Espiritualidade.
Texto de Sri Prem Baba (1965- ).
Capítulo Cinco. II. MATURIDADE. GÊNESE DA INSEGURANÇA – NOS MEUS estudos
enquanto psicólogo e na minha experiência como buscador e mestre espiritual,
tudo que pude pesquisar me levou a constatar que o medo da escassez surge,
principalmente, a partir da relação com a mãe ou com o feminino. A relação com
o pai também influencia, porém isso acontece mais tarde. As primeiras
influências ocorrem através da mãe, pois ela é o portal pelo qual chegamos
aqui. Em outras palavras, podemos dizer que a insegurança primordial nasce de
uma distorção do feminino e se perpetua principalmente através da distorção do
masculino. Vamos compreender melhor isso. Independentemente do gênero sexual
que se manifesta em nossos corpos, todos temos uma porção masculina e uma
porção feminina dentro de nós. A vida neste plano se manifesta no equilíbrio
entre esses dois princípios opostos, o masculino e o feminino. E assim como se
manifesta na natureza, essa polaridade existe dentro do ser humano. Todos nós
temos virtudes masculinas e virtudes femininas que, quando distorcidas ou
desvirtuadas, se transformam naquilo que chamamos de “defeitos”. Por exemplo, a
força é uma qualidade masculina que, quando distorcida, se manifesta como
agressividade e desejo de dominação. A confiança, por sua vez, é uma qualidade
feminina que, quando desvirtuada, se manifesta como insegurança ou submissão. A
distorção do feminino se alimenta da distorção do masculino e vice-versa.
Compreendo que a confiança é a qualidade feminina mais necessária para o
processo do despertar do amor. Sem ela, a autorrealização não é possível. A
confiança está intimamente relacionada com o amor. Se você não confia, não ama,
pois a confiança é como uma ponte para o amor. Se observar as relações humanas,
você verá que o amor não cresce se não houver confiança. Se o relacionamento
estiver contaminado pela desconfiança, mesmo que seja por uma pequena porção
dela, isso impossibilita o crescimento do amor. Tenho dito que os
relacionamentos afetivos são o melhor instrumento de aferição para sabermos
onde estamos na jornada evolutiva. Através deles, é possível perceber como
estamos em relação aos nossos pais, que representam os princípios feminino e
masculino dentro de nós. Neles, a confiança ou a falta dela ficam bastante
claras, e o melhor termômetro para medir isso é observar quanto podemos deixar
o outro livre, quanto o amor se abala com a atitude do outro. Dentro da esfera do feminino, a mãe é, sem dúvida, o
maior símbolo. E a nossa conexão com o feminino através da mãe é algo realmente
profundo: ela é o veículo por meio do qual chegamos nesse plano. Hoje em dia já
existem comprovações científicas de que a criança recebe todos os impactos do
ambiente enquanto ainda está na barriga da mãe. E não somente do que acontece
no entorno, mas do que acontece no mundo psicoemocional da mãe, com todas as
suas dúvidas, medos, alegrias e tristezas. Nós ficamos dentro da barriga da mãe
por nove meses e com isso experimentamos
o mundo pela primeira vez por meio dela. Começamos a receber as
primeiras influências externas através do leito materno. Às vezes o leite chega
com sabor de rejeição, impaciência e raiva; e as vezes o leite não chega. A
partir daí, crenças começam a ser formadas, e o medo da escassez começa a se
instalar no nosso sistema. Isso quer dizer que o medo da escassez não se
relaciona somente com a falta de dinheiro, mas também com a falta de
acolhimento, de carinho, de cuidado – com a falta de amor. Esse medo de não ser
amado se manifesta como sentimento de não pertencimento, insuficiência,
impotência e inadequação, entre outros sentimentos negativos. E esses
sentimentos se traduzem em crenças que dizem constantemente: “Eu não consigo
aquilo de que preciso” ou “eu não mereço isso de que preciso”. Tais crenças
funcionam como comandos para o subconsciente, e dessa forma acabamos criando
nossa realidade. A partir desses comandos, situações da vida que reforçam essas
crenças começam a acontecer, e inicia-se um círculo vicioso. O contrário também
é verdadeiro: quando o leite é amoroso, ou seja, quando a criança recebe a
informação de que está sendo bem alimentada, acolhida, recebida e cuidada, a
confiança começa a ser instalada no seu sistema. Um núcleo de fé é instalado
dentro de você e assim a sua autoconfiança dificilmente é abalada. Pelo fato de
o contato com a mãe ser tão determinante para a formação dessa base de
autoconfiança, eu sempre enfatizo a necessidade de reconciliação com o feminino,
não somente na forma da mãe, mas também na forma da natureza, do corpo humano e
das mulheres em geral. Precisamos reaprender a confiar. Digo reaprender porque,
na verdade, nós nascemos confiando, mas em algum momento nossa confiança é
quebrada e aprendemos a sentir medo. O medo é como um super vírus. Não existe
um remédio específico para ele, e o seu tratamento é bastante difícil. Há muito
tempo estamos tentando nos curar do medo. E, muitas vezes, quando temos a
impressão de estar livres dele, a vida traz situações que fazem com que o medo
volte com força total. Nesses momentos, é de grande valia acordarmos a
lembrança de que tais situações servem justamente para ampliarmos nossa
percepção até o ponto em que possamos identificar as armadilhas do medo antes de
cair nelas. Essa percepção só é possível quando nos libertamos da crença de que
não podemos receber aquilo de que precisamos. E isso só é possível por meio do
perdão. Enquanto não perdoarmos as nossas mães, não perdoaremos o feminino, e,
se não perdoarmos o feminino, seguiremos destruindo o planeta e as nossas
próprias vidas. Quando você se reconcilia com o feminino através do perdão, o
medo deixa de ter poder sobre você. E se o medo não tem mais poder, o ódio
também se torna impotente – porque o ódio só tem poder por causa do medo. Ódio
e medo andam de mãos dadas, mas na base está o medo. A sombra da mãe (distorção
do feminino) acorda o medo em você, e através do medo ela acorda o ódio e a dor
que vem com ele. O ódio se perpetua através da sombra do pai (distorção do
masculino). Então se a sua consciência está identificada com a sombra dos seus
pais, inevitavelmente você sente a dor da carência. E a partir da carência
surgem muitos outros sintomas: ciúme, inveja, competição, impotência, avareza e
todo tipo de miséria. Mas se a sua consciência está identificada com a luz dos
seus pais, você compreende que essa sombra é uma ilusão, e tudo se transforma.
Para quem está no caminho do autoconhecimento e da autorrealização, eu sinto
que algumas perguntas são importantes: quando perdi a confiança? Quando passei
a duvidar e a ter medo? Como posso confiar? Essas são questões significativas
que podem ajudá-lo a mapear as crenças que dão sustentação ao medo. Às vezes
você dá um passo em direção à confiança e diz: “Ok, eu vou confiar!” Então
resolve seguir os comandos do seu coração, mas se alguma coisa não acontece da
maneira como imagina, você se frustra e novamente deixa de confiar.
Ocasionalmente faz parte do aprendizado da confiança quebrar a perna, porque
para se libertar do medo e crescer em autoconfiança você precisa viver uma
experiência como essa. E a verdade é que não há garantia nenhuma de que as
coisas sempre serão como você espera. Faz parte do aprendizado da confiança
correr riscos. Então aos poucos você chega num lugar de confiança interna no
qual as dúvidas se encerram e você tem certeza de estar no lugar certo, mesmo
que tudo pareça estar errado. Essa é a verdadeira confiança, aquela que
independe do que está acontecendo no mundo externo, pois ela vem de dentro.
