terça-feira, 30 de maio de 2017

O EVANGELHO DE JUDAS.

Cristianismo – O EVANGELHO DE JUDAS  – “O Melhor Amigo de Cristo”. UM DOCUMENTO ENCONTRADO no Egito leva o traidor de Jesus ao papel de mocinho da história cristã. Um episódio obscuro do Novo Testamento coloca a fé em xeque e desafia muitas crenças, pela inversão de papel que sugere. E se Judas, em vez de traidor, tenha sido na verdade o braço direito de Jesus, aquele em quem o Messias mais confiou? Bem, essa versão tem 50% de chances de ser a verdadeira, especialmente depois que um grupo de pesquisadores encabeçou a missão de desvendar um documento antigo que veio à luz em 1978. Pelo menos, é esse o ano da história mais provável sobre o aparecimento do que seria o Evangelho de Judas, considerado apócrifo (obra religiosa destituída de autoridade canônica – não inspirada – mantida na clandestinidade). Tudo inicia quando um fazendeiro entra em uma caverna, em busca de um tesouro muito comentado, mas se depara com alguns ossos, o que já seria suficiente para desistir da busca. No meio dos ossos, uma caixa feita de pedra chama atenção e, dentro dela, há um livro com capa de couro que, 22 anos depois, mudaria parte crucial da história de Jesus. O fazendeiro, sem ter ideia do valor histórico do documento, acabou vendendo a peça em um mercado de antiguidades, onde uma compradora muito interessada afirmava estar representando um magnata. Isso porque, agora nas mãos do vendedor, o livro estava muito bem guardado em sua própria casa, o que fez com que a mulher inventasse a história – assim, poderia ver o artigo, e alegar que não o compraria por ser uma representante. Contudo horas depois, a mulher invade o apartamento e furta o tesouro, completando o que seria a hipótese mais aceita entre os estudiosos para que o livro chegasse ao conhecimento dos cientistas e do público. Em 1983, agora com base em depoimentos, a história ganhou veracidade quando o negociante recupera os papiros e entra em contato com três estudiosos, para que o material seja avaliado. Contudo, a quantia requerida pelo comerciante é exorbitante e, sem terem a certeza do que realmente se tratava os manuscritos, os pesquisadores europeus não querem arriscar entregar o montante nas mãos do vendedor. E ainda se quisessem, o valor oferecido pelos três representantes de diferentes universidades, mesmo que somado, não satisfaria o mercador. Tudo muda quando, desiludido, o vendedor vai para Nova Iorque – Estados Unidos e decide guardar o livro no cofre de um banco, onde o documento fica por 16 anos, o que seria péssimo para a “saúde” do que se descobriria mais tarde ser uma preciosidade. PESQUISA AVANÇADA – A COLECIONADORA FRIEDA NUSSBERGER-TCHACO estava a caminho do aeroporto quando recebeu um telefonema que mudaria sua vida. Stephen Emmel, do Instituto de Coptologia e Egiptologia da Universidade de Munster – Alemanha, acabara de constatar que o livro, depois de tantas viagens era o Evangelho de Judas, e fez questão de ligar para a colecionadora para dar a notícia. Frieda foi quem, em 1999, resolveu comprar o documento abandonado no cofre, agora ainda mais deteriorado pelo tempo, o que reduziria o preço pedido pelo negociante. Até porque, como já estava desesperançoso de conseguir alguma vantagem financeira no material, não estava em condições de exigir muito. Depois de entrar em contato com o mercador que foi ao seu encontro em Nova Iorque para negociar a peça. Frieda tornou-se proprietária dos manuscritos e decidiu colocá-lo em mãos seguras, no caso, nas mãos de uma equipe suíça. A primeira frase decifrada nos papiros dá a grande evidência: “O Evangelho de Judas” aparece nas traduções dos especialistas. Stephen