Cinema. O FILME
ALEXANDRIA OU ÁGORA. (2009) é uma belíssima produção cinematográfica. Um
cenário reconstituído da cidade de Alexandria no antigo Egito, destacando-se a
famosa biblioteca da cidade que foi primeiramente organizada no século I da era
cristã. A história passasse no ano 394, sendo que vinte e um anos depois
aconteceria a destruição completa da biblioteca e seu museu no ano de 415,
a mando do imperador cristão Constantino II. Apesar da controvérsia quanto ao
ano do evento e qual o imperador responsável por essa ignóbil ordem o fato real
é que os mais 700 mil rolos de papiros e pergaminhos foram queimados e
destruídos pelo autoritarismo e dogmatismo desse imperador. Haviam os mais
variados conhecimentos como: astronomia, geometria, aritmética, álgebra,
trigonometria, história, filosofia, música, poesia, literatura, física,
teologia, lógica, metafísica, geografia e outros saberes. É fundamental assistir
ao filme Alexandria ou Ágora para uma visualização adequada do contexto
histórico e a narrativa apresentada no roteiro do cineasta. É de fácil acesso no youtube dublado em vários idiomas ou plataformas digitais de filmes.
www.wikipedia.org. A Biblioteca de
Alexandria foi durante muitos séculos, mais ou menos de 280 AC 416,
uma das maiores e mais importantes bibliotecas do Planeta. Este valoroso centro
do conhecimento estava localizado na cidade de Alexandria, ao norte do Egito, a
oeste do Rio Nilo, bem as margens do Mediterrâneo. Afirma-se que ela foi criada em princípios do século
III AC, em plena vigência do reinado de Ptolomeu II Filadelfo (309 AC 346) do
Egito, logo depois de seu genitor ter se tornado famoso pela construção do
Museum – o Templo das Musas – junto ao qual se localizava a Biblioteca. Sua
estruturação, a princípio, é geralmente creditada ao filósofo Demétrio de
Falero (350 AC 280), então exilado nesta região; muitos afirmam ser dele a
concepção deste espaço cultural, depois de convencer o rei a transformar
Alexandria em concorrente da glória cultural de Atenas. Durante sete séculos
esta Biblioteca abrigou o maior patrimônio cultural e científico de toda a
Antiguidade. Ela não apenas continha um imenso acervo de papiros e
pergaminhos, mas também incentivava o espírito investigativo de cientistas e
literatos, transmitindo à Humanidade uma herança cultural incalculável. Ao que
tudo indica, ela conservou em sua estrutura interna mais de 400.000 rolos de
papiro, mas esta cifra pode, em alguns momentos, ter atingido o patamar de um
milhão de obras. Sua devastação foi realizada gradualmente, até ela ser
definitivamente consumida pelo fogo num incêndio de origem acidental,
supostamente atribuído aos árabes durante toda a era medieval. Há várias
histórias sobre prováveis incêndios anteriores ao que destruiu completamente a
Biblioteca de Alexandria. Uma delas narra que o Imperador Romano Júlio César
(100 AC 44), passando por Alexandria ao perseguir seu rival Cneu Pompeu (106 AC
48), membro do Triunvirato integrado também por César e Licínio Crasso (115 AC
56), não só foi presenteado com a cabeça de seu inimigo, mas também com o amor
de Cleópatra (69 AC 30), irmã de Ptolomeu XII. Envolvido pela paixão, ele se
apossa do trono por meio da força, entrega-o à Rainha e aniquila todos os
tutores do antigo rei, com exceção de um, que foge das garras de César.
