quarta-feira, 3 de maio de 2017

III. CHAMA ETERNA.

Espiritismo. Texto de Luiz Sérgio. Psicografado por Irene Pacheco Machado. Capítulo 10. ESPÍRITO E PERISPÍRITO, COMPANHEIROS DE EVOLUÇÃO MIGRAÇÕES DO ESPÍRITO. Um pouco apreensivos afastamo-nos, pois eram muito marcantes os acontecimentos. Dei graças a Deus por me encontrar vivo, sem jamais ter morrido, apenas mudado de plano. Hoje moro num lugar onde as flores fazem parte da minha vida. O velho e majestoso prédio, no qual fazíamos as consultas, pareceu-me muito familiar. Quando encarnados não imaginamos que do outro lado do túmulo exista vida tão ativa. Conrad aproximou-se de nós, dizendo: - Luiz, Sara, encontrei um lugar ideal para o descanso, que tem tudo para um relax. Pena que quase ninguém ainda o descobriu. Por que vocês não foram até lá? Onde ficaram? Sara respondeu: - Aprendendo. - Aprendendo? Estão loucos? Se fomos dispensados para descansar (...)  - Sim, Conrad, só que aproveitamos para fixar o atual aprendizado. - E por que, Luiz, não me chamaste? - Desculpe, amigo, no próximo recreio você não será esquecido. - Mas, aonde vocês foram? - A lugares que nos propiciaram esclarecimentos. Conrad ficou desconcertado e eu compreendi o porquê: oportunidade não se deve perder, pois é uma rara joia que se tem a obrigação de usar. De volta à nossa sala de aula, Corina e João já nos esperavam. Olharam-nos, carinhosamente, sabendo que havíamos bem aproveitado o recreio. E irmão João iniciou: - Todos nós sabemos que o espírito, em sua origem, se forma da quintessência dos fluidos do Universo. Sabemos da progressão contínua do espírito. Portanto, é no períspirito que se reflete o atraso e o progresso do espírito. Quando o espírito progride, ele – períspirito – vai tornando-se cada vez mais fluídico, mais sutil e, junto ao espírito, caracteriza a individualidade deste (espírito). O espírito também assimila seu períspirito às regiões que percorre. Desse modo, o períspirito é companheiro de evolução do espírito. - Irmão, se nascemos simples e inocentes e não retroagimos, como então caímos? - Imaginemos uma longa estrada sendo percorrida por uma ovelhinha, cujos pelos brancos vão-se tornando sujos por falta de cuidado. Ela continua sendo uma ovelhinha, não é porque se sujou que deixou de sê-lo. Na mesma condição estamos nós, a quintessência não deixará de existir mesmo se sujarmos os nossos corpos. Contudo, um dia voltaremos a ser simples e bons. E assim os nossos expositores continuaram a narrar o crescimento da Chama divina, e foi no Antigo Testamento que encontramos as maiores explicações nesse sentido, porque buscávamos a vida dos espíritos que foram expulsos do Paraíso. Acompanhamos a formação da Terra e os primeiros homens bíblicos, pois que a Gênesis não narra a origem dos primeiros seres que aqui habitaram, mas a vida do homem já semicivilizado. Quando os homens primitivos aqui chegaram para fazer progredir a Terra, vestiram-se com os fluidos do planeta recém-criado, portanto, não iguais aos que encontramos na Gênesis. A Bíblia revela o processo da evolução do homem na Terra, tanto é que no Antigo Testamento encontramos as leis morais que lhe deram condição de codificar as leis penais. Deus, sentindo que Seus filhos já estavam mais crescidos, ofertou-lhes o código moral como remédio salutar de vida. A expulsão do Paraíso se deu e se dará sempre. Sabemos que a Terra sofrerá uma mudança; dela partirão muitos que irão habitar um planeta em formação, que não sabemos se será igual à Terra quando primitiva ou até pior, conforme a condição desse planeta. Lá, os espíritos que possuem corpos perfeitos usarão corpos formados de substâncias contidas no próprio planeta. Tais substâncias o espírito irá, paulatinamente, aperfeiçoando. Mas, de início, versão com corpos imperfeitos em comparação com os que anteriormente possuíam. Levantei a mão e perguntei: - 0 homem, nessas condições, não sofre uma retrogradação? - Sim, mas somente física. Ele possui uma inteligência que está adormecida. Retroagiria se ele a perdesse e tivesse de desenvolve-la. O evoluir é lento, o despertar é rápido. Aí a diferença. O corpo que cobre o espírito é como uma roupa material, comprada de acordo com as posses do indivíduo. Se a nossa conta no banco divino está zero, temos de nos contentar em possuir uma veste disforme. Por hoje é só. Voltaremos ao assunto novamente; que Jesus nos ampare. Ali fiquei pensativo, olhos lacrimejantes. É penoso saber que um espírito pode voltar a tal condição por seus próprios atos; é terrível presenciar a queda do ser humano. Capítulo 11. OS ESTUDOS CONTINUAM - Amigo, estamos estudando os anjos decaídos, aqueles que expulsos foram do Paraiso, mas existem outros espíritos que vivem em planetas primitivos. Como fica a situação destes? Saturnino citou Kardec. - Gênese, Capítulo XI, item 44: "Com o tempo os maus partem do mundo que habitam, substituídos por espíritos melhores, vindos da erraticidade, desse mesmo mundo ou de um mundo menos adiantado, que deixaram por merecimento, e para os quais sua nova residência é uma recompensa (...)