Islamismo. www.ccib.org.br. V. A MULHER NO ISLAM. Agora
focalizemos nossa atenção sobre como o Islam desencoraja o DIVÓRCIO. O Profeta
do Islam disse aos crentes que: "entre todos os atos lícitos, o divórcio é
o mais odiado por Deus" (Abu Dawood). Um muçulmano não deve se divorciar
de sua esposa, apenas porque ele não se simpatiza mais com ela. O Alcorão
orienta o muçulmano a ser gentil com suas esposas, mesmo em caso de emoções
fortes ou sentimentos de desagrado: "Vivei com elas (vossas esposas) em
bases de gentileza e equidade. Se vós vos antipatizais delas pode ser que
estejais antipatizando com alguma coisa que Alá colocou como um grande
bem" (4:19). O Profeta Mohammad deu uma orientação semelhante: "Um
crente não deve odiar uma crente. Se ele não gosta de alguma coisa, ele poderá
se agradar de outras" (Muslim). O Profeta também enfatizou que os melhores
muçulmanos eram aqueles que eram os melhores para as suas esposas: "Os
crentes que mostram a fé mais perfeita são aqueles que têm o melhor caráter e o
melhor dentre vocês é aquele que é o melhor com suas esposas" (Tirmidthi).
Contudo, o Islam é uma religião prática e reconhece que há algumas
circunstâncias nas quais o casamento chega à beira do colapso.Em tais casos, o
simples conselho de gentileza ou autocontrole não é a solução viável. Assim, o
que fazer a fim de salvar o casamento nesses casos? O Alcorão oferece alguns
conselhos práticos para os casais cujo parceiro é o injusto. Para o marido,
cuja má-conduta da esposa está ameaçando o casamento, o Alcorão dá 4 tipos de
conselho, como detalhado nos versos seguintes: "... Quanto àquelas, de
quem suspeitais deslealdade, admoestai-as (na primeira vez), abandonai os seus
elitos (na segunda vez) e castigai-as (na terceira vez); porém, se vos
obedecerem, não procureis meios contra elas. Sabei que Deus é Excelso,
Magnânimo. E se temerdes desacordo entre ambos (esposo e esposa), apelai para um arbítrio
da família dele e outro da dela. Se ambos desejarem se reconciliar, Deus os
reconciliará, porque é Sapiente, Inteiradíssimo."(4:34/35). Os três
primeiros devem ser tentados primeiro. Se não funcionar, então a ajuda das
famílias envolvidas deve ser procurada. Deve-se notar que à luz dos versículos
acima, bater numa esposa rebelde é uma medida temporária e que está colocada em
terceiro lugar para os casos de extrema necessidade, na esperança de que isto
possa remediar a esposa injusta. Se isto funcionar, não se permite ao marido, sob
qualquer meio, de continuar a molestar. Se não funcionar, não deve usar esta
medida por muito tempo e o passo final da reconciliação, assistida pela
família, deve ser explorada. O Profeta Mohammad orientou os maridos muçulmanos
a não recorrerem a tais medidas, exceto em casos extremos, tais como atos
lascivos cometidos pela esposa. Mesmo nestes casos, a punição deveria ser
branda e, se a esposa desistisse, o marido não deveria irritá-la. "No caso
de elas serem culpadas de lascívia, vós podeis deixá-las sozinhas em suas camas
e infligir a eles punição branda. Se elas forem obedientes, não procurais
motivos de aborrecimento contra elas." (Tirmidthi). Além disso, o Profeta
do Islam condenou qualquer surra injustificada. Algumas esposas muçulmanas se
queixaram a ele de que seus maridos lhes batiam. Ouvindo isso, o Profeta
categoricamente estabeleceu: "Aqueles que fazem isso (bater nas esposas)
não são os melhores dentre vós" (Abu Dawood). Deve ser lembrado também que
o Profeta disse, com relação a essa questão: "Os melhores dentre vós são
aqueles que são os melhores com sua família, e eu sou o melhor dentre vós para
a minha família" (Tirmidthi). O Profeta aconselhou uma muçulmana, de nome
Fatimah bint Qais, a não se casar com um determinado homem porque ele era conhecido
por bater em mulheres: "Eu fui ao Profeta e disse: Abul Jahm e Mu´awiah me
propuseram casamento. O Profeta (a título de conselho) disse: Quanto a
Mu´awiah, ele é muito pobre, e quanto a Abul Jahm, ele está acostumado a bater
em mulheres" (Muslim). Deve-se notar que o Talmud sanciona a surra na
esposa, como castigo com fins disciplinares (39). O marido não fica restrito
àqueles casos de lascívia. Ele pode bater em sua esposa, mesmo que ela se
recuse a fazer seus serviços domésticos. Além disso, ele não se limita apenas
àqueles casos de punição leve. Ele pode quebrar a teimosia da esposa com
chibatadas ou deixando-a com fome (40). Para a esposa, cuja a má conduta do marido é causa para o fim do casamento, o
Alcorão oferece os seguinte conselho: "Se a esposa teme a crueldade ou a
deserção em sua parte, não há mal que eles façam um acordo amigável entre si; e
tal acordo é o melhor" (4:128). Neste caso, aconselha-se à mulher a
procurar a reconciliação com seu marido (com ou sem a assistência familiar). É de
se notar que o Alcorão não aconselha a esposa a valer-se da abstenção do sexo.