Determinado a não deixar sobreviventes, ele manda incendiar todos os navios,
incluindo os seus, para que ele não pudesse escapar pelo mar. O fogo teria se
ampliado e atingido uma fração da Biblioteca. Esta ancestral Biblioteca tinha a
missão de conservar e disseminar valores da cultura de Alexandria. Muitas das obras que circulavam em
Atenas foram para lá enviadas; em seu âmbito ela abrigava matemáticos
como Euclides de Alexandria (330 AC 380), além de famosos intelectuais e filósofos, célebres nomes do
passado. Lá também foram elaboradas significativas obras sobre geometria, teologia, filosofia, lógica, música, poesia,
trigonometria, e igualmente sobre idiomas, literatura e medicina. Nesta mesma
instituição eram produzidos e comercializados papiros. Afirma-se que os 70
sábios judeus que verteram as Sagradas Escrituras Hebraicas para o grego,
produzindo assim a renomada Septuaginta, reuniram-se justamente na Biblioteca
de Alexandria para realizar este intento. A própria Cleópatra (69 AC 30) era
apaixonada por este espaço, sempre à procura de novas histórias, sozinha ou
acompanhada Pelo imperador César, outro amante da cultura. Este centro
irradiador foi, com certeza, o mais importante ponto de referência cultural e
científico da Antiguidade. Foi edificada recentemente uma nova Biblioteca,
inaugurada em 2003 nos arredores da sua antecessora. Ela também tem a ambição
de se tornar um dos maiores e mais importantes polos culturais dos nossos
tempos. Sua ala principal, batizada como Biblioteca Alexandrina, soma-se a
outros quatro conjuntos especializados como laboratórios, um planetário,
um museu científico e outro caligráfico, além de uma sala para congressos e
exposições. A Septuaginta, em latim, abreviada LXX, é uma
tradução em língua grega da Bíblia Hebraica, o Antigo Testamento, que a
tradição diz ter sido feita no Egito por 70 sábios; cerca de dois séculos antes
de Cristo, exatamente em Alexandria (no recinto onde funcionava a biblioteca da
cidade), existia uma significativa comunidade hebraica. Sobre a origem dessa
tradução, existe uma carta escrita por Aristéia a Filocrates onde é narrada de
forma legendária, como nasceu essa tradução. Conforme essa carta, o rei egípcio
Ptolomeu II (309 AC 246) pediu às autoridades religiosas do templo de Jerusalém
que fizessem uma tradução em grego do Pentateuco para a recém criada biblioteca
de Alexandria. O sumo sacerdote Eleazário nomeou 72 eruditos judeus, 6 escribas
por tribo de Israel (outra tradição diz que eram 70), que foram até o Egito e
na Ilha de Faro realizaram a tradução em 72 dias, cada um fazendo a própria
tradução dos 5 primeiros livros da Bíblia (Pentateuco como cristianismo ou
Toráh escrita no judaísmo). No final dos trabalhos se reuniram e, comparando o
trabalho feito, viram que todas as traduções eram idênticas. Essa história
talvez seja apenas um mito. De fato alguns dizem que os tradutores na verdade
eram 5 ao invés de 70, o número dos membros do tribunal (Sinédrio) que aprovou
a tradução feita. De qualquer forma, mesmo sendo difícil comprovar a verdade
histórica dessa narração, é claro que é uma tradução feita no Egito e era tida
como uma boa versão também pelas autoridades de Jerusalém (Alto clero da Igreja
Católica). Provavelmente a obra foi feita para que a comunidade judaica do
Egito, que falava grego, pudesse ter um texto próprio para usar durante a sua
liturgia. Sucessivamente toda a Bíblia Hebraica foi traduzida. Com certeza o
Pentateuco e os Salmos foram traduzidos em Alexandria, mas quanto os demais
livros não é possível saber com exatidão. Existe hipótese, por exemplo, que o
Cântico dos Cântico foi traduzido em Israel. Precisa dizer que não foi feita
uma obra completa em grego, como se faz hoje com os nossos livros, mas nasceu
aos poucos e para completar-se provavelmente levou 200 anos. Por isso hoje não
temos fisicamente um livro manuscrito elaborado antes de Cristo que seja a
Setenta (Septuaginta). Os manuscritos relativamente completos que reúnem
praticamente toda a Bíblia do Antigo Testamento em grego são IV e V século
depois de Cristo, respectivamente o Codex Vaticanus e o Codex Sinaiticus.
