domingo, 14 de maio de 2017

III. MATURIDADE.

Espiritualidade. Texto de Sri Prem Baba (1965-  ). Capítulo Cinco. III. MATURIDADE. SOFRER PARA SER FELIZ – UMA DAS manifestações do sabotador interno da felicidade e da prosperidade é a crença de que, para ser feliz, você precisa sofrer. Essa crença se desdobra de diversas maneiras. Começa com a ideia de que você precisa trabalhar e se esforçar muito para tirar um dia de folga: que precisa se sacrificar bastante para um dia poder relaxar (porque desfrutar da vida é coisa de vagabundo); que para ser uma pessoa espiritual, você precisa fazer votos de pobreza (...). Por mais inconscientes que sejam essas crenças, elas estão instaladas no nosso sistema. Estão atuando há tanto tempo que não conseguimos perceber quanto ainda influenciam as nossas escolhas e como nos mantém viciados no sofrimento. O modelo de vida no qual as pessoas precisam trabalhar muito, receber pouco e relaxar menos ainda é, sem dúvida, um produto do esquecimento do propósito da vida. Como mencionei anteriormente, o dinheiro deixou de ser um meio pelo qual podemos desfrutar da vida e passou a ser o fim, pois ter sucesso é sinônimo de ter dinheiro. Com isso nos acostumamos a passar a maior parte do tempo em busca do dinheiro, mas não temos tempo para desfrutar daquilo que ele proporciona. E muito, mesmo trabalhando tanto, não recebem o suficiente para desfrutar e ter conforto na vida. A maioria está apenas garantindo a sobrevivência. Alguns enriquecem, pensando que um dia poderão parar de trabalhar tanto e, finalmente, relaxar e descansar em algum lugar tranquilo. Esperam a velhice chegar para viver a vida. E alguns envelhecem e continuam trabalhando muito, mesmo sem haver necessidade material, porque têm medo de lidar com a falta do que fazer. Outra crença, que também é um desdobramento da crença de que precisamos sofrer para ser felizes, é a de que somos o que fazemos. Dessa forma não podemos relaxar, porque sempre temos que estar fazendo alguma coisa. Você já deve ter ouvido ditados populares como: “Deus ajuda quem cedo madruga” ou “É mais fácil passar um camelo no buraco de uma agulha do que um rico ir para o reino do céu”, uma referência bíblica em Mateus 19,24. Essas são expressões de condicionamentos mentais que estão profundamente enraizadas no psiquismo humano. São crenças que foram instaladas no nosso sistema através da culpa e do moralismo religioso. É como se precisássemos ser crucificados e ter uma coroa de espinhos colocadas em nossas cabeças para podermos entrar no reino do céu. Em outras palavras, precisamos nos sacrificar muito para merecer a felicidade. Vejo, especialmente entre os buscadores espirituais, uma grande negação do dinheiro, uma espécie de moralismo em relação à prosperidade, e isso acaba os colocando em situações tremendamente difíceis. Muitos até se acostumam com a falta e se convencem de que a vida espiritual precisa ser austera, mas acabam dependendo de outras pessoas para terem aquilo de que necessitam. Alguns se desconectam das questões práticas da vida (deixam o trabalho e se mudam para uma comunidade espiritual) com a ideia de que precisam fazer isso para encontrar seu verdadeiro propósito, mas acabam sofrendo com a escassez. Isso não é inteligente. Trata-se de um troque da sombra para perpetuar o sofrimento. Enquanto ainda não tem certeza do seu propósito, talvez você precise continuar trabalhando para que suas necessidades sejam atendidas. Se é verdade que você não está no lugar certo e que veio para o mundo fazer algo bem diferente do que está fazendo hoje, em algum momento você terá que se mover, mas essa transição precisa acontecer naturalmente. Pode ser que essa mudança precise acontecer depressa e que você tenha de deixar tudo, mas nesse caso não há dúvidas, pois é o seu coração mandando você agir precipitadamente, porque dessa forma você só gera mais karma. De qualquer maneira, alguém terá que pagar as suas contas. Prosperidade material e autorrealização não são coisas opostas. O dinheiro não atrapalha a evolução espiritual. Se queremos criar uma cultura de paz e prosperidade, precisamos eliminar das nossas