" O Dhamma do
Abençoado
é exposto com perfeição,
visível no aqui e agora,
com efeito imediato."
é exposto com perfeição,
visível no aqui e agora,
com efeito imediato."
Budismo Theravada.
Texto de Ayya Khema (1923-1997). A primeira linha deste enunciado proclama a fé
verdadeira no Dhamma. E isso não significa a crença em tudo sem uma
investigação, mas um relacionamento íntimo de confiança. Quando uma pessoa tem
fé em alguém, ela também confia nessa pessoa, ela se coloca nas mãos dela ou
dele, com uma profunda conexão e abertura interior. Isso é ainda mais
verdadeiro em relação à fé no ensinamento do Budha. Aqueles aspectos do Dhamma
que você ainda não compreende podem ser deixados em suspenso. No entanto, isso
não abala a sua fé e confiança. Se sentirmos que ele é exposto com perfeição, então
somos muito afortunados, pois conhecemos uma coisa neste universo que é
perfeita. Não existe nada mais que possa ser encontrado sem máculas, nem existe
algo que esteja no processo de tornar-se perfeito. Se tivermos essa confiança,
fé e amor em relação ao Dhamma e acreditarmos que ele é exposto com perfeição,
então teremos encontrado algo que supera qualquer comparação. Seremos
abençoados com uma riqueza interior. Visível no aqui e agora, cabe a cada um de
nós. O Dhamma foi esclarecido pelo Abençoado que o ensinou por compaixão, mas
nós temos que vê-lo por nós mesmos com a nossa visão interior. Aqui e agora,
precisa ser enfatizado, porque isso significa o não esquecimento, mas estar
atento ao Dhamma a cada momento. Essa atenção nos ajuda a vigiar as nossas
reações antes que elas resultem em palavras ou ações inábeis. Vendo o que há de
positivo em nós e cultivando-o, vendo o negativo e substituindo-o. Quando
acreditamos em todos os nossos pensamentos e os justificamos, não estamos vendo
o Dhamma. Não existem justificativas, existem apenas fenômenos que surgem e que
cessam. Com efeito imediato," significa que não dependemos de que um Budha
esteja vivo para praticar o Dhamma; embora essa seja uma crença amplamente
difundida, é bem possível praticar agora. Algumas pessoas pensam ser necessário
ter uma situação perfeita ou um mestre perfeito ou uma meditação perfeita. Nada
disso é verdadeiro. Os fenômenos mentais e corporais, Dhamma, estão
constantemente surgindo e desaparecendo, mudando sem cessar. Quando nos
agarramos aos fenômenos e os consideramos como nossos, então iremos acreditar
em todas as estórias que as nossas mentes nos contarem, sem discriminação.
Consistimos de um corpo, sensações, percepções, formações mentais e
consciência, aos quais nos agarramos com firmeza e acreditamos serem Eu e meu.
Precisamos dar um passo atrás, ser um observador neutro de todo o processo.
Que convida ao exame,
Que conduz para adiante.
Que conduz para adiante.
O entendimento do
Dhamma nos conduz ao nosso íntimo mais profundo. Não somos convidados a
examinar uma sala de meditação ou uma estátua do Budha, um pagode ou um
santuário. Somos convidados a examinar os fenômenos, (dhammas), que
estão surgindo dentro de nós. As contaminações bem como as purificações são
encontradas dentro do próprio coração e mente. As nossas mentes estão sempre
muito ocupadas, sempre com recordações, planejamentos, esperanças ou
julgamentos. Este corpo também poderia estar muito ocupado pegando pequenas
pedras e arremessando-as n’água durante todo o dia. Mas consideramos isso um
desperdício tolo de energia e por isso dirigimos o corpo para algo mais útil.