Existem porém fragmentos de manuscritos que são de antes de Cristo: do II
século temos fragmentos de Levíticos e Deuteronômio (Rahlfs nn. 801,819 e 957);
do I século antes de Cristo chegaram até nós fragmentos de Gênesis, Levítico,
Números, Deuteronômio e dos profetas menores (Rahlfs nn. 802, 803, 805, 848,
942 e 943). A importância para o texto do Antigo Testamento desses manuscritos
é evidente, sobretudo do Codex Vaticanus e do Codex Sianiticus. De fato o
manuscrito completo do Antigo Testamento em Hebraico, a língua original, mais
antigo que temos é apenas do ano 1008, o Codex Lenigadensis. No início da era
cristã os judeus deixaram de usar a tradução grega da Bíblia. Para os cristãos,
a LXX (Septuaginta) se tornou a versão principal. Mais tarde, quando São
Jerônimo (347-420) traduziu a Bíblia para o latim, a Vulgata, usou sobretudo a
LXX (Septuaginta). Tinha em mãos também o hebraico, mas servia apenas como um
instrumento para confronto. Graças à versão LXX surgiram as diferenças entre as
Bíblias Católicas e a Protestante. Isto por que no texto grego do qual estamos
falando existem livros que não aparecem na bíblia hebraica. Como já dissemos, a
Bíblia dos Setenta foi traduzida antes de Cristo; o cânon, ou seja, a lista
oficial dos livros, da Bíblia Hebraica, ao invés, foi definido somente por
volta do ano 90 depois de Cristo. Os livros que estão na Bíblia grega dos LXX
(Setenta) e que não entraram naquela hebraica são: Judite, Tobias, Primeiro e
Segundo Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. Além disso, os capítulos 13
e 14 de Daniel. Embora não tenham sido considerados pelos judeus como livros
inspirados, a Igreja os reconheceu como tal e foram incluídos por São Jerônimo
na sua tradução em latim mencionada acima. A versão dos Setenta, todavia,
contém também livros que não entraram nem no cânon da igreja nem naquele dos
judeus. São eles: primeiro livro de Esdras, terceiro e quarto livro dos
Macabeus, o salmo 151, Odes e Oração de Manassés e Salmos de Salomão. Martinho
Lutero (1483-1546), durante o período da reforma, decidiu adotar o cânon
hebraico. Desse modo ele excluiu da sua Bíblia os livros acima citados e hoje
as bíblias protestantes não têm tais livros. Após essa introdução entremos
propriamente na pelica. www.wikipedia.org.
Editor do Mosaico.
Narrativas com pesquisas na internet. O filme (Ágora ou Alexandria) do diretor
chileno Alejandro Amenábar (1971- ) foi ousado ao colocar uma
mulher como protagonista, diga-se de passagem linda e misteriosa, num contexto
social religioso onde a masculinidade é prevalecente e a mulher sinônimo de
inferioridade. Vários aspectos foram abordados no enredo, por sinal muito bem
documentados histórica e filosoficamente. Assim temos como temas da trama. 1. A
filósofa Hipátia e suas pesquisas sobre o movimento da terra. 2. A Ágora
(academia) onde se ensinava os saberes filosóficos e científicos daquela época.
3. O relacionamento do escravo Davos e o discípulo Orestes com Hipátia. 4.
O Sistema Ptolomaico dos corpos celestes. 5. As ideias de Aristarco de Samos
sobre as órbitas celeste. 6. Intolerância religiosa (cristãos, judeus
e pagãos) e suas consequências. 7. O sistema geocêntrico e o heliocêntrico de
mundo. 8. O primeiro axioma de Euclides. 9. Acusação de ateísmo e bruxaria
contra a filósofa Hipátia. 9. Os monges (do deserto de Nítria) parabolanos. 10.