." - O jeito é andar na linha, para não ser deportado. O exílio deve ser horrível, principalmente porque muitas vezes vamos sozinhos, não é mesmo? Todos riram e isso foi bom, pois estávamos muito tensos. Nas avenidas da Faculdade distanciei-me dos outros, pois precisava dar uma chegada em casa para rever meus familiares. Era a saudade. Ao me aproximar do plano físico, meus olhos enterneceram-se pela Terra e dei graças a Deus por Ele me ter criado. Nesse momento, recordei-me de Jesus, de Suas santas palavras: Porque em verdade vos digo que o céu e a terra não passarão, até que se cumpra tudo quanto está na lei, até o último jota e o último ponto. Mateus, Capítulo 5. O Mestre, nesta parábola, mostra-nos o valor das leis de Deus, que terão de ser vividas por todos os Seus filhos. Não sabemos quando, mas os espíritos estejam onde estiverem, terão de evoluir, o que só se dá com a morte do homem mau e o ressurgimento da bondade em nós. Estejamos na terra ou no céu (erraticidade) temos de respeitar as leis de Deus. E no Antigo Testamento, em Salmos de Davi, Capítulo 102, versículos 25 a 27: No princípio, Senhor, fundaste a terra, e os céus são obras de tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás, todos eles envelhecerão como veste. E com roupa os mudarás e serão mudados. Ao lembrar-me dessa passagem do Antigo Testamento, observei os transeuntes e pensei: "Meu Deus, como consegue o corpo físico, mesmo sendo uma veste pesada e frágil, tornar os homens tão orgulhosos! Muitos deles estão convencidos de que orar e fazer caridade é tolice, acreditam que a fé enfraquece o homem." Fui acompanhando duas meninas: narizinhos em pé, bocas bem pintadas, vestidas na onda da moda. Passaram por dois pedintes: não deram esmola e ainda riram da sua miséria. Elas não sabem o que é ser carente. O mundo delas é um mundo onde os valores são materiais; nada mais lhes acrescentam os pais em suas vidas. Apenas conversam sobre sexo, moda e noitadas. Quando se juntaram à turma, dei em retirada. Já que me encontrava em férias, resolvi seguir outras pessoas; estava me defrontando com a Chama Eterna em sua veste física. Não demorou muito a aparecer um "boa pinta" fumando um baseado - acho que para lhe dar coragem - tentando abrir um carro e, para minha surpresa, ele o fez com a maior tranquilidade; puxou-o e rodou com ele alguns metros, onde seu parceiro o esperava. Entregou-lhe o veículo e saiu andando normalmente. Este garoto pertencia à classe média, mas gostava de viver como rico; vestia-se também no rigor da moda, usava belos carros, comprados com dinheiro de roubo, e assim ia vivendo, ou melhor, morrendo moralmente, porém seus dias e suas noites eram de apreensões e medo. Ele estava envelhecendo precocemente e o seu amanhã era incerto. Voltei meu pensamento às recentes lições: "Seria ele, meu Deus, um daqueles que serão exilados da Terra?" Porque quem rouba acostuma-se a obter o que deseja com facilidade e nunca dará valor ao trabalho. Utilizei a minha vinda ao plano físico para formar um paralelo entre o meu aprendizado na espiritualidade e os atos indignos do homem físico, como a sua indiferença para com a miséria humana; a maldade do ser, levando o próximo ao desespero; os torturadores e os sanguinários, enfim, aproveitei a minha visita familiar para conviver com o dia-a-dia do encarnado. Puxar um carro = sentido de roubar. Raros, bem raros são os que se preocupam em viver condignamente no corpo físico. Por julgarem que a vida acaba no túmulo, estão a morrer aos poucos. Nos lares, presenciamos o desrespeito uns para com os outros, pais se agredindo, filhos desconsiderando-os. O homem está ficando menos humano, coração endurecido, cruel e sem esperança. Uma cena de assalto me chocou demais. Foi quando uma jovem