quinta-feira, 11 de maio de 2017

I. MATURIDADE.

Espiritualidade. Texto de Sri Prem Baba (1965-  ). Capítulo Cinco. I. MATURIDADE – DONS E TALENTOS. O PROPÓSITO é a missão, o programa da alma dentro da encarnação. Existe um propósito individual e um propósito coletivo, e ambos estão relacionados: o propósito coletivo só pode ser realizado através de cada um de nós. O propósito se revela de maneira particular na vida de cada um, dependendo dos diferentes dons que a alma traz e dos aprendizados que ela precisa absorver, mas em última instância, só existe um propósito, o propósito maior, que é a nossa missão enquanto humanidade. Assim, o propósito individual está a serviço do propósito maior. Como vimos, o ego também tem um programa, ao qual estou chamando de “programa externo”, pois ele é criado com base em referências externas (cultura, educação, família, entre outros fatores sociais). Muitas vezes o programa do ego não tem nenhuma relação com o programa interno, que é o propósito da alma. Essa contradição tem sido a causa da maioria das crises existenciais que o ser humano enfrenta. Ao tratar desse tema durante minhas palestras, vejo que muitos confundem o que é o propósito com aquilo que são as habilidades ou os dons dos quais o propósito se manifesta. O propósito interno está relacionado com aquilo que a pessoa faz no mundo, mas o fazer em si não é propósito. O fazer é um instrumento por meio do qual o propósito se realiza. RECONHECER POTENCIAIS – TODO SER humano nasce com determinadas habilidades ou potenciais latentes, que também podemos chamar de dons. Um dom, quando desenvolvido, torna-se um talento, ou seja, algo que a pessoa faz muito bem e com facilidade. Normalmente, o talento da pessoa é algo que ela gosta muito de fazer, é uma paixão. Vejo muitos jovens sofrerem com a dificuldade de escolher a profissão que irão exercer na vida. Essa dificuldade existe porque eles não conseguem reconhecer seus próprios dons, não sabem o que realmente gostam de fazer. Esse é outro sintoma decorrente dos condicionamentos mentais gerados por um sistema obcecado pelo dinheiro. Vivemos em uma sociedade ambiciosa que valoriza mais o poder financeiro do que a realização pessoal. Nosso sistema educacional não proporciona à criança o contato com aquilo de que ela verdadeiramente gosta. Pelo contrário: somos obrigados a estudar temas e a aprender coisas nas quais não temos interesse ou para as quais não temos aptidão alguma e que, na maioria das vezes, não terão utilidade na nossa vida. Também somos levados a acreditar que determinadas atividades são superiores a outras porque elevam o status social e, teoricamente, garantem estabilidade financeira. A profissão muitas vezes é escolhida de acordo com as tendências do mercado, e nossas paixões acabam sendo vividas esporadicamente como hobbies de final de semana. A mídia e as redes sociais também exercem uma grande influência nas nossas escolhas. Nelas, personalidades, atitudes e estilos de vida são cultuados, personagens inspiram comportamentos e pessoas tornam-se ídolos. A publicidade gera desejos e fomenta o consumismo. Em outras palavras, a mídia instiga o desejo de poder e a ganância. Ela alimenta o falso eu e tudo aquilo que dá poder ao ego. E o ego é muito ambicioso. Ele sempre sonha com coisas muito grandiosas e fantasia que veio para fazer algo muito importante e especial, ou que, em algum momento, se tornará rico e famoso. Muitas vezes isso acontece, mas na maioria dos casos, isso não passa de uma fantasia que impede a pessoa de ter acesso àquilo que ela realmente veio fazer. A partir de uma imagem mental, o indivíduo idealiza um estilo de vida e acaba perdendo muito tempo tentando realizar algo que não tem nada a ver com aquilo que ele realmente veio realizar. Por exemplo, vamos supor que o ego queira ser um grande líder espiritual ou um artista famoso, mas a alma veio com o programa de viver em uma comunidade espiritual para fazer seva. A alma veio para varrer o salão, limpar os vidros, cozinhar para muitas pessoas, regar flores, cantar mantras, rezar e meditar. Imagine a contradição. Uma pessoa muito ambiciosa, que sonha com fama e poder, mas cuja realidade desenha caminhos completamente opostos a esse, no mínimo, torna-se ansiosa e angustiada. É comum que esse indivíduo carregue angústia e, dependendo da dimensão do conflito interno, é normal que haja depressão ou até mesmo outras doenças físicas e psíquicas. Isso ocorre porque por dentro a pessoa está sendo dilacerada: uma força a está puxando para um lado, e outra força a está puxando para outro. O ego alimenta grandes expectativas, mas a alma não tem tantas ambições. Portanto, não somos incentivados a reconhecer, dar valor e desenvolver nossos verdadeiros dons, aqueles que são natos. E isso impossibilita a realização do programa da nossa alma. Para