Espiritualidade.
Texto de Sri Prem Baba (1965- ). Capítulo Cinco. III. MATURIDADE.
SOFRER PARA SER FELIZ – UMA DAS manifestações do sabotador interno da
felicidade e da prosperidade é a crença de que, para ser feliz, você precisa
sofrer. Essa crença se desdobra de diversas maneiras. Começa com a ideia de que
você precisa trabalhar e se esforçar muito para tirar um dia de folga: que
precisa se sacrificar bastante para um dia poder relaxar (porque desfrutar da
vida é coisa de vagabundo); que para ser uma pessoa espiritual, você precisa
fazer votos de pobreza (...). Por mais inconscientes que sejam essas crenças,
elas estão instaladas no nosso sistema. Estão atuando há tanto tempo que não
conseguimos perceber quanto ainda influenciam as nossas escolhas e como nos
mantém viciados no sofrimento. O modelo de vida no qual as pessoas precisam
trabalhar muito, receber pouco e relaxar menos ainda é, sem dúvida, um produto
do esquecimento do propósito da vida. Como mencionei anteriormente, o dinheiro
deixou de ser um meio pelo qual podemos desfrutar da vida e passou a ser o fim,
pois ter sucesso é sinônimo de ter dinheiro. Com isso nos acostumamos a passar
a maior parte do tempo em busca do dinheiro, mas não temos tempo para desfrutar
daquilo que ele proporciona. E muito, mesmo trabalhando tanto, não recebem o
suficiente para desfrutar e ter conforto na vida. A maioria está apenas
garantindo a sobrevivência. Alguns enriquecem, pensando que um dia poderão
parar de trabalhar tanto e, finalmente, relaxar e descansar em algum lugar
tranquilo. Esperam a velhice chegar para viver a vida. E alguns envelhecem e
continuam trabalhando muito, mesmo sem haver necessidade material, porque têm
medo de lidar com a falta do que fazer. Outra crença, que também é um
desdobramento da crença de que precisamos sofrer para ser felizes, é a de que
somos o que fazemos. Dessa forma não podemos relaxar, porque sempre temos que
estar fazendo alguma coisa. Você já deve ter ouvido ditados populares como: “Deus ajuda
quem cedo madruga” ou “É mais fácil passar um camelo no buraco de uma agulha do
que um rico ir para o reino do céu”, uma referência bíblica em Mateus 19,24.
Essas são expressões de condicionamentos mentais que estão profundamente
enraizadas no psiquismo humano. São crenças que foram instaladas no nosso
sistema através da culpa e do moralismo religioso. É como se precisássemos ser
crucificados e ter uma coroa de espinhos colocadas em nossas cabeças para
podermos entrar no reino do céu. Em outras palavras, precisamos nos sacrificar
muito para merecer a felicidade. Vejo, especialmente entre os buscadores
espirituais, uma grande negação do dinheiro, uma espécie de moralismo em
relação à prosperidade, e isso acaba os colocando em situações tremendamente
difíceis. Muitos até se acostumam com a falta e se convencem de que a vida
espiritual precisa ser austera, mas acabam dependendo de outras pessoas para
terem aquilo de que necessitam. Alguns se desconectam das questões práticas da
vida (deixam o trabalho e se mudam para uma comunidade espiritual) com a ideia
de que precisam fazer isso para encontrar seu verdadeiro propósito, mas acabam
sofrendo com a escassez. Isso não é inteligente. Trata-se de um troque da
sombra para perpetuar o sofrimento. Enquanto ainda não tem certeza do seu
propósito, talvez você precise continuar trabalhando para que suas necessidades
sejam atendidas. Se é verdade que você não está no lugar certo e que veio para
o mundo fazer algo bem diferente do que está fazendo hoje, em algum momento
você terá que se mover, mas essa transição precisa acontecer naturalmente. Pode
ser que essa mudança precise acontecer depressa e que você tenha de deixar
tudo, mas nesse caso não há dúvidas, pois é o seu coração mandando você agir
precipitadamente, porque dessa forma você só gera mais karma. De qualquer
maneira, alguém terá que pagar as suas contas. Prosperidade material e autorrealização não
são coisas opostas. O dinheiro não atrapalha a evolução espiritual. Se queremos
criar uma cultura de paz e prosperidade, precisamos eliminar das nossas mentes
essas crenças limitantes. A violência e o medo da escassez estão intimamente
relacionados. Não é possível haver paz se a maioria da população está sofrendo
com a falta. Não é possível desenvolver valores espirituais se a maioria não
consegue ter suas necessidades básicas atendidas. Por tudo isso,
precisamos nos harmonizar com essa energia que é o dinheiro: nem o
hipervalorizando, nem o subestimando. Para algumas pessoas, o dinheiro é Deus.