Essa confiança remove qualquer semente de dúvida e providencia para que todas
as suas necessidades sejam atendidas. Ela liberta seu sistema do medo,
especialmente do medo da escassez. DINHEIRO É ENERGIA – VIMOS QUE o medo da
escassez se relaciona com diversos elementos, não somente com o dinheiro, e
que, no mais profundo, o medo original é o de não sermos amados. Mas, sem
dúvida, um dos desdobramentos mais importantes do medo da escassez é o medo da
falta de dinheiro e de recursos materiais. O dinheiro é uma poderosa energia de
troca. Para recebermos essa energia, precisamos oferecer algo por ela. Fazemos
algo para recebe-la e a utilizamos conforme nossas necessidades, o que também
gera determinado tipo de energia. Entretanto, o dinheiro é uma energia neutra:
em si, ela não é positiva nem negativa. O que determina sua qualidade são o uso
e o valor que lhe damos. Assim, do mesmo modo como ela pode nos ajudar a
realizar a jornada, também pode dificultar muito e até nos destruir. Isso
porque facilmente a transformamos em ganância, obsessão por poder e avareza, o
que pode se desdobrar em várias outras distorções. Assim, o que determina se
essa energia agirá de forma negativa ou positiva em nossas vidas é a nossa
capacidade de lidar com ela, o que significa lidar com os conteúdos
psicoemocionais que projetamos no dinheiro. Se olharmos para a situação
econômica mundial, por exemplo, poderemos constatar que o ser humano vem tendo
grande dificuldade em lidar com essa energia. A ganância tem feito com que sejamos
canais de uma crueldade sem tamanho. Mesmo com tanto dinheiro circulando e com
a abundância dos recursos naturais, grande parte da população ainda sofre com a
miséria e a fome. Uma pequena minoria detém a maior parte da riqueza do
planeta, enquanto a maioria ainda luta pela sobrevivência. Por causa desse mau
uso, essa tão poderosa energia se tornou uma ameaça para o processo evolutivo
do ser humano. São muitas as crenças a respeito do dinheiro, o que acaba
transformando essa energia em algo que vai além daquilo que ela realmente é.
Nós damos ao dinheiro um valor emocional extremamente alto. Projetamos nele
questões que nada têm a ver com a sua função no mundo. Isso ocorre devido a
distorções que geram crenças e imagens em relação ao dinheiro. Por exemplo, quando
os pais, por não conseguirem dar afeto, carinho e atenção pra um filho, acabam
tentando suprir essa carência de amor comprando coisas para eles, isso faz com
que a criança relacione o afeto ao dinheiro. Então o dinheiro deixa de ter um
uso instrumental e passa a ser uma necessidade simbólica. Ele deixa de ser
apenas um elemento de troca para ser algo que supre uma carência afetiva. Outro
exemplo é a crença mencionada anteriormente de que o dinheiro compra tudo,
inclusive a felicidade. No senso comum, ter dinheiro é sinônimo de ter sucesso
na vida. Existem outros indicadores de sucesso, mas por causa dessa crença, a
base para uma vida bem-sucedida é ter bastante dinheiro. Desde cedo somos
programados a acreditar que, para sermos felizes, precisamos de sucesso e,
portanto, precisamos de dinheiro. Nós precisamos “vencer na vida”, o que
significa ter reconhecimento profissional, fama, e principalmente, dinheiro.
VENCER NA VIDA – O DINHEIRO, portanto, transformou-se num sinal de sucesso, um
símbolo de vitória. Só posso vencer se tenho dinheiro, e se não o tenho sou um
perdedor, um fracassado. Esse é o senso comum a respeito do sucesso. Mas por
razões óbvias, esse conceito precisa ser revisto – precisamos re-significar o
sucesso. Já tivemos provas suficientes de que a busca por esse sucesso que
depende do acúmulo de dinheiro tem nos levado ao fracasso. A nossa história,
assim como a atual situação planetária, demonstra que temos falhado em nossas
tentativas de alcançar a felicidade. O fato é que nunca estivemos tão
infelizes. Nunca estivemos tão deprimidos, tão pobres, perdidos, confusos,
ansiosos, doentes. Isso não é vencer, isso é fracassar. A principal causa desse
fracasso é o esquecimento da nossa identidade espiritual e a inconsciência em
relação ao propósito maior da vida. Estando desconectados de nós mesmos e do
nosso propósito, agimos como se o corpo fosse a realidade final e,
consequentemente, somos guiados pelos impulsos do corpo. Inconscientes de que
existe um princípio espiritual que permeia toda a existência e que tem
ascendência sobre o mundo material, obviamente nos rendemos as leis que o
regem. Com isso o sentido da vida passa a ser a satisfação das necessidades do
corpo. Essa é uma profunda distorção da realidade. Com base nessa ideia de que
somos apenas um corpo desprovido de alma, nascem sucessivas ondas de distorção.
