Budismo
Nitiren Daishonin. Por
Daisaku Ikeda (1928- ). Diz um provérbio: "A saúde é mais valiosa que a riqueza".
Nitiren Daishonin
(1222-1282) ampliou o significado deste ditado através das palavras:
"Mais valioso que o tesouro do cofre, é o tesouro do corpo, sendo que o
tesouro do coração é o mais valioso de todos".
Geralmente, somente após a chegada da doença é que valorizamos nossa
saúde e de tempos em tempos, mesmo aqueles que possuem uma ótima saúde,
passam por alguma desordem física. Desta forma, a doença, assim como a
velhice, são partes integrais do ser humano.
É plausível afirmar que a saúde e a doença coexistem em nossos corpos.
Por exemplo, de acordo com a medicina ocidental, as células cancerígenas
nascem dentro de nossos corpos e são eliminadas através da ação do
nosso sistema imunológico, partindo do princípio
de que este está em pleno funcionamento.
O segundo presidente da
Soka Gakkai,
Josei Todda (1900-1958), costumava
afirmar: "Uma pessoa é saudável enquanto é capaz de comer e dormir o
suficiente". O que ele queria dizer é que enquanto podemos comer e
dormir suficientemente, nós deveríamos parar de pensar
em nossa saúde e concentrar nossa energia em outras questões. A
declaração dele pode parecer simplista, mas é relevante numa época aonde
as pessoas se tornaram excessivamente preocupadas, ou mesmo, mórbidas,
em relação a doença. De acordo com o filósofo Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778): "Moderação e indústria são os verdadeiros
remédios para o homem" e o francês Henri
Bergson (1859-1941), em sua obra
Les Deux Sources de La
Religion et de la
Morale (1932), definiu a saúde como o desejo de agir e participar
na criação da história; enquanto, de modo flexível, ajusta as suas
atividades com o seu cotidiano diário.
Do ponto de vista do budismo
Mahayana, promover a boa saúde pode ser identificado como o estado de
Bodhisattva, uma condição de compaixão
adquirida através de um comportamento desprovido de egoísmo e ações
altruísticas que beneficiem toda a humanidade. Para ilustrar este
princípio podemos citar o sutra
Vimalakirti, que narra a história de
Vimalakirti. Ele era um rico seguidor leigo, que vivia em
Vaishali, na época em que o Budha
Sakyamuni estava vivo. Ele havia se aperfeiçoado nos profundos ensinos do
Mahayana e de forma precisa, instruía outros seguidores. De acordo com o sutra,
Vimalakirti ficou doente e o Budha enviou o
bodhisattva Manjushri para perguntar sobre a saúde de seu discípulo.
Manjushri perguntou a ele: "Homem de grande
virtude, o que causou a sua doença? Desde quando surgiu esta doença?
Como irá se curar deste mal?".
Vimalakirt respondeu: “Porque todos os seres estão doentes, eu estou doente.
Caso a doença de todos os seres humanos forem eliminadas, a minha doença também será erradicada. O
bodhisattva percorre o caminho de nascimento
e morte em prol de todos os outros seres. Naturalmente, no caminho de
nascimento e morte, existe a doença. Se os seres fossem livres da
doença, o
bodhisattva seria livre da doença também. É
como a relação entre os pais e o seu único filho. Se a criança está
doente, os pais também ficam doentes e quando o filho se recupera, os
pais também se recuperam. O
bodhisattva age da mesma forma. Quando os seres humanos estão doentes, o
bodhisattva está doente e quando estes se recuperam da doença, o
bodhisattva também se recupera".
Manjushri fez mais uma pergunta:
"Qual a origem da doença?". No que Vimalakirt respondeu: "A doença do
bodhisattva emerge de sua grande compaixão".
O
conceito budista de boa saúde, como ilustrado neste trecho, não se
limita a questão da ausência de doenças. Ela está relacionada com a
presença de uma enorme compaixão
por todos os seres vivos, baseados na infinita energia vital que nos
capacita a enfrentar e ultrapassar qualquer tipo de dificuldade. O ato
de atingir o estado de
Bodhisattva significa a incorporação desta tamanha força interior, que na visão budista, é o auge da boa saúde.