A execução da filósofa Hipátia. 1. A filósofa Hipátia (371-415) centrada em
seus estudos e absorta em suas pesquisas, vocacionada para o ensino
(geometria, aritmética e filosofia) procurava despertar a mente de seus
discípulos para pensarem por si, criando seus próprios modelos de conhecimentos
e vivenciando experiências baseadas numa realidade que foge ao senso comum. Ela
valorizava a convivência humana procurando despertar novas
ideias, questionando os modelos milenares que eram vistos como verdades
absolutas. Ela não se conformava com as postulações de Aristóteles (484 AC 322)
e Platão (428 AC 347) que insinuavam que a Terra era um corpo celeste imóvel.
Onde os demais astros (planetas, luas e cometas) giravam em torno
dela. Apesar de não singularizar uma fé (crença) era de nobre
personalidade: uma pesquisadora nata, dotada de invejável inteligência e
capacidade de raciocínio acima da média. Um firme senso de justiça,
moralidade compatível com seu caráter. Destemida e convicta de suas opiniões, não tendo
medo de expressar seu ponto de vista, mesmo que isto custasse ameaça ou
sofrimento. O banho em praça pública (aparece nua de costas) era costume
entre os gregos não sendo visto como licencioso ou pecaminoso em suas
tradições "pagãs". Tanto que já havia um escravo para
cobrir sua nudez. Mas tais atitudes eram condenadas por judeus e cristãos, que
em seu extremo moralismo censurava os pagãos, além de reclamavam sobre o caso
ao governador da cidade de Alexandria. 2. A Ágora (academia ou escola) era um
ambiente de livre pensamento e expressão onde todos podiam expor suas opiniões.
Tanto que o escravo Davos, que tinha permissão de assistir as aulas, fez
considerações sobre os movimentos dos corpos celestes em suas órbitas, criando
inclusive um aparelho onde se percebia os supostos movimentos dos astros
incorporando a Terra. Naquela época acreditava-se ser imóvel, parada no espaço.
Orestes observou que um corpo lançado numa plataforma em movimentos
cairá para trás fazendo uma curva (parábola). Contrário ao
demonstrado por Hipátia na Ágora que quando lançado de uma superfície fixa
caia de forma retilínea. Hipátia realiza uma experiência simples onde confirma
a lei da gravidade, postulada por Issac Newton (1643-1727). Séculos depois
conceituando como a força de atração que existe entre todas as partículas com
massa no Universo. A gravitação é responsável por prender objetos à superfície
de planetas e de acordo com as Leis do movimento de Newton. É responsável por
manter objetos em órbita em torno uns dos outros. 3. Davos (o escravo) acaba se
convertendo ao cristianismo e um dos fatos que o motivou foi
o "milagre" feito por Tomaz, (suposto pregador cristão) que
andando pelas chamas não se queimando. Davos, após converter-se mudou seu
comportamos e caráter exercendo atitudes psicóticas. Uma idiossincrasia que
sucedesse em personalidade marcadamente fragilizada pela confusão de conceitos
pelo qual não consegue abstrair realidade condizente com sua experiência
anterior. Tanto que, Davos, acaba tendo um princípio de neurose ao confrontar
sua antiga crença pagã com a taumaturgia (adivinhação) do suposto pregador.