mentes essas crenças limitantes. A violência e o medo da escassez estão intimamente relacionados. Não é possível haver paz se a maioria da população está sofrendo com a falta. Não é possível desenvolver valores espirituais se a maioria não consegue ter suas necessidades básicas atendidas. Por tudo  isso, precisamos nos harmonizar com essa energia que é o dinheiro: nem o hipervalorizando, nem o subestimando. Para algumas pessoas, o dinheiro é Deus. Para outras, o dinheiro é o demônio – ou toda a vida é dedicada ao acúmulo de dinheiro, ou não se pode ter dinheiro no bolso para não se contaminar por ele. Precisamos encontrar um ponto de equilíbrio. No mais profundo, o que ocorre é que, assim como o sexo, o dinheiro se tornou um grande tabu. Muitos carregam culpa em relação ao dinheiro porque ele pode proporcionar certos prazeres na vida. A verdade é que o prazer é o maior tabu do ser humano. Certamente, não estamos encarnados aqui somente para ir atrás do prazer, até porque nesse plano o prazer é um estado que ocorre no intervalo entre duas dores. Eu sei que isso pode parecer pessimista, mas é apenas realista. A dor faz parte dessa experiência material na Terra. Mas assim como a dor lhe é intrínseca, o prazer também é um direito natural de todo ser encarnado em um corpo. Em algum momento, você precisa se harmonizar com o prazer, pois ele também faz parte da realização do propósito maior da vida: a autorrealização. Em algum momento, teremos a experiência do prazer maior da vida, que é a bem-aventurança ou felicidade duradoura. Uma pérola de sabedoria creditada ao Buddha diz que a dor é inevitável, mas que o sofrimento é desnecessário. E desnecessário significa opcional. Por estarmos encarnados em um corpo, inevitavelmente experimentamos alguma dor, mas a perpetuação dessa dor é uma questão de escolha. A dor tem uma função no plano evolutivo. Ela serve para aprendermos determinadas lições e para nos despertar do amortecimento e do sonho do apego, do medo, da luxúria e do desamor. Entretanto, o sofrimento gerado por mágoas, ressentimentos, vinganças, dramas, reclamações e acusações é desnecessário. É importante lembrar que a vida nesse corpo tem um prazo de validade muito curto. O tempo é aquilo que temos de mais valioso. Quando você menos espera, a vida passa, o jogo acaba, por isso não desperdice o seu tempo com coisas inúteis. Não se perca na ilusão de que precisa batalhar muito para algum dia poder curtir a vida. Você não precisa conquistar o mundo para ser feliz. Você pode ser feliz agora, mesmo sem ter conquistado o mundo. PROSPERIDADE E SERVIÇO – OUTRO DESDOBRAMENTEO do não para a prosperidade é a ideia de que o propósito da alma só pode ser realizado através de um trabalho social, de caridade, de algo que não inclui receber dinheiro. Isso acontece porque confundem a realização do propósito com o serviço voluntário, que na tradição do yoga, é conhecido como seva, serviço desinteressado, que é um a prática do karma yoga da ação. Em primeiro lugar, é preciso compreender que ao alinharmos nossas ações com o propósito interno, independentemente do que estejamos fazendo ou do que estejamos recebendo em troca do nosso trabalho, sempre estaremos a serviço do propósito maior. Como vimos, o propósito da alma sempre se relaciona com o propósito maior, pois está a serviço dele. É possível então que o programa da sua alma envolva o trabalho voluntário em uma instituição de caridade ou comunidade espiritual, mas nesse caso você não sentirá falta de nada. Você se sentirá completo e feliz ao acordar pela manhã para realizar o seu trabalho. Entretanto, se ao realizar um serviço voluntário você tiver a sensação de que suas necessidades não estão sendo atendidas ou estiver sofrendo com o medo da escassez, talvez esse não seja o seu caminho. É possível servir e estar alinhado com o propósito maior trabalhando em uma grande empresa e recebendo um ótimo salário por isso. O que realmente importa é o encaixe interno, é sua ação no mundo fazer sentido. Você pode fazer seva (serviço voluntário) em qualquer lugar, até mesmo nos grandes centros urbanos. Tenho dito que a espiritualidade nos