quinta-feira, 1 de junho de 2017

VI. CHAMA ETERNA.

Espiritismo. Texto de Luiz Sérgio. Psicografado por Irene Pacheco Machado. Capítulo 21. AS LIÇÕES DO RENASCER E MORRER. Ouvindo aquela palestra sobre a mulher, recordei os últimos acontecimentos terráqueos, quando os Raiozinhos de Sol se defrontaram com fatos bem tristes da decadência do ser. Nunca se viu tanto desrespeito à figura feminina! Esta se expõe, como se fosse um artigo de baixa categoria, esquecendo que o que encanta e deixa extasiado é a beleza da alma, que se despe das imperfeições à medida que se depura. A mulher, na sua sensibilidade, deveria perceber o ridículo de seus gestos impensados. Estava tão absorvido em julgar, que quase perdi a exposição do mesmo médico que agora apresentava uma aula com slides. Vimos primeiramente a chegada dos encarregados do Departamento da Reencarnação em uma cidade, ou melhor, colônia. No centro, víamos edifícios de três andares onde operavam os setores do departamento reencarnacionista, todos repletos de irmãos trabalhadores. As casas, muito lindas, mais pareciam chalés todos floridos. Nem é preciso dizer que eu me encontrava quase sem fôlego, tal a minha curiosidade. Samita segurou-me a mão, carinhosamente; sorri-lhe, dizendo: - Obrigado por ter-me trazido. Sadu me sorriu. Continuamos vendo os slides. Um dos médicos foi até o Departamento de Pessoal e pediu a ficha 2.984. Nome: José Garibaldi de Aquino, 24 anos. Última encarnação: engenheiro. Voltou à terra como filho de fulano de tal. Aí apareceu um jovem casal que durante o sono era consultado pelos espíritos encarregados. No início, eles alegaram falta de dinheiro, mas logo concordaram em receber José. Quando consentiram foi feita a apresentação. A jovem não aceitou José de maneira alguma - ele lhe deixou uma sensação de desespero. Foi nos mostrada a outra encarnação de José: ele e Lilian haviam sido inimigos; sempre brigando com ela, não deixou que o seu atual marido a desposasse, chegando mesmo a conseguir a separação dos dois. Mais uma vez os encarregados tudo fizeram para que Lilian aceitasse José, mostrando-lhe a necessidade dessa união como mãe e filho. Todo esse trabalho foi realizado em dois anos, até o dia em que José foi ligado ao útero de Lilian. Esta, no início, passou muito mal; seu organismo rejeitava a vibração do antigo desafeto. Mas Leocádio, seu marido, mostrava-se radiante. Nesse mesmo filme, acompanhamos a luta de José, indo todos os dias ao Departamento para cuidar do seu períspirito que, pouco a pouco, ganhava a flexibilidade necessária para voltar à condição de criança. Durante os meses de namoro de José com seus pais, os encontros eram feitos nesses chalés, onde casais capacitados instruíam-nos. Assistimos não ao crescimento natural da criança, mas à sua regressão. Ali estava um homem adulto que gradualmente ia adormecendo a própria consciência, fato bastante delicado e principalmente digno do nosso respeito. Não é fácil para um espírito voltar à condição de feto; é algo muito belo, mas que exige também muita coragem. Finalmente chegamos ao parto. Vimos José chorando no colo de Lilian; e esta, que em dois anos aprendeu a querer-lhe, abraçava-o com amor, dizendo: - Meu filhinho querido! Os mensageiros foram-se retirando pouco a pouco. Mas José ainda pertencia à casa dezoito e notamos que um elo de vibração os colocaria sempre ligados. O chalé dezoito só cessaria de emitir vibração após José ter completado sete anos de idade. Até lá, ele receberia as orientações necessárias. Tivemos quinze minutos de intervalo. Como permaneci calado, Sadu estranhou. - 0 que aconteceu, Sérgio? Você não é de ficar quieto (...). E que estou a pensar: e com o bebê de proveta, como se faz? - Da mesma maneira os pais são consultados. O importante é quem vai ser o responsável pela hospedagem do viajante. - E esses pais, não há perigo de incorrerem no crime do aborto, não é mesmo? (...). - Estava demorando a dar uma das suas! Eu já me encontrava preocupado. Acendeu-se uma luz amarela e nos acomodamos nas respectivas cadeiras. O mesmo médico da palestra nos apresentou um filme, onde uma senhora de trinta anos estava sendo levada à Espiritualidade para conhecer o futuro filho e, triste, constatou que, apesar de ser um espírito muito seu amigo, teria deformação perispiritual. Essa senhora foi até o chalé quarenta e cinco e nele encontrou esse espírito cujo perispírito se encontrava bastante deformado. Chorou ao vê-lo: os dois se reconheceram. Voltando do sono, manteve-se mais vigilante: tinha horror de engravidar. Seu marido era indiferente, do tipo "tanto faz como tanto fez". Mas Iolanda vivia intrigada; era só dormir e lá ia ela para a Colônia Divina e, no chalé, encontrava-se com seu antigo amor. Sei que, mesmo tomando as devidas precauções, nossa amiga um dia se viu ligada a Henrique e se desesperou. Julgando-se doente, procurou um clínico e este lhe revelou a gravidez, que já atingia o terceiro mês. Iolanda não apresentara nenhuma alteração no ciclo menstrual e, sim, apenas algumas modificações no corpo. Quando voltou para casa, desejou morrer; algo a desesperava. 0 marido tentou convencê-la, todavia ela não queria mais filhos. Alegava: - Já tenho dois! Percebemos a dor não só de Iolanda, mais ainda do reencarnante que, já vivendo sem os fluidos da mãe, viu-se esmagado pelo desespero da mesma. Acompanhamos Iolanda sendo violentada por um profissional sem alma. No instante em que tentava matar o feto, este, alucinado, ia ficando sem ar; por mais que o chalé quarenta e cinco emitisse a energia do amor, o ódio o sufocava. Foram terríveis aqueles minutos da separação de dois seres que precisavam ficar juntos. Ao ser consumado o aborto, a entidade nos pareceu morta; ela jazia ao lado daquele material usado para o crime. Era como se as gazes e os algodões tivessem alma, pareciam chorar. Fixei os olhos e mais tranquilo fiquei quando percebi aquela forma fetal diminuta sendo recolhida em um aparelho apropriado e cercado do mais rigoroso cuidado. Só que o espírito não se conformava: gemia, em desespero. Se alguém olhasse aquela bola de sangue diria: "nem estava formado"; mas nós percebíamos ali um corpo humano já completo. Víamos o perispírito reduzido quase ao nada na esperança de ser tudo, através da oportunidade do reencarne. Era uma vida retardada, um trabalho jogado fora por uma mulher que prometera um dia ser útil a Deus e ao próximo. 