Shijo
Kingo, um dos seguidores samurais de
Nitiren Daishonin, era médico. Quando
Daishonin estava doente no monte Minobu, ele foi tratado por
Shijo Kingo e este posteriormente lhe escreveu as seguintes palavras de agradecimento: "Eu somente sobrevivi desta vez, pois o
Budha Sakyamuni enviou o senhor para cuidar de mim". Através desta carta, pode-se perceber a compaixão com que
Shijo Kingo tratou do seu mestre budista. Além disso,
Daishonin declarou que ele daria sua vida
por este discípulo. A compaixão é certamente a mais importante qualidade
humana, e o que mais precisamos para sobrevivermos em meio a este mundo
de sofrimentos, onde estamos sujeitos ao estresse
físico, químico, biológico e psicológico.
De
acordo com o Budismo, a saúde não é um estado separado das influências
negativas. Ao contrário, é um estado especialmente ativo e positivo na
qual defrontamos
e buscamos resolver os nossos inúmeros problemas e daqueles ao nosso
redor. Ao invés de meramente escaparmos das influências negativas, como
budistas devemos assumir a responsabilidade por elas.
A
palavra doença denota uma falta de conforto. É tentador interpretarmos o
estado de conforto como simplesmente sendo a ausência de dificuldades.
Mas, se observarmos
atentamente, o conforto implica na força de enfrentarmos e superarmos
qualquer problema que porventura possa surgir. Durante a sua existência,
Nitiren Daishonin sofreu inúmeras perseguições. Mesmo após se retirar ao Monte
Minobu, ele enfrentou grandes dificuldades
devido ao severo inverno. Em uma de suas cartas ele descreve: "Nos
últimos oito anos, eu tenho ficado cada vez mais fraco, por causa da
doença e da velhice". Embora, tenha sido neste local
que ele concretizou o advento de toda a sua existência, que foi o
estabelecimento da Lei Mística em forma de uma
mandala.
Dengyo,
o grande mestre budista
japonês, que viveu no final do século VIII e começo do século IX,
escreveu: "O superficial é fácil de abraçar, mas o profundo é difícil.
Descartar o superficial e abraçar o profundo requer coragem". Neste
contexto, superficial significa todos os ensinos budistas
a não ser o Sutra de Lótus; enquanto que profundo representa o Sutra de
Lótus, ou em outras palavras, a Lei Mística na qual é a essência deste
sutra. De uma forma mais ampla, podemos interpretar que esta passagem
significa que devemos buscar de forma corajosa,
o mais profundo caminho de vida, para que possamos alcançar algo
igualmente profundo em nossas vidas. Caso, possamos seguir esta trilha,
poderemos obter a força para ultrapassar qualquer dificuldade que
porventura possa surgir.
Uma visão paralela com relação a natureza da saúde é compartilhada por alguns trabalhos desenvolvidos no Ocidente. René
Dubos (1901-1982) declara em sua obra
Mirage of Health (1959): "Embora
possa ser confortável imaginar uma vida livre de pressões e esforços,
num mundo livre de problemas, este somente irá permanecer como um sonho
idílico (...). O homem existe para lutar, não necessariamente
para si mesmo, mas em prol do crescimento do processo emocional,
intelectual e ético humano e que este possa durar eternamente. O
crescimento em meio ao perigo é o destino da raça humana, porque esta é a
lei dos espíritos."(…). Com respeito ao propósito da
doença em nos dirigir para a perfeição, o filósofo suiço Karl
Hilti (1833-1909) disse: "Assim como a
inundação de um rio, ara a terra e nutre os campos; a doença serve para
nutrir os nossos corações. Uma pessoa que compreende a sua doença
corretamente e persevera, irá possuir uma vida com maior
profundidade, força e grandiosidade”.
Assim,
o budismo vê a doença como uma oportunidade para que possamos galgar um
estado de vida mais nobre e elevado. Nos ensina que, ao invés de
agonizar sobre uma
doença ou desesperar em sobrepujá-la, nós devemos ser capazes de
utilizar a doença para construir um caráter mais forte e compassivo, que
em retorno nos proporcionará a capacidade de desfrutarmos nossas
existências repletas de realizações. Este é o significado
das palavras de Nitiren Daishonin: "A doença desperta um grande espírito de procura".
http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário