sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O Dhamma do Abençoado.



" O Dhamma do Abençoado
é exposto com perfeição,
visível no aqui e agora,
com efeito imediato."

Budismo Theravada. Texto de Ayya Khema (1923-1997). A primeira linha deste enunciado proclama a fé verdadeira no Dhamma. E isso não significa a crença em tudo sem uma investigação, mas um relacionamento íntimo de confiança. Quando uma pessoa tem fé em alguém, ela também confia nessa pessoa, ela se coloca nas mãos dela ou dele, com uma profunda conexão e abertura interior. Isso é ainda mais verdadeiro em relação à fé no ensinamento do Budha. Aqueles aspectos do Dhamma que você ainda não compreende podem ser deixados em suspenso. No entanto, isso não abala a sua fé e confiança. Se sentirmos que ele é exposto com perfeição, então somos muito afortunados, pois conhecemos uma coisa neste universo que é perfeita. Não existe nada mais que possa ser encontrado sem máculas, nem existe algo que esteja no processo de tornar-se perfeito. Se tivermos essa confiança, fé e amor em relação ao Dhamma e acreditarmos que ele é exposto com perfeição, então teremos encontrado algo que supera qualquer comparação. Seremos abençoados com uma riqueza interior. Visível no aqui e agora, cabe a cada um de nós. O Dhamma foi esclarecido pelo Abençoado que o ensinou por compaixão, mas nós temos que vê-lo por nós mesmos com a nossa visão interior. Aqui e agora, precisa ser enfatizado, porque isso significa o não esquecimento, mas estar atento ao Dhamma a cada momento. Essa atenção nos ajuda a vigiar as nossas reações antes que elas resultem em palavras ou ações inábeis. Vendo o que há de positivo em nós e cultivando-o, vendo o negativo e substituindo-o. Quando acreditamos em todos os nossos pensamentos e os justificamos, não estamos vendo o Dhamma. Não existem justificativas, existem apenas fenômenos que surgem e que cessam. Com efeito imediato," significa que não dependemos de que um Budha esteja vivo para praticar o Dhamma; embora essa seja uma crença amplamente difundida, é bem possível praticar agora. Algumas pessoas pensam ser necessário ter uma situação perfeita ou um mestre perfeito ou uma meditação perfeita. Nada disso é verdadeiro. Os fenômenos mentais e corporais, Dhamma, estão constantemente surgindo e desaparecendo, mudando sem cessar. Quando nos agarramos aos fenômenos e os consideramos como nossos, então iremos acreditar em todas as estórias que as nossas mentes nos contarem, sem discriminação. Consistimos de um corpo, sensações, percepções, formações mentais e consciência, aos quais nos agarramos com firmeza e acreditamos serem Eu e meu. Precisamos dar um passo atrás, ser um observador neutro de todo o processo.

Que convida ao exame,
Que conduz para adiante.

O entendimento do Dhamma nos conduz ao nosso íntimo mais profundo. Não somos convidados a examinar uma sala de meditação ou uma estátua do Budha, um pagode ou um santuário. Somos convidados a examinar os fenômenos, (dhammas), que estão surgindo dentro de nós. As contaminações bem como as purificações são encontradas dentro do próprio coração e mente. As nossas mentes estão sempre muito ocupadas, sempre com recordações, planejamentos, esperanças ou julgamentos. Este corpo também poderia estar muito ocupado pegando pequenas pedras e arremessando-as n’água durante todo o dia. Mas consideramos isso um desperdício tolo de energia e por isso dirigimos o corpo para algo mais útil. Precisamos fazer o mesmo com a mente. Ao invés de ficar pensando nisto e naquilo, permitindo que as contaminações surjam, poderíamos também dirigir nossas mentes para algo mais benéfico tal como a investigação dos nossos gostos e desgostos, nossos desejos e rejeições, nossas ideias e opiniões. Quando a mente investiga, ela não se envolve com as suas próprias criações. Ela não é capaz de fazer as duas coisas ao mesmo tempo. À medida que ela se tornar cada vez mais observadora, ela permanecerá com objetividade por períodos de tempo mais longos. É por isso que o Budha ensinou que a atenção plena é o único caminho para a purificação dos seres. A observação clara e lúcida de todos os fenômenos que surgem mostra que estes são apenas fenômenos manifestando-se como mente e corpo, que estão em constante expansão e contração da mesma forma que o universo. A menos que nos tornemos observadores muito diligentes, não veremos esse aspecto da mente e corpo e não compreenderemos o Dhamma "aqui e agora," muito embora tenhamos sido convidados para o exame. "Para ser experimentado pelos sábios, por eles mesmos. Ninguém é capaz de compreender o Dhamma por outrem. Podemos salmodiar, ler, discutir e ouvir, mas a menos que observemos tudo aquilo que surge, não compreenderemos o Dhamma por nós mesmos. Existe apenas um lugar no qual o Dhamma pode ser compreendido, no próprio coração e mente. Tem que ser uma experiência pessoal que sucede através da observação constante de si mesmo. A meditação ajuda. A não ser que a pessoa investigue as suas próprias reações e saiba porque deseja uma coisa e rejeita outra, ela não terá visto o Dhamma. E assim a mente também obterá uma clara percepção da impermanência, Anicca, porque os nossos desejos e aversões estão mudando constantemente. Veremos que a mente que está pensando e o corpo que está respirando são ambos dolorosos, Dukkha. Quando a mente não opera com uma consciência elevada, transcendente, ela cria sofrimento, Dukkha. Somente uma mente ilimitada, iluminada, está livre disso. O corpo com certeza produz Dukkha de muitas formas devido à sua inabilidade de permanecer estável. E a visão clara desse fato nos proporciona uma forte determinação de compreender o Dhamma por nós mesmos. A sabedoria surge do íntimo e provém da compreensão daquilo que é experimentado. Nem o conhecimento, nem o ouvir podem produzi-la. A sabedoria também significa maturidade, que não tem nada a ver com a idade. Algumas vezes o envelhecimento pode ajudar, mas nem sempre esse é o caso. A sabedoria é um conhecimento interior que cria a auto confiança. Não precisamos buscar a confirmação e a boa vontade de outrem, nós sabemos com certeza. Quando salmodiamos algo, é essencial que saibamos o significado das palavras e investiguemos se elas possuem alguma conexão conosco.

