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A PERFEITA ALEGRIA. Certa vez, no tempo do inverno, São Francisco de Assis
(1182-1226) vinha com Frei Leão de Perúgia para Santa Maria dos Anjos, e o frio
atormentava-o acerbamente. Chamou Frei Leão, que caminhava um pouco à frente
dele e disse: “Ó Frei Leão, ainda que os frades menores deem em toda a terra um
grande exemplo de santidade e de boa edificação, escreve, não estaria aí a
perfeita alegria”. Caminharam mais um pouco e o Santo chamou-o novamente,
dizendo: “Ó Frei Leão, ainda que o frade menor cure cegos, endireite os
encurvados, expulse os demônios, devolva o ouvido aos surdos, o andar aos coxos
e a palavra aos mudos e, o que ainda é maior, ressuscite mortos de quatro dias
(cf. Mateus 11:4), escreve que aí não está a perfeita alegria”. Chamando-o
novamente mais adiante, disse: “Ó Frei Leão, se o frade menor soubesse todas as
línguas, todas as ciências e escrituras, de maneira que soubesse até profetizar
(I Coríntios 13:2) e revelar não só as coisas futuras mas até as
consciências dos outros, escreve que aí não estaria a perfeita alegria”. Continuaram
a caminhar e algum tempo depois chamou novamente: “Ó Frei Leão, ovelhinha de
Deus, mesmo que o frade menor falasse a língua dos anjos (I Coríntios
13:2), e conhecesse o caminho das estrelas e as virtudes das ervas, e lhe
fossem revelados todos os tesouros das terras; e conhecesse as virtudes das
aves e dos peixes e dos animais, dos homens e das árvores, das raízes, das
pedras e das águas, escreve, escreve que aí não estaria a perfeita alegria”. Pouco
depois, clamou: “Ó Frei Leão, ainda que o frade menor soubesse pregar tão
solenemente que convertesse todos os infiéis para a fé, escreve que não estaria
aí a perfeita alegria”. E esse modo de falar durou por bem umas duas milhas.
Então, Frei Leão, muito admirado com tudo isso, disse: “Pai, eu te peço da
parte de Deus que me diga onde está a perfeita alegria”. Respondeu o Santo:
“Quando chegarmos a Santa Maria dos Anjos tão molhados de chuva e congelados de
frio, sujos de barro e aflitos de fome, e batermos na porta do lugar, e o
porteiro vier irado, dizendo: “Quem sois vós?” e nós dissermos: “Somos dois dos
vossos frades”. E ele, ao invés, disser: “Vós sois dois velhacos, que dais
voltas pelo mundo roubando as esmolas dos pobres!”. E não nos abrir a porta,
mas nos fizer ficar na neve e na água, no frio e na fome até de noite. Então, se suportarmos
pacientemente as injúrias e repulsas, sem nos perturbar e sem murmurar, e
pensarmos humilde e caridosamente que o porteiro nos conhece de verdade, e que
é Deus que está excitando a língua dele contra nós, ó Frei Leão, escreve que aí
está a perfeita alegria. E se nós continuarmos a bater e o porteiro, ficar
perturbado como se fôssemos importunos, sair e nos pegar a tapas com muita dureza,
dizendo: “Ide embora daqui, poltrões ordinários, ide para o hospital. Pois quem
sois vós? Aqui não comereis de modo algum!”. E se nós suportarmos tudo isso com
alegria e recebermos as injúrias com amor de todo coração: ó Frei Leão, escreve que aí está a perfeita alegria. E se nós, atormentados por
todo lado com a fome apertando, o frio afligindo, e ainda mais aproximando-se a
noite, batermos, chamarmos e continuarmos a chorar para que nos abra, e ele,
afinal, ainda mais arrebatado, disser: “São homens muito atrevidos e
impudentes: vou acalmá-los!”. E sair com um porrete cheio de nós, agarrando-nos
pelo capuz e nos jogando na neve e na lama, batendo-nos tanto com o cacete que
nos encher de feridas, se suportarmos com alegria tantos males, tantas injúrias
e pancadas, lembrando que devemos tolerar as penas de Cristo bendito, ó Frei
Leão, escreve, escreve que aí está a perfeita alegria. www.jardimdosmestres.com.br. Abraço.
Davi
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