senhora, em seu carro, foi sequestrada por dois ladrões; apesar de haver implorado que só lhe levassem o carro, eles, animalizados, também desejavam violentá-la. Não se comoveram. Eu, ali, junto a outros espíritos, tudo fazia para ajudá-la, mas a sua vibração não ofereceu campo propício ao auxílio. Mesmo assim, fizemos aparecer socorro e ela ficou apenas sem o carro e com o susto. Se nós não interferíssemos, ela seria violentada por homens munidos de inteligência, portanto, já humanizados e bem distantes do reino animal. Seres como estes, quando a Terra ficar depurada, não poderão habitá-la. Os seus fluidos não assimilarão os do planeta purificado. Como podemos constatar, não é Deus quem nos expulsa, somos nós que partimos, por não termos condição de viver em um lugar que nos causa mal-estar. Por essa razão, homens maus não conseguem viver no paraíso. Muitos outros fatos presenciei, mas nem tudo posso hoje grafar no papel. Jesus, o Sábio cios sábios, foi sublime quando disse: Não vim destruir a lei, mas dar-lhe cumprimento. E por amor a todos nós, presenteou-nos com o Sermão do Monte, onde cento e onze versículos estão em Mateus (2), para que não ficássemos em trevas. Se pouco desses versículos nós conhecemos, menos ainda os praticamos. O Sermão do Monte é o Código do Amor. No dia em que ele for respeitado, a Terra será habitada só por espíritos bons; até lá, as vestes continuarão a ser trocadas, mostrando-nos a bondade infinita de Deus. Recordando-me de Jesus, entendi a preocupação dos grandes espíritos em nos enviar seus ensinamentos, contudo o homem está cada vez mais orgulhoso. Capitulo V, "As Bem-Aventuranças", ou seja, "O Sermão da Montanha". Preparava-me para voltar à minha colônia de estudos quando me deparei com alguns amigos - os Raiozinhos de Sol - que estão empenhados em ajudar os doentes, viciados, e, com alegria, os abracei; a figura de Enoque trouxe-me paz e, mais uma vez, bem contundentes, ali apresentavam sê-me os ensinos religiosos. Os que dizem que os bons espíritos estão no "Céu" não creem em Deus nem em Jesus, porque, se consultarmos as Escrituras, nos defrontaremos com espíritos iluminados fazendo-se visíveis entre os homens, e estes, muitas vezes, sem qualquer preparação. Quem diz que só se manifestam os espíritos trevosos desconhece as Escrituras ou julga que a Terra retroage; se no passado os espíritos tinham facilidade para se comunicar, por que hoje, na era espírita, eles estariam impossibilitados? Jesus mesmo disse que mandaria o Consolador. Será que este Consolador não é uma plêiade de iluminados espíritos? Veio-me à memória aquela parte deste mesmo Livro, quando um convite foi feito a uma médium e desce, ou melhor, sobe o Espírito de Samuel - como diz o Livro I, Capítulo 28, versículos 8 e 9. Saul consulta a médium de En-Dor, e se defronta com Samuel. Se hoje afirmam que espírito bom não pode ter contato com os encarnados é porque ainda não descobriram a bondade do Pai. 0 Evangelho de Jesus também está repleto de manifestações mediúnicas; será que Jesus iria nos ensinar algo errado? Enoque bateu-me no braço: - Sempre sonhador, não é mesmo, Sérgio? - O que estão fazendo aqui em Brasília? - perguntei. - O de sempre, ou seja, tentando colocar na cabeça das crianças que os sonhos, para serem belos, precisam enfrentar a realidade. Ontem, meu amigo, fomos a um show e vimos que a faixa etária de consumidores da droga está baixando cada vez mais. Os meninos estão-se drogando com as chamadas misturas finas. É triste olhar esses pequeninos morrendo pouco a pouco. Sim, porque morte não é a separação do corpo físico, mas a perda da dignidade no viver. E o que se espera de um jovem que brinca com a sua vida e com toda uma sociedade? - É verdade que ao término do show, o que mais se via pelo chão era embalagem de desodorante? - inquiri. - Infelizmente isto ocorreu. Os pais precisam acompanhar os filhos menores, participar de suas vidas, viver um pouco o momento atual. Ficar em casa em frente ao vídeo, enquanto seus filhos se suicidam, é omissão demais. Eles precisam dos pais que devem procurar saber se seus filhos estão correndo em demasia. Assim falando, despediu-se. Abracei-o com carinho. - Felicidades, amigo. Ore por mim. Ele me sorriu. Aquele sorriso era o elo de uma grande amizade. Apressei-me em voltar, mas antes contemplei a noite e entendi porque Deus cria sem cessar; é porque o homem ainda está longe da perfeição e a matéria perecível contém ainda fluidos tão pesados, que só o tempo se encarregará de mudá-los, mas, para isso, a renúncia é o remédio. Deixei os acontecimentos terráqueos e me vi novamente no meu local de aprendizado. Faltavam algumas horas para reiniciarmos os estudos, por isso decidi caminhar pela Faculdade, indo direto para a Alameda do Lazer, onde muitos irmãos se divertiam fazendo perguntas bíblicas. Uma delas: - Como se chamava o marido de Rute? Resposta: Boaz (Rute, Capítulo 4). Aí eles começaram a recitar os provérbios do Capítulo 20: 19: O mexeriqueiro revela o segredo, portanto não te metas com quem muito abre os lábios. 