pamadamulako lobho, lobho vivadamulako,
dasabyakarako lobho, lobho paramhi petiko,
tam lobham parijanantam vande'ham vitalobhakam
A cobiça é a raiz da negligência, a cobiça é a raiz das disputas. A cobiça produz a escravidão e um futuro nascimento como fantasma; Aquele que conheceu o fim da cobiça, eu honro Aquele que está liberto da cobiça
.
vinasakarako doso, doso paramhi nerayo,
tam dosam parijanantam vande'ham vitadosakam
A raiva é a raiz da turbulência, a causa da feiúra,
A raiva causa muita destruição e um futuro nascimento no inferno;
Aquele que conheceu o fim da raiva, eu honro Aquele que está liberto da raiva.
sabbaghamulako moho, moho sabbitikarako,
sabbandhakarako moho, moho paramhi
svadiko tam moham parijanantam vande'ham vitamohakam
A delusão, engano é a raiz de todos os males, a delusão só cria problemas,
Toda cegueira vem da delusão, bem como um futuro nascimento como animal;
Aquele que conheceu o fim da delusão, eu honro Aquele que está liberto da delusão.
O Budha disse:
Melhor do que mil palavras insignificantes,
é uma palavra com significado,
ao ouvi-la se obtém a paz.
Dhp. 100

Se pudermos praticar um verso do Dhamma, isso terá mais valor do que saber de cor todo o livro de cânticos. A origem e a cessação dos fenômenos, que são os nossos mestres, nunca descansam. O Dhamma nos está sendo ensinado constantemente. Enquanto estamos acordados, todos os nossos momentos são professores do Dhamma, se assim nós os fizermos. O Dhamma é a verdade exposta pelo Iluminado, que é a lei da natureza que nos cerca e que está arraigada dentro de nós. Certa vez o Budha disse: "Ananda, é contando comigo como um bom amigo que os seres sujeitos ao nascimento se libertam do nascimento." (SN XLV.2).

Todos nós precisamos de um bom amigo, que tenha abnegação suficiente, não somente provendo auxílio, mas também chamando a atenção quando estivermos decaindo. Trilhar o caminho do Dhamma é como caminhar na corda bamba. Ele segue numa linha reta e cada vez que alguém escorrega, se machuca. Se sentirmos no íntimo uma sensação dolorosa, não estaremos mais sobre a corda bamba do Dhamma. Nosso bom amigo, Kalyanamitta, poderá então nos dizer: Você se desviou em demasia para a direita ou para a esquerda, seja qual for o caso. Você não foi cuidadoso e por isso caiu em depressão e no sofrimento. Eu chamarei sua atenção da próxima vez que você estiver se desviando. Só poderemos aceitar isso de alguém em quem tenhamos confiança e segurança. Uma pessoa pode ser enganada pelas belas palavras ou aparência esplêndida de alguém. O caráter de uma pessoa se revela não somente através de palavras, mas nas pequenas atividades do dia a dia. Um dos importantes indicadores do caráter de uma pessoa é como ela reage quando as coisas vão mal. É fácil ser amoroso, auxiliador e amigo quando tudo está indo bem, mas quando surgem as dificuldades a nossa tolerância e paciência são postas à prova, bem como a nossa equanimidade e determinação. Quanto menos autocentrada for a pessoa, mais fácil será para ela lidar com todas as situações. No início, caminhar sobre a corda bamba do Dhamma poderá ser desconfortável. A pessoa não está habituada a manter o próprio equilíbrio, e ao invés disso ela se deixa influenciar por tudo, indo em todas as direções, onde quer que seja mais confortável. A pessoa poderá se sentir limitada e coagida, sem permissão para viver de acordo com os seus instintos naturais. E além disso, para caminhar sobre a corda bamba a pessoa tem que se controlar de várias formas por meio da atenção plena. Essas restrições podem no início ser irritantes, como grilhões ou amarras, mas mais tarde elas se tornarão os fatores libertadores. Para possuir essa joia perfeita do Dhamma nos nossos corações, precisamos estar despertos e conscientes. Então poderemos provar por nós mesmos que o Dhamma do Abençoado é exposto com perfeição. Não existe nenhuma outra joia no mundo que se iguale ao valor do Dhamma. Cada um de nós pode se tornar o dono dessa jóia preciosa. Podemos nos considerar como os mais afortunados por ter essa oportunidade. Quando despertarmos pela manhã, que este seja o nosso primeiro pensamento: "Que boa fortuna tenho em poder praticar o Dhamma. http://nossacasa.net/shunya/. Abraço. Davi.

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