dias de hoje precisa ser prática, e isso quer dizer que ela precisa ser sustentável. O seva, ou serviço desinteressado, é uma forma de prática espiritual de purificação interna. Se as suas ações estão carregadas da consciência do propósito, elas se transformam em uma prática espiritual, em um serviço ao bem maior. Nem todo serviço voluntário estará alinhado com o propósito da alma, principalmente se você usa esse serviço como forma de fugir do mundo ou daquilo que de fato precisa fazer. É verdade que, ao colocar os seus dons e talentos a serviço do bem comum através de um serviço voluntário ou de uma doação, você está trabalhando pelo dharma, o propósito maior, mas nem sempre faz parte do programa da sua alma realizar um trabalho dessa natureza, justamente porque, para se alinhar com o seu propósito, você precisa ganhar dinheiro. É possível fazer um seva e ao mesmo tempo ser materialmente próspero. Quando você se harmoniza com o seu propósito, naturalmente suas necessidades materiais são atendidas. Se o seva está alinhado com a sua missão, com aquilo que você veio fazer no mundo, inevitavelmente você terá tudo de que precisa. Isso é uma lei. Também é possível estar alinhado com o propósito e ainda assim experimentar algum tipo de falta. Mas isso ocorre porque alguns ajustes ainda precisam ser feitos. O ego pode ter se apropriado da sua ação, então você ainda precisa trabalhar para purificar algum aspecto não compreendido. O fato é que se a sua ação no mundo estiver alinhada com o propósito da sua alma e, consequentemente, com o propósito maior, ela é uma manifestação divina, é Existência realizando o jogo através de você. E estando em sintonia com a Existência, não é possível haver falta. A falta surge quando um aspecto do ego entra no jogo e rouba a cena. Ao realizar o seu propósito individual, você está a serviço do propósito coletivo, e, quando isso acontece, você sempre está onde deve estar. Se por alguma razão o Mistério o coloca dentro de um ashram (comunidade espiritual), você medita e reza com alegria; se é levado a estar numa instituição social, trabalhando pela cura planetária, faz o que precisa ser feito com satisfação; se precisa estar em uma grande empresa ou se dedicando a educar seus filhos, você faz o que é necessário com ânimo. Esteja onde estiver, você sabe que precisa estar onde está. O seu fazer deixa de ser uma compulsão do ego e se torna um serviço ao bem maior. CONSCIÊNCIA DO PROPÓSITO – Ter consciência do propósito é sinônimo de ter consciência do serviço, pois o seu propósito nada mais é do que o serviço que você veio prestar à humanidade. E ter esse entendimento é a maior benção que um ser humano pode receber na vida. Mas essa consciência é um florescimento, é como uma flor que desabrocha naturalmente. E esse fenômeno só acontece quando a sua personalidade está devidamente preparada. Isso significa que, até certo ponto, você já purificou o medo e o ódio do seu sistema. Muitos criam ansiedade em relação a esse tema, e essa inquietação acaba se transformando em um impedimento para a revelação do propósito. Entretanto, é preciso compreender que a consciência do programa da sua alma é um processo que tem seu tempo. Você pode ainda não ter consciência do que veio fazer aqui, mas estar vivendo as experiências necessárias para, em algum momento, ter essa revelação. Você pode estar fazendo muitas coisas com motivos egoístas, mas que servem como uma preparação para isso. O Eu maior que te habita muitas vezes o leva para determinados lugares, para viver determinadas experiências e aprender determinadas lições que servirão para o seu amadurecimento – e a maturidade é uma qualidade fundamental para a expansão da consciência. Podemos dizer que essa preparação, esse amadurecimento, é uma das fases da realização do programa da sua alma, mesmo que você não tenha consciência disso. O programa da alma é um. Toda alma chega a esse plano com um visão, algo bem específico a ser compartilhado com o mundo. E mesmo que, até determinado momento, esse programa esteja dividido em diferentes fases, ele continua sendo único. A alma é sábia – conhece, entende e respeita