0 filme continuou e acompanhamos o feto sendo levado para o chalé e ali esperar o retorno ao normal ou outro descuido da futura mãe, para reencarnar. Confesso que nesse instante me indaguei se ela o impediria novamente. "Não, seria castigo demais para ele", concluí. Voltamos a presenciar a luta dos encarregados a convencê-la a receber o filho. Novas conversas e o entrosamento de Iolanda com o espírito. Ela dizia: - Não quero um filho anormal! Mas, por fim, o aceitou de volta. Respiramos aliviados. Só que durou pouco: logo presenciamos mais uma vez o espírito ser impedido de nascer e desmoronar o trabalho de toda uma equipe que tem a responsabilidade de trazer um espírito à terra. Pensei comigo: se não fosse um filme, eu gostaria de acompanhar a gestação desse espírito na Espiritualidade. E foi com alegria que o médico nos presenteou com os fatos do seu crescimento. De volta ao chalé, a forma reduzida recebeu um tratamento especial. Ficou em uma encubadoura, onde paulatinamente foi voltando à forma antiga. Nesse processo, o que mais demora é o despertar da consciência. E muitos sofrem demais nesse período. O médico nos mostrou Iolanda no seu dia-a-dia: mulher de corpo escultura!, muito vaidosa, relutando em receber o filho simplesmente porque este vinha com um defeito físico. Era demais para ela! Só que o espírito que seria seu filho, no passado lhe fora muito querido e os dois erraram juntos, por isso a volta. Ele teria de sofrer ao seu lado. Decorrido algum tempo, lolanda foi vítima de um acidente e se tornou deficiente física. Os seus dias se tornaram muito tristes porque o marido e os filhos não encontravam tempo para ela. lolanda às vezes chorava, julgando-se castigada, não sabendo ela que, mesmo com o filho que rejeitara, passaria pelo que passou. Os dois, juntos, uniriam as dores e estas seriam mais brandas. Você irá me perguntar: como lolanda cuidaria do filho, ficando também deficiente? Torno a dizer: um ajudaria o outro e ela não pagaria suas dívidas sozinha. Voltou o filme a focalizar a Colônia, e Henrique, o filho rejeitado, era agora já adulto. Já se haviam passado quinze anos, mas continuava ali na Colônia e se preparava para ser o neto de lolanda. Queira Deus que ele o consiga. O médico nos esclareceu: - Temos aqui espíritos esperando há vários anos e muitos são obrigados a reencarnar em famílias estranhas, mas que com o tempo ficarão amigos dos escolhidos por Deus para reuni-los. Muitas vezes são até adorados, mesmo não sendo parentes. Pensei: é o caso de adoções; e quantos adotam excepcionais! O filme terminou e gentilmente fomos convidados a visitar a Colônia da Vida. Dei um salto na cadeira, de felicidade. São bons, muito bons, os slides, mas, pelo meu temperamento, gosto mais de assistir ao vivo. É mais gratificante. Só que tem um porém: será que o Sadu vai me levar? Eu não sou médico. . . Olhei os amigos suplicante. Eles se entreoIharam e me estenderam as mãos, dizendo: - Até outro dia, irmão Luiz Sérgio. Foi muito bom tê-lo conosco. Nós amamos você. Podem imaginar a minha cara de tristeza! Eu gostaria tanto de ir com eles (...). Mas, deixa prá lá, a gente só tem o que merece; talvez eu não seja digno de conhecer os mistérios divinos. Fui saindo devagar, olhando os meus passos e contando-os: - Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito (...). Da porta, alguém me chamou: - Luiz Sérgio, és esperado no Jardim da Prece. Ia perguntar onde ficava, mas logo me foi indicado o lugar. Saí sem ao menos agradecer, tão contente fiquei, voltando ligeiro ao me aperceber disso. Ele sorriu, sacudindo a cabeça. Falei: - Perdão, amigo, às vezes esqueço os pequenos gestos. Muito agradecido. Qual é mesmo o seu nome? Ele respondeu: - Najary. Como vocês devem calcular, meus primeiros passos eram bem ligeiros, mas logo me certifiquei de que não era necessário correr, e fui caminhando bem devagar até chegar ao local. O jardim era indescritível. Não encontro no vocabulário terrestre palavras para descrever tanta beleza. As flores só faltavam falar; as rosas eram de belíssimos e raros matizes; as folhagens divinas. Pensei: A Zildinha iria adorar algumas dessas mudas. E anotei no meu caderninho esta pergunta: por que não temos no mundo físico tanta beleza? Falando do jardim, esqueci-me até de ver quem estava me esperando e corri o olhar pelo pátio, onde um espelho d'água o circundava. Os miosótis pareciam mais ainda os olhos de Maria, de tão azuis. Eram belíssimos e compunham o círculo de água. Dentro dele, várias flores aquáticas. Nisso, ouvi alguém me chamar: - Sérgio! Virando, defrontei-me com Eliette, uma senhora de meia-idade, que me sorriu, dizendo: Seja bem-vindo. Pode acompanhar-me - dali saímos, ou melhor, buscamos um bangalô que se via mais além. Quando chegamos, já se encontrava lá uma turma de cinco pessoas. Comigo e Eliette, sete. Muito ternamente cumprimentei-os e fiquei mais feliz quando vi Sadu, Samita e Carlos. Apertei os lábios, porque estes tremeram de emoção. Sadu, aproximando-se, disse-me: - Não te convidei porque não tinha autoridade para fazê-lo. - Deixa prá lá, amigo, eu o compreendi. E quem foi que acreditou em mim? Respondeu Samita: - Jesus. - Ainda bem que Ele também meus grandes companheiros. é meu amigo, assim como vocês, - Continuas o mesmo, não, Sérgio? Ali ficamos ainda alguma horas, e quando nos retiramos percebi que um dos componentes do grupo ficava sempre isolado. Ele possuía um braço paralisado e isso me chamou a atenção. Busquei conversar com ele e gostei muito; era portador de uma educação aprimorada e rara inteligência. Foi um grande cientista e agora ali estava ao nosso lado. Seu nome: Sexton. Ele parece ter gostado de mim também, pois logo foi-me ofertando sábias lições. Disse-me como seremos felizes no dia em que o homem se tornar um homem verdadeiro: Até aqui estamos buscando ser gente. Quando purificar o seu corpo espiritual, por processos físicos e mentais, o homem não mais terá por companhia as suas formas-pensamento negativas. Ele não será dominado pelos prazeres de alguns dos seus corpos, porque o seu espírito irá reinar, como dono absoluto. Mesmo encarnado, o homem já vai dando trato novo ao seu próximo corpo, isto é, ao da próxima encarnação. Se um encarnado esta abusando da liberdade de viver, os seus corpos é que sofrerão as consequências. Ao aqui chegar nada podem exigir por terem sido os arquitetos de seus corpos e cada espírito possui o seu tesouro de lembranças. Sabemos que várias vidas já tivemos e se hoje ainda nos sentimos pesados, encontrando dificuldade para nos locomovermos, a culpa é nossa, somente nós podemos livrar-nos dos corpos pesados e defeituosos que a nossa capa mental foi confeccionando no decorrer de nossas reencarnações. Temos conhecimento de que ao sermos criados éramos inocentes; nossos corpos eram como uma placa branca, apenas com algumas