terça-feira, 24 de novembro de 2015

A Visão Budista de Saúde.

Budismo Nitiren Daishonin. Por Daisaku Ikeda (1928-  ). Diz um provérbio: "A saúde é mais valiosa que a riqueza". Nitiren Daishonin (1222-1282) ampliou o significado deste ditado através das palavras: "Mais valioso que o tesouro do cofre, é o tesouro do corpo, sendo que o tesouro do coração é o mais valioso de todos". Geralmente, somente após a chegada da doença é que valorizamos nossa saúde e de tempos em tempos, mesmo aqueles que possuem uma ótima saúde, passam por alguma desordem física. Desta forma, a doença, assim como a velhice, são partes integrais do ser humano. É plausível afirmar que a saúde e a doença coexistem em nossos corpos. Por exemplo, de acordo com a medicina ocidental, as células cancerígenas nascem dentro de nossos corpos e são eliminadas através da ação do nosso sistema imunológico, partindo do princípio de que este está em pleno funcionamento. O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Todda (1900-1958), costumava afirmar: "Uma pessoa é saudável enquanto é capaz de comer e dormir o suficiente". O que ele queria dizer é que enquanto podemos comer e dormir suficientemente, nós deveríamos parar de pensar em nossa saúde e concentrar nossa energia em outras questões. A declaração dele pode parecer simplista, mas é relevante numa época aonde as pessoas se tornaram excessivamente preocupadas, ou mesmo, mórbidas, em relação a doença. De acordo com o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): "Moderação e indústria são os verdadeiros remédios para o homem" e o francês Henri Bergson (1859-1941), em sua obra Les Deux Sources de La Religion et de la Morale (1932), definiu a saúde como o desejo de agir e participar na criação da história; enquanto, de modo flexível, ajusta as suas atividades com o seu cotidiano diário. Do ponto de vista do budismo Mahayana, promover a boa saúde pode ser identificado como o estado de Bodhisattva, uma condição de compaixão adquirida através de um comportamento desprovido de egoísmo e ações altruísticas que beneficiem toda a humanidade. Para ilustrar este princípio podemos citar o sutra Vimalakirti, que narra a história de Vimalakirti. Ele era um rico seguidor leigo, que vivia em Vaishali, na época em que o Budha Sakyamuni estava vivo. Ele havia se aperfeiçoado nos profundos ensinos do Mahayana e de forma precisa, instruía outros seguidores. De acordo com o sutra, Vimalakirti ficou doente e o Budha enviou o bodhisattva Manjushri para perguntar sobre a saúde de seu discípulo. Manjushri perguntou a ele: "Homem de grande virtude, o que causou a sua doença? Desde quando surgiu esta doença? Como irá se curar deste mal?". Vimalakirt respondeu:Porque todos os seres estão doentes, eu estou doente. Caso a doença de todos os seres humanos forem eliminadas, a minha doença também será erradicada. O bodhisattva percorre o caminho de nascimento e morte em prol de todos os outros seres. Naturalmente, no caminho de nascimento e morte, existe a doença. Se os seres fossem livres da doença, o bodhisattva seria livre da doença também. É como a relação entre os pais e o seu único filho. Se a criança está doente, os pais também ficam doentes e quando o filho se recupera, os pais também se recuperam. O bodhisattva age da mesma forma. Quando os seres humanos estão doentes, o bodhisattva está doente e quando estes se recuperam da doença, o bodhisattva também se recupera". Manjushri fez mais uma pergunta: "Qual a origem da doença?". No que Vimalakirt respondeu: "A doença do bodhisattva emerge de sua grande compaixão". O conceito budista de boa saúde, como ilustrado neste trecho, não se limita a questão da ausência de doenças. Ela está relacionada com a presença de uma enorme compaixão por todos os seres vivos, baseados na infinita energia vital que nos capacita a enfrentar e ultrapassar qualquer tipo de dificuldade. O ato de atingir o estado de Bodhisattva significa a incorporação desta tamanha força interior, que na visão budista, é o auge da boa saúde. Shijo Kingo, um dos seguidores samurais de Nitiren Daishonin, era médico. Quando Daishonin estava