15: Há ouro e abundância de pérolas, mas os lábios instruídos são joias preciosas. 11: Até a criança se dá a conhecer pelas suas ações, se o que faz é puro e reto. Gostei do provérbio 29: O ornato dos jovens é a sua força, e a beleza dos velhos as suas cãs. Virei-me para sair, quando alguém recitou o versículo 9, do Capítulo 21: Melhor é morar no canto do eirado do que junto à mulher rixosa na mesma casa. Quantos ensinamentos a vida nos oferece! Ali, nas alamedas da Faculdade, vi-me diante da sabedoria divina. Deus, lutando com as nossas tendências, chamava-nos à realidade do Seu caminho. Procurei refúgio em um banco, queria pensar, tinha necessidade de me sentir sozinho. E assim, deixei-me ficar algumas horas não só divagando como também apreciando o movimento de toda a Faculdade. E foi ali que os meus amigos me reencontraram. - Estávamos já preocupados, pensando que o irmão ainda estivesse no mundo físico - falou-me Conrad. Nada respondi, apenas me juntei a eles, pois o trabalho nos esperava. Na sala de aula uma bela música deu-nos as boas vindas, com as telas resplandecendo claridade. Sara indagou-me: - Por que você está preocupado? Algo grave aconteceu na Crosta? Sorri. O tempo era curto para que eu contasse o que presenciei nas poucas horas em que perambulei junto aos encarnados. Nisso, deram entrada os nossos instrutores, fazendo a prece inicial. Logo as telas foram oferecendo cenas extremamente vivas para os nossos olhos; os personagens bíblicos eram tão reais que tínhamos a impressão de estar assistindo a uma peça de teatro. Não sabíamos se eles estavam junto a nós ou se nós é que havíamos regredido no tempo. O tema fora extraído do terceiro Livro de Moisés - Levítico. Penalizados, assistíamos aos holocaustos, aos sacrifícios dos animais, sacrifícios estes condenados pelo Senhor. No versículo 16 do Capítulo 1: Tirarás o papo com suas penas e o lançarás junto ao altar, para a banda do oriente, no lugar da cinza. Atentos e muito curiosos víamos ali, no teatro vivo do passado, desfilar as oferendas aos espíritos bastante necessitados das coisas materiais. Era, para nós que sabemos existir ainda hoje esses sacrifícios, uma revelação do porquê da existência de seitas que usam até agora essas oferendas. Percebíamos claramente que não era o Senhor quem as cobrava, mas entidades ainda muito apegadas à matéria. No versículo 15 do Capítulo 2: Deitarás azeite sobre ela e, por cima, lhe porás incenso; é oferta de manjares. Voltamos a dizer: não era o Senhor quem recebia as oferendas, porém os espíritos que daquilo necessitavam. Observávamos, no Capítulo 4, o sacrifício pelos pecados por ignorância dos sacerdotes. Captaram os nossos instrutores que estávamos ficando confusos. - Por que o sacrifício dos animais era uma forma de perdoar o homem? Resposta: Só o fato de alguém procurar o templo reconhecendo os seus erros e os colocando a público, já representava um gesto de boa vontade. Além do mais, nessa época, os homens, por demais rudes, precisavam de cenas fortes para serem tocados em seus corações. Desde o instante em que o sacrifício se efetuava, o pecador tudo fazia para não ter de voltar ao sacerdote, primeiro porque ficava dispendioso e depois porque eram classificados os pecados segundo sua gravidade: 1 - o sacrifício pelos pecados de ignorância; 2 - o sacrifício pelos pecados voluntários; 3 - o sacrifício pelos pecados ocultos. Era uma época primitiva e o povo precisava de algo que o fizesse temer a justiça divina. Se fossem mandados orar a Deus, tempo não teriam. Como mencionei, presenciamos muitos homens ainda utilizando o sacrifício de animais por não crerem que a prece e o Evangelho sejam um oceano de bênçãos. Pesquisando o Levítico, encontramos a proibição das coisas impuras. Depois de presenciarmos