Emmel foi convidado a analisar a coleção e relatou que “eram três manuscritos diferentes, dois em grego e um em cóptico (língua camito-semítica, originário do antigo Egito, escrita com caracteres derivado do grego, restringindo-se hoje ao uso litúrgico). Agora restava a dúvida como saber se o documento era mesmo original? Para isso era preciso analisar se datava dos primeiros séculos, e uma equipe preparada poderia revelar. Em momentos como esses, deve-se agradecer à tecnologia. Na Universidade do Arizona – Estados Unidos, os fragmentos do livro foram queimados e analisados por meio de uma máquina de datação por rádio carbono. Em menos de 15 horas, chegou-se ao resultado que revelou que os papiros, datavam do ano 280 DC, com uma margem de erro de 50 anos para mais ou para menos. Enquanto isso, na Suíça, o material terminava de ser restaurado e o veredicto estava dado o livro com o título Evangelho de Judas era um legítimo documento do mundo antigo. Para provar que o texto era autêntico, a fundação Maecenas – Suíça, reuniu uma equipe de detetives bíblicos, incluindo Stephen. Mesmo antes da conclusão, ele já acreditava que o documento era autêntico, pelo fato de que suas características, mesmo antes de ser examinado profundamente, coincidiam com as de outros documentos da mesma época. A grande dúvida era como os papiros foram parar no Egito. Acredita-se que, primeiramente, foi escrito em grego, e mais tarde fora traduzido para o cóptico. Um dos argumentos mais fortes para que levassem a investigação adiante foi a semelhança do Evangelho de Judas com a Biblioteca de Nag Hammadi, uma coleção de textos gnósticos, descoberta no Alto Egito por um camponês em 1945. CRISTÃOS VERSOS GNÓSTICOS – SEM A DELAÇÃO DE JUDAS, a crucificação poderia não ter acontecido, nos conta a Bíblia que conhecemos hoje. Mas o livro sagrado não nos fala que Judas pode ter nascido na Judeia, e não na Galileia, com os outros apóstolos. Ele também pode ter sido o mais confiável dos apóstolos. A fama de mau paparece em 18 passagens bíblicas, e ele é assim pintado por ter sido uma vergonha, um vilão influenciado pelo diabo. O que de tudo isso realmente foi verdade? Em 180 DC, bispo Irineu de Lyon (130-202) escreveu um ataque sobre o Evangelho de Judas, depois de se indignar com uma passagem sugestiva, em que Judas, na verdade, não entregou Jesus a troco de algumas moedas (30 de prata), mas sim por estar seguindo ordens de seu mestre. Nos 100 primeiros anos (século I) depois de Cristo, Jerusalém, dividida ente judeus e cristãos. O cristianismo começava a levar vantagem, a Bíblia não existia e os escritos começaram a ser desenvolvidos cerca de 60 anos depois da morte de Jesus. Ou seja, se ele realmente foi crucificado, aos 33 anos, a Bíblia passou a ser organizada a partir do ano 93 DC. As histórias começaram a ser passadas de boca a boca e os evangelhos eram mais de 30. Isso sem falar que os cristãos não professavam a fé de maneira heterogênea, e a existência de cristãos gnósticos explica porque Judas Iscariotes pode perfeitamente ter seguido ordens de Jesus ao entrega-lo para os romanos. Os gnósticos tinham um quê de misticismo, acreditavam que Deus era algo intrínseco, que vivia dentro de cada um. Ou seja, cada pessoa teria dentro de si algo de divino. Achavam que o corpo era uma prisão e por esse motivo a morte não era vista como algo negativo. Uma passagem do Evangelho de Judas dá pistas de como a gnose pode estar inserida no contexto. Ela diz que Jesus “uma vez estava sentado com seus discípulos da Judeia. Quando se aproximou dos discípulos, que estavam rezando em agradecimento pelo pão. Ele nu”. Os apóstolos estranham o riso, e Jesus