Budismo
Nitiren Daishonin. Daisaku Ikeda (1928-
). Uma conversa sincera de vida a vida pode
suavizar e derreter até corações congelados. Tenho intensas lembranças de
encontros com pessoas cujas vozes e palavras têm me comovido através dos anos.
Um deles que me vem à mente aconteceu durante a visita à região de Guilin na
China, uma bela terra montanhosa, com neblina e rios. Caminhando, nos
encontramos com duas jovens de 15 ou 16 anos, vendendo ervas medicinais perto
de um rio. Elas levavam uma cesta cheia de ervas e convidavam os pedestres com
voz vibrante a comprarem suas mercadorias. "Ni Hao (olá)" chamei-as.
"Ni Hao" sorriram: "Oferecemos qualquer tipo de medicina.
Escolham as que quiserem". Sorri pelo bom humor delas e perguntei: "Tem algo para
deixar-me mais inteligente?" Ficaram surpresas, mas só por um instante:
"sinto muito, acabamos de vender a última". Nosso grupo explodiu em
gargalhadas perante essa criativa resposta e sentimos calidez como se uma suave
brisa primaveral nos tivesse tocado. Como diz um provérbio chinês: "Até
uma simples palavra dita com bondade pode aquecer o coração no pior dos
invernos". Lembro
com carinho que minha esposa e eu acabamos comprando ervas como lembrança e as
vezes me pergunto como estarão estas garotas e suas famílias. Creio que o
diálogo sincero de vida a vida pode suavizar e derreter até os corações
congelados. Falar com alguém cara a cara pode mudar a vida dessa pessoa e a
vida de si mesmo. Hoje
em dia vivemos em meio de um dilúvio de informação desalmada. Quanto mais nos
apoiamos numa comunicação unidirecional, como o é o rádio ou a televisão ou a
comunicação escrita, mais sinto a necessidade de insistir no valor do som da
voz humana. A simples, mas preciosa interação de voz a voz, pessoa a pessoa; o
intercâmbio de vida a vida. Admiro pessoas como o governador Frivaldo da
província de Sorsogon. Disse-me que frequentemente encontrava-se com sua gente
de igual a igual. Comparado com a facilidade de apresentar-se com uma imagem
artificialmente polida, fazer este exercício pode parecer tedioso. Mas através
dos seus pacientes esforços, entendo que o Sr. Frivaldo tenha podido conquistar
um verdadeiro respaldo e confiança. Numa conversa cara a cara, o ouvinte pode formular perguntas ou
estar em desacordo com seu interlocutor e isto pode provocar nele que pela sua
vez reflita sobre seus próprios pontos de vista. O processo é dinâmico e com
muitas facetas, criando prazer mútuo e entendimento. Da minha parte, me
encanta falar com todo tipo de pessoas de todas as partes do mundo. Sempre
aprendo algo novo e acho estimulante estar exposto a diferentes maneiras de
pensar. Esta é uma maneira de nutrir-se espiritualmente. Minha experiência tem
sido que não importa quão forte possa ser a incerteza inicial ou a hostilidade
que a outra pessoa possa sentir para conosco, se nos aproximamos a ela com
completa sinceridade e dizermos a verdade, esta lhe responderá invariavelmente
da mesma maneira. Lembro
ter mantido um diálogo com representantes do Islã (muçulmanos). Uns amigos
tentaram convencer-me que seria muito difícil, mas senti que não podíamos ter
tais preconceitos. Nunca se sabe o que pode ser conquistado antes de
experimentar. Sugeri que o diálogo não tinha porque ser sobre a doutrina
religiosa. Poderíamos começar falando dos problemas que todos temos como seres
humanos, focalizados para a cultura e a educação. Também poderíamos falar do
desejo de paz, algo compartilhado pelas pessoas em todo o mundo. Uma conversa cara a
cara pode parecer muito simples, mas na realidade é a mais poderosa ferramenta
que temos para gerar mudanças positivas. Podemos intercambiar ideias num nível
muito humano e pessoal com uma base de respeito e fé na bondade essencial do
outro. Todos
somos iguais e não há ninguém superior ou inferior. O escritor francês
Michel de Montaigne (1533-1592) amava o diálogo e sempre tinha uma mente
aberta. Ele dizia: "Nenhuma posição me surpreende, nenhuma crença me ofende,
não importa quão oposta possa ser à minha". Para ele, o diálogo
significava a busca da verdade, encontrá-la e abraçá-la sem importar de quem
viesse. Como temos dois ouvidos e uma boca só, talvez deveríamos escutar duas
vezes mais do que falamos. Certamente se somos rígidos ou preconceituosos
ninguém se aproximará a nós com o coração aberto. As vezes nossas
tentativas para iniciar um diálogo podem ser menosprezadas ou ignoradas.
Devemos lembrar que a rejeição e as decepções são inevitáveis na vida e continuar
tentando. Manter um diálogo requer muita paciência e perseverança. Necessitamos
desenvolver um forte senso do eu que nos permita ver claramente as emoções da
outra pessoa e aproximar-nos com calma mas progressivamente aos seus corações. O maior obstáculo para
um diálogo frutífero é geralmente o excessivo apego ao próprio ponto de vista.
Por exemplo, uma desavença entre um pai e seu filho não pode ser solucionado
enquanto o pai vê as coisas como pai e o filho como filho. Dentro de um diálogo
genuíno é melhor se podemos ver qualquer tipo de confronto como outra forma de
comunicar-nos. Se pai e filho podem ver-se a si mesmos compartilhando um
objetivo comum, conquistar uma família unida, as coisas podem mudar
surpreendentemente para melhor. Quanto mais elevado for o sentimento que nos
une, mais poderemos abraçar os que diferem de nós e assegurar esse diálogo nos
levará para uma saída frutífera. Tanto se o problema vem de uma só família ou de uma escala
internacional, se os que estão envolvidos podem ver as coisas desde uma
perspectiva elevada, com um propósito em comum, as engrenagens do diálogo se
dirigirão numa direção positiva. Se mais pessoas se dedicassem a um diálogo de uma maneira
definitivamente aberta, tenho certeza de que os inevitáveis conflitos da vida
humana seriam solucionados mais facilmente. Os preconceitos dariam lugar ao
entendimento e a guerra à paz. O diálogo genuíno resultará na transformação de
pontos de vista opostos, transformando as brechas que separam às pessoas em
pontes que as unem. http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br.
Abraço. Davi.
Tradução dos textos publicados na
revista semanal filipina feminina Mirror, na Seção: Relationship das edições de
23 de fevereiro a 28 de dezembro de 1.998
Copyright © 2002, Soka Gakkai Internacional. Todos los
Derechos Reservados.
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