o "senhor" pedindo o sacrifício de animais, filhos de Deus em evolução, nos defrontamos com o mesmo "senhor" aplicando as Suas leis sobre os animais limpos e imundos. No Capítulo 11, versículo 26: Todo animal que tem unhas tendidas, mas o casco não dividido em dois, e não rumina, vos será imundo: qualquer que tocar neles será imundo. Nesse Livro temos muito que aprender, principalmente no que se refere à mulher. Capítulo 15, versículos 2 a 4: Toda cama em que se deitar o que tiver fluxo, será imunda; e tudo que se assentar será imundo. Pode nos parecer por demais infantil esta preocupação mas não podemos esquecer que a mulher, àquela época, era tratada como um ser muito inferior e nesse Capítulo a lei a protege. Nos dias de fluxo menstrual elas necessitam de repouso e os homens, com seus instintos animalescos, isso não respeitavam, sendo esta a razão da advertência. Só assim as mulheres desfrutariam de um relativo descanso. No Capítulo 17 chega-nos a proibição do Senhor no versículo 7: Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios, com os quais eles se prostituem; isso lhes será por estatuto perpétuo nas suas gerações. Começam, então, diante de nossos olhos a aparecer os abusos: muitos já nem iam ao templo; em casa mesmo sacrificavam os animais, fazendo as oferendas aos espíritos classificados neste versículo como demônios. Notamos em seu versículo 9: E não o trouxer à porta da tenda da congregação, para oferece ao Senhor, esse homem será eliminado do seu povo. Aqui se confirmam os abusos. Muitos fizeram altares em suas casas e amansavam a ira dos espíritos trevosos com o sangue dos animais. E continua a advertência no versículo 14: Porquanto a vida de toda carne é o seu sangue; por isso tenho dito aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de nenhuma carne, porque a vida de toda carne é o seu sangue, qualquer que o comer será eliminado. Destacamos deste Livro várias elucidações, pois aqui o homem se depara com muitas verdades atuais. São as leis se fazendo vivas entre os homens. Progressivamente, vários preceitos desfilaram diante de nós e feliz fiquei quando, no Capítulo 25, versículo 39, chegamos às leis a favor dos escravos: Também se teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a ti, não o farás servir como escravo. Infelizmente, encobriu-se a Bíblia de poeira e o homem esqueceu que Deus nos fez, a todos, irmãos. Foi assim que a escravidão tomou conta da Humanidade e até hoje ainda existe a triste exploração do ser. Capítulo 12. DEVASSANDO 0 INCONSCIENTE. Gostaria de ali ficar mais tempo, apesar de ter sido o último a sair e, quando o fazia, encontrei um amigo que estava estudando em outra sala. Felizes ficamos. - Como está, Carlos? - Muito bem, principalmente depois que vim para este departamento de estudo. - Você também está estudando o crescimento do espírito? - Não. Estou frequentando a ala das experiências científicas. - Que bom, amigo, sempre o considerei um ótimo médico. - E você, tem visto os Raiozinhos de Sol? - Estamos sempre juntos. Carlos estou apreciando muito a minha atividade atual; você nem pode imaginar o que é acompanhar o crescimento do Espírito. E pensar que existem irmãos negligenciando qualquer aprendizado, preferindo ficar ao lado dos encarnados, brincando com a vida deles! Fomos ganhando o jardim. A tarde já estava chegando, as flores balanceavam de alegria, porque a brisa divina as osculava com amor. Olhei os pássaros e com ardor desejei que todos os homens tivessem, um dia, o coração livre do egoísmo, respeitassem a liberdade do seu próximo, como desejam ser respeitados e não aprisionassem os animais, por não serem objetos decorativos. Quando assim pensava, um colibri pousou em meu ombro: era a manifestação de Deus em uma de Suas criaturas. Carlos sorriu. - Continua o mesmo, não é, Sérgio? - Sim, às vezes desejaria até procurar um departamento específico, porque me considero muito romântico, mesmo presenciando tristes fatos. Eu gostaria que as pessoas se amassem e, infelizmente, mesmo na nossa Doutrina, aumentam as brigas e acusações. E gente querendo engolir gente, tratando as coisas espirituais como se estas não possuíssem valores. Está faltando Evangelho em nosso meio! - Luiz Sérgio, o que está faltando é caridade. Uns, porque não sabem calar diante do desprestígio; outros, porque desejam uma doutrina sem mácula. Quem tem razão, não sei, só sei que devemos orar por todos os