justifica que é pelo fato de que seus seguidores agradecem ao Deus que criou a Terra, quando para os gnósticos existia outro Deus, o Deus dentro de cada um. Então, Jesus pede: “deixe a pessoa perfeita dentro de vocês dar um passo à frente e me encarar”. Apenas Judas se levanta. O apóstolo conhecido pela traição já havia tido uma visão sobre o destino de Jesus Cristo na cruz e o mestre decide explicar sua missão, dizendo ao seguidor que ele, Iscariotes, tem o poder de realiza-la. Mas, ao contrário dos demais evangelhos, no livro de Judas não há a cena da crucificação, e se encerra com o que os demais apóstolos descreveram como traição.Com a comissão da morte e da ressurreição, é criado um embate entre gnósticos e igreja, mas para aquele grupo a morte não importava. A morte era, sim, a continuidade do espírito, a libertação da prisão carnal. CRUEL POR ACIDENTE? – PARTINDO DESTE RACIOCÍNIO, Judas teria sido um grande aliado para Cristo. E, mesmo assim, foi rechaçado pelas escrituras. Por quê? Em Lyon – França, 180 DC, Irineu tentava ajudar a “purificar” a mensagem cristã rejeitando alguns dos evangelhos considerados “apócrifos”. Na época, centenas de cristãos estavam sendo assassinados por se recusarem a sacrificar animais. Essa foi uma das atitudes que levou Irineu a tentar entender que fé era aquela que acabava por levar os cristãos à morte. Para entender o raciocínio do bispo Irineu é importante observar como Judas vai se tornando vilão a cada evangelho. Em Marcos, ele ainda não é o retrato encontrado em João, o último dos evangelhos. No relato de Marcos, Judas não é o foco, mas sim a Santa Comunhão da Ceia, que provavelmente foi um episódio muito doloroso aos apóstolos – afinal, ali saberiam que Jesus morreria. Cerca de 20 anos depois, Mateus narra o desespero de Judas que, ao saber que Pilatos havia lavado suas mãos, se encaminha ao suicídio. Em João, Judas é a encarnação do mal, e acredita-se que tenha sido para associar os judeus à margem do personagem bíblico. Ora, se Judas rejeitou Jesus e era uma figura demoníaca, todos aqueles que o rejeitaram também seriam. Embora a mensagem seja completamente diferente daquela que Jesus deixou – a mensagem do amor ao próximo – retratar Judas como uma figura má, de certa forma, deu origem ao antissemitismo (ódio e preconceito contra o povo judeu e sua cultura, ou seja uma forma de xenofobismo. Etimologicamente o termo significa “aversão aos semitas”, que de acordo com a Bíblia, são os descendentes de Sem, os filhos mais velhos de Noé). EVANGELHO DE JUDAS – JUDAS SEM CENSURA. ESCOLHIDO COM UM dos doze apóstolos de Jesus, o Judas da Bíblia atual era quem carregava a bolsa de dinheiro dos apóstolos, e demonstrou seu apego pelo material na passagem da unção em Betânia, quando Maria ungiu Jesus com o líquido e Judas sugeriu que o perfume fosse vendido e seu dinheiro dado aos pobres (João 12,1-7). A passagem ainda mostra que o real interesse por trás da sugestão era fazer com que o dinheiro obtido da venda fosse parar na bolsa que carregava, e que costumava furtar. Contudo, a Bíblia também abre precedente para que se acredite que Judas estava predestinado a trair. ”Pois não era um inimigo que me afrontava; então eu o teria suportado (...). Mas eras tu, homem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo”, é a trecho da Tradução Brasileira da Bíblia, Salmos 55,12-14. Isso indica que o Evangelho de Judas, apesar de ter sido rejeitado, desmistifica a visão clássica e até injusta para aqueles que o legitimam, de que Judas foi a ovelha negra do rebanho de Cristo. Livro O Lado Oculto do Livro Sagrado. Abraço. Davi.  

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