tendências, trazidas dos reinos por onde passamos, mas a nossa inteligência aprimorou-se com a liberdade. Donos dela, inicia-se o trabalho errado da nossa casa mental; desequilibrada pelo orgulho, pela vaidade, pelo egoísmo, pela cólera, vai lentamente plasmando formas-pensamento, que se alojam em nosso corpo etéreo e este vai ficando coberto por sombras corporais; mas apenas sombras sem vida. São os chamados fantasmas do nosso espírito. Podemos perceber do quanto somos capazes e, infelizmente, usamos mal o nosso poder, motivo pelo qual até hoje nos encontramos mal vestidos, enquanto outros irmãos já ganharam a liberdade - estes permaneceram limpos, ou melhor, aos seus corpos, simples e inocentes, acrescentaram, em vez de orgulho, a bondade, o amor, a paciência, a verdade, o perdão, a humildade. Pouco a pouco foram-se aproximando de Deus. Outros, mesmo os falidos, puderam ficar livres desses corpos-pensamento, só foi preciso uma luta contínua pela purificação. O ideal seria ficarmos livres da tirania dos sentidos. Se hoje o meu corpo está mutilado, a culpa é minha, eu me concentrei por demais nele e o moldei de maneira errada. Minha inteligência foi usada para decompor corpos ainda latentes, ou melhor, óvulos fecundados. Enquanto os encarregados do Departamento da Reencarnação trabalhavam, o meu invento cooperava para o não nascimento. Tratava-se de um processo brando de matar. Não quero justificar os meus erros, mas diante de tantos crimes hoje praticados, vejo que o meu foi primário, já que se assassina fetos ou bebês, muitos com até seis meses de vida uterina. Quis perguntar ao meu novo amigo o porquê do braço seco. Ele me sorriu e continuou: - Quando plasmei o meu corpo etéreo para a próxima encarnação - que será breve - não consegui purificar o local de onde partiram vibrações contrárias às leis de Deus. E por mais que eu tentasse, através do meu saber, no momento exato a minha consciência ficava como anestesiada - penso eu que de vergonha. Apesar de estudar muito e procurar conhecer os segredos dos corpos, não tenho capacidade para dar movimento a esta parte do meu corpo, onde eu próprio dispersei os fluidos divinos e nele plasmei a dor e a morte. - Até quando o irmão ficará assim? - Retornando à terra, terei de, através de uma vida digna, ir preparando o meu próximo corpo, o que só é possível pela prática de nobres atos. Deus me ofertou nova oportunidade no campo médico, onde espero ajudar o homem a se tornar livre dele mesmo e, ainda encarnado, pretendo desintegrar esta forma escura e vergonhosa do meu corpo perispiritual. Por baixo deste braço imóvel encontra-se outro: o lindo e útil, que Deus me deu. - Então, quem tem um defeito físico está somente coberto por uma forma-pensamento que ele confeccionou através de atos indignos? - Sim, nós a fabricamos. E uma veste que teremos de vestir e, um dia, desvestir. - E quem. Desculpe mais uma pergunta: e se, no decorrer das nossas vidas, embora gravada na consciência a veste deformada, nós lutarmos para sermos bons, caridosos, amigos, enfim, humildes, esta veste não se desintegra? - Sim, Sérgio. Disse Jesus: Só o amor cobre a multidão de pecados. Nesses casos, nós já estamos preparando a nossa próxima veste e, se a velha estiver tomando espaço, ela se desintegrará. Portanto, amigo, precisamos, e muito, de nós mesmos. Não adianta desejarmos nos enganar. A vida é contínua e a morte é o remédio da própria vida; ela é que dá ao espírito o passaporte para novos mundos, onde encontramos oportunidades para desintegrar os nossos corpos defeituosos e os belos ficarem mais etéreos. Portanto morrer é viver em qualquer plano. - Espere aí, irmão, não ria da minha pergunta, mas eu me coloco sempre no lugar dos meus amigos leitores. Se nós não podemos impedir um nascimento, por que os médicos terráqueos podem impedir o espírito de voltar ao mundo espiritual, que também é um renascimento? Ele me sorriu, olhando-me fixamente - não sei se me achando ignorante - mas logo respondeu: - São situações diferentes. Um, precisa nascer para purificar-se; outro, precisa voltar para se preparar para nascer de novo e Deus colocou a Medicina para cuidar do corpo físico. Não nos esqueçamos de que ele é uma veste que precisa ser escovada, lavada e bem cuidada. Por ser desgastável, precisa de cuidados especiais. E sabes que mesmo sendo o corpo físico muito bem assistido por grandes médicos, na hora da morte tudo se torna inútil. E a lei do regresso. - Mais uma. Posso? Ele sorriu, permitindo-me. - E por que Deus não faz com que se torne impossível qualquer agressão ao ser que vai nascer? - Lembra-te, Sérgio, de que o corpo físico pertence ao plano físico, e ao homem foi dado o direito de conhecê-lo. Portanto, como pode Deus levar o homem de novo à era primitiva, quando a medicina era precária ou não existia? Se a mãe não desejar o filho, torna-se impossível atuar a vontade divina. E a lei democrática de Deus. O Pai é bom, disse Jesus, mesmo sofrendo Ele não nos maltrata.  Sadu, Carlos e Samita, ao meu lado, participavam da nossa bela conversa sobre renascer e morrer. Contemplei os meus amigos e me senti o ser mais feliz do Universo, porque Deus é meu Pai e eu jamais serei órfão. Baixei a cabeça, cerrei os olhos e orei: Pai, sois bondade infinita e graças ao Vosso perdão estou eu no caminho de mais um trabalho, onde tenho encontrado grandes almas. Eu Vos amo, Senhor. Capítulo 22. DE VOLTA AO MEU PASSADO. Com que carinho fitava os meus companheiros! Sadu, Samita e Carlos recordavam-me o início do meu trabalho junto aos Raiozinhos de Sol. Rimos muito das minhas ratas. E assim, chegamos ao local esperado: um prédio enorme, de dois pavimentos. Pensei que iríamos entrar, mas só recebi permissão para fazê-lo acompanhado do amigo Cinaro. Compreendi que os outros teriam aulas sobre medicina. Despedimo-nos, para nos reencontrarmos, mais tarde, na Casa da Vida. Cinaro, que até aqui não havíamos citado, endereçou-me um sorriso meio desconfiado. Foi o bastante para eu lhe querer bem. - Vamos primeiro à recepção, disse. E para lá nos dirigimos. Ninguém havia para nos recepcionar, só um pequeno aparelho, que lembra uma calculadora. Cinaro digitou os nossos nomes e logo a porta se abriu, surgindo à nossa frente um corredor bem longo, ladeado de portas numeradas. Diante de uma delas, ele apertou a campainha e nos atendeu uma bela senhora, que indicou um arquivo cujas fichas nos eram fornecidas através de botões. Cinaro perguntou-me se eu desejava saber como se efetuara a reencarnação de famílias conhecidas ou pessoas sem qualquer vínculo comigo. Pensei, pensei e respondi: - De pessoas estranhas - achei mais digno. Não me sinto com o direito de abrir cofres alheios. - Vamos, então, pedir este aqui: Homero Estrada. Quando a ficha nos foi entregue, Cinaro colocou-a em um computador, que foi, imediatamente, projetando o filme de Homero. Curioso (...). Sabe, amigo, sempre julguei que nossas vidas fossem cartas marcadas. - Explique-me. - Por exemplo: Luiz Sérgio, filho de Júlio e Zilda. Com tantos anos teve sarampo, com tantos dor de dente, com tantos encontrou a namorada e com tantos morreu. - Irmão, nós somos gente e não fantoches. O dia-a-dia a nós pertence; poucas horas de nossas vidas são de pagamento de dívidas. Se na Terra encontramos meios suaves de pagarmos, imaginemos junto a Deus. Todavia, poucos transformam a moeda pesada da culpa em atos nobres de renúncia. E assim, fomos vendo porque Homero teve de nascer na família escolhida. Assistimos a um desenrolar de fatos, todos catalogados, o que nos levou a compreender o valor de cada encarnação. Para Homero poder voltar à carne, levou vários espíritos a pesquisas constantes dos fatos de suas vidas. E um jogo de números onde se soma, divide, multiplica, e ainda se faz a prova dos nove para ver se tudo está certo. Homero, em uma encarnação antes de Cristo, esteve na Grécia e lá era pastor de ovelhas. Homem duro, aborreceu-se com seu vizinho e o matou. Duas encarnações adiante, opôs-se a reencontrar seu desafeto. Só muitos anos depois voltaram a se encontrar, mas relutaram em ser amigos. E a outrora vítima de Homero o feriu, matando-o, não para cumprir uma lei, que muitos chamam de karma. Se a vítima de Homero recebesse essa tarefa, Deus não seria Deus, Ele só ensina o amor e o perdão. O inimigo de Homero vingou-se, porque também não era bom. E Homero, mesmo tendo sido assassinado, não se viu livre do crime cometido. - Pára aí, Cinaro. Minha cabeça deu um nó, nem consigo mais saber onde me encontro! Ele sorriu gostoso e continuou projetando o filme. Vimos novamente Homero e Simplício lutando para usar o perdão. Os dois, mais uma vez, se reencontraram fora dos meios familiares e Homero buscou, através do casamento com a filha de Simplício, a aproximação do sogro. Simplício continuava odiando Homero, que também não via com bons olhos o feroz sogro. Acompanhando a vida de Homero, constatamos o quanto Deus é bom, pois a paciência é uma das leis de Sua doutrina de amor. E assim, em mais uma encarnação, os dois se defrontaram, agora como pai e filho. Como sempre, Simplício e Homero não se entendiam. Mas foi no meio familiar, ora como pai e filho, ora como irmão, sogro, tio, avô, que Homero e Simplício vieram a ser bons e inseparáveis amigos. Chorei ao presenciar aqueles dois homens, lutando um pelo outro. Não só aquelas vidas ficaram acertando as contas; outras, que a elas se juntaram, também foram peças marcantes e, nesses reajustes, novas faltas esses espíritos cometeram. O planejamento reencarnatório sempre procurava ajudá-los da maneira mais branda, entretanto, assim mesmo eles reclamavam das provas. Quando terminamos de estudar a vida de Simplício e Homero, examinamos outra ficha e sentimos a grandeza de Deus e dos operários que trabalham no difícil planejamento familiar. Ao sairmos daquele local, cujos computadores são as maravilhas do século XX, falei ao meu amigo: - Sempre imaginei que, se eu lhe mato, amanhã, você ou outro faz-me o mesmo. Somente hoje compreendi melhor. Não teria sentido vivermos em um círculo vicioso. Explique-me, se for possível: como então resgatamos a culpa de um crime ou de vários? Há pouco, o irmão conversou com um culpado e ele lhe mostrou a grandeza dos corpos sobrepostos. Se lesamos alguém, o ato em si é registrado em nossa casa mental e ela expele um fluido negro que se sobrepõe a nossos corpos, principalmente ao perispírito. Esse jugo pesado muito mal nos faz, principalmente quando nos encontramos na erraticidade - andamos com dificuldade, não conseguimos desprender-nos do mundo físico. Portanto, é um mal-estar constante. Aí pedimos para nos livrar desses fluidos pesados e escolhemos a prova. Para que tudo corra de maneira a não prejudicarmos inocentes, acercamo-nos de criaturas similares, com provas iguais ou piores que as nossas. Aqui o Departamento tem um trabalho de mestre: busca pessoas ligadas a nós que também desejam livrar-se da dor dos remorsos. - E quando alguém atropela uma pessoa ou a mata, quem está pagando? - O causador do acidente, quando culposo, está contraindo dívidas futuras, principalmente se o fez embriagado, em excesso de velocidade ou por negligência. - Agora, se eu pedi para ter uma desencarnação por acidente, não posso jamais me ver livre dos remorsos ou colocá-los em outra consciência, não é mesmo? - Claro. - Sempre, amigo, eu relutei em aceitar tudo como pagamento de dívidas. - A lei de causa e efeito existe, mas ela acontece de várias maneiras. Nem tudo podemos examinar como pagamento de dívidas pretéritas. Olhando-me firmemente, convidou-me a consultar outro computador. Quase caí: ali, um nome conhecido. Quis evitar de examiná-lo, porém, gentilmente, colocou-me à vontade. Orei a Deus e apertei o botão: surgiu à minha frente a minha vida! Que eu não vou lhes contar..., somente alguns fatos já narrados em outro livro meu. Uma sensação estranha foi-se apoderando do meu espírito. Meu companheiro procurava ignorar minha ansiedade. E fui pouco a pouco vivendo cada momento das minhas vidas passadas. Numa coisa fiquei feliz: sempre fui homem! Meus amigos, espírito não tem sexo, pois é uma chama, mas nem por isso deve ficar trocando de veste de uma para outra encarnação. É um assunto a ser estudado. Eu, o papai aqui, sempre fui homem; não que eu tenha algo contra as mulheres, adoro várias: minha avó, minha mãe e muitas outras mulheres são amadas demais por mim. Sempre fui muito imperfeito, mas o que marcou pro fundamente o meu perispírito foi tirar a oportunidade de uma vida física. O pior dos crimes é matar. E se hoje eu me encontro estudando a lei do renascimento, vejo-me diante da minha vida e pergunto: que teria sido de mim se minha mãe me tivesse negado o direito de pagar minhas dívidas? E se ela me tivesse abortado por seu bel prazer? Meu Deus, como eu seria infeliz! Hoje, graças lhe dou, Zildinha, por ter-me dado um lar onde cresci, vivi e encontrei o direito de viver eternamente livre de um remorso cruel. Grato sou a todos aqueles que me deram as mãos amigas. Mas o interessante de tudo isso é que todos nós desejamos conhecer o passado, mas, diante dele, ficamos petrificados, envergonhados de sermos ainda muito imperfeitos. Minhas vidas pregressas foram-se descortinando diante de mim. E a