Teosofia. Editor
do Mosaico. NÓS OS FILHOS PRÓDIGOS. São Lucas 15, 11-31 diz: "E disse um certo
homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao Pai: Pai dá-me a parte
dos bens que me pertence. E ele repartiu por ele a fazenda. E poucos dias
depois o filho mais novo ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali
desperdiçou os bens vivendo desregradamente. (...) E tornando em si
disse: quantos jornaleiros de meu Pai tem abundância de pão e eu aqui pereço de
fome. (...) E levantando foi-se para seu Pai, e quando ainda estava longe viu
o seu Pai e moveu-se de íntima compaixão e correndo lançando ao pescoço e o
beijou". A conhecida parábola do Filho Pródigo é apresentada sob várias
interpretações e todas partem do princípio de que o filho que se afastou estava
errado ao tomar essa decisão e não deveria sair da proteção da família e nem do
regaço - abrigo - de seu pai. Mas nossa versão dessa narrativa tem o propósito
de enfatizar a importância das experiências pessoais realizadas através de
escolhas legítimas. Baseadas no livre arbítrio dado por Deus, tendo o propósito
do crescimento e evolução espiritual. Onde a aprendizagem produz a maturidade
humana e uma consciência em transformação aberta a interação com os diferentes
reinos da natureza. Confúcio (551 AC 479) disse "Há três métodos para
ganhar a sabedoria: primeiro por reflexão que é o mais nobre, segundo por
imitação que é o mais fácil e terceiro por experiência que é o mais
amargo". Vamos pensar em uma analogia para entendermos a Casa do Pai e o
relacionamento com seus filhos. Assim a figura de um ninho de águia é bem
recorrente como ilustração, pois os pais águias com seus filhotes vivem em
harmonia e convivência. Estando com os olhos para o futuro dos filhotes quando
esses terão condições de voar e caçar seu alimento através do esforço pessoal
de cada um. Mas até lá muitas coisas irão acontecer que envolverão um
treinamento e estágios de adaptação as inúmeras fases que deverão ser
percorridas. Primeiro os pais águias fazem seus ninhos nos penhascos mais altos
das montanhas. Sendo esse fato importante para a segurança e proteção dos
filhotes contra os pássaros predadores que voam em altitudes acima da média. Esses
adversários são os corvos, abutres, urubus e falcões. Mas um detalhe curioso e
sabido entre os ornitólogos – os que estudam os pássaros - as mamães águias
para guardarem seus ninhos voam e caçam em distâncias consideráveis. Elas veem no
rochedo seus ninhos e geralmente perseguem suas presas em pleno voo. Deixando
para os papais águias a responsabilidade de trazerem alimentos mais
consistentes. Eles vão a regiões mais distantes avistando suas presas com suas
apuradas visões das alturas. Numa precisão milimétrica dificilmente erram em
seus ataques aos predadores voadores. Num certo momento da vida dos filhotes
sua mãe começa as aulas de treinamento de voos havendo vários tipos deles como:
o planado, o planado térmico e o planado aerodinâmico específicos para aves de
grandes portes e avantajada envergadura de asas como as águias. Esse é um
esforço na tentativas de erros e acertos para os frágeis filhotes. Nessas aulas,
com suas mães, inauguram as aventuras pela existência de classe de animais
vertebrados, bípedes, endotérmicos e ovíparos. O momento mais importante desse
aprendizado é quando a mamãe águia coloca seu precioso filhote para dar um voo
rasante em pleno ar. Vão à procura de uma pequena presa. Estando ela parada no
ar como professora observando a performance de seu aluno. O filhote é aprovado
no teste quando segura com firmeza o alimento levando-o para ser devorado no
ninho. Estando assim apto para sair de casa e constituir sua própria família.