A razão para este disparate pode ser para proteger a esposa de uma reação
física violenta pelo já raivoso marido. Tal reação física violenta será muito
pior, tanto para o marido quanto para a esposa, além de prejudicar mais ainda o
casamento. Alguns exegetas têm sugerido que a corte pode aplicar aquelas
medidas contra o marido em nome da esposa. Quer dizer, a corte primeiro
repreende o marido rebelde e, então, proíbe-o de deitar-se com ela e,
finalmente, executa uma surra simbólica (4l).
Em resumo, o Islam oferece aos casais muçulmanos conselhos muito mais viáveis
para salvar-lhes o casamento em caso de problemas e tensão. Se uma das partes
prejudica a relação matrimonial, a outra parte é aconselhada pelo Alcorão a
fazer o que for possível e efetivo para salvar esta sagrada bênção. Se todas as
providências falharem, o Islam permite aos casais se separarem pacífica e
cabalmente. 11. MÃES. Em muitas
passagens, o Velho Testamento recomenda tratamento gentil e atencioso aos pais
e condena aqueles que os desonram. Por exemplo, "Se alguém amaldiçoa seu
pai ou sua mãe, ele deve morrer" (Levítico 20:9) e "Um homem sábio
traz alegria para seu pai, mas um homem tolo despreza sua mãe" (Provérbios
15:20). Embora honrar o pai somente seja mencionado em alguns lugares, por
exemplo, "Um homem sábio presta atenção às instruções de seu pai"
(Provérbio (13:1), a mãe nunca é mencionada. Além disso, não há ênfase especial
para o tratamento gentil à mãe, como um sinal de apreço pelo seu grande
sofrimento pelo parto e pela amamentação. Por outro lado, as mães não herdam
nada de seus filhos, como seus pais herdam (42). É difícil falar sobre o Novo
Testamento como uma escritura que se lembre de honrar a mãe. Pelo contrário,
tem-se a impressão de que o Novo Testamento considera o tratamento gentil às
mães como um impedimento para o caminho de Deus. De acordo com o Novo
Testamento, ninguém pode tornar-se um bom cristão, digno de tornar-se um
discípulo de Cristo, a menos que ele odeie sua mãe. Atribui-se a Jesus ter
dito: "Se alguém vem a mim e não odeia seu pai e sua mãe, sua esposa e
filhos, seus irmãos e irmãs - sim, mesmo sua própria vida - ele não pode ser
meu discípulo" (Lucas 14:26). Além disso, o Novo Testamento pinta um quadro de Jesus como indiferente, ou
mesmo desrespeitoso, em relação a sua própria mãe. Por exemplo, quando ela
chegou procurando por ele, enquanto ele pregava para multidão, ele não se
preocupou em ir ter com ela: "Então, a mãe e os irmãos de Jesus chegaram.