E a partir disso criamos todos os sistemas que regulam a vida em sociedade. Na
mesma medida em que não percebemos a alma que nos habita, não percebemos a alma
que habita o outro. Percebemos somente o corpo e com isso julgamos tudo pelas
aparências. Por não sermos capazes de perceber a alma que está por trás de toda
a criação, facilmente coisificamos a vida, transformando tudo em produtos de
consumo. Com facilidade, comercializamos tudo para obter mais dinheiro. Se não
podemos ver a alma de uma árvore, de uma montanha, de um rio; se desconhecemos
as leis espirituais que regem a vida neste plano, respeitamos apenas as leis
materiais que dizem respeito basicamente à necessidade de sobrevivência. E, se
a única razão da vida é a sobrevivência, valores humanos e espirituais deixam
de ter sentido. Nessa lógica, o que importa é ter poder sobre o outro e sobre o
mundo material. Na luta pela sobrevivência, superior engole inferior. E não
existe espécie alguma neste planeta que tenha o sentimento de superioridade que
o ser humano tem. O ser humano se considera superior a tudo e coloca tudo a
serviço da própria sobrevivência. E quando nos consideramos superiores a outros
seres humanos, fazemos deles escravos para satisfazer nossas necessidades.
Nesse jogo de superioridade e inferioridade, quem reina é o ego. Ele está
sempre comparando e julgando a partir da falsa ideia de eu. O ego humano
encontra-se completamente doente, tomado pelo egoísmo. Ele só consegue ver a si
próprio ou aquilo que considera ser seu. Tudo o que o ego faz é para satisfazer
suas necessidades pessoais ou, no máximo, para satisfazer a família (que também
está a serviço da satisfação das suas próprias necessidades). O ego é regido
pelo medo da escassez e faz de tudo para acumular dinheiro, acreditando que
dessa forma irá garantir sobrevivência, proteção, segurança. Esse desespero por
acumular dinheiro e bens materiais nasce do esquecimento da verdadeira
identidade. Sem ter consciência de quem somos, corremos atrás do poder material
sem estabelecer nenhuma conexão com o propósito da alma. Essa distorção tem nos
conduzidos ao fracasso e ao sofrimento. Estamos sempre frustrados, sempre
querendo algo mais. Isso ocorre porque, na realidade, a sobrevivência não é o
suficiente para o complexo que é o ser humano. A sobrevivência é o suficiente
para o corpo, mas não é suficiente para a alma que habita o corpo. A alma só
pode sentir-se plena quando o seu programa é realizado. Precisamos encontrar um
ponto de equilíbrio. A jornada tem que ser autossustentável. Matéria e espírito
necessitam se harmonizar. É verdade que precisamos ter nossas necessidades
básicas de sobrevivência atendidas e para isso precisamos também de dinheiro,
mas o fato é que o dinheiro é apenas um instrumento, um meio, e não um fim. Por
causa dessas distorções, ele passou a ser o fim. O dinheiro transformou-se em
algo muito maior do que ele é. A questão é sabermos por que estamos indo atrás
do dinheiro. Esse dinheiro está a serviço do que e de quem? Ao nos movermos
apenas para obter dinheiro e suprir nossas necessidades básicas,
inevitavelmente experienciamos a angústia da falta de sentido na vida. Mas
quando o dinheiro é uma consequência da realização do propósito da alma, quando
está a serviço da autorrealização, ele se transforma numa poderosa ferramenta
que pode facilitar muito a jornada. RECONHECER NÃOS – ATÉ DETERMINADO estágio
da evolução, duas forças opostas agem simultaneamente dentro do indivíduo. De
um lado existe um impulso de vida, que é consciente e se move em direção à
construção, à união e ao amor e que costumo chamar de corrente afirmativa ou,
simplesmente, de sim. De outro existe um impulso de morte, que é inconsciente e
se move em direção à destruição, a desunião e ao ódio e que costumo chamar de
corrente negativa ou, simplesmente, de não. Essas duas forças opostas muitas
vezes atuam simultaneamente em relação a uma mesma situação ou área da vida.