núcleos espíritas, onde não se encontram santos, mas espíritos comprometidos, muitas vezes até uns com os outros. Aí surgem as briguinhas, sempre tão desagradáveis no intuito de derrubar presidente de Centro, fazendo política desrespeitosa, olvidando os valores do homem e do quanto muitos deles esqueceram de si para erguer as primeiras pedras de sua Casa. - Carlos, você acha que são espíritos trevosos que se infiltram em nossos meios, procurando desmoralizar a Doutrina? - O obsessor só penetra onde existe alimento para o seu espírito. Um local que o amor ilumina, jamais viverá em trevas. Não são poucas as igrejas que expulsam a pobreza de junto delas, e o que se vê é uma religião somente social, com poucas obras de caridade, enquanto seus interiores resplandecem de ornamentos. Luiz Sérgio, já que estamos preocupados com o coração dos homens, apresentarei um dos meus professores, por quem tenho grande admiração. E, para você, que está estudando a Chama divina, que é a essência do espírito, será uma boa aula; tiraremos muitas dúvidas sobre a personalidade do ser humano. - Está brincando, Carlos! Estamos em recreio e você vai me oferecer oportunidade tão bela? - Sim, meu amigo. Ele costuma ficar muito tempo meditando no Campo das Hortências. Vamos até lá? Confesso que me senti no ar, tal era o meu contentamento. De longe, avistamos o irmão. Caminhava devagar, de um lado para outro e às vezes gesticulava, olhando para o céu. - Irmão, podemos nos aproximar? - indagou-lhe Carlos. Sem virar o rosto, respondeu: - Com todo prazer os terei ao meu lado para uma conversa de amigo. - Este é o Luiz Sérgio. Parando, olhou-me fixamente nos olhos, desviando-os logo em seguida. Mandou-nos sentar em um banco circular. Eu já estava ficando nervoso, quando ele se dirigiu a mim: - Se ficamos ansiosos é porque não sabemos educar a nossa alma. Qualquer segundo de espera nos traz ansiedade, porque só desejamos receber. O irmão não vê a hora de me ouvir, mas a curiosidade obscurece a mente, levando para o corpo o desequilíbrio. Sempre que isso acontecer, temos de fazer esforço para não descarregar a ansiedade desequilibrada. Do contrário logo estaremos psiquicamente doentes por sobrecarregar as emoções. Confesso que quase caí. Ele, como bom observador, procurou minha mão, cumprimentando-me. - Olavo é o meu nome. - Irmão Olavo, viemos aqui porque estamos preocupados com o grande número de pessoas que estão se tornando neuróticas, atacando, cada vez mais, umas às outras. - Compreendo Carlos, e vou tentar analisar essas almas no contexto espírita. Quem ataca, traz dentro de si um vulcão de ansiedade acumulada por repressões. E um animal que sente, a nível inconsciente, os impulsos do Id. Seu Ego o compensa, levando-o a colocar para fora as violências, que agem como defesa. Se o homem, ao pregar a preservação da moral ou de determinada coisa, procede agressivamente, é porque dentro dele cresce um verme que no fundo da sua alma o incomoda; ao proclamar a defesa de algo, ele bem sabe que o faz porque conhece, e muito bem, a alma que pode praticá-la: ele é uma delas. Se ele combate o adultério, por exemplo, é porque também é falível. Daí o seu temor. Defendendo os ideais de sua comunidade através de ataques impiedosos ao próximo, ele comprova que em sua alma não mora a convicção da verdade que alardeia. A defesa pelo ataque enfraquece o caráter e as palavras tornam-se duras e improdutivas. A alma é escura porque nela estão acumuladas as neuroses adquiridas em encarnações passadas, e só hoje, depois que me transferi de plano, tomei conhecimento de tamanha verdade. A alma é escura até adquirir a luz do Espírito; e isso só conseguimos dela retirando as neuroses -companheiras inseparáveis que vão-se escondendo em nós através da cultura, do meio social e das convivências. Na atualidade, poucos estão vivendo em espírito, principalmente os líderes, surgindo daí as injustiças, pois raros estão em condição de separar o joio do trigo, porquanto imensa maioria não tem capacidade para julgar acertadamente. Se dentro de nós mora apenas uma alma e não um espírito, existindo nela a escuridão, esta afasta o bom senso. Podemos notar que as grandes almas não vieram à Terra para julgar, mas, sim, para dar bons exemplos. Se atacamos dizendo nos defender, afastamo-nos de quem se encontra em campo neutro. Portanto, nada estamos fazendo para o progresso. - Irmão, é certo revidar ofensa? - No