Budismo Nitiren Daishonin. Por Daisaku
Ikeda (1928- ). A morte é algo que
ninguém pode escapar. A morte é o passo seguinte da vida, da mesma forma que o
dia se transforma em noite, o outono em inverno ou a juventude em velhice. As
pessoas se preparam para não sofrerem no inverno que virá; se preparam para não
sofrerem na velhice; mas poucas são aquelas que se preparam para a maior das
certezas: a morte! A
sociedade moderna tem ignorado um dos seus mais importantes problemas. Para a
maior parte das pessoas, a morte é algo a ser temido e respeitado. Para outros
somente significa a ausência de vida simbolizado pelo vácuo. Assim, a morte
transformou-se em algo considerado de alguma forma anti natural. O que é a morte? O que
acontece conosco após a morte? Nós podemos ignorar estas questões, como muitas
pessoas o fazem. Mas, se ignorarmos a morte, eu acredito que estaremos
condenados a viver um existência superficial, uma vida despreocupada com o
nosso futuro espiritual. Nós podemos assegurar a si mesmos que iremos algum dia
lidar com morte quando a hora certa chegar. Algumas pessoas se
mantêm ocupadas em constantes afazeres com o objetivo de evitar pensar sobre as
questões fundamentais sobre a vida e a morte. Mas, em tal estado mental, as
alegrias por quais desfrutamos são de caráter frágil, pois são envoltas pela
sombra da inescapável presença da morte. Eu tenho a firme convicção que o ato
de enfrentar a questão da morte poderá nos trazer uma verdadeira estabilidade e
paz interior. O que
então é a morte? Somente a extinção, um mergulho no vazio? Ou uma porta de
entrada para uma nova vida, uma simples modificação ao invés do fim? A vida não
é nada mais do que uma efêmera fase de atividade, seguida pelo silêncio e não
existência? ou será acompanhada de uma sequência mais profunda, que transcenda
a própria morte e se transforme em alguma outra forma? O budismo ensina que a
ideia de que nossas vidas se encerram com a morte é uma séria ilusão. Tudo no
universo, tudo o que ocorre é parte de uma vasta rede viva e interconectada. A
vibrante energia que chamamos de vida flui por todo o universo que não tem
início, nem fim. A vida
é um contínuo e dinâmico processo de mudanças. Por que então, a vida humana
seria uma exceção? Por que a nossa existência deve ser arbitrária e contrária,
totalmente desconectada do ritmo da vida universal? Atualmente, somos
capazes de saber como as estrelas e galáxias nascem, expandem e morrem. E o que
se aplica as mais vastas realidades do universo, também se aplica aos
minúsculos átomos de nossos corpos. Do ponto de vista puramente físico, os
nossos corpos são compostos dos mesmos materiais e componentes químicos das
mais distantes galáxias. Neste sentido, somos, literalmente, como filhos das
estrelas. O corpo
humano é composto por cerca de 60 trilhões de células, e a vida é a força vital
que harmoniza o infinito complexo funcional destas inúmeras células
individuais. A cada momento, incontáveis células estão morrendo e sendo
substituídas pelo nascimento de novas. Neste nível, estamos vivenciando
diariamente o ciclo de nascimento e morte. Ao nível prático, a
morte é necessária. Caso as pessoas vivessem para sempre, elas eventualmente
aguardariam pela morte. Sem ela, iríamos enfrentar uma nova série de problemas
da super população de idosos vivendo para sempre. A morte nos conduz a
renovação e regeneração. Por esta razão a morte deve ser apreciada como uma dádiva. O
budismo ensina que a morte é como um período de descanso, como o sono, na qual
a vida restaura suas energias e se prepara para um novo ciclo. Logo, não há
motivos para temer a morte, odiá-la ou buscar excluí-la de nossas mentes. A morte não é
discriminatória, nos destitui de tudo. A fama, riqueza e poder são totalmente
inúteis neste momento final. Quando a hora certa chegar, somente haverá a si
mesmo para se apoiar. Esta é uma solene confrontação na qual, somente podemos
enfrentar com a nossa crua humanidade, um resumo de tudo o que fizemos, o como
escolhemos viver nossas existências, perguntando: Eu vivi de modo autêntico? O
que contribui para o mundo? Quais são as minhas realizações e arrependimentos? Para se morrer bem, é
necessário se viver bem. Para aqueles que vivem coerentes com as suas
convicções e que trabalham em prol da felicidade de outros, a morte pode se
tornar como um descanso confortável. Assim como, um sono profundo que se segue
a um dia de ações vigorosas. Há alguns anos atrás, eu fiquei impressionado com a atitude de um
amigo meu, David Norton, com relação a sua própria e iminente morte. Quando ele tinha
dezessete anos, o jovem David tornou-se um bombeiro voluntário que enfrentava
as mais inóspitas áreas para cortar árvores e cavar trincheiras para evitar que
o fogo se propagasse. Ele me disse que agia deste modo para aprender a lidar
com o seu próprio medo. Quando ele estava com seus sessenta e poucos anos, foi
diagnosticado com câncer avançado. De peito erguido enfrentou a morte e
descobriu que a dor não podia derrotá-lo. E de acordo com a sua esposa, Mary,
não teve na morte uma experiência solitária. Posteriormente ela me disse que no
momento da sua morte, ele estava cercado de seus amigos e enfrentou a morte sem
medo, considerando-a como uma "nova aventura, semelhante ao tipo de teste
que ele enfrentava quando via uma floresta em chamas". Mary me disse: "Eu
primeiro lugar, penso que tal tipo de aventura é uma oportunidade para desafiar
a si mesmo. Deixando de lado as situações cômodas, onde sabemos o que irá
acontecer e não temos com o que se preocupar. Esta é uma oportunidade para o
crescimento. É uma chance para se tornar o que precisamos ser. Mas, antes de
tudo, é um desafio para se enfrentar sem medo". A consciência da morte
nos capacita viver cada momento de nossas vidas com apreciação pela
oportunidade única que temos em criar algo em nosso período na Terra. Eu
acredito que para desfrutarmos da verdadeira felicidade, devemos ser capazes de
vivermos cada instante como se este fosse o último. O hoje nunca retornará. Nós
podemos falar sobre o passado ou o futuro, mas a única realidade que temos é o
presente momento. E o ato de confrontarmos com a realidade da morte nós
fortalece a evidenciar a coragem, alegria e a criatividade ilimitada em cada um
destes instantes. http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br.
Abraço. Davi.
Fonte:
Mirror Weekly – Semanário publicado na República das Filipinas – 12/10/1998
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