Um princípio a destacar entre as águias é sua fidelidade – monogamia – para com
seu companheiro. Isso acontecendo até a morte de um deles e não se sabe entre
os ornitólogos se elas voltam a se acasalarem novamente. Ressaltando uma etapa
fundamental entre essas aves é que num determinado período de suas vidas as
garras e picos se fragilizam devido ao desgaste das caças, lutas, e intempéries
da natureza. Assim o instinto de sobrevivência lhes ensinou que deveriam buscar
refúgio no mais alto penhasco e lá sozinhas começarem o doloroso processo de
transformação de suas garras, bicos e renovação de sua plumagem. Esse é
realizado quando elas batem na rocha seus bicos até que eles soltem desgrudando
de suas faces. As garras são friccionadas contra as pedras até que se
despreguem de seus pés. Um sofrimento indescritível pra esses pássaros que
voluntariamente se submetem a esse processo na solidão da montanha. Esperam
pacientemente por novas e vigorosas garras, bicos e plumagem. Assim voltam aos
ninhos renovados para continuarem suas vidas no reino animal. Essas aves são
realmente misteriosas e dotadas de uma consciência perceptiva bem evoluída em
comparação as demais espécies de pássaros existentes. Seu processo de morte é
até hoje pouco explicado pelos entendidos e ninguém ainda encontrou um cadáver
de águia por aí. Quando sentem que
chegou a hora de partir, elas não se lamentam e nem ficam com medo. Tiram as
últimas forças de seu cansaço corporal voando aos picos mais altos quase
inatingíveis. Esperando resignadamente o momento final, partindo para a outra
vida heroicamente tendo cumprido sua missão aqui na terra. Isso mostra a
importância da atitude do filho que saiu da Casa do Pai. O Pai ocultamente
aprovou sua atitude sabendo que ele passaria por experiência que trariam
sofrimento, medo, perigo, expectativa, escolha, risco, equilíbrio, bom senso,
esperança, alegria e maturidade. O primeiro ponto percebido nesse jovem foi sua
necessidade de conhecer novos ambientes, novas pessoas, sair do corriqueiro. Enfrentar
a vida de peito aberto mostrava que tinha uma boa economia advinda da parte que
lhe coube da herança. Porém isso representava apenas o motivo para viver a aventura
da existência. Pelo seu próprio esforço e possibilidade se sentir dono de si e
criar a esperança de novos caminhos pela tentativa do erro e acerto. Outro
aspecto foi sua coragem e determinação numa situação desfavorável. Quando
pensamos que ele sai de sua zona de conforto e lançando-se ao desconhecido sem
segurança ou expectativa de uma situação cômoda a curto ou médio prazo. Seu
desejo de ter experiências que evoluiriam sua espiritualidade dando-lhe o sabor
de vencer ou o amargor de ser derrotado. Como precisamos viver essas duas
situações reconhecendo a importância delas com diz Abraham Lincoln (1809-1865)
"O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que
tombaram antes de vencer". A princípio, o filho pródigo, teve experiências
negativas gastando todo o dinheiro com futilidades e promiscuidade. Cogito ficar claro a presença oculta do Eterno
Mistério em cada situação que ele passou. Mesmo quando buscou as prostitutas
para satisfazer seu desejo sexual. Na verdade, esotericamente pensando, não era
isso o que ele queria. Tanto que seu carma foi cobrado logo a seguir quando
esteve naquela deprimente situação de apascentar porcos. Comendo do que eles
comiam. E vivendo naquele "ambiente". Ele tinha um coração simples e amava os animais, mesmo aqueles que a
tradição religiosa considerava como imundos. Isso demonstra que percebia não
haver no reino animal nenhuma imundície ou coisa parecida. Tão pouco no reino humano pessoas descriminadas
inferiores ou desprezíveis por comportamentos tresloucados e não aceitos pela
maioria. Esses estereótipos eram descabidos. Ele reconhecia Deus em Suma Bondade e Misericórdia como o Criador e também como a Criação. Sua prece
manifestando o desejo de voltar ilustra bem seu coração compungido e contrito. Diz:
"Levantar-me-ei e irei ter com meu Pai, e dir-lhe-ei Pai pequei contra os
céus e perante Ti, já não sou digno de ser chamado seu filho faze-me como um
dos teus jornaleiros". A experiência do perdão nos situa em no microcosmo
como seres que dependemos uns dos outros. Estamos conectados pela vida e a
consciência evoluída onde intuição, recordação, imaginação, cognição e
abstração dão-nos o direito de escolher pelo livre arbítrio nosso destino. A
divindade não impede que tomemos nossa decisão seja qual for se para o bem ou
para o mal. Por isso a importância das circunstâncias vividas. Através delas
saberemos distinguir o melhor do pior, o bom do ruim, o doce do amargo, a luz
das trevas, a altura do cumprimento, a profundidade da largura. O reencontro
com seu Pai é uma expressão do amor altruísta e incondicional. Esse aguardava a
volta do filho desde o primeiro minutos que ele saiu de sua casa. Vendo nele
aquele que "esteve morto e reviveu estava perdido e foi achado". Ocultamente
pensando, ele passou dum processo natural humano à evolução espiritual de sua
alma. Assim a roupa nova, o anel e as sandálias são símbolos de maturidade e
idoneidade manifestados na festa que foi dada pelo seu retorno ao lar. Podemos
cogitar esses fatos narrados acima pela filosofia esotérica (ocultismo) percebendo que
nossa evolução deve passar por estágios. A princípio inferiores e experiências
de sofrimentos, vergonhas, dores e humilhações. Ainda em um corpo físico e
emocional se acentua a personalidade presa ao mundanismo dos prazeres, desejos
egoístas e narcisismos manifestados no nosso centralismo. Assim alguns de nós
precisam passar um período no chiqueiro - porcos - aprendendo com eles a
necessidade de companheirismo e reciprocidade nos relacionamentos. Reconhecendo
nossa real constituição viciosa e pecaminosa e percebendo que nossa consciência
em muitos casos ainda continua instintiva como a dos animais. Podemos pela vivencia
humana mudar essa situação. Evoluindo conscientemente nosso aparelho psíquico (alma) pela observação dos demais reinos da natureza. Procurando no autoconhecimento, meditação,
evocação, solitude e contemplação o sentido para nossa vida humana e
espiritual. Saindo do nosso casulo podemos passar pelo processo da metamorfose
de lagarta para borboleta. O filho prodigo foi ao fundo do poço. Talvez não
precisemos experimentar tantos revezes e sofrimento para mudarmos nossa situação.
Que atendamos ao clamor de nossa consciência antes. Uma nova perspectiva agora
não mais como uma personalidade rastejante que presencia apenas as coisas
superficiais do mundo palpável. Evoluindo, agora, numa consciência pré intuitiva,
aquele que saiu do lar, iniciava numa individualidade superior. Podendo voar
para conhecer novas espécies aéreas e flores com fragrâncias indescritíveis as begônias, hortências, lírios e orquídeas. Além de polimerizar outras
espécies vegetais. Assim a vida evoluiu para um aspecto mais adiantado na
cadeia do progresso existencial. Interagindo de forma orgânica pelos métodos de
simbiose e comensalismo com vantagens para todos os integrantes dos níveis tróficos.
O retorno a Casa Paterna é um percurso longo e demorado. Precisamos passar por
inúmeras estações de tratamento de nossos pecados e iniquidades. São as rondas
carmicas na vida atual e nas futuras encarnações que produzirão esse equilíbrio
entre os nossos vícios e virtudes, méritos e deméritos, bondade e maldade
praticados a favor ou contra nosso próximo. Sobressaindo nossa boa vontade,
teremos um momento de gozo e consolo quando - entre vidas - desencarnarmos
provavelmente num período de uns mil e quinhentos anos ou mais ou menos. Chamado
na tradição budista de devachan que corresponde ao multiplicar do dom da vida
dado a nós pelo Espírito Divino. Ou dependo da maldade existencial pratica uma parada, ou várias, na ronda das almas penadas. Deus em sua infinita compaixão nos livre de passar por esse temporário tormento que somos exclusivamente responsáveis. O filho que ficou na Casa do Pai optando pela
segurança, comodidade e conforto de tudo que possuía era infeliz e entediado. Não
compreendia o verdadeiro motivo da existência humana. Imaginando que uma vida
tranquila e inalterada desprovida de experiência boa ou má eram suficientes
para agradar o coração do Pai. Nessa condição ele retrocedeu espiritualmente, involuiu, impedindo que o progresso da existência fosse realizado. Custando uma
fase de atraso em seu desenvolvimento que deveria ser restituído
posteriormente. Ocultamente percebemos que o Pai queria também que esse filho
tivesse suas próprias experiências para crescimento e evolução do seu Ego
Inferior. Saindo de sua casa para ganhar a idoneidade moral, ética e espiritual
pelo sofrimento e a dor de início. A aprendizagem como alvo produziria os
"frutos do espírito que são amor, alegria, paz, longanimidade, bondade,
fé, benignidade, domínio próprio". Esses são vistos apenas como atitudes
do Ego Superior que compartilha com o Ego Divino as bem aventuranças destinadas
a todos os seres minerais, vegetais, animais e humanos da natureza. Esses estão
debaixo, sobre e acima da terra. A festa com vestes novas, anel no dedo e
sandálias nos pés demonstra o último estágio da evolução da alma humana. Esse
filho que saiu da Casa do Pai e retornou, esotéricamente podemos compará-lo ao
próprio Pai - Deus - pois o longo processo evolutivo - homem, Mestre de
Sabedoria, Homem Perfeito e Espírito Divino - o mesclara intrinsecamente
a Deidade. Assim estão no Nirvana a completude da consciência humana que
viajando pelos vários reinos e planetas de nosso sistema solar chega a seu
ponto de origem plenamente aperfeiçoada. Capacitada pelas sucessivas
reencarnações vividas em seu processo de inteireza e perfeição cósmica. Isso é
o que diz São Paulo em II Timóteo 4, 7,8 "Combati o bom combate acabei a
carreira e guardei a fé. Desde agora a coroa da justiça me está guardada a qual
o Senhor justo juiz me dará naquele dia, e não somente a mim mas a todos os que
amaram a sua vinda". Seria bom se ganhássemos a sabedora pela reflexão ou
imitação como disse Confúcio. Porém, sinto em meu caso, que necessito também do
caminho amargo da experiência para alcançar esse propósito. Estritamente
falando todos saímos da Casa do Pai. Foi o nosso primeiro ambiente de
acomodação e suprimento. Tendo essa indestrutível partícula, centelha divina em
nós, estamos prosseguindo nossa caminhada espiritual com muitos tropeços é
claro. Também enfrentando e vencendo pequenos e grandes obstáculos. Assim
chegaremos infalivelmente de volta como seres evoluídos e perfeitos para a Casa
do Pai novamente. Abraço. Davi.
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