Em pé, do lado de fora, eles pediram a alguém para chamá-lo. Uma multidão
estava sentada em volta dele e eles lhe disseram: Sua mãe e seus irmãos estão
lá fora procurando-o. Quem são minha mãe e meus irmãos?, ele perguntou. Então ele
olhou para aqueles que estavam sentados à volta dele e disse: Estes são minha
mãe e meus irmãos! Quem quer que faça a vontade de Deus é meu irmão e irmã e
mãe" (Marcos 3:3l/35). Alguém pode argumentar que Jesus estava tentando
ensinar a seus ouvintes uma importante lição de que os laços religiosos não são
menos importantes do que os laços familiares. Contudo, ele podia ter ensinado
aos seus ouvintes a mesma lição sem mostrar uma tal absoluta indiferença para
com sua mãe. A mesma atitude desrespeitosa aparece quando ele se recusou a
endossar uma declaração feita por um membro de sua audiência, abençoando o
papel de sua mãe, que o havia gerado e alimentado: "Como Jesus dissesse
estas coisas, uma mulher na multidão o chamou ,"abençoada seja a mãe que
lhe deu à luz e o alimentou". Ele respondeu: "Abençoados antes sejam
aqueles cujos corações ouvem a palavra de Deus e obedecem" (Lucas
11:27/28); Se uma mãe, com a estatura da virgem Maria, foi tratada com tal
descortesia, conforme relatado no Novo Testamento, por um filho da estatura de
Jesus Cristo, o que dizer então do tratamento dispensado pelos filhos cristãos
comuns às suas mães cristãs? No Islam, a honra, o respeito e a estima pela
maternidade é sem paralelo. O Alcorão coloca a importância da gentileza para com
os pais vindo em segundo lugar, após a adoração a Deus, o Poderoso: "O teu
Senhor decretou que não adoreis ninguém a não ser Ele, que sejais indulgentes
com os vossos pais, mesmo que a velhice alcance a um deles ou a ambos, em vossa
companhia: não os reproveis, nem os rejeiteis;outrossim, dirigi-lhes palavras
honrosas. E estende sobre eles a asa da humildade e dizei: Ó Senhor meu, tenha
misericórdia de ambos, como eles tiveram de mim, criando-me desde pequeno"
(17:23/24). O Alcorão em muitas outras partes dá ênfase especial para o grande
papel da mãe que dá à luz e alimenta o filho: "E recomendamos ao homem benevolência para com os seus pais. Sua mãe o
suporta entre dores e sua desmama é aos dois anos. Mostre gratidão a Mim e a
seus pais" (31:14). Este lugar muito especial para as mães no Islam, foi
descrito eloqüentemente pelo Profeta: "Um homem perguntou ao Profeta:
"A quem deve honrar mais?" O Profeta respondeu: "Sua mãe".
"E quem vem depois?" perguntou o homem. O Profeta respondeu:
"Sua mãe". "E quem vem depois?" perguntou o homem. O
Profeta respondeu: "Sua mãe". E que vem depois?", perguntou o
homem. O profeta respondeu: "Seu pai". (Bukhari e Muslim). Entre os
poucos preceitos do Islam, que os muçulmanos ainda observam fervorosamente até
os dias atuais, é o tratamento atencioso para com as mães. A honra que as mães
muçulmanas recebem de seus filhos e filhas é exemplar. As relações afetuosas
entre as mães muçulmanas e seus filhos, e o profundo respeito com que os homens
se aproximam de suas mães, deixa os ocidentais espantados (43). 12. A HERANÇA
FEMININA. Uma das diferenças mais importantes entre o Alcorão e a Bíblia é a que
se refere ao direito de herança à propriedade de parentes mortos. A postura
bíblica foi sucintamente descrita pelo Rabino Epstein: "As rígidas
tradições desde os tempos bíblicos não dão aos membros femininos de uma casa,
esposa e filhas, o direito de sucessão ao patrimônio familiar. Nos esquemas
mais primitivos de sucessão, os membros femininos da família eram considerados
parte do patrimônio e tão remoto seu direito na herança quanto o de um escravo.
Ao passo que na lei Mosaica, as filhas eram admitidas na sucessão, no caso de
não haver homem com esse direito, embora a esposa não tivesse reconhecido esse
direito, mesmo em condições semelhantes." (44) . Por que as mulheres eram
consideradas como parte do patrimônio familiar? O Rabino Epstein respondeu:
"Elas são propriedades dos pais, antes do casamento; e depois, dos
maridos." (45). As regras bíblicas de herança estão sublinhadas em Números
27:1/11. Uma esposa não tem participação no patrimônio de seu marido, enquanto
que ele é seu primeiro herdeiro, mesmo antes de seus filhos. Uma filha pode
herdar somente no caso de não existir herdeiros masculinos. A mãe não é
herdeira, enquanto que o pai é. Viúvas e filhas, no caso de existirem meninos,
ficavam por conta dos herdeiros masculinos para o seu sustento. Por isso que as
viúvas e órfãs estavam entre os membros mais destituídos da sociedade judaica.