as leis da vida. Ela sabe que, para ser bem-sucedido em alguma iniciativa, você precisa estar inteiro. Toda a sua energia precisa estar focada numa direção, porque se estiver com um pé em cada canoa, você acaba se machucando. Então muitas vezes o seu programa precisa ser realizado em etapas. E essas etapas se desenvolvem de acordo com a expansão da consciência. O desenvolvimento das suas habilidades ou potenciais latentes também faz parte desse mesmo processo de preparação, de forma que você possa dar o que tem a oferecer. No entanto, algumas dessas habilidades só podem ser reconhecidas e desenvolvidas quando temos consciência do que viemos realizar aqui. Muitas vezes, ao tomar consciência do seu programa, você passa a ver sentido em habilidades que já tinha descoberto, mas ainda não havia se dedicado a desenvolver. Quando você se conscientiza e se multiplicam, pois eles são o mecanismo, o instrumento através do qual o propósito se realiza. Se existe algo que pode trazer sentimento de completude para o ser humano, é a consciência do propósito da alma. E o propósito começa a se revelar na medida em que você se entrega ao fluxo espiritual, o que é sinônimo de entregar-se aos comandos do coração. A realização do propósito é a manifestação da divindade através de você. Na medida em que amadurece e vai se desidentificando do falso eu, você se torna um instrumento, um canal da divindade. Aos poucos se transforma numa testemunha silenciosa que apenas observa a divindade trabalhar através de você. E a divindade usa seus dons e talentos para realizar o propósito maior. AÇÃO E DOAÇÃO – Ao desenvolvermos nossos dons e talentos, que são nossas habilidades natas, mesmo que elas ainda sejam usadas para realizar os caprichos do ego, nossas ações passam a ser carregadas de uma eficiência ímpar. O resultado das ações que nascem dos nossos dons naturais é sempre carregado de uma beleza e um brilho estra. E quando existe a consciência do propósito maior dessas ações, o resultado é particularmente luminoso, porque elas ganham uma qualidade ainda mais especial. Ter consciência do propósito é saber o seu lugar no mundo, é saber a sua função no plano divino. Você sabe que está onde deve estar. É como uma peça de um quebra-cabeças que, ao se encaixar, se torna algo maior. E esse encaixe permite que suas ações ganhem essa nova qualidade – a qualidade do serviço ou da doação. O propósito da alma está intimamente relacionado ao serviço. Podemos dizer que serviço e propósito são sinônimos, pois servir significa ser um instrumento para a realização do propósito maior da expansão da consciência. Servir é tornar-se um canal de amor para fazer o outro crescer, prosperar, ser feliz; para fazer o outro brilhar. Ao ativar o seu propósito, o que significa colocá-lo em movimento, você se torna uma inspiração para os outros, um canal para a expansão da consciência coletiva. Em outras palavras, serviço é colocar o amor em movimento, ou seja, deixar o amor passar por você para chegar ao outro. O seva (voluntariado ou fraternidade) é uma doação, mesmo que essa doação seja realizada por meio da uma profissão em que há um acordo financeiro. Nesse caso, o dinheiro é uma consequência da ativação do seu propósito e não está em primeiro lugar – em primeiro lugar está a consciência do serviço. Uma sabedoria que nasce da tradição cristã que diz: “é dando que se recebe”. Essa é a verdade, porém isso acontece somente se a doação for desinteressada. Esse círculo benigno de dar e receber se completa apenas quando você dá sem querer nada em troca. Somente dessa forma a energia pode circular. E o serviço somente é desinteressado quando existe uma renúncia do resultado das ações, ou seja, quando você pode fazer sem esperar reconhecimento, atenção, fama ou dinheiro. Somente dessa forma é possível experimentar o poder do serviço. Estamos falando de uma lei espiritual (não de uma lei moral criada pela mente humana): quanto mais você dá, mais você recebe. Quando isso acontece, a sua energia é cada vez mais ativada através da energia do outro e vice-versa. E quando a sua energia cresce, você experimenta alegria, completude