Quando a corrente afirmativa está se movendo livremente (o que significa que
não existem nãos bloqueando o fluxo de energia), nos sentimos abençoados e com
sorte. Tudo acontece de maneira natural, sem muito esforço, e com o mínimo de
movimento realizamos muitas coisas. Nesse caso, estamos harmonizados com a lei
do mínimo esforço. E quando a corrente negativa está predominando, acontece
justamente o contrário: as coisas não andam e nos sentimos travados. Nos
esforçamos muito para realizar pouco e às vezes não conseguimos sair do lugar.
Se a corrente afirmativa está atuando na sua vida financeira, o dinheiro não é
um problema para você, e tudo o que você precisa chega facilmente. Mas se
existe um não atuando nessa área, você faz tudo que está ao seu alcance, mas o
dinheiro não chega ou nunca é suficiente, e quando menos espera, ele
desaparece. Se a corrente negativa está atuando nessa área, por mais que você
tente controlar a mecânica do fluxo do dinheiro na sua vida, quando chega o fim
do mês você no negativo, sem saber por que chegou a esse ponto. Quando o não
está atuando com mais força em determinada área da vida, situações negativas se
repetem e você não consegue entender por quê. Por ser inconsciente, a corrente
negativa atua subliminarmente. Você não percebe a sua atuação que ocorre na
forma da auto sabotagem, você trai a si mesmo sem perceber. E justamente pelo
fato de não perceber essa atuação, você acaba caindo em outra armadilha da
natureza inferior, que é um desdobramento do mesmo não: o vitimismo. Você
começa a encontrar culpados para as suas dificuldades e se distrai com o jogo
de acusações. A corrente negativa atua como autoengano e gera um encantamento:
você se perde nos jogos da mente e nas emoções negativas que ela gera, porque,
para sustentar essa fantasia de que você é uma vitima injustiçada, muitos pensamentos
e emoções precisam ser criados. O que determina a atuação dessas duas correntes
opostas é o karma. Algumas pessoas já nascem com a vida financeira resolvida,
enquanto outras passam a vida tendo muita dificuldade nessa área. Se existe um
sim, ou seja, se não existem marcas do passado que se manifestam como bloqueios
no fluxo da energia na área financeira, por exemplo, então há prosperidade e
abundância material na sua vida. Nesse caso, você confia e sabe que sempre terá
tudo de que precisa, na hora em que precisa. Mas se existe um não nessa área,
você é atormentado pelo medo da escassez. E esse medo acaba de fato gerando
escassez. Inconscientemente, você atrai a escassez e dessa forma confirma a
crença de que não é capaz de conseguir aquilo de que precisa. Quando isso
acontece, você é tomado pela raiva e pelo ceticismo e acredita que tem motivos
para reclamar e se vingar. Dessa forma, o não vai ganhando ainda mais força, e
um círculo vicioso se estabelece. O não é como um nó karmico, um bloqueio
energético causado por choques de dor que, por sua vez, geraram crenças e
imagens congeladas no sistema. Tais bloqueios que impedem o fluxo natural da
energia vital, gerando distorções, só podem ser dissolvidos através da auto
investigação, pois somente quando conseguimos identificar as crenças que dão
sustentação aos “nãos” é que podemos nos libertar deles. Nos cursos do Caminho
do Coração, o método psico espiritual de autoconhecimento que desenvolvi,
diferentes maneiras de identificar essas crenças e imagens congeladas são
propostas. E a partir dessa identificação inicia-se o processo de reconversão
do fluxo de energia vital que, em algum momento do passado, foi distorcido e se
transformou em impulso de morte. Somente através do autoconhecimento é possível transformar o não em sim. E o
primeiro passo para isso é o reconhecimento da existência do não. Antes de mais
nada, é necessário reconhecer que existe uma parte de você que está jogando
contra, ou seja, uma parte de você não quer que as coisas melhorem. Existe uma
voz interna constantemente dizendo não para a prosperidade, para a alegria,
para a união e para o amor. Eu sei que muitas vezes é difícil acreditar que se
está escolhendo a infelicidade, mas eu reafirmo se você encontra dificuldades
para realizar ou obter algo que deseja muito, isso significa que existe uma
contradição dentre de você: por um lado você quer, por outro, não quer. Uma das
maneiras para reconhecer essa contradição interna é observando o tamanho do
esforça que você precisa fazer para realizar aquilo que conscientemente deseja.