certo ponto eu paro. Apareço em uma abadia onde alguns frades trabalham, ou estão tentando fugir deles mesmos. Prestava-me a um serviço humilde, por não possuir instrução suficiente para galgar outros trabalhos. Procedia de família modesta e a abadia era um refúgio e uma oportunidade. Nela encontrei Pedro que logo me dispensou atenções, mas ainda que me tratasse bem, abusava da posição que ocupava. Pedro, muito inteligente e dinâmico, fazia tudo pela abadia. Eu senti por ele muita admiração, mas também muita inveja. Eu o amava e o odiava ao mesmo tempo, ainda mais quando ele me fazia de criado. Alguns abusavam igualmente da posição ocupada, más Pedro, por ser, às vezes, meu amigo, ia mais longe. Um dia, como contei no livro Novas Mensagens, eu lhe roubei o direito de viver. Quero frisar aqui, que com isso contraí uma grande dívida, principalmente porque ninguém chegou a descobrir. No dia em que eu soube de tudo isto, faltou-me coragem para ir adiante. Ao rever a cena ainda me entristeço, ficando desolado quando me defronto com a nossa seguinte encarnação: somos irmãos e Pedro não me aceita, ou melhor, procede da mesma maneira. É um homem de grande inteligência, mas revoltado consigo mesmo. E nós dois, vivendo como irmãos consanguíneos, deveríamos nos amar. Contudo, Pedro sofria de ciúme doentio da minha ligação com nossa mãe, preparando uma jogada para me tirar a vida. Foi pouco a pouco me envenenando, chegando antes a levar-me a uma cadeira de rodas. Como irmãos, teríamos o ensejo de pagar uma grande dívida mas, ao contrário, Pedro se comprometeu e eu, mesmo sofrendo bastante, não quitei a minha. Mais uma vez não conseguimos ser bons. Minha mãe não perdoou Deus por me ver inválido e sua revolta era tanta, que Pedro não aguentou o remorso e se suicidou. Com esse gesto, ele plasmou um corpo deformado para outra encarnação. E não faltou, mais uma vez, outra oportunidade. Eu e Pedro, novamente juntos, nascemos longe um do outro, mas as circunstâncias fizeram com que nos reencontrássemos na Itália, ligados por um passado trágico, não nego, mas que mesmo assim nos aproximou. Tornamo-nos amigos. Seu nome agora: Romano. Éramos tão unidos que muitos nos julgavam irmãos, embora brigássemos muito; eu não aceitava a sua maneira de querer mandar e ele não aceitava as minhas brincadeiras. Um dia Romano salvou-me a vida, mas pereceu diante de mim. Desesperei-me, pois perdera um grande amigo. Nessa encarnação Pedro melhorou o corpo futuro, comprometido pelo assassinato e o suicídio; possuía o corpo perispiritual somente coberto por uma camada fluídica. Nascera com um defeito em uma perna e sofria de desmaios, chamados epiléticos. Quem estiver me acompanhando, vai indagar: e você, Luiz Sérgio, não o assassinou também? Sim, eu lhe tirei a vida física, mas ele também a tirou e ainda se suicidou. Voltamos posteriormente, nem amigos, nem irmãos; só bem mais tarde nos reencontramos. Minha mãe era a mesma de quando fui frade, e, por mais que eu quisesse apresentá-la para Roberto como sendo bacana demais, eles não chegaram a se relacionar. 0 meu amigo do passado era um ótimo companheiro, mas ainda carregava consigo as neuroses pretéritas e muitas vezes chegamos a discutir sobre elas. Chegou o momento dramático das nossas vidas: a grande operação que veio para nos desligar de uma culpa longínqua. 0 carro corria velozmente, mas não tanto que me projetasse para fora no momento fatal. Os outros nada sofreram, mas o meu grande amigo e eu sentimos a força da reencarnação. Ele, que no passado deformara o seu corpo porque, por maldade, me levara a uma cadeira de rodas, hoje, com o choque do acidente, projetou em sua casa mental o corpo coberto de remorsos. Ele, que no ontem causou dores terríveis em alguém, hoje vive horas bem amargas. O meu corpo ficou estirado no asfalto, mas meu espírito se viu liberto de um violento remorso. Eu e Roberto pagamos a última prestação. Às vezes me desespero por não conseguir ajudá-lo. Ele se sente culpado do meu desencarne, por mais que eu tente dizer-lhe que o culpado sou eu, pois fui o primeiro a lhe causar dor. Gostaria que Roberto procurasse se ver livre do remorso e se pusesse de pé. Ele tem força e coragem para ganhar a liberdade. Não existe incapacidade física quando a nossa mente está perfeita, e Roberto é um dos homens mais inteligentes que conheci. Briguento, mas digno e bom. Portanto, amigo, peço perdão se hoje abri o nosso túmulo e dele retirei as últimas reminiscências. Foi preciso. Você tem necessidade de redescobrir Deus. Ele é justo, nós é que nos distanciamos d'Ele. Remorsos são bengalas que só servem aos fracos, principalmente quando não devemos possuí-las. As lágrimas corriam pelo meu rosto e o meu companheiro Cinaro, carinhosamente, apertou-me o ombro, dizendo: - Por hoje, basta. Você, Luiz, e o seu amigo, tiveram muitas oportunidades. Se na última encarnação, vocês dois, desde pequenos, tivessem sido orientados para o trabalho da caridade, tudo teria sido diferente, pois só a Caridade cobre a multidão dos pecados. Você e seu amigo devem dar graças a Deus por tudo ter terminado bem. Recordei-me de vovó e vi que tudo foi muito bem preparado. De fato, eu teria duas saídas: desde criança ter-me dedicado aos pobres, vivendo uma vida missionária; ou o desencarne, ainda jovem, e de maneira violenta. Decidi-me pela segunda, não só eu, mas Roberto também. Foi o caminho mais árduo, todavia o escolhido. Capítulo 23. A TAREFA DA DIVULGAÇÃO EDUCAÇÃO SEXUAL NA INFÂNCIA. Muitos sonham em conhecer o pretérito, mas Deus é tão sábio que nos oferece o esquecimento. Ali, diante do meu passado, compreendi a importância da Doutrina Espírita: só ela dá ao homem conhecimento do valor do seu espírito; só a Doutrina nos oferece explicações precisas sobre todas as nossas dúvidas; só a consciência da vida espiritual dá ao homem a vontade de ser bom. O estudo sério leva-nos ao desprendimento das coisas terrenas e só convivendo com Jesus despertaremos para a caridade. Não adianta batermos no peito, rotulando o templo que frequentamos, o necessário, sim, é ter mais fé e amor no coração. Despido diante de Deus, dei-Lhe graças por me ter ofertado inúmeras oportunidades. - Cinaro, não é fácil a gente se deparar com o passado. Sinto-me até sem fôlego. Parece que o relógio da vida só marcou para mim as horas em que eu fiz mal ao meu próximo e, por mais que eu peça perdão, vejo-me corroído de remorsos. - Sérgio, recorde que você só veio até aqui porque já está apto para saber o passado. - E, mas é muita verdade para ser suportada! Ele me convidou a nos retirarmos. Olhei as máquinas do tempo e as saudei: - Obrigado, amigas, espero voltar logo, quero saber mais sobre minhas vidas. Cinaro sorriu, dizendo-me: - Você não disse há pouco que é muito difícil suportar a verdade? - E assim mesmo: a gente sofre, mas quer saber. Detive-me e voltei para perto das máquinas. Cinaro nada fez para me impedir; somente percebi preocupação no seu olhar. Apertei um certo botão e, com espanto, me vi na época dos primeiros cristãos. Munido de boa cultura, tinha facilidade no trato com o público, era portador de um grande carisma. Inteligente, abusava disso; crescia em mim a vaidade e está, pouco a pouco, tomava conta do meu espírito. Aproveitando-me da fé do humilde povo de Éfeso, vivia eu pregando uma doutrina diferente, nada de cristã. Não aceitava a caridade nem a humildade como lema. Meu nome: Alexandre. Mesmo dizendo o nome de Deus, pregava uma doutrina contrária à dos apóstolos de Jesus. Habitava casa confortável, usufruindo dos bens materiais. Ali no vídeo a minha imagem e, ao meu lado, um fiel amigo: Himeneu. Não aceitávamos os cristãos que, através da pobreza, davam ao mundo grandes exemplos. Tudo fizemos por uma doutrina segundo a qual os cultos eram servidos pelos pobres ignorantes. Quando fomos descobertos pelos verdadeiros filhos de Deus, vimo-nos desmoralizados. Furiosos ficamos, tudo fazendo para que a Doutrina do amor não fosse seguida. Se descobríamos alguma coisa escrita, tentávamos destruí-la, dificultando a vida dos cristãos de Éfeso. Revoltados, decidimos ir para outra cidade, mas em todos os lugares as palavras de Deus eram levadas pelos Seus verdadeiros apóstolos. Assim vivemos o resto da nossa vida, tentando contradizer os apóstolos de Jesus. Só bem velhinhos desistimos. Falei a Cinaro: - Agora compreendo porque tenho hoje a tarefa de apresentar Jesus aos espíritas ou não espíritas e porque me foi ofertado o trabalho dos livros espíritas. Só agora eu compreendo! Ontem eu atrapalhei a divulgação da Doutrina do Cristo. Hoje aqui estou para trazer à terra o remédio da paz. Fui saindo bem devagar. Meus olhos não lacrimejavam, mas meu coração doía. Cinaro me abraçou, dizendo: - Graças a Deus nós hoje trabalhamos mais cientes do valor do Pai. No passado erramos, porque a vida terrena era mais palpável para nós. No presente conhecemos o tesouro da verdade. Rendi homenagem a Deus por tanta bondade. - Cinaro, quando eu vivi naquela encarnação, possuía uma outra crença. Esse o motivo de não aceitar os cristãos. - Sim, Luiz, você e seu grande amigo agiam julgando certa a religião que professavam. E ela existe até hoje? - Sim, meu amigo, mas graças a Deus a verdade e Jesus estão brilhando muito mais. - Cinaro, eu adoro a Doutrina do Cristo. Ela é para mim um universo de amor. Nós estamos no Seu caminho, que não é fácil, dado os inúmeros trabalhos que nos surgem a cada passo. Ganhando a rua, despedi-me do meu novo amigo e procurei meu grupo. Meditando caminhei por um jardim repleto de hortênsias. Admirando seus diferentes matizes, o roxo bem forte de uma delas chamou-me a atenção e me senti reconfortado para chegar até meus companheiros. Samita me viu e veio abraçar-me: - Tudo bem, Sérgio? Penso que nos meus olhos as lágrimas teimavam em aflorar. - Querido, o que importa é o presente e tu estás aproveitando os ensinamentos de Deus. Nisso, uma luz acendeu e fui convidado a entrar, juntamente com a equipe, numa sala em penumbra, o palco semi iluminado. Todos se alojaram em suas cadeiras, em silêncio. Confesso que a curiosidade era imensa, mas fiz uma prece e me aquietei. A luz do palco se acendeu e um senhor, bem simpático, iniciou a preleção, não sem antes ter sido feita uma prece, que ressoou em todo o ambiente. Era quase um hino de tão bela. "Irmãos, nós, que estamos acompanhando o crescimento da Chama eterna, não podemos esquecer que o sopro da vida precisou de um estágio em vários reinos e, quando da passagem por eles, adquiriu tendências. Portanto, não devemos julgar os outros, porque ainda desconhecemos o nosso interior. Nos dias atuais a Humanidade está por demais envolvida sexualmente; nunca se viu tantos apelos sexuais e os espíritos que estão reencarnando amedrontados se encontram, pois bem sabemos que poucos já possuem evolução para uma renúncia sexual. O homem, ainda animalizado, dificilmente terá condição de viver sem sexo, ainda mais se ele saiu recentemente da sua condição animal. Mas isto não justifica a sua animalidade; ele precisa burilar as suas energias e isso só se consegue com o tempo. E condenável certas religiões aprisionarem os seus adeptos através do medo de serem castigados, ou por levar o jovem a uma abstinência do sexo, através de exercícios mentais, dizendo que eles libertam o espírito. Em consequência, o jovem bloqueia os seus canais energéticos e estes, bloqueados, o levam ao desequilíbrio. Isto está acontecendo muito até na Doutrina Espírita. Dizem alguns pregadores que o missionário não pode constituir família, quando bem sabemos que não é a família que atrapalha o trabalho do missionário e sim a sua própria fraqueza. Não podemos levar a Doutrina ao descrédito científico e desde o momento em que, desejando satisfazer o homem, nos propusermos a lhe tirar a liberdade, o medo pode gerar no jovem uma depressão difícil de ser tratada. Ele lutará contra o seu corpo que, possuidor de forte energia, não encontrará meios de liberá-la; esta mesma energia leva ao desequilíbrios e desajustes emocionais. Portanto, há tantos conhecimentos para se transmitir ao próximo, por que oferecer o que se conhece tão pouco? O que vem ocorrendo é uma carência de elucidação sobre sexo. De um lado, a liberação; de outro, a proibição. O certo é obtermos, pouco a pouco, o conhecimento da vida e encontrarmos o Seu criador: Deus. Conhecendo o Pai, buscar a Sua verdade que jamais nos criará neuroses. No momento em que Deus entrar em nossas vidas, vamos compreender que sexo não é castigo, pois se assim fosse o Pai não o criaria em nós. O sexo é um meio; o mal é julgá-lo princípio e fim. Desde o instante em que o homem se liberta de si próprio, vai entendendo que o sexo precisa ser digno. Não se castra por imposição teórica, procura-se viver a plenitude do amor com o parceiro, ou parceira, escolhido dentro dos padrões divinos. Existem homens que colocam o sexo na mente e este se vê exposto a críticas e maledicências. Desde que levemos a vida equilibradamente, ela irá distanciando-se da procura das emoções mais fortes. O sexo a dois é o encontro de corpos físicos ou reencontro de almas apaixonadas. Quando isto se dá, o espírito se vê dono de si próprio e no companheiro ou companheira o prolongamento de si mesmo, aí não existe