pobre linguajar popular, se diz cuspir, ou seja, colocar para fora. Revidamos porque ainda não estamos limpos por dentro e o homem, quando cospe, tenta se limpar, mas jamais o conseguirá se não cuidar do seu interior. O que nos faz sentir ofendidos é a nossa fraqueza de caráter; a ofensa nos mostra a deformação de nossa alma que se vê devassada, e nós não gostamos de despi-la nem mesmo para nós. Assim como vestimos o nosso corpo - com vergonha de mostrar as gorduras ou os ossos - vestimos a alma com uma capa chamada hipocrisia e quando alguém põe à mostra um pedaço menos digno do nosso espaço nos revoltamos, furiosos e feridos. Enquanto o homem possuir apenas alma, vai sentir as neuroses que nela se alojam a cada dia e vão continuar as brigas entre as criaturas, pertençam elas a qualquer meio ou religião. Assustarmo-nos com atitudes grotescas quando elas partem de líderes é desconhecer a negritude da alma e estarmos em busca do espírito, não em nós, mas nos outros, para deles fazermos nossas muletas. O que deve ocorrer é nos apoiarmos em nós próprios, jogando para longe as sujeiras (neuroses), procurando ganhar a liberdade de espírito. E uma luta terrível! O Ego, o Ide o Superego se entrelaçam, um querendo se libertar do outro. Porém à medida que as neuroses aumentam, eles se comprimem cada vez mais nas cadeias profundas da alma humana. Por mais que se estude, ainda não temos capacidade para separá-los. Precisamos, sim, é nos dividir, somar e multiplicar em vontade, para nos libertarmos dos fantasmas criados pelas nossas fraquezas. Calou-se um instante. Fitei meu amigo Carlos, agradecido, principalmente porque me colocou ao lado de Olavo, um grande conhecedor da alma. Perguntei: — Por que dia após dia vêm aumentando as chamadas neuroses, quando a Humanidade está agora muito mais cercada de conforto? Notamos que as crianças de lares ricos são as mais portadoras de traumas. Como sempre, não respondeu de imediato. Então dirigiu os olhos em minha direção: - Se os homens entrelaçassem a Ciência com o Espiritismo, teríamos respostas precisas para certos casos, mas à medida que vamos dilatando as nossas capacidades intelectuais, distanciamo-nos do sobrenatural e nos julgamos um deus pela facilidade de penetrar na alma alheia, principalmente quando está em desequilíbrio. O próprio homem coloca para fora o que o está incomodando e dentre os indicados para ouvi-los, poucos os que têm conhecimento da Doutrina dos Espíritos. Seria prático se cada médium fosse um psicólogo e se cada psicólogo se tornasse um médium. Assim penetraríamos nos mistérios das vidas sucessivas, e seria muito mais fácil compreender os fracassos da atual existência. Por isso eu, quando encarnado, defrontei-me com casos que quase me levaram à loucura: era a procura dos porquês, com teorias que por muitos eram criticadas. Jamais encarei a criança como um ser distante das vontades adultas. Combatido fui, e por mais que eu tentasse explicar o porquê da minha ideia, não encontrava no vocabulário as palavras certas. Depois de desencarnado, encontrei a verdade com a reencarnação. O espírito de uma criança já foi adulto em outra época; ao reencarnar, toma um outro corpo e à medida que nele penetra suas faculdades adormecem, uma após a outra; a memória se apaga, a consciência adormece. 0 espírito não é de criança, é de adulto adormecido, portanto, julgar que uma criança não possui personalidade é desconhecer a profundeza da alma. Confesso que lutava, quando encarnado, para compreender as reações infantis, muitas delas iguais às dos adultos. E com os meus filhos descobri inúmeras verdades, que levei a público e fui muito criticado. Ao dizer a um amigo que os bebês também se excitavam, ele me olhou como se eu tivesse enlouquecido. 0 que eu desejava era o respeito à criança. Hoje, sinto imensamente não ter abraçado o Espiritismo na época das minhas pesquisas científicas sobre a alma humana, que é um universo belo e rico de aprendizado. Se todos os seres procurassem em si próprios a grandeza da vida, viveriam bem longe das neuroses. - Olavo, criança sofre muito, não? - Sim, principalmente os filhos de neuróticos. A criança sofre repressão e, no mesmo instante, uma liberação. Poucos pais sabem oferecer segurança. O jovem, ainda hoje, encara o sexo como um ato sujo e sabe que para ele nascer precisou do ato sexual. Carlos argumentou: - Olavo, mas hoje o sexo está sendo deturpado. Os jovens