, ficando na literalidade dogmática colocando a eternidade como conquista da fé cega, não reconhecendo que a possuímos desde os primórdios da nossa origem como Ser. Platão (428 AC 347) no diálogo Timeu postulou que a matéria é indestrutível, pois têm o elemento divino do Logos Eterno. A existência do Ser está ligada as várias “estações” pelas quais ele passará em seu percurso evolutivo. O humano, sabemos, é o aspecto mais elevado do Ser, com uma consciência bastante evoluída em relação ao reino inferior, e podendo fazer transferência de energia eletromagnética com os demais seres do reino inferior: animal, vegetal e mineral, influenciando-os, transformando-os e inter relacionando-se com eles. Em cada fase da existência, podemos inferir a palavra “férias”, da Daniela, pois como disse Heráclito de Éfeso (535 AC 475), “tudo flui e nada persiste nem permanece o mesmo”. Assim, desde um mineral, até nosso período humano, estamos numa aprendizagem existencial até atingirmos uma consciência superior transcendente. Terceiro. É preciso viver a vida ao máximo. Evidentemente nosso estágio atual, é o mais importante da existência renascida, entretanto, não sabemos quantos nascimento tivemos como humanos, e nem quantos ainda teremos. Mas precisamos desfrutá-lo ao máximo, reconhecendo que é a oportunidade que temos para quitar nossas dívidas cármicas negativas do passado, realizando atos virtuosos para tal, bem como, praticando a fraternidade, voluntariado, compaixão e altruísmo, acumularmos carmas positivos, para vivermos a próxima vida. Esse fato, segundo o budismo tibetano, proporciona aos novos renascidos, surgirem no reino superior (humano) do ciclo evolutivo. Do contrário, regredimos, involuíndo ao reino inferior (mineral, animal ou vegetal), renascendo num desses estágios, para novamente passarmos pela aprendizagem evolutiva da existência, que não alcançamos na fase anterior. Esse fato pode ser comprovado nos evangelhos, de maneira esotérica, aquilo que o Mestre Jesus chamou de os mistérios do reino de Deus. Uma linguagem codifica por "sinais", apenas revelada aos iniciados na sabedoria divina ocultas. Assim, três textos dos evangelhos sinópticos, penso, concebem a ideia, de que nascemos também nos reinos inferiores quando de nossa evolução espiritual. Como minerais, suponho a referência de Mateus 3:8,9 dita por Jesus. "Produzi frutos dignos de arrependimento (...). Abraão é nosso pai! Pois eu vos asseguro que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos à Abraão. O outro trecho bíblico está em Marcos 9:24 em alusão, imagino, a termos sido um vegetal, em nascimentos passados. Jesus perguntou a um cego, que estava sendo curado o que ele via, e ele responde: "E, levantando os olhos, disse: estou vendo os homens, porque como árvores os vejo andando". Em relação a termos sido um animal, trago como conjectura, o exemplo bem conhecido da mulher grego fenícia, que foi a Jesus pedindo-lhe que expulsasse o demônio de sua filha. Marcos 7:27,28 "Mas Jesus lhe explicou: Deixa primeiro que os filhos se alimentem até (...). Ela, porém, replicou: Sim, Senhor, mas até os cães de estimação, comem das migalhas que caem das mesas de seus donos".   Quarto. Sempre deixar pegadas. Budha, o Sakyamuni, deixou literalmente milhares de pegadas pelo mundo, dizem os budistas que são autênticas. De acordo com a lenda, a primeira pegada de Budha está no Pico de Adão, no Sri Lanka, uma marca que os hindus atribuem ao deus Shiva e os muçulmanos e cristãos, a Adão. Em toda a Ásia, existem mais de 3 mil pegadas de Budha, recepção por genuínas e réplicas dos próprios fiéis, principalmente na Índia, Sri Lanka, China, Tailândia e Mianmar. As pegadas deixadas por Budha na Tailândia e em outros locais da Ásia durante seus périplos (viagens) são locais de peregrinação para milhões de budistas em busca de amor, saúde e boa sorte. A maior parte dos budistas, ao visitarem esses locais, fazem pequenos pedidos relacionados à saúde, ao amor e, principalmente, com a fortuna (sustento humano), mas raramente pedem milagres, já que consideram que suas doenças e grandes problemas se devem ao carma, ou seja, as consequências de seus atos nesta vida e nas passadas. Na Tailândia, uma dessas enormes marcas de pés está no alto do monte Prabad, um remoto pico situado em um belíssimo parque natural da província de Chanthaburi, a 260 quilômetros ao sudeste de Bang Koc. Um monge tailandês diz “sabemos que são pegadas autênticas de Budha por meio da meditação, para quem não é budista e não pratica a meditação é difícil de acreditar. Ele prossegue: graças à meditação, Budha tinha a capacidade de mudar de tamanho, por isso a pegada é tão grande”, afirma. Daniela, pode ter imaginado esse cenário das pegadas do Budha pelo mundo, para citar essa frase, mas subjetivamente, conceituando de forma ampliada essas “pegadas” podemos dizer que são os atos de justiça dos santos. Santos aqui são todos aqueles que praticam a justiça, paz, harmonia e compreensão entre os povos e religiões. O trecho bíblico de Apocalipse 19:8, “Para vestir-se, foi lhe providenciado linho fino resplandecente. O linho fino representa os atos de justiça dos santos”, exemplifica bem esse raciocínio. As “pegadas” são também as boas lembranças que deixamos, nossa marca de filantropo; um coração prestativo e caridoso, nossa preocupação com todos os seres que respiram e evoluem nessa atual encarnação, a valorização da Senda Espiritual que trilhamos. Procurando interagir com todos os reinos, preservando sua existência e aumentando seu potencial de reprodução e evolução. Simone de Beauvoir (1908-1986) diz: “Não há uma pegada do meu caminho que não passe pelo caminho do outro”. Daniela, e todos esses queridos  que partiram, inclusive as criancinhas de colo e os adolescentes, deixaram suas marcas, aja vista, a história de cada um, perpassando o passado, presente e os futuros renascimentos. Mas a dor, o sofrimento e a profunda angústia da separação, mesmo que temporária, é incompreensível à lógica e abstração humana. Um abraço, afetuoso e demorado, à todas as famílias dessas pessoas tão amadas. Davi.

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