Para outras, o dinheiro é o demônio – ou toda a vida é dedicada ao acúmulo de
dinheiro, ou não se pode ter dinheiro no bolso para não se contaminar por ele.
Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio. No mais profundo, o que ocorre é
que, assim como o sexo, o dinheiro se tornou um grande tabu. Muitos carregam
culpa em relação ao dinheiro porque ele pode proporcionar certos prazeres na
vida. A verdade é que o prazer é o maior tabu do ser humano. Certamente, não
estamos encarnados aqui somente para ir atrás do prazer, até porque nesse plano
o prazer é um estado que ocorre no intervalo entre duas dores. Eu sei que isso
pode parecer pessimista, mas é apenas realista. A dor faz parte dessa
experiência material na Terra. Mas assim como a dor lhe é intrínseca, o prazer
também é um direito natural de todo ser encarnado em um corpo. Em algum
momento, você precisa se harmonizar com o prazer, pois ele também faz parte da
realização do propósito maior da vida: a autorrealização. Em algum
momento, teremos a experiência do prazer maior da vida, que é a bem-aventurança
ou felicidade duradoura. Uma pérola de sabedoria creditada ao Buddha diz
que a dor é inevitável, mas que o sofrimento é desnecessário. E desnecessário
significa opcional. Por estarmos encarnados em um corpo, inevitavelmente
experimentamos alguma dor, mas a perpetuação dessa dor é uma questão de
escolha. A dor tem uma função no plano evolutivo. Ela serve para aprendermos
determinadas lições e para nos despertar do amortecimento e do sonho do apego,
do medo, da luxúria e do desamor. Entretanto, o sofrimento gerado por mágoas,
ressentimentos, vinganças, dramas, reclamações e acusações é desnecessário. É
importante lembrar que a vida nesse corpo tem um prazo de validade muito curto.
O tempo é aquilo que temos de mais valioso. Quando você menos espera, a vida
passa, o jogo acaba, por isso não desperdice o seu tempo com coisas inúteis.
Não se perca na ilusão de que precisa batalhar muito para algum dia poder
curtir a vida. Você não precisa conquistar o mundo para ser feliz. Você pode
ser feliz agora, mesmo sem ter conquistado o mundo. PROSPERIDADE E SERVIÇO –
OUTRO DESDOBRAMENTEO do não para a prosperidade é a ideia de que o propósito da
alma só pode ser realizado através de um trabalho social, de caridade, de algo
que não inclui receber dinheiro. Isso acontece porque confundem a realização do
propósito com o serviço voluntário, que na tradição do yoga, é conhecido como
seva, serviço desinteressado, que é um a prática do karma yoga da
ação. Em primeiro lugar, é preciso compreender que ao alinharmos nossas ações
com o propósito interno, independentemente do que estejamos fazendo ou do que
estejamos recebendo em troca do nosso trabalho, sempre estaremos a serviço do
propósito maior. Como vimos, o propósito da alma sempre se relaciona com o
propósito maior, pois está a serviço dele. É possível então que o programa da
sua alma envolva o trabalho voluntário em uma instituição de caridade ou
comunidade espiritual, mas nesse caso você não sentirá falta de nada. Você se
sentirá completo e feliz ao acordar pela manhã para realizar o seu trabalho.