O cristianismo seguiu estes padrões por muito tempo. Tanto as leis civis como
as eclesiásticas impediam as filhas de dividirem com seus irmãos o patrimônio
do pai. Além disso, as viúvas eram privadas de qualquer direito à herança.
Estas leis iníquas sobreviveram até o final do século passado (46). Entre os
árabes pagãos antes do Islam, os direitos de herança eram confinados
exclusivamente aos parentes masculinos. O Alcorão aboliu todos esses costumes
injustos e deu a todos os parentes femininos participação na herança: "Às
mulheres também corresponde uma parte do que tenham deixado os pais e parentes,
quer seja pequena quer seja grande, uma quantia determinada" (4:7). As
mães muçulmanas, esposas, filhas e irmãs receberam o direito à herança 1300
anos antes de os europeus reconhecerem sequer que aqueles direitos existiam. A
divisão da herança é um assunto vasto, com uma grande quantidade de detalhes
(4:7,11, 12, 176). A regra geral é que a parte da mulher é a metade do que o
homem recebe, exceto nos casos em que a mãe recebe parte igual a do pai. Se
tomada isoladamente, esta regra geral referente a homens e mulheres pode
parecer desfavorável. A fim de compreendermos a razão por detrás desta regra,
devemos ter em conta o fato de que as obrigações financeiras do homem muçulmano
excedem em muito às obrigações das mulheres (ver a seção "A Propriedade da
Esposa"). Um noivo deve providenciar para sua noiva o presente de
casamento. Este presente se torna posse exclusiva da noiva e permanece assim,
mesmo que mais tarde venha a se divorciar. A noiva não tem obrigação de
presentear seu noivo. Além disso, os maridos muçulmanos são onerados com a
manutenção de sua esposa e filhos. A esposa, por outro lado, não é obrigada a
socorrê-lo no cumprimento daquela obrigação. Sua propriedade e ganhos são para
seu uso exclusivo, a não ser que ela voluntariamente os ofereça a seu marido.
Além disso, todo mundo percebe que o Islam advoga veementemente a vida
familiar. Ele encoraja fortemente os jovens a se casarem, desencoraja o
divórcio e não vê o celibato como uma virtude. Numa verdadeira sociedade
islâmica, a vida familiar é a norma e a vida de solteiro é uma exceção rara.
Quer dizer, todos os homens e mulheres em idade de se casarem são casados na
sociedade islâmica. À luz desses fatos, pode-se perceber que o homem muçulmano,
em geral, tem uma grande responsabilidade financeira e que, por isso, as regras
de herança significam uma compensação para este desequilíbrio, de forma que a
sociedade possa viver livre de todas as lutas de classe ou de sexo. Após uma
simples comparação entre os direitos e deveres financeiros da mulher muçulmana,
uma muçulmana inglesa concluiu que o Islam tratou as mulheres não só
favoravelmente, mas também generosamente (47). 13. A CONDIÇÃO DAS VIÚVAS. O Velho Testamento não
reconhecia o direito de herança a elas, e por isso as viúvas eram as mais
vulneráveis entre a população judaica. Os parentes masculinos, que herdavam
todo o patrimônio do marido morto, sustentavam a mulher com a administração
desse patrimônio. Contudo, as viúvas não tinha meios de se assegurarem que esta
provisão estava sendo cumprida e, por isso, viviam pela misericórdia dos
outros. Assim, as viúvas estavam situadas entre as classes mais baixas da
antiga Israel e a viuvez era considerada um símbolo de grande degradação
(Isaías 54:4). Mas, a condição da viúva na tradição bíblica ia mesmo além de
sua exclusão na propriedade do marido. De acordo com o Gênesis 38,. as viúvas
sem filhos deviam se casar com o irmão de seus maridos, mesmo que ele já fosse
casado, pois, dessa maneira, ele podia providenciar uma descendência para o seu
irmão morto e, assim, assegurar que o nome do irmão não morresse. Judá disse a
Onan, "Deite-se com a esposa de seu irmão e cumpra com o seu dever para
com ela como um cunhado, a fim de gerar descendência para o seu irmão".
(Gênesis 38:8). O consentimento da viúva para este casamento não era exigido. A viúva era
tratada como parte da propriedade do marido morto e sua principal função era
assegurar a posteridade para o seu marido. Esta lei bíblica ainda hoje é praticada
em Israel (48). Uma viúva sem filhos em Israel é legada ao irmão de seu marido.
Se o irmão é muito jovem para casar, ela tem que esperar até ele atingir a
idade. Se o cunhado se recusar a casar com ela, então ela fica livre para se
casar com um homem de sua escolha. Não é incomum em Israel que as viúvas sejam
submetidas à chantagem por parte de seus cunhados a fim de ganharem a sua
liberdade. Os árabes pagãos antes do Islam, tinham práticas semelhantes. Uma
viúva era considerada uma parte da propriedade do marido a ser legada aos
herdeiros masculinos e comumente ela era dada em casamento ao filho mais velho
do marido falecido com outra esposa. O Alcorão sarcasticamente atacou e aboliu
este costume degradante: "Não vos caseis com as mulheres que desposaram
vossos pais - exceto fato consumado no passado - porque realmente é um costume
vergonhoso, odiento e abominável (4:22). As viúvas e as mulheres divorciadas
eram tão mal vistas na tradição bíblica que um sacerdote não podia se casar com
uma viúva, uma divorciada ou uma prostituta: "A mulher com quem ele
(sacerdote) se casar deve ser virgem. Ele não deve se casar com uma viúva, uma
divorciada ou uma mulher corrompida pela prostituição, mas somente com uma
virgem de seu próprio povo e assim ele não conspurcará sua descendência entre o
seu povo" (Levítico 2l:13/15). Atualmente em Israel, um descendente da
casta Cohen (os sacerdotes dos dias do Templo) não pode se casar com uma
divorciada, uma viúva ou uma prostituta (49). Na legislação judaica, uma mulher
que enviuvou três vezes, com todos os três maridos morrendo de causa natural, é
considerada "fatal" e proibida de casar de novo (50). O Alcorão, por
outro lado, não reconhece castas ou pessoas fatais. Viúvas e divorciadas têm
liberdade para se casarem com quem quer que seja que elas escolham. Não há
estigma ligado ao divórcio ou à viuvez no Alcorão:"Quando vos divorciardes
das mulheres e elas tenham cumprido o seu período (três menstruações), tomai-as
de volta equitativamente ou libertai-as equitativamente. Não as tomeis de volta
com o intuito de injuriá-las injustamente, porque quem tal o fizer errará por
sua própria conta. Não trateis dos sinais de Alá como zombaria" (2:23l).
"Se algum de vós vier a falecer e deixar viúvas, elas deverão aguardar quatro
meses e dez dias. Quando elas tiverem cumprido seu período, não sereis
responsáveis pelo que elas fizerem de suas vidas honestamente" (2.240) 14. POLIGAMIA. Passemos agora para
a importante questão que é a poligamia. A poligamia é uma prática muito antiga,
encontrada em muitas sociedades humanas. A Bíblia não condenou a poligamia.
Pelo contrário, o Velho Testamento e os escritos rabínicos frequentemente
atestam a legalidade da poligamia. Dizem que o Rei Salomão teve 700 esposas e
300 concubinas (Reis 11:3). Também o Rei Davi teve muitas esposas e concubinas
(2 Samuel 5:13). O Velho Testamento tem algumas injunções em como distribuir a
propriedade de um homem entre seus filhos de diferentes mulheres (Deuteronômio
22:7). A única restrição com relação à poligamia é a proibição de tomar uma
irmã da esposa como uma esposa rival (Levítico 18:18). O Talmud aconselha a um
máximo de 4 esposas (51). Os judeus europeus continuaram a praticar a poligamia
até o século XVI. Os judeus orientais praticavam a poligamia regularmente até a
chegada a Israel, onde ela foi proibida por lei. Contudo, na lei religiosa, que
sobrepuja a lei civil em tais casos, a poligamia é permitida (52). E com relação ao Novo Testamento? De acordo com o padre Eugene Hilman, em seu
penetrante livro, a poligamia é reconsiderada, "Em parte alguma do Novo
Testamento há uma orientação expressa de que o casamento deve ser monogâmico ou
qualquer orientação que proíba a poligamia". (53). Além disso, Jesus não
falou contra a poligamia, embora ela fosse praticada pelos judeus de sua época.