brincam com algo digno e as meninas estão sendo desrespeitadas. Nós que convivemos com eles, nunca os vimos tão infelizes. - Certo, muito certo. Não é fácil se libertar. Há pouco mostrei aos amigos o conflito do Id, do Ego e do Superego. Hoje, com a visão mais ampla, defronto-me com a carne aprisionando o espírito num mundo de repressões, mas com desejo de se libertar, algumas vezes covardemente, outras, em desequilibrada. Vamos tratar agora, especificamente, da mulher. Ela nasceu, cresceu para casar, ter filhos, cuidar da casa. Segundo essa concepção, a mulher digna assim deveria proceder. Mas ela está vivendo num século moderno, onde outras mulheres se dizem livres. Esta criatura é extremamente infeliz, por estar presa aos preconceitos do ontem, vivendo no hoje reprimida e sem possuir inteligência para se libertar. Portanto, ela é passado, presente e futuro. Não gosta do passado, quando viveu reprimida. Amargurada no hoje, sua alma sente, sofre, sonha e almeja no amanhã possuir coragem. Desse modo, esse espírito vive esmagado pelas neuroses. E um ser áspero, azedo e infeliz. Mas a mulher que joga fora as tradições familiares e vive no hoje não se importando com o amanhã, também não se sente feliz, porque o ser precisa da experiência do ontem para crescer com inteligência no hoje, para no amanhã não chorar de remorso. A mulher está sofrendo porque teme o lirismo como se este a tornasse fraca; e infeliz se encontra ao desejar igualar-se ao homem em liberdade sexual - uma fraqueza que os homens atuais estão tentando se livrar, isto é, os inteligentes. As mulheres obtusas buscam-na ansiosamente, esquecendo que a liberação do ser consiste em não se sentir oprimido pelos remorsos. Ela deve encarar o momento com coragem, conquistando o seu espaço, mas acima de tudo, sabendo respeitar a alma de seu próximo. A hipocrisia toma conta da sociedade, e o que a Doutrina Espírita dá ao homem é a descoberta de si mesmo; ela mostra ao ser a escuridão de sua alma mas lhe oferece condição de se libertar, pois se trata de um doutrina científica e não de proibições e castigos. O homem, ciente de suas fraquezas, é mais apto a fortalecer-se através do estudo, que lhe possibilita conhecer o ontem, o hoje e o amanhã, sem repressões, porque nela não reside a cura, mas sim a libertação consciente. E isto se dá com a alma de pé, jamais caída de vergonha ou medo. Se os irmãos conhecem um pouco de hipnose, devem saber que experiências estão sendo feitas, porém são poucos os experimentadores conscienciosos. Quando encarnado, fiz várias experiências e me deparei com fatos, hoje confesso, distantes do meu conhecimento científico, mesmo dizendo aos meus alunos que tais revelações eram das profundezas da alma, desejos não realizados. O meu lado intelectual me dizia que a alma humana continha mistérios alheios à inteligência; que aquelas lembranças tão vivas e cheias de detalhes estavam adormecidas nas profundezas da consciência, onde eu me via incapaz de atingi-las. E muitas vezes me fiz de cobaia para não me sentir fracassado. Mesmo desejando conhecer a alma, me vi prisioneiro do pretérito, das tradições familiares, da lei, da vida social. 0 hoje - o mundo que eu havia escolhido para buscar atingir o fundo do ser e dele tirar os detritos acumulados por fatos que o atingiriam por demais e que, liberados, podiam fazer o homem feliz - e o amanhã, o sonho da liberação consciente de todos os homens, livres das neuroses, as crianças sendo respeitadas e curadas também; porque elas, vivendo entre o Id, o Ego e o Superego, não se diferenciam do adulto. E isto descobri sem o atual conhecimento da reencarnação. Acreditei nas crianças por não considerá-las ignorantes, como muitos adultos as tratam; eu sempre as vi com os mesmos desejos dos adultos, tanto é que elas sentem fome e frio. E por que não vontade própria? Sendo assim, porque decidimos por elas? Se eu, meus amigos, voltar hoje à terra, não quero ficar longe da Doutrina Espírita. Preciso conhecer a alma e dar ao homem a chave do seu mundo para ele próprio se descobrir, porque só o conhecimento dá o poder. Conhecendo a nós mesmos fugimos dos complexos, ou melhor, entramos em acordo com eles e deles nos livramos. Quando voltar, pretendo saber enriquecer o meu vocabulário, porque o que falta ao meio científico é um pouco mais de humildade. Livro Chama Eterna. Abraço. Davi.

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