quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Ausência de Desejos.



Filosofia Oriental. Jiddu Krishnamurti (1895-1986). Há muitas pessoas para quem a qualidade da Ausência de Desejos (abnegação, desapego) é difícil, por pensarem que os seus desejos são elas próprias, e que, se esses desejos peculiares, simpatias e antipatias lhes forem tirados, nada mais lhes restará. Essas, porém, são somente as que ainda não viram o Mestre; à luz de Sua Santa Presença, todo desejo sucumbe, exceto o de se assemelhar a Ele. No entanto, antes mesmo de teres a ventura de encontra-lo face a face, podes conquistar a ausência de desejo, se o quiseres. O discernimento já te demonstrou que as coisas que os homens mais desejam, tais como a riqueza e o poder, não merecem o trabalho de ser possuídas. Quando isto realmente é sentido, e não apenas enunciado, cessa todo o desejo por elas. Tudo isto é simples: necessitas apenas compreender. Há, porém, algumas pessoas que recusam-se a prosseguir em objetivos terrenos, somente no intuito de alcançar o céu, ou para atingir a libertação pessoal dos renascimentos. Não deves cair neste erro. Se te esqueceste completamente de ti mesmo, não te podes preocupar com a época da libertação do teu Ego ou com a espécie de céu que lhe caberá. Lembra-te que todo desejo egoísta é um liame e, por muito elevado que seja o seu objetivo, enquanto dele te não desembaraçares, não estarás completamente livre para te devotares à obra do Mestre. Quando tiverem desaparecido todos os desejos pessoais, poderá ainda restar o de apreciares o resultado do teu trabalho. Se auxiliares alguém, quererás ver até que ponto o tens ajudado. Talvez mesmo queiras que ele o reconheça também e se te mostre grato. Isto, porém é ainda o desejo e também uma falta de confiança. Quando aplicares a tua energia em auxiliar alguém, há de advir dai um resultado, quer possas vê-lo quer não. Se conheces a Lei, sabes que deve ser assim. Precisas, pois, fazer o bem por amor ao bem, e não com a esperança da recompensa. Trabalha por amor ao trabalho e não para ver o resultado. Deves entregar-te ao serviço do mundo porque o amas e não podes deixar de fazê-lo. Não desejes os poderes psíquicos, eles virão quando o Mestre achar que melhor te será possuí-los. Forçá-los muito cedo traz consigo muitas perturbações. Frequentemente o seu possuidor é desencaminhado por falazes espíritos da natureza, ou então se torna vaidoso e se julga isento de cair em erro. Em todo caso, o tempo e a força necessários para adquiri-los poderiam ser gastos em trabalhar para os outros. Eles virão no decurso do teu desenvolvimento, porque devem vir, e se o Mestre entender que te será útil possuí-los mais cedo, te ensinará como desenvolvê-lo com segurança. Até então, melhor será que os não possuas. Deves precaver-te, também, contra certos pequenos desejos comuns na vida diária. Nunca desejes sobressair nem parecer instruído; não desejes falar. É bom falar pouco; melhor ainda é nada dizer, a não ser que estejas seguro de que o que pretendes dizer é verdadeiro, amável e útil. Antes de falar, pensa cuidadosamente se o que pretendes dizer preenche essas três qualidades; se assim não for, não o digas. É bom que te habitues desde agora a refletir cuidadosamente antes de falar pois, quando alcançares a Iniciação, terás de vigiar cada palavra a fim de não dizeres o que não deve ser dito. Muitas das conversações ordinárias são desnecessárias e insensatas; e, quando chegam à maledicência, tornam-se perversas. Assim, acostuma-te antes a ouvir do que a falar. Não emitas opinião senão quando diretamente solicitada. Um enunciado das qualidades requeridas é assim formado: saber, ousar, querer, calar, e a última das quatro é a mais difícil de todas. Um desejo vulgar que deves severamente reprimir é o de te imiscuíres (envolver) nos negócios de outrem. O que um homem faz, diz ou crê, não é de tua conta e precisas aprender a deixa-lo absolutamente entregue a si próprio. Ele tem pleno direito à liberdade de pensamento, palavra e ação, até ao ponto em que não interfira no que concerne a outrem. Tu próprio reclamas a liberdade de fazer o que julgas bom. Deves outorgar a mesma liberdade aos outros e, quando a usarem, não tens o direito de te pronunciares a respeito. Se julgas estar alguém fazendo o mal e encontras uma oportunidade de dizer em particular, e muito delicadamente, porque assim pensas, talvez consigas convencê-lo; porém, em muitos casos, isto mesmo não passaria de uma interferência (indevida) indébita. De modo algum deverás murmurar com uma terceira pessoa sobre o assunto, pois isso seria uma ação extremamente má. Se observares um caso de crueldade para com uma criança ou um animal, é teu dever intervir. Se vires alguém violando as leis do país, deves informar as autoridades. Naturalmente em casos manifestamente graves, como o da prática da crueldade, ou quando intimado a fazê-lo. Se tiveres incumbido de instruir uma outra pessoa, pode tornar-se teu dever adverti-la suavemente de suas falhas. Exceto em tais casos, ocupa-te de teus próprios negócios e aprende a virtude do silêncio. Do Livro Aos Pés do Mestre. Abraço. Davi.

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