e conexão com a realidade maior. Você se sente cada vez mais guiado, pois quanto mais ouve e segue os comandos do coração, mais ele fala com você. Tendo desenvolvido a qualidade do serviço, você começa a trilhar o caminho da entrega. E nessa fase o seu aprendizado é entregar os frutos das suas ações ao grande Mistério, o que significa ir além do ego, além da autoria. Você deixa de fazer para promover a sua personalidade ou para alimentar a sua vaidade. Mas quando essa qualidade ainda não foi desenvolvida e o fazer ainda é automático e movido por interesses egoístas, falar da renúncia dos frutos das ações pode parecer até mesmo uma ofensa. Isso acontece porque o ego ainda precisa receber reconhecimento por aquilo que faz. Ele ainda precisa agregar valor à falsa identidade. Mas não há nada de errado nisso. Essa é uma passagem natural e necessária dentro do processo evolutivo da alma, até porque você precisa ter o que renunciar. Não tendo nada, o que você irá renunciar? Você precisa ter um ego para entregar. A renúncia de um rei tem um valor, a de um mendigo tem outro valor. É muito importante não se enganar: não há nada de errado em querer reconhecimento pelo que você faz. Tudo depende do que a sua alma está precisando no momento. E também não há nada de errado em querer ser importante ou em ganhar dinheiro. Muitos são levados a servir em cargos importantes, na política ou no mercado financeiro – no olho da matrix (uma palavra de origem latina, que deriva de mater, significando mãe. Também designa o útero). E quem somos nós para julgar os desígnios da Existência? Cada um está onde precisa estar. E estando onde precisa estar, está encaixado, mesmo que ainda não haja consciência do propósito maior disso. Se fosse eleger o mais poderoso instrumento de ascensão, eu diria que esse instrumento é o serviço. Quando se permite servir sem querer nada em troca, você sente satisfação imediata. Eu sei que pode parecer contraditório, porque estou dizendo que o valor do serviço está no desinteresse e ao mesmo tempo afirmando que, ao servir, o seu coração é imediatamente preenchido de satisfação e alegria. Então, obviamente, alguns tentarão servir para experimentar essa alegria. Mas com isso vão se deparar com a necessidade de purificar mais um núcleo de egoísmo dentro de si, porque ainda estão fazendo com interesse, mesmo que seja o de sentir alegria. Mas não há nada de errado em iniciar dessa maneira. Você começa a partir do interesse em experimentar a alegria e com base nisso poderá identificar os pontos que precisam ser purificados. Pouco a pouco você vai purificando esses pontos, até que possa se entrega verdadeiramente ao serviço de forma desinteressada. Até que possa fazê-lo somente por amor. E é esse serviço realizado por amor que traz preenchimento e alegria sem causa. AÇÃO E ORAÇÃO – A consciência espiritual precisa expandir em todos e em todos os lugares, pois essa é a grande meta da vida. E para que isso aconteça, a espiritualidade precisa fazer parte da vida de todos. A mensagem espiritual precisa chegar em todos os lugares – nas empresas, nas instituições públicas e nas escolas. E este é um dos aspectos positivos da era da interatividade; a grande possibilidade de compartilhamento da mensagem espiritual. Em tempos remotos, para ter acesso ao conhecimento espiritual, era necessário deixar o trabalho, a família e o conforto do lar para ir viver em um monastério ou em uma caverna no Himalaia (a cordilheira abrange cinco países: Paquistão, Índia, China, Nepal, Butão e Tibete. Nela se situa a montanha mais alta do planeta: o monte Everest com 8.848 metros de altitude. O nome Himalaia vem do sânscrito e significa: morada da neve). E agora vivemos em um período no qual o conhecimento está cada vez mais acessível a todos. É claro que existe o aspecto negativo disso, pois a banalização da mensagem também pode dar origem a uma forma de espiritualidade superficial. Porém eu sou otimista em relação a isso, porque podemos tratar essa superficialidade como uma fase ou como uma semente plantada. Se a verdadeira espiritualidade irá florescer é algo que não podemos controlar. Como