O padre Hillman chama a atenção para o fato de que a Igreja de Roma proibiu a
poligamia, a fim de se adequar à cultura Greco-romana (que prescrevia somente
uma esposa legal, enquanto que tolerava o concubinato e a prostituição). Ele
citou Santo Agostinho, "Agora, em nosso tempo, e de acordo com o costume
romano, não é mais permitido tomar uma outra esposa" (54). As igrejas
africanas e os cristãos africanos muitas vezes lembram a seus irmãos europeus
que a proibição da poligamia é mais uma tradição cultural do que uma autêntica
injunção cristã. O Alcorão também permitiu a poligamia, mas não sem algumas
restrições: "Se vós temeis não serdes capazes de conviver justamente com
os órfãos, casai com mulheres de sua escolha, 2 ou 3 ou 4 vezes; mas se
temerdes que que não sereis capazes de conviver justamente com elas, então
casai somente com uma" (4:13). O Alcorão, ao contrário da Bíblia, limitou
o número de esposas a 4, sob a estrita condição de que as esposas sejam
tratadas igualmente. Isto não deve ser entendido como uma exortação a que os
crentes pratiquem a poligamia, ou que a poligamia seja considerada como um
ideal. Em outras palavras, o Alcorão "tolera" ou "permite"
a poligamia, e não mais, mas por que? Por que a poligamia é permitida? A
resposta é simples: há lugares e épocas em que razões morais e sociais compelem
para a poligamia. Como os versos do Alcorão acima indicam, a questão da
poligamia no Islam não pode ser entendida como parte das obrigações da
comunidade com relação aos órfãos e viúvas. O Islam, como uma religião
universal, aplicável para todos os lugares e tempos, não poderia ignorar essas
pressões. Em muitas sociedades humanas, as mulheres superam os homens em
quantidade. Em um país como a Guiné, há 122 mulheres para cada 100 homens. Na
Tanzânia, há 95,1 homens para 100 mulheres (55). O que uma sociedade deve fazer
para resolver esse desequilíbrio? Existem várias soluções, e alguns podem
sugerir o celibato, outros preferem o infanticídio feminino (que ainda acontece
no mundo de hoje em alguns lugares). Outros, ainda, podem achar que a única
saída é a sociedade tolerar todas as formas de permissividade sexual:
prostituição, sexo fora do casamento, homossexualismo, etc. Para outras
sociedades, como a maior parte das sociedades africanas de hoje, a saída mais
honrosa é permitir o casamento poligâmico, como uma instituição culturalmente
aceita e socialmente respeitada. A questão, que é muitas vezes incompreendida
no ocidente, é que muitas mulheres de outras culturas necessariamente não vêm a
poligamia como um sinal de degradação da mulher. Por exemplo, muitas jovens
noivas africanas, sejam cristãs ou muçulmanas, prefeririam se casar com um
homem casado, que tenha provado a ele mesmo, ser um marido responsável. Muitas esposas africanas persuadem seus maridos a tomar uma segunda esposa e
assim eles não se sentem sozinhos (56). Uma pesquisa realizada na segunda maior
cidade da Nigéria com 600 mulheres, com idades entre 15 e 59 anos, mostrou que
60% dessas mulheres não se importariam que seus maridos tivessem uma outra
esposa. Somente 23% expressaram raiva ante a idéia de dividirem seus maridos
com outras mulheres. 76% das mulheres que se manifestaram numa pesquisa
realizada no Quênia, viram a poligamia positivamente. Em outra pesquisa
realizada no campo, 25 de 27 mulheres consideraram a poligamia melhor do que a
monogamia. Estas mulheres sentiram que a poligamia pode ser uma experiência
feliz e benéfica se as co-esposas cooperarem umas com as outras (57). A
poligamia, na maior parte das sociedades africanas é uma instituição tão
respeitada, que algumas igrejas protestantes começaram a tolerá-la,
"Embora a monogamia possa ser ideal para a expressão do amor entre o
marido e a esposa, a igreja deve considerar que em certas culturas a poligamia
é socialmente aceitável e que a crença de que a poligamia é contrária ao
cristianismo não se sustenta por muito tempo". (58) Depois de um cuidadoso
estudo sobre a poligamia africana, o Reverendo David Gitari, da Igreja
Anglicana, concluiu que a poligamia, como idealmente praticada, é mais cristã
do que o divórcio e o novo casamento, porque há uma preocupação com as esposas
e crianças abandonadas. (59) Eu pessoalmente conheço algumas esposas africanas,
finamente educadas, que apesar de terem vivido no Ocidente por muitos anos, não