doente no monte Minobu, ele foi tratado por Shijo Kingo e este posteriormente lhe escreveu as seguintes palavras de agradecimento: "Eu somente sobrevivi desta vez, pois o Budha Sakyamuni enviou o senhor para cuidar de mim". Através desta carta, pode-se perceber a compaixão com que Shijo Kingo tratou do seu mestre budista. Além disso, Daishonin declarou que ele daria sua vida por este discípulo. A compaixão é certamente a mais importante qualidade humana, e o que mais precisamos para sobrevivermos em meio a este mundo de sofrimentos, onde estamos sujeitos ao estresse físico, químico, biológico e psicológico. De acordo com o Budismo, a saúde não é um estado separado das influências negativas. Ao contrário, é um estado especialmente ativo e positivo na qual defrontamos e buscamos resolver os nossos inúmeros problemas e daqueles ao nosso redor. Ao invés de meramente escaparmos das influências negativas, como budistas devemos assumir a responsabilidade por elas. A palavra doença denota uma falta de conforto. É tentador interpretarmos o estado de conforto como simplesmente sendo a ausência de dificuldades. Mas, se observarmos atentamente, o conforto implica na força de enfrentarmos e superarmos qualquer problema que porventura possa surgir. Durante a sua existência, Nitiren Daishonin sofreu inúmeras perseguições. Mesmo após se retirar ao Monte Minobu, ele enfrentou grandes dificuldades devido ao severo inverno. Em uma de suas cartas ele descreve: "Nos últimos oito anos, eu tenho ficado cada vez mais fraco, por causa da doença e da velhice". Embora, tenha sido neste local que ele concretizou o advento de toda a sua existência, que foi o estabelecimento da Lei Mística em forma de uma mandala. Dengyo, o grande mestre budista japonês, que viveu no final do século VIII e começo do século IX, escreveu: "O superficial é fácil de abraçar, mas o profundo é difícil. Descartar o superficial e abraçar o profundo requer coragem". Neste contexto, superficial significa todos os ensinos budistas a não ser o Sutra de Lótus; enquanto que profundo representa o Sutra de Lótus, ou em outras palavras, a Lei Mística na qual é a essência deste sutra. De uma forma mais ampla, podemos interpretar que esta passagem significa que devemos buscar de forma corajosa, o mais profundo caminho de vida, para que possamos alcançar algo igualmente profundo em nossas vidas. Caso, possamos seguir esta trilha, poderemos obter a força para ultrapassar qualquer dificuldade que porventura possa surgir. Uma visão paralela com relação a natureza da saúde é compartilhada por alguns trabalhos desenvolvidos no Ocidente. René Dubos (1901-1982) declara em sua obra Mirage of Health (1959): "Embora possa ser confortável imaginar uma vida livre de pressões e esforços, num mundo livre de problemas, este somente irá permanecer como um sonho idílico (...). O homem existe para lutar, não necessariamente para si mesmo, mas em prol do crescimento do processo emocional, intelectual e ético humano e que este possa durar eternamente. O crescimento em meio ao perigo é o destino da raça humana, porque esta é a lei dos espíritos."(…). Com respeito ao propósito da doença em nos dirigir para a perfeição, o filósofo suiço Karl Hilti (1833-1909) disse: "Assim como a inundação de um rio, ara a terra e nutre os campos; a doença serve para nutrir os nossos corações. Uma pessoa que compreende a sua doença corretamente e persevera, irá possuir uma vida com maior profundidade, força e grandiosidade”. Assim, o budismo vê a doença como uma oportunidade para que possamos galgar um estado de vida mais nobre e elevado. Nos ensina que, ao invés de agonizar sobre uma doença ou desesperar em sobrepujá-la, nós devemos ser capazes de utilizar a doença para construir um caráter mais forte e compassivo, que em retorno nos proporcionará a capacidade de desfrutarmos nossas existências repletas de realizações. Este é o significado das palavras de Nitiren Daishonin: "A doença desperta um grande espírito de procura". http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. Abraço. Davi.

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