Entretanto, se ao realizar um serviço voluntário você tiver a sensação de que
suas necessidades não estão sendo atendidas ou estiver sofrendo com o medo da
escassez, talvez esse não seja o seu caminho. É possível servir e estar
alinhado com o propósito maior trabalhando em uma grande empresa e recebendo um
ótimo salário por isso. O que realmente importa é o encaixe interno, é sua ação
no mundo fazer sentido. Você pode fazer seva (serviço voluntário) em qualquer
lugar, até mesmo nos grandes centros urbanos. Tenho dito que a espiritualidade
nos dias de hoje precisa ser prática, e isso quer dizer que ela precisa ser
sustentável. O seva, ou serviço desinteressado, é uma forma de prática
espiritual de purificação interna. Se as suas ações estão carregadas da
consciência do propósito, elas se transformam em uma prática espiritual, em um
serviço ao bem maior. Nem todo serviço voluntário estará alinhado com o
propósito da alma, principalmente se você usa esse serviço como forma de fugir
do mundo ou daquilo que de fato precisa fazer. É verdade que, ao colocar os
seus dons e talentos a serviço do bem comum através de um serviço voluntário ou
de uma doação, você está trabalhando pelo dharma, o propósito maior, mas
nem sempre faz parte do programa da sua alma realizar um trabalho dessa
natureza, justamente porque, para se alinhar com o seu propósito, você precisa
ganhar dinheiro. É possível fazer um seva e ao mesmo tempo ser materialmente
próspero. Quando você se harmoniza com o seu propósito, naturalmente suas
necessidades materiais são atendidas. Se o seva está alinhado com a sua missão,
com aquilo que você veio fazer no mundo, inevitavelmente você terá tudo de que
precisa. Isso é uma lei. Também é possível estar alinhado com o propósito e
ainda assim experimentar algum tipo de falta. Mas isso ocorre porque alguns
ajustes ainda precisam ser feitos. O ego pode ter se apropriado da sua ação,
então você ainda precisa trabalhar para purificar algum aspecto não
compreendido. O fato é que se a sua ação no mundo estiver alinhada com o
propósito da sua alma e, consequentemente, com o propósito maior, ela é uma
manifestação divina, é Existência realizando o jogo através de você. E estando
em sintonia com a Existência, não é possível haver falta. A falta surge quando
um aspecto do ego entra no jogo e rouba a cena. Ao realizar o seu propósito
individual, você está a serviço do propósito coletivo, e, quando isso acontece,
você sempre está onde deve estar. Se por alguma razão o Mistério o coloca
dentro de um ashram (comunidade espiritual), você medita e reza com
alegria; se é levado a estar numa instituição social, trabalhando pela cura
planetária, faz o que precisa ser feito com satisfação; se precisa estar em uma
grande empresa ou se dedicando a educar seus filhos, você faz o que é
necessário com ânimo. Esteja onde estiver, você sabe que precisa estar onde
está. O seu fazer deixa de ser uma compulsão do ego e se torna um serviço ao
bem maior. CONSCIÊNCIA DO PROPÓSITO – Ter consciência do propósito é sinônimo
de ter consciência do serviço, pois o seu propósito nada mais é do que o serviço
que você veio prestar à humanidade. E ter esse entendimento é a maior benção
que um ser humano pode receber na vida. Mas essa consciência é um
florescimento, é como uma flor que desabrocha naturalmente. E esse fenômeno só
acontece quando a sua personalidade está devidamente preparada. Isso significa
que, até certo ponto, você já purificou o medo e o ódio do seu sistema. Muitos
criam ansiedade em relação a esse tema, e essa inquietação acaba se
transformando em um impedimento para a revelação do propósito. Entretanto, é
preciso compreender que a consciência do programa da sua alma é um processo que
tem seu tempo. Você pode ainda não ter consciência do que veio fazer aqui, mas
estar vivendo as experiências necessárias para, em algum momento, ter essa
revelação. Você pode estar fazendo muitas coisas com motivos egoístas, mas que
servem como uma preparação para isso. O Eu maior que te habita muitas vezes o
leva para determinados lugares, para viver determinadas experiências e aprender
determinadas lições que servirão para o seu amadurecimento – e a maturidade é
uma qualidade fundamental para a expansão da consciência. Podemos dizer que
essa preparação, esse amadurecimento, é uma das fases da realização do programa
da sua alma, mesmo que você não tenha consciência disso. O programa da alma é