se desenvolver, um dom precisa ser cultivado. Podemos dizer que plantamos dons para colher talentos. Para crescer e dar flores e frutos, uma planta necessita de água e de luz, além de um solo fértil. Da mesma maneira, nossos dons precisam ser alimentados. E isso é feito através da dedicação. Alguns dons são tão naturais que não exigem nenhum esforço para se desenvolver. Outros precisam de uma certa dedicação e de força de vontade. Alguns dons se manifestam logo cedo na vida. Outros irão se manifestar somente com a maturidade. Isso ocorre porque determinados dons servirão apenas para a realização do programa externo e por isso serão desenvolvidos durante o período de afirmação do ego, que é quando o indivíduo se dedica exclusivamente ao desenvolvimento pessoal e ao sucesso material. Então, com o passar do tempo, quando o ego já foi suficientemente cristalizado e a pessoa começa a ser informada de que deve haver uma razão maior para estar encarnada aqui, novas habilidades começam a ser reveladas e desenvolvidas. Alguns não passarão por esse processo, porque de alguma maneira o programa do ego já se relaciona com o programa da alma. Estes continuarão manifestando os mesmos talentos durante toda a vida. O que muda nesses casos é que, em algum momento, o fazer ganha uma nova qualidade – a ação ganha alma. A ação que antes era feita de forma automática e superficial, apenas para corresponder às expectativas externas, passa a ter um novo significado. Apesar do talento e da paixão envolvidos na ação, ela ainda estava a serviço do ego e da carência. Então chega o momento em que a ação novamente é significada e passa a servir ao propósito maior. Em outras palavras, o karma se alinha com o dharma e ocorre um encaixe. SER E FAZER – QUANDO OCORRE esse encaixe – o alinhamento entre os propósitos eterno e interno – somos tomados por uma profunda sensação de completude e pertencimento. É como se finalmente voltássemos para casa depois de muitos anos de viagem. Isso se dá porque quando rompemos com a nossa essência e construímos uma falsa identidade, ocorreu um desencaixe entre aquilo que somos e aquilo que fazemos. Nós deixamos um personagem fictício tomar conta da nossa casa e passamos a fazer aquilo que agrada aos outros e agrega valor a essa falsa ideia de eu. Por isso esse encaixe equivale a um reencontro consigo mesmo. E a partir desse encontro, que é fonte de uma grande alegria, a verdade de quem somos começa a se manifestar através das nossas ações. Porque aquilo que fazemos está intimamente relacionado com aquilo que somos. Na verdade, o ser e o fazer são inseparáveis, assim como a rosa é inseparável do seu perfume. Nossos dons e talentos são fragrâncias do Ser Supremo que nos habita, perfumes que são espargidos em diferentes ações no mundo. Eles são as diversas qualidades da nossa essência primordial: o amor. Portanto nossas ações naturalmente estão servindo ao propósito maior. Então nós sentimos um grande conforto em estar onde estamos e fazer o que fazemos. Muitos, porém, ainda não podem ter essa experiência, pois não estão conscientes dos seus dons e ainda menos conscientes do propósito da alma. Muitos outros até estão conscientes dos seus dons, mas por alguma razão, se recusam a coloca-los em prática. Sempre que entro nesse assunto, lembro-me de uma história que me toca muito pela riqueza de símbolos. Trata-se de uma passagem bíblica que faz alusão a alguns dos obstáculos que o buscador enfrenta durante o processo de despertar da consciência, que é o caminho da autorrealização. Jonas era um fervoroso buscador da verdade. Ele costumava ouvir a voz de Deus falando com ele. Então, em dado momento, Deus falou com ele: ”Jonas, vá para Nínive. Eu quero salvar aquele povo e quero fazer isso através de você. Eu vou falar através de você para salvar aquele povo”. Jonas, porém, não gostou nem um pouco do comando e decidiu pegar uma embarcação que ia justamente para o lado oposto. Ele foi para o porão do barco e lá entrou em sono profundo. Então Deus mandou uma tremenda tempestade. O barco começou a balançar de um lado para outro. Todos começaram a ficar desesperados pelo risco de morte iminente. Então alguém encontrou Jonas, o acordou e disse: “Como você pode dormir num momento como esse?”