disse antes, chegou o tempo em que a espiritualidade precisa ser prática. Não é mais necessário (nem possível) estar em um ashram (comunidade espiritual) para rezar, meditar e conectar-se com o Mistério. Muito pelo contrário: tornou-se necessário aprender a fazer isso onde quer que se esteja. E para isso precisamos fazer de cada conjunto de ações uma oração ao universo. Eu veja o seva (voluntariado – fraternidade) como uma forma prática de oração, uma expressão de entrega ao Divino, uma forma prática de declarar o eu amor ao Mistério. Esta é a essência do Karma Yoga, o caminho da liberdade através da ação desinteressada. Yoga significa união – união com a realidade maior que nos habita e permeia toda a vida. Portanto, Karma Yoga é unir-se ao Todo através da ação. E podemos estar cada vez mais unidos ao Todo quando renunciamos o ego. Quando conseguimos abrir mão da necessidade de crescer como indivíduos, adentramos a esfera do crescimento coletivo. Em outras palavras, começamos a transformar o egoísmo em altruísmo, que é a forma mais elevada de amor. Quando cada minuto de ação é transformado em oração, a sua vida se torna uma constante prática de yoga. Mas para isso, você precisa desenvolver totalidade na ação, o que significa que é necessário que você esteja plenamente atento, inteiramente presente, ocupando seu corpo a cada atitude. Essa qualidade pode ser desenvolvida através da meditação, mas também através do próprio seva. Enquanto faz o seu seva, você naturalmente está direcionando os vetores da sua vontade e disciplinando a sua mente, ao mesmo tempo em que está purificando o egoísmo do seu sistema. A prática do seva também te prepara para acessar a esfera mais elevada do amor, o altruísmo. Durante uma fase, é natural que você oscile entre o altruísmo e o egoísmo, justamente porque a purificação ainda não está completa. Então você também não deve negar o egoísmo. É importante reconhecer que ele existe, mas ao mesmo tempo é importante não alimentá-lo. Você reconhece, que ele está presente, porém não o julga. Observa a sombra, mas dá força à luz. Você dá força para o altruísmo, para o Eu maior. Então aos poucos é possível perceber um alinhamento interno que se manifesta na forma de um sentimento de completude, de pertencimento, de encaixe. Você deixa de sentir-se isolado e dividido – se sente parte de algo maior. Você se transporta da mente para o coração. O amor passa por você e é espargido para o mundo por meio dos seus dons e talentos, e dessa maneira você se coloca como um elo na corrente Universal da vida, na qual as histórias de todas as pessoas estão conectadas e na qual os destinos fluem em uma mesma direção. Você se torna um servo do Mistério. Esse é o meu trabalho. Eu sou um servo do Mistério. Estou sempre orando para que o amor desperte em todos e em todos os lugares. Rezo, oro, para que todos possam experimentar a principal fragrância do verdadeiro serviço, que é a alegria sem causa. Minha oração é feita de diversas maneiras, inclusive através de ações, atitudes e decisões, mas principalmente, através das mãos daqueles que são tocados por essa mensagem e escolhem se comprometer com a missão do despertar do amor. Sou muito grato àqueles que têm oferecido seus dons e talentos para servir a essa grande meta. A gratidão, assim como a alegria sem causa, é uma flor que brota da virtude do serviço (seva) desinteressado. Que você possa ter essa experiência! SERVIÇO E CURA – Uma característica da missão da alma humana é também sintetizar e transformar a sombra planetária, que é o conjunto das sombras dos indivíduos que aqui habitam. As matrizes do eu inferior se manifestam com mais ou menos força em cada pessoa, e essa manifestação também ocorre em nível coletivo. Muitas vezes, dependendo do lugar onde está, você percebe uma maior atuação de determinada matriz em você. Isso ocorre porque o inconsciente coletivo influencia no inconsciente individual e vice-versa. Por isso, ao transformar a sombra em você, a sombra coletiva também é transformada. Mas para que possa transformar esses aspectos sombrios dentro e fora de você, se faz necessário considera-los como