um. Toda alma chega a esse plano com um visão, algo bem específico a ser
compartilhado com o mundo. E mesmo que, até determinado momento, esse programa
esteja dividido em diferentes fases, ele continua sendo único. A alma é sábia –
conhece, entende e respeita as leis da vida. Ela sabe que, para ser
bem-sucedido em alguma iniciativa, você precisa estar inteiro. Toda a sua
energia precisa estar focada numa direção, porque se estiver com um pé em cada
canoa, você acaba se machucando. Então muitas vezes o seu programa precisa ser
realizado em etapas. E essas etapas se desenvolvem de acordo com a expansão da
consciência. O desenvolvimento das suas habilidades ou potenciais latentes
também faz parte desse mesmo processo de preparação, de forma que você possa
dar o que tem a oferecer. No entanto, algumas dessas habilidades só podem ser
reconhecidas e desenvolvidas quando temos consciência do que viemos realizar
aqui. Muitas vezes, ao tomar consciência do seu programa, você passa a ver sentido
em habilidades que já tinha descoberto, mas ainda não havia se dedicado a
desenvolver. Quando você se conscientiza e se multiplicam, pois eles são o
mecanismo, o instrumento através do qual o propósito se realiza. Se existe algo
que pode trazer sentimento de completude para o ser humano, é a consciência do
propósito da alma. E o propósito começa a se revelar na medida em que você se
entrega ao fluxo espiritual, o que é sinônimo de entregar-se aos comandos do
coração. A realização do propósito é a manifestação da divindade através de
você. Na medida em que amadurece e vai se desidentificando do falso
eu, você se torna um instrumento, um canal da divindade. Aos poucos se
transforma numa testemunha silenciosa que apenas observa a divindade trabalhar
através de você. E a divindade usa seus dons e talentos para realizar o
propósito maior. AÇÃO E DOAÇÃO – Ao desenvolvermos nossos dons e talentos, que
são nossas habilidades natas, mesmo que elas ainda sejam usadas para realizar
os caprichos do ego, nossas ações passam a ser carregadas de uma eficiência
ímpar. O resultado das ações que nascem dos nossos dons naturais é sempre
carregado de uma beleza e um brilho estra. E quando existe a consciência do
propósito maior dessas ações, o resultado é particularmente luminoso, porque
elas ganham uma qualidade ainda mais especial. Ter consciência do propósito é
saber o seu lugar no mundo, é saber a sua função no plano divino. Você sabe que
está onde deve estar. É como uma peça de um quebra-cabeças que, ao se encaixar,
se torna algo maior. E esse encaixe permite que suas ações ganhem essa nova
qualidade – a qualidade do serviço ou da doação. O propósito da alma está
intimamente relacionado ao serviço. Podemos dizer que serviço e propósito são
sinônimos, pois servir significa ser um instrumento para a realização do
propósito maior da expansão da consciência. Servir é tornar-se um canal de amor
para fazer o outro crescer, prosperar, ser feliz; para fazer o outro brilhar.
Ao ativar o seu propósito, o que significa colocá-lo em movimento, você se
torna uma inspiração para os outros, um canal para a expansão da consciência
coletiva. Em outras palavras, serviço é colocar o amor em movimento, ou seja,
deixar o amor passar por você para chegar ao outro. O seva (voluntariado ou
fraternidade) é uma doação, mesmo que essa doação seja realizada por meio da
uma profissão em que há um acordo financeiro. Nesse caso, o dinheiro é uma
consequência da ativação do seu propósito e não está em primeiro lugar – em
primeiro lugar está a consciência do serviço. Uma sabedoria que nasce da
tradição cristã que diz: “é dando que se recebe”. Essa é a verdade, porém isso
acontece somente se a doação for desinteressada. Esse círculo benigno de dar e
receber se completa apenas quando você dá sem querer nada em troca. Somente
dessa forma a energia pode circular. E o serviço somente é desinteressado
quando existe uma renúncia do resultado das ações, ou seja, quando você pode
fazer sem esperar reconhecimento, atenção, fama ou dinheiro. Somente dessa
forma é possível experimentar o poder do serviço. Estamos falando de uma lei
espiritual (não de uma lei moral criada pela mente humana): quanto mais você
dá, mais você recebe. Quando isso acontece, a sua energia é cada vez mais
ativada através da energia do outro e vice-versa. E quando a sua energia
cresce, você experimenta alegria, completude e conexão com a realidade maior.