Orestes, um dos alunos da academia, corteja a filósofa cantando-lhe uma
música com uma espécie de gaita escocesa
no festival "pagão". Hipátia "devolve" a
gentileza na ágora com um lenço manchado com seu ciclo menstrual
dando a entender que não assume compromisso relacional definitivo –
casamento. Tomaz, o influente pregador cristão, por seu modo auto sugestivo
cativada as audiências populares que o assistiam. Mesmo sendo um monge de pouco
instrução teológica, exercia um messianismo entre o povo. Foi responsabilizado
por incitar os cristãos contra os pagãos, gritando palavras de ordens contra
seus deuses, menosprezando-os e rebaixando-os ao ridículo. Um discurso
extremista expressado numa forte dose de intolerância e ódio contra o outro. Totalmente
contrário ao que o Senhor Cristo pregou em sua mensagem “amai-vos uns aos
outros como eu vos amei”. Tomaz foi usado pela liderança cristã de Alexandria –
Egito, como “ponta de lança” para sub julgar as demais comunidades ao domínio
cristão. Em muitos casos a ideologia partidária, engole a fé, descaracterizando
o conceito genuíno do evangelho. Isso provocou uma animosidade dos pagãos
contra os cristãos, resultando em conflitos armados e mortandade entre os dois
grupos. Surpreendentemente séculos depois, essa pessoa tão alucinada, (fora de
si) acusada de matar pagãos, e também judeus a pedradas foi considerado santo
(São Tomázio). Inacreditavelmente foi beatificada pela liderança eclesiástica
da Igreja Católica na pessoa do Papa Inocêncio III (1161-1216) 4. O
Sistema que Nicolau Ptolomeu (60-168) desenvolveu concebia o Universo com
os astros celestes girando em torno da Terra, que era um corpo imóvel no
espaço sideral. Nesse contexto a Terra ainda não era considerada redonda
(oval) e haviam dúvidas quanto a suas bordas e extremidades, pois pensava-se
que havia o perigo das pessoa caírem no espaço ao chegarem aos limites dos
polos. Esse era o sistema adotado pela tradição cristã a época, já que alguns
dos intelectuais judeus questionavam este modelo. Orestes tornou-se anos
depois, o prefeito augusto da diocese do Egito. Em
415, durante seu governo, teve divergências com o jovem bispo
de Alexandria Cirilo (375-444), que tinha sido apontado para suceder
o Patriarcado de Alexandria depois da morte do patriarca Teófilo (385-412), seu tio. Orestes resistiu firmemente as tentativas de
Cirilo de intervir em assuntos seculares. Em uma ocasião, Cirilo enviou
o grammaticus Hierax para descobrir secretamente o conteúdo de um
edito que Orestes estava para promulgar nos shows de mímica que atraíam grandes
multidões. Quando os judeus, com quem Cirilo tinha se desentendido
anteriormente, descobriram a presença de Hierax, se revoltaram, queixando-se
que a presença de Hierax tinha como objetivo provocá-los. Então Orestes
torturou Hierax em público num teatro. Este ato teve dois objetivos: o primeiro
foi o de conter as revoltas e o outro impor a autoridade de Orestes sobre
Cirilo. Aqui vemos claramente a politicagem entre os religiosos, possivelmente
mais danosa que entre pessoas seculares. Os artifícios do engano e mentira são
usados em nome de Deus para o fictício benefício de seu reino. De
acordo com fontes cristãs, os judeus de Alexandria tramaram contra os cristãos
e assassinaram muitos deles. Este fato, segundo relatado no enredo do filme não
procede com a realidade. A comunidade judaica, a época em Alexandria, tinha
forte enraizamento cultural e intelectual. Mesmo tendo convivência restrita aos
seus pares, participavam das comemorações nos auditórios públicos (arena) onde
haviam pagãos e cristãos. Não suscitaram em todos os séculos que viveram na
cidade, a primazia pelo seu governo nem sua tomada pela força. Cirilo reagiu e
expulsou todos os judeus, ou os assassinos (segundo algumas fontes), exercendo
um poder que pertenceria, de fato a Orestes. Orestes se mostrava impotente, mas
mesmo assim rejeitou o gesto de Cirilo que lhe ofereceu uma Bíblia. O que
significaria que a autoridade religiosa de Cirilo exigiria a aquiescência de