fazem qualquer objeção à poligamia. Uma delas, que mora nos USA, solenemente
estimula seu marido a tomar uma segunda esposa para ajudá-la na criação das
crianças. O problema do desequilíbrio entre os sexos começa na verdade nos
problemáticos tempos de guerra. Os índios nativos americanos costumavam sofrer
com essa desigualdade de número entre homens e mulheres, principalmente após as
perdas dos tempos de guerra. As mulheres dessas tribos, que na verdade
desfrutavam de uma alta posição, aceitavam a poligamia como a melhor proteção
contra a tolerância por atividades indecentes. Os colonos europeus, sem
oferecerem qualquer outra alternativa, condenavam a poligamia indiana como
"incivilizada" (60). Após a segunda guerra mundial, havia na Alemanha
7.300.000 mais mulheres do que homens (3.3 milhões delas eram viúvas). Havia
100 homens na idade de 20 a 30 anos para cada 167 mulheres naquele mesmo grupo
de idade. (6l) Muitas dessas mulheres necessitavam de um homem, não apenas como
uma companhia mas, também, como um mantenedor para a casa, num tempo de miséria
e injustiça sem precedentes. Os soldados do exército aliado vitorioso
exploravam a vulnerabilidade dessas mulheres. Muitas jovens e viúvas tinham
ligações com membros das forças de ocupação. Muitos soldados americanos e
britânicos pagavam por seus prazeres com cigarros, chocolates e pães. As
crianças ficavam felizes com os presentes que os estrangeiros traziam. Um
menino de 10 anos, vendo esses presentes com outras crianças, desejava
ardentemente um "inglês" para a sua mãe e assim, ela não precisaria
passar fome por tanto tempo (62). Devemos perguntar para nossa consciência
sobre esta questão: O que dignifica mais uma mulher? Uma segunda esposa, aceita
e respeitada, ou uma prostituta virtual, como no caso da abordagem
"civilizada" das forças aliadas na Alemanha? Em outras palavras, o
que dignifica mais uma mulher, a prescrição alcorâmica ou a teologia baseada na
cultura do império romano? É interessante notar que, em uma conferência da juventude internacional,
acontecida em Munique, em 1948, o problema alemão do desequilíbrio no número de
homens e mulheres foi discutido. Quando ficou claro que não havia solução
consensual, alguns participantes sugeriram a poligamia. A reação inicial da
reunião foi uma mistura de choque e repugnância. Contudo, após um estudo
cuidadoso da proposta, os participantes concordaram que a poligamia era a única
solução possível. Consequentemente, a poligamia estava incluída entre as
recomendações finais da conferência. (63). Atualmente, o mundo possui mais
armas de destruição em massa do que jamais houve em qualquer tempo e as igrejas
europeias podem, mais cedo ou mais tarde, se ver obrigadas a aceitar a
poligamia como o único caminho. O Padre Hillman, após muito pensar, admitiu
este fato, "É quase concebível que aquelas técnicas genocidas (nuclear,
biológica, química...) podem produzir um desequilíbrio tão drástico entre os
sexos que o casamento plural poderia ser um meio necessário de sobrevivência...
Em tal situação, os teólogos e os líderes das igrejas deveriam rapidamente
produzir razões importantes e textos bíblicos que justifiquem um novo conceito
de casamento". (64). Nos dias atuais, a poligamia continua a ser a solução
viável para alguns males das sociedades modernas. As obrigações comunitárias a
que o Alcorão se refere, juntamente com a permissão da poligamia, são mais
perceptíveis atualmente nas sociedades ocidentais do que na África. Por
exemplo, nos USA de hoje, há uma séria crise na comunidade negra. Um em cada 20
jovens rapazes negros podem morrer antes de atingir a idade de 2l anos. Para
aqueles que estão entre os 20 e 35 anos, o homicídio lidera a causa da morte
(65). Além disso, muitos rapazes negros estão desempregados, na prisão ou são
viciados (66). Como conseqüência, um em 4 mulheres negras, na idade de 40 anos,
nunca se casaram, enquanto que este número é de 1 para 10 mulheres brancas
(67). Além do mais, muitas jovens negras se tornam mães solteiras antes dos 20
anos e se encontram na situação de serem mantidas. O resultado final dessas
trágicas circunstâncias é que há um aumento no número de mulheres negras
comprometidas com "homem-partilhado" (68). Isto é, muitas dessas
infelizes mulheres negras solteiras estão envolvidas em casos com homens casados.