Você se sente cada vez mais guiado, pois quanto mais ouve e segue os comandos
do coração, mais ele fala com você. Tendo desenvolvido a qualidade do serviço,
você começa a trilhar o caminho da entrega. E nessa fase o seu aprendizado é
entregar os frutos das suas ações ao grande Mistério, o que significa ir além
do ego, além da autoria. Você deixa de fazer para promover a sua personalidade
ou para alimentar a sua vaidade. Mas quando essa qualidade ainda não foi
desenvolvida e o fazer ainda é automático e movido por interesses egoístas,
falar da renúncia dos frutos das ações pode parecer até mesmo uma ofensa. Isso
acontece porque o ego ainda precisa receber reconhecimento por aquilo que faz.
Ele ainda precisa agregar valor à falsa identidade. Mas não há nada de errado
nisso. Essa é uma passagem natural e necessária dentro do processo evolutivo da
alma, até porque você precisa ter o que renunciar. Não tendo nada, o que você
irá renunciar? Você precisa ter um ego para entregar. A renúncia de um rei tem
um valor, a de um mendigo tem outro valor. É muito importante não se enganar:
não há nada de errado em querer reconhecimento pelo que você faz. Tudo depende
do que a sua alma está precisando no momento. E também não há nada de errado em
querer ser importante ou em ganhar dinheiro. Muitos são levados a servir em
cargos importantes, na política ou no mercado financeiro – no olho da matrix (uma
palavra de origem latina, que deriva de mater, significando mãe. Também
designa o útero). E quem somos nós para julgar os desígnios da Existência? Cada
um está onde precisa estar. E estando onde precisa estar, está encaixado, mesmo
que ainda não haja consciência do propósito maior disso. Se fosse eleger o mais
poderoso instrumento de ascensão, eu diria que esse instrumento é o serviço.
Quando se permite servir sem querer nada em troca, você sente satisfação
imediata. Eu sei que pode parecer contraditório, porque estou dizendo que o
valor do serviço está no desinteresse e ao mesmo tempo afirmando que, ao
servir, o seu coração é imediatamente preenchido de satisfação e alegria.
Então, obviamente, alguns tentarão servir para experimentar essa alegria. Mas
com isso vão se deparar com a necessidade de purificar mais um núcleo de
egoísmo dentro de si, porque ainda estão fazendo com interesse, mesmo que seja
o de sentir alegria. Mas não há nada de errado em iniciar dessa maneira. Você
começa a partir do interesse em experimentar a alegria e com base nisso poderá
identificar os pontos que precisam ser purificados. Pouco a pouco você vai
purificando esses pontos, até que possa se entrega verdadeiramente ao serviço
de forma desinteressada. Até que possa fazê-lo somente por amor. E é esse serviço
realizado por amor que traz preenchimento e alegria sem causa. AÇÃO E ORAÇÃO –
A consciência espiritual precisa expandir em todos e em todos os lugares, pois
essa é a grande meta da vida. E para que isso aconteça, a espiritualidade
precisa fazer parte da vida de todos. A mensagem espiritual precisa chegar em
todos os lugares – nas empresas, nas instituições públicas e nas escolas. E
este é um dos aspectos positivos da era da interatividade; a grande
possibilidade de compartilhamento da mensagem espiritual. Em tempos remotos,
para ter acesso ao conhecimento espiritual, era necessário deixar o trabalho, a
família e o conforto do lar para ir viver em um monastério ou em uma caverna no
Himalaia (a cordilheira abrange cinco países: Paquistão, Índia, China, Nepal,
Butão e Tibete. Nela se situa a montanha mais alta do planeta: o monte Everest
com 8.848 metros de altitude. O nome Himalaia vem do sânscrito e significa:
morada da neve). E agora vivemos em um período no qual o conhecimento está cada
vez mais acessível a todos. É claro que existe o aspecto negativo disso, pois a
banalização da mensagem também pode dar origem a uma forma de espiritualidade
superficial. Porém eu sou otimista em relação a isso, porque podemos tratar
essa superficialidade como uma fase ou como uma semente plantada. Se a
verdadeira espiritualidade irá florescer é algo que não podemos controlar. Como
disse antes, chegou o tempo em que a espiritualidade precisa ser prática. Não é
mais necessário (nem possível) estar em um ashram (comunidade
espiritual) para rezar, meditar e conectar-se com o Mistério. Muito pelo
contrário: tornou-se necessário aprender a fazer isso onde quer que se esteja.