Precisamos fazer o mesmo com a mente. Ao invés de ficar pensando nisto e
naquilo, permitindo que as contaminações surjam, poderíamos também dirigir
nossas mentes para algo mais benéfico tal como a investigação dos nossos gostos
e desgostos, nossos desejos e rejeições, nossas ideias e opiniões. Quando a
mente investiga, ela não se envolve com as suas próprias criações. Ela não é
capaz de fazer as duas coisas ao mesmo tempo. À medida que ela se tornar cada
vez mais observadora, ela permanecerá com objetividade por períodos de tempo
mais longos. É por isso que o Budha ensinou que a atenção plena é o único
caminho para a purificação dos seres. A observação clara e lúcida de todos os
fenômenos que surgem mostra que estes são apenas fenômenos manifestando-se como
mente e corpo, que estão em constante expansão e contração da mesma forma que o
universo. A menos que nos tornemos observadores muito diligentes, não veremos
esse aspecto da mente e corpo e não compreenderemos o Dhamma "aqui e
agora," muito embora tenhamos sido convidados para o exame. "Para ser experimentado pelos sábios, por eles mesmos. Ninguém é capaz de
compreender o Dhamma por outrem. Podemos salmodiar, ler, discutir e ouvir, mas
a menos que observemos tudo aquilo que surge, não compreenderemos o Dhamma por
nós mesmos. Existe apenas um lugar no qual o Dhamma pode ser compreendido, no
próprio coração e mente. Tem que ser uma experiência pessoal que sucede através
da observação constante de si mesmo. A meditação ajuda. A não ser que a pessoa
investigue as suas próprias reações e saiba porque deseja uma coisa e rejeita
outra, ela não terá visto o Dhamma. E assim a mente também obterá uma clara
percepção da impermanência, Anicca, porque os nossos desejos e
aversões estão mudando constantemente. Veremos que a mente que está pensando e
o corpo que está respirando são ambos dolorosos, Dukkha. Quando a
mente não opera com uma consciência elevada, transcendente, ela cria
sofrimento, Dukkha. Somente uma mente ilimitada, iluminada,
está livre disso. O corpo com certeza produz Dukkha de muitas
formas devido à sua inabilidade de permanecer estável. E a visão clara desse
fato nos proporciona uma forte determinação de compreender o Dhamma por nós
mesmos. A sabedoria surge do
íntimo e provém da compreensão daquilo que é experimentado. Nem o conhecimento,
nem o ouvir podem produzi-la. A sabedoria também significa maturidade, que não
tem nada a ver com a idade. Algumas vezes o envelhecimento pode ajudar, mas nem
sempre esse é o caso. A sabedoria é um conhecimento interior que cria a auto
confiança. Não precisamos buscar a confirmação e a boa vontade de outrem, nós sabemos
com certeza. Quando salmodiamos algo, é essencial que saibamos o significado
das palavras e investiguemos se elas possuem alguma conexão conosco.
pamadamulako lobho, lobho
vivadamulako,
dasabyakarako lobho, lobho paramhi petiko,
tam lobham parijanantam vande'ham vitalobhakam
dasabyakarako lobho, lobho paramhi petiko,
tam lobham parijanantam vande'ham vitalobhakam
A cobiça é a raiz da
negligência, a cobiça é a raiz das disputas. A cobiça produz a escravidão e um
futuro nascimento como fantasma; Aquele que conheceu o fim da cobiça, eu honro
Aquele que está liberto da cobiça
.
vinasakarako doso, doso paramhi nerayo,
tam dosam parijanantam vande'ham vitadosakam
tam dosam parijanantam vande'ham vitadosakam
A raiva é a raiz da turbulência,
a causa da feiúra,
A raiva causa muita destruição e um futuro nascimento no inferno;
Aquele que conheceu o fim da raiva, eu honro Aquele que está liberto da raiva.
A raiva causa muita destruição e um futuro nascimento no inferno;
Aquele que conheceu o fim da raiva, eu honro Aquele que está liberto da raiva.
sabbaghamulako moho, moho
sabbitikarako,
sabbandhakarako moho, moho paramhi
svadiko tam moham parijanantam vande'ham vitamohakam
sabbandhakarako moho, moho paramhi
svadiko tam moham parijanantam vande'ham vitamohakam
A delusão, engano é a raiz de
todos os males, a delusão só cria problemas,
Toda cegueira vem da delusão, bem como um futuro nascimento como animal;
Aquele que conheceu o fim da delusão, eu honro Aquele que está liberto da delusão.
Toda cegueira vem da delusão, bem como um futuro nascimento como animal;
Aquele que conheceu o fim da delusão, eu honro Aquele que está liberto da delusão.
O Budha disse:
Melhor do que mil palavras
insignificantes,
é uma palavra com significado,
ao ouvi-la se obtém a paz.
é uma palavra com significado,
ao ouvi-la se obtém a paz.
Dhp. 100
Se pudermos praticar um verso do Dhamma, isso terá mais valor do que saber de cor todo o livro de cânticos. A origem e a cessação dos fenômenos, que são os nossos mestres, nunca descansam. O Dhamma nos está sendo ensinado constantemente. Enquanto estamos acordados, todos os nossos momentos são professores do Dhamma, se assim nós os fizermos. O Dhamma é a verdade exposta pelo Iluminado, que é a lei da natureza que nos cerca e que está arraigada dentro de nós. Certa vez o Budha disse: "Ananda, é contando comigo como um bom amigo que os seres sujeitos ao nascimento se libertam do nascimento." (SN XLV.2).
Todos
nós precisamos de um bom amigo, que tenha abnegação suficiente, não somente
provendo auxílio, mas também chamando a atenção quando estivermos decaindo.
Trilhar o caminho do Dhamma é como caminhar na corda bamba. Ele segue numa
linha reta e cada vez que alguém escorrega, se machuca. Se sentirmos no íntimo
uma sensação dolorosa, não estaremos mais sobre a corda bamba do Dhamma. Nosso
bom amigo, Kalyanamitta, poderá então nos dizer: Você se
desviou em demasia para a direita ou para a esquerda, seja qual for o caso.
Você não foi cuidadoso e por isso caiu em depressão e no sofrimento. Eu
chamarei sua atenção da próxima vez que você estiver se desviando. Só poderemos
aceitar isso de alguém em quem tenhamos confiança e segurança. Uma pessoa pode
ser enganada pelas belas palavras ou aparência esplêndida de alguém. O caráter
de uma pessoa se revela não somente através de palavras, mas nas pequenas
atividades do dia a dia. Um dos importantes indicadores do caráter de uma
pessoa é como ela reage quando as coisas vão mal. É fácil ser amoroso,
auxiliador e amigo quando tudo está indo bem, mas quando surgem as dificuldades
a nossa tolerância e paciência são postas à prova, bem como a nossa
equanimidade e determinação. Quanto menos autocentrada for a pessoa, mais fácil
será para ela lidar com todas as situações. No início, caminhar sobre a corda
bamba do Dhamma poderá ser desconfortável. A pessoa não está habituada a manter
o próprio equilíbrio, e ao invés disso ela se deixa influenciar por tudo, indo
em todas as direções, onde quer que seja mais confortável. A pessoa poderá se
sentir limitada e coagida, sem permissão para viver de acordo com os seus
instintos naturais. E além disso, para caminhar sobre a corda bamba a pessoa
tem que se controlar de várias formas por meio da atenção plena. Essas
restrições podem no início ser irritantes, como grilhões ou amarras, mas mais
tarde elas se tornarão os fatores libertadores. Para possuir essa joia perfeita
do Dhamma nos nossos corações, precisamos estar despertos e conscientes. Então
poderemos provar por nós mesmos que o Dhamma do Abençoado é exposto com
perfeição. Não existe nenhuma outra joia no mundo que se iguale ao valor do
Dhamma. Cada um de nós pode se tornar o dono dessa jóia preciosa. Podemos nos
considerar como os mais afortunados por ter essa oportunidade. Quando
despertarmos pela manhã, que este seja o nosso primeiro pensamento: "Que
boa fortuna tenho em poder praticar o Dhamma. http://nossacasa.net/shunya/. Abraço.
Davi.
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