As esposas muitas vezes não têm consciência do fato de que outras mulheres
estão dividindo seus maridos com elas. Alguns observadores da crise do
"homem-partilhado" na comunidade africana na América têm recomendado
a poligamia consensual, como uma resposta temporária para a diminuição do
número de homens negros, até que reformas mais abrangentes na sociedade
americana sejam tomadas (69). Esses observadores entendem poligamia consensual
como a poligamia sancionada pela comunidade e na qual todas as partes
envolvidas concordem, em oposição ao segredo dos casos com homens casados, os
quais sempre prejudicam tanto a esposa como a comunidade em geral. O problema
do "homem-partilhado" na comunidade africana da América foi ponto de
discussão em um painel realizado na Universidade de Temple, na Filadélfia, em
27.01.93 (70). Alguns dos palestrantes recomendaram a poligamia como um remédio
potencial para a crise. Eles também sugeriram que a poligamia não podia ser
banida por lei, particularmente em uma sociedade que tolera a prostituição e o
concubinato.. O comentário de uma das mulheres participantes, de que os negros
americanos precisavam aprender com a África, onde a poligamia era praticada
responsavelmente, conseguiu entusiásticos aplausos. Philip Kilbride, um
antropólogo americano, de tradição católica romana, em seu livro provocativo,
"Casamento Plural para o Nosso Tempo", propõe a poligamia como
solução para alguns dos males da sociedade americana. Ele argumenta que o
casamento plural pode servir como uma alternativa potencial para o divórcio em
muitos casos,a fim de eliminar o impacto danoso do divórcio sobre as crianças.
Ele afirma que muitos divórcios foram causados pelo excessivo número de casos
extraconjugais ocorridos na sociedade americana. De acordo com Kilbride,
transformar um caso extraconjugal em um casamento poligâmico, ao invés do
divórcio, é melhor para as crianças. Além disso, ele sugere que outros grupos
também se beneficiarão do casamento plural, tais como: mulheres mais velhas,
que enfrentam uma crônica diminuição de homens e os negros americanos, que
estão envolvidos com o "homem-partilhado". (7l). Em 1987, uma votação
conduzida por um estudante de jornalismo da Universidade de Berkeley,
perguntava aos estudantes se eles concordavam que os homens poderiam ser
autorizados, por lei, a terem mais de uma esposa, tendo em vista a visível
diminuição do número de candidatos masculinos para o casamento na Califórnia.
Quase todos os votantes aprovaram a idéia. Uma estudante chegou a declarar que
o casamento poligâmico preencheria suas necessidades físicas e emocionais,
porque lhe daria maior liberdade do que uma união monogâmica (72). Na verdade,
o mesmo argumento foi usado por alguns poucos remanescentes das mulheres
fundamentalistas Mormom, que ainda praticam a poligamia nos USA. Elas acreditam
que a poligamia é um caminho ideal para a mulher ter, tanto profissão como
crianças, uma vez que as esposas se ajudam umas às outras no cuidado com os
filhos. Deve-se acrescentar que a poligamia no Islam é questão de consenso
mútuo. Ninguém pode forçar a mulher a se casar com um homem casado. Além disso,
a esposa tem o direito de estipular que seu marido não deve se casar com outra
mulher (74). A Bíblia, pôr outro lado, algumas vezes vale-se da poligamia forçada.
Uma viúva sem filhos deve se casar com o seu cunhado, mesmo que ele já seja
casado (ver a seção "A condição das Viúvas") e independente de seu
consentimento (Gênesis 38:8/10). Deve-se notar que, em muitas sociedades
muçulmanas de hoje, a prática da poligamia é rara, uma vez que a diferença
entre os sexos não é grande. Pode-se dizer que o número de casamentos
poligâmicos no mundo muçulmano é muito menor do que o de casos extraconjugais
no ocidente. Em outras palavras, os homens no mundo muçulmano são muito mais
monogâmicos do que os homens no mundo ocidental. www.ccib.org.br. Abraço. Davi
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