E para isso precisamos fazer de cada conjunto de ações uma oração ao universo.
Eu veja o seva (voluntariado – fraternidade) como uma forma prática de oração,
uma expressão de entrega ao Divino, uma forma prática de declarar o eu amor ao
Mistério. Esta é a essência do Karma Yoga, o caminho da liberdade
através da ação desinteressada. Yoga significa união – união com a realidade
maior que nos habita e permeia toda a vida. Portanto, Karma Yoga é
unir-se ao Todo através da ação. E podemos estar cada vez mais unidos ao Todo
quando renunciamos o ego. Quando conseguimos abrir mão da necessidade de
crescer como indivíduos, adentramos a esfera do crescimento coletivo. Em outras
palavras, começamos a transformar o egoísmo em altruísmo, que é a forma mais
elevada de amor. Quando cada minuto de ação é transformado em oração, a sua
vida se torna uma constante prática de yoga. Mas para isso, você precisa
desenvolver totalidade na ação, o que significa que é necessário que você
esteja plenamente atento, inteiramente presente, ocupando seu corpo a cada
atitude. Essa qualidade pode ser desenvolvida através da meditação, mas também
através do próprio seva. Enquanto faz o seu seva, você naturalmente está
direcionando os vetores da sua vontade e disciplinando a sua mente, ao mesmo
tempo em que está purificando o egoísmo do seu sistema. A prática do seva
também te prepara para acessar a esfera mais elevada do amor, o altruísmo.
Durante uma fase, é natural que você oscile entre o altruísmo e o egoísmo,
justamente porque a purificação ainda não está completa. Então você também não
deve negar o egoísmo. É importante reconhecer que ele existe, mas ao mesmo
tempo é importante não alimentá-lo. Você reconhece, que ele está presente,
porém não o julga. Observa a sombra, mas dá força à luz. Você dá força para o
altruísmo, para o Eu maior. Então aos poucos é possível perceber um alinhamento
interno que se manifesta na forma de um sentimento de completude, de
pertencimento, de encaixe. Você deixa de sentir-se isolado e dividido – se
sente parte de algo maior. Você se transporta da mente para o coração. O amor
passa por você e é espargido para o mundo por meio dos seus dons e talentos, e
dessa maneira você se coloca como um elo na corrente Universal da vida, na qual
as histórias de todas as pessoas estão conectadas e na qual os destinos fluem
em uma mesma direção. Você se torna um servo do Mistério. Esse é o meu
trabalho. Eu sou um servo do Mistério. Estou sempre orando para que o amor
desperte em todos e em todos os lugares. Rezo, oro, para que todos possam
experimentar a principal fragrância do verdadeiro serviço, que é a alegria sem
causa. Minha oração é feita de diversas maneiras, inclusive através de ações,
atitudes e decisões, mas principalmente, através das mãos daqueles que são
tocados por essa mensagem e escolhem se comprometer com a missão do despertar
do amor. Sou muito grato àqueles que têm oferecido seus dons e talentos para
servir a essa grande meta. A gratidão, assim como a alegria sem causa, é uma
flor que brota da virtude do serviço (seva) desinteressado. Que você possa ter
essa experiência! SERVIÇO E CURA – Uma característica da missão da alma humana
é também sintetizar e transformar a sombra planetária, que é o conjunto das
sombras dos indivíduos que aqui habitam. As matrizes do eu inferior se
manifestam com mais ou menos força em cada pessoa, e essa manifestação também
ocorre em nível coletivo. Muitas vezes, dependendo do lugar onde está, você
percebe uma maior atuação de determinada matriz em você. Isso ocorre porque o
inconsciente coletivo influencia no inconsciente individual e vice-versa. Por
isso, ao transformar a sombra em você, a sombra coletiva também é transformada.