Orestes. Esta recusa
quase custou a vida de Orestes. Monges do deserto da Nítria instigaram,
misturados à população de Alexandria, protestos contra Orestes. A violência
desses monges já tinha sido utilizada quinze anos antes por Teófilo contra os
chamados "Grandes Irmãos"; além disto, diz-se que Cirilo passou cinco
anos em formação asceta junto deles. Os monges atacaram Orestes e o
acusaram de ser um pagão; o prefeito rejeitou as acusações dizendo que tinha
sido batizado pelo arcebispo de Constantinopla. Contudo, os monges não
ficaram satisfeitos e um deles, Amônio, atirou uma pedra que feriu Orestes
na cabeça, cobrindo-o de sangue. A guarda de Orestes, temendo ser apedrejada,
fugiu deixando o prefeito sozinho. O povo de Alexandria, contudo, veio em sua
ajuda, capturou Amônio e fez os monges debandarem. Amônio foi torturado em
praça pública e executado. O prefeito escreveu ao imperador Teodósio II
(401-450) relatando as ocorrências, mas Cirilo fez o mesmo contando a sua
versão dos fatos. Além disto, o bispo havia tomado o corpo de Amônio, levando-o
a uma igreja e mandando listá-lo entre os santos mártires com o nome
de Taumásio, que, em grego, significa "maravilhoso",
"admirável". Segundo Sócrates
Escolástico (380-430), este ato foi malvisto mesmo entre os
cristãos já que Amônio teria morrido não por não renunciar a fé, mas sim
por um crime comum. Cirilo, ciente disso, deixou o episódio cair no
esquecimento, afirma Sócrates Escolástico. Orestes contava com o apoio político
de Hipátia, uma filósofa, professora e cientista de considerável sabedoria,
virtuosidade e autoridade moral na cidade de Alexandria. De fato, muitos
estudantes de ricas e influentes famílias se dirigiam a Alexandria com o propósito
de estudar com Hipátia. Muitos dos seus discípulos, mais tarde alcançavam
postos de destaque no governo e na Igreja local. Cristãos acreditavam que a influência de
Hipátia fez Orestes rejeitar as ofertas de reconciliação oferecidas por Cirilo.
Historiadores modernos acreditam que Orestes cultivou seu relacionamento com
Hipátia para fortalecer seu vínculo com a comunidade pagã de Alexandria,
da mesma forma que fez com os judeus, de modo a lidar com maior eficácia com a
difícil vida política da capital egípcia. As disputas entre Orestes e Cirilo
resultaram em um fim trágico para Hipátia. Uma multidão cristã tomou a filósofa
de sua carruagem e brutalmente a assassinaram. Cortando seu corpo em pedaços e
queimando os pedaços fora dos muros da cidade. Este assassinato político teria
eliminado um importante e influente suporte para o governo do prefeito. Fazendo
Orestes desistir de sua disputa com Cirilo e levando-o a deixar definitivamente
a cidade de Alexandria. Orestes é retratado em Ki Fellow Flow
Down Like Silver, Hipátya of Alexandria de uma forma altamente
imaginativa. No filme de 2009 Alexandria, de Alejandro Amenabar,
Orestes é interpretado por Oscar Issac. Na versão dessa obra, Hipátia é
assassinada pelos Parabolanos, espécie de guarda pessoal do bispo e não
pelos monges Nitrianos. O sistema geocêntrico foi adotado pela
tradição judaico cristã até quando Galileu Galilei
(1564-1642) postulou o sistema heliocêntrico. O Sol é que era o
centro onde a terra, planetas, estrelas, cometas e demais astros giravam em
torno dele. Ele criou uma grande confusão com a teologia cristã, e por pouco
não sofreu um processo formal no Tribunal da Santa Inquisição tendo que se
retratar em carta pública. As Sagradas Escrituras tem um argumento em Josué
10:12 que diz: "Então Josué falou ao Senhor, no dia em que o Senhor deu
aos amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos Israelitas:
sol detém-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Aijalom. E o sol se deteve, e a
lua parou até que o povo se vingou dos seus inimigos". Assim esse
argumento corroborava no sentido de pensar a Terra como um astro imóvel
(parado) e prevalecente no centro do Universo. Algo que a filósofa Hipatia