unicamente seus. É verdade que a maldade está em todo o lugar, mas você precisa se responsabilizar pelo mal que age através de você. A auto responsabilidade é um dos elementos do processo de cura. Quando você se responsabiliza pela maldade que age através de você e se permite compreender os mecanismos pelos quais ela se manifesta por meio das suas ações, pouco a pouco a compreensão a respeito disso vai crescendo, até que a maldade perde a força e você deixa de atuar nela. Compreensão é luz, e a luz imediatamente dissolve a sombra. É parte da nobre missão da alma iluminar, compreender e transformar os aspectos sombrios da humanidade através da purificação e transformação da personalidade. Esse é o motivo pelo qual o maior foco do meu trabalho tem sido no processo de transformação pessoal, porque ao iluminar a sombra que o habita , você ilumina também a sombra coletiva. A cada ponto de luz que é aceso dentro de você, o planeta fica mais iluminado. Quando transforma o orgulho que há em você em humildade, o mundo se torna mais humilde. Quando transforma o medo que existe em você em confiança, o mundo se torna mais confiante. O mesmo acontece com todas as matrizes do eu inferior. Com isso estou dizendo que a cura planetária depende da cura de cada um de nós. Como mencionei anteriormente, o seva (serviço desinteressado) é uma prática de purificação do ego. E muitas vezes o processo de purificação se torna bastante difícil. É como uma máquina de lavar que entra no modo de centrifugação, e a lavagem dos karmas se torna extremamente intensa. É nesse momento que a tentação de parar tudo e sair correndo é grande. Isso ocorre porque essa purificação envolve revisitar situações traumáticas, reviver sentimentos negativos e dores profundas. Essa lavagem karmica envolve um certo sofrimento, porque toda a dor que foi amortecida e guardada durante muito tempo vem à tona nesse momento. E você revive não somente a sua dor, que é produto da sua história pessoal, mas também a dor que é produto do karma coletivo. O sofrimento coletivo passa pelo seu corpo para ser transmutado, e à medida que se entrega a esse processo, o seu próprio sofrimento também é transmutado. Portanto, o Karma Yoga é um curador que ao colocar-se a serviço transmuta o sofrimento em alegria. Costumo dizer que todo karma yogi toma veneno, porque o seu trabalho é justamente transformar o veneno em néctar. E quando falo de veneno, estou me referindo à maldade que se manifesta como crueldade. É através dela que as forças contrárias ao amor atuam no nosso sistema, tanto individual como coletivamente. A crueldade é feita de medo e de ódio, e nele está contida a dor. Então você se torna um curador quando está pronto para abrir mão da sua própria crueldade, das suas próprias doenças. Isso significa que você precisa estar disposto a se curar. Porque se ainda não purificou pelo menos um tanto das suas próprias dores, você acaba se identificando com a dor do outro e não consegue liberá-la. Quando isso acontece, a dor se instala no seu sistema, e você fica doente. Mas, estando suficientemente maduro para não se identificar com a dor que atravessa o seu sistema, você se torna um verdadeiro instrumento de cura – você inspira sofrimento e expira alegria. Mas isso não é algo que se aprende nos livros. Trata-se de um aprendizado que acontece através da prática. Você aprende a trabalhar pelo outro na medida em que se dispõe a servir. Você aprende a trabalhar pelo outro na medida em que se dispõe a servir. Você pode estar limpando o chão para o outro, varrendo o chão para o outro, mas esse é somente o aspecto externo, o aspecto material da sua ação. No mais profundo, você está varrendo karmas. Qualquer ação desinteressada, feita com a consciência do propósito, tem esse poder de cura. Não há prática mais poderosa e valiosa do que servir. Portanto, sirva a todos e ame a todos. Trabalhe para que todos sejam felizes, para que todos sejam ditosos, para que todos estejam em paz. É muito limitado querer tudo isso somente para si. PROPÓSITO – A Coragem de Ser Quem Somos. Abraço. Davi.



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