Mas para que possa transformar esses aspectos sombrios dentro e fora de você,
se faz necessário considera-los como unicamente seus. É verdade que a maldade
está em todo o lugar, mas você precisa se responsabilizar pelo mal que age
através de você. A auto responsabilidade é um dos elementos do processo de
cura. Quando você se responsabiliza pela maldade que age através de você e se
permite compreender os mecanismos pelos quais ela se manifesta por meio das
suas ações, pouco a pouco a compreensão a respeito disso vai crescendo, até que
a maldade perde a força e você deixa de atuar nela. Compreensão é luz, e a luz
imediatamente dissolve a sombra. É parte da nobre missão da alma iluminar,
compreender e transformar os aspectos sombrios da humanidade através da
purificação e transformação da personalidade. Esse é o motivo pelo qual o maior
foco do meu trabalho tem sido no processo de transformação pessoal, porque ao
iluminar a sombra que o habita , você ilumina também a sombra coletiva. A cada
ponto de luz que é aceso dentro de você, o planeta fica mais iluminado. Quando
transforma o orgulho que há em você em humildade, o mundo se torna mais
humilde. Quando transforma o medo que existe em você em confiança, o mundo se torna
mais confiante. O mesmo acontece com todas as matrizes do eu inferior. Com isso
estou dizendo que a cura planetária depende da cura de cada um de nós. Como
mencionei anteriormente, o seva (serviço desinteressado) é uma prática de
purificação do ego. E muitas vezes o processo de purificação se torna bastante
difícil. É como uma máquina de lavar que entra no modo de centrifugação, e a
lavagem dos karmas se torna extremamente intensa. É nesse momento que
a tentação de parar tudo e sair correndo é grande. Isso ocorre porque essa
purificação envolve revisitar situações traumáticas, reviver sentimentos
negativos e dores profundas. Essa lavagem karmica envolve um certo
sofrimento, porque toda a dor que foi amortecida e guardada durante muito tempo
vem à tona nesse momento. E você revive não somente a sua dor, que é produto da
sua história pessoal, mas também a dor que é produto do karma coletivo.
O sofrimento coletivo passa pelo seu corpo para ser transmutado, e à medida que
se entrega a esse processo, o seu próprio sofrimento também é transmutado.
Portanto, o Karma Yoga é um curador que ao colocar-se a serviço
transmuta o sofrimento em alegria. Costumo dizer que todo karma yogi toma
veneno, porque o seu trabalho é justamente transformar o veneno em néctar. E
quando falo de veneno, estou me referindo à maldade que se manifesta como
crueldade. É através dela que as forças contrárias ao amor atuam no nosso
sistema, tanto individual como coletivamente. A crueldade é feita de medo e de
ódio, e nele está contida a dor. Então você se torna um curador quando está
pronto para abrir mão da sua própria crueldade, das suas próprias doenças. Isso
significa que você precisa estar disposto a se curar. Porque se ainda não
purificou pelo menos um tanto das suas próprias dores, você acaba se
identificando com a dor do outro e não consegue liberá-la. Quando isso
acontece, a dor se instala no seu sistema, e você fica doente. Mas, estando
suficientemente maduro para não se identificar com a dor que atravessa o seu
sistema, você se torna um verdadeiro instrumento de cura – você inspira
sofrimento e expira alegria. Mas isso não é algo que se aprende nos livros.
Trata-se de um aprendizado que acontece através da prática. Você aprende a
trabalhar pelo outro na medida em que se dispõe a servir. Você aprende a
trabalhar pelo outro na medida em que se dispõe a servir. Você pode estar
limpando o chão para o outro, varrendo o chão para o outro, mas esse é somente
o aspecto externo, o aspecto material da sua ação. No mais profundo, você está
varrendo karmas. Qualquer ação desinteressada, feita com a consciência do
propósito, tem esse poder de cura. Não há prática mais poderosa e valiosa do
que servir. Portanto, sirva a todos e ame a todos. Trabalhe para que todos
sejam felizes, para que todos sejam ditosos, para que todos estejam em paz. É
muito limitado querer tudo isso somente para si. PROPÓSITO – A Coragem de Ser
Quem Somos. Abraço. Davi.
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