. Naquela época, costumava-se jogar dados para fazer adivinhação e para se comunicar com o plano espiritual. Então eles jogaram os dados e descobriram que a tempestade estava acontecendo porque havia um estranho no barco. Imediatamente, eles constataram que era Jonas e o jogaram no mar. Naquele momento, a tempestade parou, e Jonas foi engolido por um monstro marinho. E quando estava dentro da boca do monstro (segundo o relato bíblico um grande peixe, como comprovado em Jonas 1,17 “Preparou, pois o Senhor um grande peixe para que tragasse a Jonas. E esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe”), ele se lembrou de orar a Deus. Foi quando novamente ouviu a voz dizendo: “Jonas, vá para Nínive”. Por que Jonas não queria ir para Nínive? Porque guardava mágoas e ressentimentos contra o povo de lá. Ele não queria que aquele povo fosse salvo. Estava preso numa vingança. Quando você se recusa a seguir o caminho do coração, quando se recusa a colocar seus dons e talentos em movimento, isso quer dizer que você está dormindo, que está profundamente amortecido. Então Deus manda uma tremenda tempestade que faz tudo à sua volta balançar, e você diz: Não estou sentindo nada. Não tenha nada a ver com isso. Tudo parece estar muito bem, muito normal, porque você está completamente amortecido. Você segue nesse estado até que algo aconteça. Você é engolido por um monstro e entra no lugar onde fica prestes a ser triturado. A boca do monstro representa um lugar de purificação intensa. E somente quando passa por um susto desse tamanho você volta a sentir e a perceber que tudo que está acontecendo é para que você abra mão de suas mágoas, ressentimentos e vinganças. Tudo é para você aprender a se entregar para o fluxo da vida que está sempre te levando a realizar o seu propósito. Enquanto guardar mágoas e ressentimentos na forma de pactos de vingança (o que significa que você não avançou no processo de purificação da natureza inferior que te habita), não será possível entregar seus presentes ao mundo. Você pode até entregar alguma coisa, mas não tudo. Estando preso a um pacto de vingança, não consegue dar o seu melhor. Muitas vezes, você se recusa a oferecer seus presentes porque tem medo da própria grandeza, tem medo do sucesso. Isso parece absurdo, mas é muito comum. O medo da grandeza ou do seu potencial revelado é o desdobramento de um outro medo: o de superar os pais. Algumas pessoas mantém relações de co-dependência com seus pais, e essas relações se mostram através de um sentimento de impotência diante deles. Então inconscientemente, essas pessoas não querem se desenvolver, pois acreditam que, ao colocar seus dons em movimento, irão superar seus pais e destruir a relação de co-dependência. Alguns ainda conseguem se desenvolver, mas mantém uma certa subserviência por causa da culpa que precisam morar longe dos pais para poderem prosperar, pois não conseguem romper com a miséria da família e da ancestralidade. Esse é um aspecto da natureza inferior difícil de ser compreendido. É uma forma de manter os círculos viciosos de sofrimento. Isso ocorre porque, lamentavelmente, o ser humano se acostumou com o sofrimento. São séculos e séculos de ignorância a respeito do propósito maior da vida e de inconsciência sobre a nossa própria natureza inferior. Nós aprendemos a nos defender acusando os outros. Não conhecemos nossa própria maldade e assim seguimos procurando culpados para nossas misérias. E a forma que encontramos para sobreviver em meio à miséria foi sentindo prazer no sofrimento. É por isso que eu insisto na importância do autoconhecimento. Precisamos tomar consciência das nossas maldades; precisamos conhecer os cantos escuros da mente, que são os aspectos sombrios da personalidade, para podermos purifica-los do nosso sistema. A purificação da natureza inferior é a fase do processo de autoconhecimento na qual nos dedicamos à exploração da consciência para identificar aquelas partes de nós mesmos que, por alguma razão, não aceitamos e escondemos, e que agem à revelia da nossa vontade consciente, sabotando nossa felicidade. Enquanto não evoluímos o suficiente nesse processo, não podemos ser verdadeiramente felizes e prósperos. Quando entrega os presentes que trouxe  para compartilhar, quando está feliz com aquilo que faz, você se torna um elo na corrente da felicidade e da prosperidade – a felicidade e a prosperidade passam por você para chegar aos outros. Seus dons e talentos, quando colocados em movimento, são o amor agindo através de você. E isso naturalmente gera mais felicidade e prosperidade, criando um círculo benigno. Entretanto, existem aquelas pessoas que já podem entregar seus presentes, mas ainda não se harmonizaram com o fluxo da prosperidade. Elas reconhecem seus dons e talentos e até conseguem coloca-los em movimento, mas quando isso envolve dinheiro, tudo fica mais complicado. É como se houvesse um bloqueio que as impede de dar o que têm par dar. Nesse caso, existe um não inconsciente para a prosperidade, o que significa que, provavelmente, há uma imagem, uma crença em relação ao dinheiro. Existe uma dificuldade em lidar com essa energia. PACTOS DE VINGANÇA – SE VOCÊ já tem consciência dos seus dons e talentos, mas de alguma forma se sente impedido de coloca-los em movimento; se você não se sente confiante para fazer aquilo que tem vontade, mesmo sabendo que pode realiza-lo, fique atento para a possibilidade de estar preso em um pacto de vingança. No mais profundo, sempre que existe um bloqueio no fluxo de energia vital (depressão, tristeza, preguiça, raiva, medo), isso quer dizer que existe um pacto de vingança. Pacto s de vingança são acordos feitos inconscientemente no momento em que a entidade sofre choque de exclusão, humilhação, rejeição e repressão. São como contratos realizados entre o ego e o eu inferior. As matrizes do eu inferior funcionam como guardiãs desses contratos, mantendo o império do falso eu. Elas sustentam os pactos de vingança e ao mesmo tempo são alimentadas por eles. Esses acordos inconscientes podem se manifestar de diferentes maneiras na sua vida, como falta de autoconfiança, impotência, rebeldia, vitimismo, entre muitas outras distorções. Inclusive a falta de fé pode ser o sintoma de um pacto de vingança contra o divino. Porque muitas vezes você culpa Deus pelo seu sofrimento. E, quando você culpa a si mesmo, a vingança se manifesta como autodestruição auto sabotagem e auto ódio. Os pactos de vingança podem ser identificados através de contradições. Por exemplo, você sonha em se desenvolver profissionalmente, quer prosperar, mas não consegue fazer aquilo que é necessário para que o seu sonho se realize. O fato é que você pensa que quer, mas no fundo não quer. E é justamente por isso que não consegue. Existe um não inconsciente travando o fluxo da prosperidade na sua vida. E se você consegue identificar essa contradição; se pode, por exemplo, perceber a atuação de um pacto de vingança se manifestando na forma de falta de autoconfiança; se consegue ver a sua insegurança quando, de alguma maneira, não aproveita as oportunidades que surgem na sua vida, você está chegando a um ponto muito importante, um ponto de mutação. Identificar a atuação de um não é como identificar um monstro interno que pode estar sugando a sua energia vital há muito tempo. Mas esse monstro ainda é somente um soldado raso do batalhão do eu inferior. Certamente, há um general por trás dele, dando as ordens. Então, ao chegar nesse ponto, você precisa se aprofundar no processo de auto investigação para que possa conhecer esse general e desfazer esse contrato com o mal. PROSPERIDADE – A VERDADEIRA prosperidade só pode chegar quando estivermos livres dos pactos de vingança a ela relacionados e do medo da escassez, que é outro aspecto da natureza inferior que precisa ser identificado e compreendido. A prosperidade nasce da confiança. Uma pessoa próspera não tem medo da falta. Ela está sempre relaxada, porque não se preocupa com o. É claro que é preciso saber fazer contas e honrar compromisso, mas não é necessário se preocupar. Ser próspero não significa, necessariamente, ter uma conta bancária muito recheada. A prosperidade não tem a ver com o tanto de dinheiro que você tem, mas sim com a confiança de que todas as suas necessidades serão atendidas, independentemente disso. E o dinheiro surge como uma consequência natural dessa confiança. Já falei sobre a riqueza que é construída pelo medo da pobreza. Uma riqueza que gera estresse porque, mesmo tendo muito dinheiro, a pessoa não se permite relaxar e usufruir de suas posses, justamente porque não confia que a vida suprirá suas necessidades. Ela está sempre insegura, com medo de que alguma coisa falte, e com isso não consegue desfrutar nem compartilhar o que tem. Nesse ponto, quero salientar uma questão muito importante a ser compreendida: a prosperidade sobrevive do compartilhar. Não é possível ser verdadeiramente próspero sem que se compartilhe o que é recebido. Você pode acumular dinheiro e conhecimento, pode ter muitos talentos e muitas ideias, mas se não compartilhar (o que significa não colocar em movimento), inevitavelmente o fluxo da prosperidade será bloqueado. Assim como você recebe, precisa aprender a dar. Isso porque a prosperidade é um fluxo de energia, o que significa que ela está em constante movimento. Um fluxo é algo passando, mas quando você tenta pegar o que está passando apenas para você, esse fluxo acaba sendo obstruído. Se você não compartilha o que recebe, o fluxo obviamente é bloqueado. Normalmente, a pessoa que mais tem medo de não receber é a pessoa que menos consegue dar. O medo faz com que ela não confie que irá receber de volta o que tem para dar, e com isso ela não entrega e acaba também deixando de receber. Esse é um dos sintomas do medo da escassez, que é um desdobramento da falta de confiança. A confiança é uma virtude da alma, um fruto maduro da árvore da consciência. Ela nasce de um coração purificado. Você não pode forjar esse estado com a mente. O que você pode fazer é dedicar-se ao autoconhecimento para que possa acessar as imagens e crenças que te impedem de confiar. Livro PROPÓSITO – A Coragem de Ser Quem Somos. Abraço. Davi.

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