questionava com toda razão. Formulou no filme, um experimento simples em que
prova a curvatura da Terra ao calcular os graus do giro da sombra do Sol. Em
determinas estacadas colocadas em forma de quadrado nas extremidades da figura
de um retângulo. 5. Aristarco de Samos (310 AC 230) contrariando as ideias dos
mestres Platão (428 AC 328) e Aristóteles (384 AC 322) postulava que havia a
possibilidade de a Terra ter movimentos próprios. Girar em torno do Sol junto
com os demais astros, mas esse filósofo foi considerado louco por seus
argumentos e abstrações. 6. O filme relata a convivência nada amistosa entre
cristãos, judeus e pagão. Cada qual queria ter a primazia dos seus cultos
e tradições nos templos em Alexandria. Criando assim um clima de animosidade e
lutas que iam ao extremo de mortes e exclusões dos lugares sagrados. Antes
partilhado pelos três grupos – judeus, cristãos e pagãos. A destruição das
imagens pagãs pelos cristãos tentando impor a força sua forma de pensar e ver
exclusivamente a divindade. Lançou na periferia da exclusão as demais
comunidades que tinham o livre direito de exercer seu culto conforme prescrito
em seus livros e tradições sagradas. 7. O Sistema Geocêntrico (Terra no
centro do mundo) e o heliocêntrico (Sol no centro do mundo) se opunha em
lutas ideológica e políticas, além das religiosas. O cristianismo com seu poder
do império procurava sub julgar as demais religiões afirmando a Terra como o
centro do mundo. Mas cientistas e investigadores como a filosofa Hipátia,
inclusive alguns cristãos, procuravam pela matemática, e lógica formular novas
bases de entendimento do Universo. Paradigma que traria uma visão diferente da
tradicionalmente aceita. Mudariam a
forma de pensar e conceber o mundo saindo da centralidade humana teológica para
a diversidade cósmica de saberes e filosofias dissemelhantes. 8. O
primeiro axioma de Euclides: “Duas coisas iguais a uma terceira, são iguais
entre si. Se parcelas iguais forem adicionadas a quantias iguais, os resultados
continuarão sendo iguais. Se quantias iguais forem subtraídas das mesmas
quantias, os restos serão iguais. O todo é maior que a parte”. Esse argumento
euclidiano foi usado por um dos discípulos da filosofa, protagonista do drama,
que se tornou autoridade eclesiástica por influência do clero superior romano,
tentando convertê-la ao cristianismo, no caso Orestes. 9. Hipátia por sua
neutralidade ideológica, suas pesquisas astronômicas tentando provar o sistema
heliocêntrico. Os movimentos da Terra realizados no seu percurso pelo próprio
eixo em rotação e translação. Além da descoberta do movimento elíptico dos
planetas foi acusada de bruxaria, ateísmo e prostituição. A filósofa Hipátia
foi executada nua a pedradas por monges (do deserto) parabolanos. Antes para
mitigar o sofrimento extremo foi asfixiada pelo escravo Davos. Aquele que se
auto denominou cristão, mas que depois acabou, por conflitos psíquicos
tornando-se um esquizofrênico. Uma cena constrangedora que provoca revolta e
tristeza em quem assiste o filme. Uma das mais relevantes falas ao meu ver do
filme, foi quando Hipátia responde para Oreste. No momento em que ele insiste
em fazê-la dobrar-se a fé cristã recebendo o batismo como sinal de ingresso
oficial na nova (cristianismo) religião ascendente. Essa conversão, mesmo que
apenas de conveniência poderia salvá-la da morte. Porém fiel as suas convicções
interiores rejeitou o convite da “fé” entregando-se ao martírio por amor a
verdade dos fatos. Hipátia objetou muito sabiamente a Oreste: “você não
questiona a sua crença”. Achei importante acrescentar os fatos históricos com
relação a biblioteca de Alexandria especialmente a Tradução da Septuaginta, a
primeira versão bíblica judaico cristã. Nesse recinto do conhecimento
Universal, bem como o contexto político e religioso dos eventos. Os eventos
narrados acima são acrescidos de pesquisas na internet. O filme está disponível
no youtube dublado em vários idiomas. Abraços. Davi.
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