separação ou troca, são almas fundidas em uma vibração de amor. Mas como na Terra ainda o desencontro se dá, deparamos com homens e mulheres extremamente infelizes, porque buscam um no outro a satisfação da vida, julgando que ela se limita a uma relação sexual, quando essa mesma relação sexual traz outras responsabilidades que talvez serão amargas para parceiros invigilantes. Um ser é extremamente infeliz quando busca em alguém a sua felicidade, sem saber ele que o outro faz o mesmo. No dia em que se der a verdadeira permuta de energia, o homem vai compreender porque Deus criou o sexo. Até esse dia, nos depararemos com todo um desequilíbrio emocional. O sexo parece maldito, porque o homem ainda se encontra endurecido e ignorante e, pouco inteligente, quer usar e "Nunca devemos ser radicais, somente porque nos sentimos mais próximos de Jesus, ou estamos compreendendo o Mestre através do Seu Evangelho. Cada caso é um caso; não podemos englobá-los, sem uma análise criteriosa. Ditar regras torna-se perigoso; a própria vida se encarrega de apagar ou gravar as verdades de cada um. 0 dia-a-dia do homem, cedo ou tarde, irá levá-lo a uma compreensão maior. Deus foi quem criou o homem e a mulher, a fêmea e o macho; por que, com o fanatismo, desejamos separá-los? Enquanto queremos proibir, afastamos o homem de Deus, pois ele indagará sempre: "se o sexo é sujo, por que Deus o criou?" O que se deve fazer é orientar, mas quem está preparado para tão difícil tarefa? Difícil sim, em razão do homem ter adquirido o instinto sexual através de um aprendizado errado. Muitas vezes somos chamados para esclarecer os pais durante o sono, porque estes se vêm às voltas com as atitudes estranhas dos filhos, porém, muitas vezes, os pais é que levam as crianças ao desequilíbrio sexual. Muitos homens, desejando um filho varão, vivem dele exigindo masculinidade, o que acarreta na criança marcas profundas de desequilíbrio. Com o tempo procurará suplantar a mulher e com isso jamais terá uma companheira realizada, mas uma escrava para servi-lo. Alguns pais, bastante desinformados, levam os filhos a uma busca precoce do prazer, dizendo que o "homem tem de ser homem". E o garoto inicia a sua experiência sexual sem nenhum amor, o que o conduzirá a uma constante procura, porque será um eterno insatisfeito. Ele sofrerá de uma inibição inconsciente, um simples retraimento sem conhecer a origem do problema; a sua inibição será tanta que ele procurará no sexo a sua força; e um órgão é um órgão, não uma alma. Portanto, é antipsicológico pregarmos contra o sexo, principalmente se somos explanadores do Evangelho. Os que não creem no espírito não têm tanta culpa ao fazer tal pregação, mas os espíritas esclarecidos não podem esquecer que o espírito está evoluindo há milênios, possuindo tendências extremamente resistentes e que não podem ser violentadas de uma hora para outra, mas sim buriladas através de uma vida equilibrada. As crianças são muito reprimidas, porém, quem compreende a reencarnação sabe que em um corpo infantil habita um velho espírito, muitas vezes enfermo sexualmente. abusar de algo que ainda não conhece. Devemo-nos lembrar de que lares são arruinados por traição, existem crimes praticados, suicídios, roubos, tudo partindo de uma relação amorosa doentia. Isso se dá porque nós ainda não sabemos amar. Deus, pacientemente, espera que cada um conquiste a própria felicidade. Ele nos ama." Houve uma pausa. Olhei Sadu e apertei a mão de Samita. O irmão continuou: "Nunca devemos ser radicais, somente porque nos sentimos mais próximos de Jesus, ou estamos compreendendo o Mestre através do Seu Evangelho. Cada caso é um caso; não podemos englobá-los, sem uma análise criteriosa. Ditar regras torna-se perigoso; a própria vida se encarrega de apagar ou gravar as verdades de cada um. 0 dia-a-dia do homem, cedo ou tarde, irá levá-lo a uma compreensão maior. Deus foi quem criou o homem e a mulher, a fêmea e o macho; por que, com o fanatismo, desejamos separá-los? Enquanto queremos proibir, afastamos o homem de Deus, pois ele indagará sempre: "se o sexo é sujo, por que Deus o criou?" O que se deve fazer é orientar, mas quem está preparado para tão difícil tarefa? Difícil sim, em razão do homem ter adquirido o instinto sexual através de um aprendizado errado. Muitas vezes somos chamados para esclarecer os pais durante o sono, porque estes se vêm às voltas com as atitudes estranhas dos filhos, porém, muitas vezes, os pais é que levam as crianças ao desequilíbrio sexual. Muitos homens, desejando um filho varão, vivem dele exigindo masculinidade, o que acarreta na criança marcas profundas de desequilíbrio. Com o tempo procurará suplantar a mulher e com isso jamais terá uma companheira realizada, mas uma escrava para servi-lo. Alguns pais, bastante desinformados, levam os filhos a uma busca precoce do prazer, dizendo que o "homem tem de ser homem". E o garoto inicia a sua experiência sexual sem nenhum amor, o que o conduzirá a uma constante procura, porque será um eterno insatisfeito. Ele sofrerá de uma inibição inconsciente, um simples retraimento sem conhecer a origem do problema; a sua inibição será tanta que ele procurará no sexo a sua força; e um órgão é um órgão, não uma alma. Portanto, é anti-psicológico pregarmos contra o sexo, principalmente se somos explanadores do Evangelho. Os que não creem no espírito não têm tanta culpa ao fazer tal pregação, mas os espíritas esclarecidos não podem esquecer que o espírito está evoluindo há milênios, possuindo tendências extremamente resistentes e que não podem ser violentadas de uma hora para outra, mas sim buriladas através de uma vida equilibrada. As crianças são muito reprimidas, porém, quem compreende a reencarnação sabe que em um corpo infantil habita um velho espírito, muitas vezes enfermo sexualmente. Como devem agir os pais? Orientar o filho, desde pequeno, e fazê-lo liberar essas energias através dos esportes, desviando a atenção da criança. Quando percebermos que nela estão contidas lembranças desequilibradas, nada melhor do que despertar a sua atenção para algo mais nobre: leitura, esporte, música, teatro, etc. Não deixar essas crianças brincando sozinhas, elas precisam ter uma vida bem movimentada, sem lhes dar muito tempo para pensar. Os pensamentos nesses espíritos surgem das lembranças pretéritas e elas os conduzem às aberrações sexuais. Quem possui um filho assim, tem de ajudá-lo. Devemos recordar, torno a repetir, que em um corpo infantil encontra-se uma alma velha e nela se encontra alojado um aprendizado errôneo em relação ao sexo. Não importa se hoje estamos no século XX, mas que busquemos em nossas crianças as raízes das suas frustrações e, se somos reencarnacionistas, sabemos que essas raízes estão na velha alma que ora retorna à Terra. Como tratá-las? Com carinho e respeito, sem culpá-las, quando percebermos que algo estranho existe nas suas atitudes. É muito difícil para um espírito voltar a habitar um corpo infantil. Quando dizemos que a criança, desde pequena, possui instintos sexuais, é porque ela possui um espírito velho e este, mesmo semiadormecido, tem relances de lembranças. Reclamar das suas atitudes ou espancá-las não é correto. 