Existe uma lei psíquica que determina: quanto mais freneticamente você corre
atrás de algo e esse algo ainda assim escapa das suas mãos ou parece fugir de
você, maior é o seu não inconsciente para isso que, conscientemente, você tanto
deseja. E quanto maior o esforça, maior a sua inabilidade para lidar com esse
não. A dificuldade de lidar com o não se deve justamente ao fato de ele ser
inconsciente. Você não pode lidar com ele porque ele está fora do seu campo de
percepção. Aparentemente, você quer ser uma pessoa segura e autoconfiante, mas
sem perceber (inconscientemente), cria situações com as quais se sente
inseguro. Então retorna ao mesmo padrão de insegurança e continua sendo
ciumento e invejoso. Isso ocorre porque o fato de a crença ser inconsciente
amplia o poder que ela tem sobre a sua psique. Um impulso inconsciente é como
um bandido que te ataca pelas costas na escuridão; é como um adversário
invisível contra o qual você não tem defesas, pois não consegue enxerga-lo. Por
isso, mesmo que o não represente uma pequena porção da energia, ele acaba te
derrubando sempre, porque você é pego de surpresa. O não é um sabotador da
felicidade. E o processo de identificação desse auto sabotador não é tão
simples. É preciso ter humildade e coragem, além de muita determinação, para
ver. É preciso estar realmente comprometido com a verdade, pois em algum
momento o orgulho na forma da vaidade, será ferido. Para a vaidade, é difícil
admitir que você está no inferno por escolha própria. É difícil admitir que
está no lugar onde se coloca. Mas quando você consegue finalmente reconhecer e
admitir que é você quem escolhe não realizar os seus sonhos e desejos, é
possível dar início ao processo de transformação das suas contradições – o não
começa a se transformar em sim. Tenho inspirado todos aqueles que estão comigo
a buscar as raízes, as fundações do não dentro de si mesmos. Tenho sugerido que
busquem identificar as crenças que sustentam o autoengano e a auto sabotagem.
Para isso, sugiro que procurem se lembrar das mentiras e histórias que contaram
para si próprios e que até hoje sustentam essas crenças. Pergunte a si mesmo
por que você criou determinada situação. Por que você não consegue realizar
isso que você tanto quer? Por que você tem esse não? Faça a relação de causa e
efeito entre o passado e o momento presente, procurando identificar as
situações que marcaram você e que ainda hoje têm influência na sua vida. Talvez
se surpreenda ao identificar uma crença que insiste em fazê-lo acreditar que,
para você, não é possível haver prosperidade, alegria e amor. Dessa forma, você
começa a decifrar os símbolos que estão nessas histórias do passado e que se
relacionam com o karma que se manifesta no momento presente. Se puder realizar
esse processo de auto investigação, compreendendo que tudo que se manifesta no
momento presente é um resultado de alguma escolha sua, uma nova perspectiva de
vida se abrirá para você, porque as dificuldades passam a ser vistas como
oportunidades de crescimento – chances de se libertar de nós karmicos e fechar
contas com o passado. Em outras palavras, são oportunidades de ascensão. Livro
PROPÓSITO – A Coragem de Ser Quem Somos. Abraço. Davi.
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