0 certo é buscar curá-las através de uma disciplinada vida e para isso, nada melhor do que uma programação cultural aliada à presença digna e equilibrada dos pais. Calou-se e logo percebi que era a hora das perguntas. -Irmão, a criança deve ser criada livre, isto é, fazendo o que deseja? - indagou um dos assistentes. - É evidente que se criarmos a criança sem disciplina, ela se tornará uma selvagem, porque todos nós somos educados para viver em sociedade, onde nem tudo é permitido. As crianças, muitas vezes, não gostam de comer na hora certa, negligenciam o banho, enfim, preferem apenas brincar, e até o colégio não será por elas frequentado. Sendo espíritos velhos em corpos infantis e livres de qualquer repressão, será travada uma luta de vida e morte entre os instintos baixos e as lembranças dos valores que cada um aprende na faculdade da erraticidade. Esse duelo tornará o ser muito mais infeliz. A sociedade pro cura fazer com que os homens se tornem civilizados, polimento necessário para o convívio social. Recebem no lar, na escola, no trabalho, em cada circunstância da vida, as lições para aprenderem a viver. A criança retorna à terra com a grande oportunidade do esquecimento e os pais são os primeiros mestres. Infelizmente, muitos pensam que os filhos lhes pertencem e desejam moldá-los ao seu caráter que, não raro, deixa muito a desejar. A criança, gradativamente, vai formando a sociedade dentro dela; capta e grava no seu interior o que a rodeia. Portanto, devemos ter cuidado com as nossas atitudes, para assegurar à criança um belo futuro. Os espíritas sabem que já tivemos muitas vidas e várias vezes compelidos a criar dentro de nós um mundo digno. Em cada reencarnação precisamos de bons professores, seja qual for o nosso estágio. - Obrigado, irmão. Fiz uma pergunta: - Muitas das nossas neuroses foram adquiridas por uma educação por demais severa? - Uma criança de cinco anos, mesmo já sendo um espírito velho, não distingue o que é moral e imoral; ignora, ainda, as leis da sociedade, mas mesmo assim, a ela pertence. Pode tornar-se neurótica porque os pais lhe cobram um comportamento ou de adulto ou de neném. Os pais que vêm nos filhos companheiros, amigos, não os forçam a nada, mas também não os deixam inteiramente livres, porque a criança não é um animal. Porém, é muito difícil educar quando não se é educado. As pessoas que foram mal-educadas, transmitem aos filhos o que a vida lhes deu: "repressão". Cada ser obedece a uma sinalização chamada censura, pois nem tudo podemos fazer. Não nos é permitido nos deitar sobre o fogão ou fazer necessidades fisiológicas no chão da sala ou do quarto. A vida nos ensina a viver em sociedade. Repressão é uma coisa e educação outra. Reprimir é só dizer: não faça; educar é explicar porque não o devemos fazer. A criança, se reprimida, um dia vai fazer tudo o que os pais não lhe explicaram, só proibiram. Portanto, o certo não é reprimir - volto a dizer - é ensinar, e isto só se faz com amor e respeito à fragilidade da criança, sempre medindo, analisando as suas reações, para saber se ela está assimilando bem os ensinamentos. Caso contrário, uma sobrecarga de esclarecimentos sobre regras de comportamento pode levá-la a uma saturação. Quando os pais compartilham com os filhos o seu dia-a-dia, estes vão crescendo, ficando adultos e com poucas neuroses. - Poucas, irmão? - perguntei. Ele respondeu: Sim, poucas. Um mínimo de criaturas não carrega dentro de si fracassos e ansiedades. 0 cotidiano leva o homem para frente, mesmo não ficando inerte ele muitas vezes nada carrega de proveitoso consigo. Portanto, passa pela vida, mas dela nada aproveitou, é como um aluno que vai à escola apenas para passar de ano, sem aprender. No dia em que o homem dormir e acordar procurando a razão da vida e nas suas indagações sentir que é um ser muito bem preparado para se tornar deus, ele mesmo colocará para fora as suas frustrações; e estas, em geral, nos acompanham por milhares de anos. - Irmão, o que devemos fazer quando a criança possui tendência acentuada para o sexo? - Primeiro, observar o bebê. Se temos conhecimentos espíritas, devemos compreendê-lo e amá-lo, muito mais do que aqueles que ignoram a ida e vinda dos espíritos. Em um corpo infantil se encontra prisioneiro um espírito velho e muitas vezes experiente por demais e quando de volta ao corpo físico, embora adormecido, possui sensações. E mesmo ainda bebê, ele experimenta prazer ao ser tocado ou quando as suas roupinhas estão apertadas. Disto, não busquemos escandalizar-nos: ele não deixa de ser uma criança inocente, mas, por mais que a vida nos leve a uma condição de aprendiz, não esquecemos totalmente o passado. O homem se escandaliza, mas também viveu o que hoje estou narrando aqui: ele se via criança, mas muitas vezes sentindo-se adulto. Os pais devem ajudar os filhos no seu difícil estágio infantil, dar-lhes educação, levando-os à prática de esportes e diversões culturais. Do contrário, eles procurarão buscar nos seus próprios corpos o prazer e serão presas de um sentimento de culpa que carregarão pela vida afora. E se esses pequenos forem descobertos praticando atos que os adultos consideram imoral, não os condenem, procurem elucidá-los; eles precisam muito de forças para chegar ao fim da estrada. O homem é um animal cujo corpo já atingiu um melhoramento, mas ainda carrega consigo o instinto dos irracionais e só com a sua própria luta sairá vencedor." 0 amigo despediu-se e se retirou. A prece foi feita e nós fomos saindo vagarosamente. Eu pensei: Meu Deus, por que nós somos tão severos com o próximo? Ninguém pode dizer que conhece alguém sem lhe conhecer a alma. Fui chamado, era a bela irmã Corina. Cumprimentei-a, respeitosamente, e fui informado de que teria aula no teatro vivo da Faculdade, e me vi apressando os passos, mas logo parei, porque Corina não tinha pressa. Ela me sorriu e me senti feliz por possuir amigos, e não existe nada mais belo que um belo sorriso de carinho. Livro Chama Eterna. Abraço. Davi.


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