terça-feira, 13 de outubro de 2020

A DOUTRINA DA REENCARNAÇÃO NO CRISTIANISMO PRIMITIVO

 

Teosofia. Editor do Mosaico. A DOUTRINA DA REENCARNAÇÃO NO CRISTIANISMO PRIMITIVO. Já pensou por que você foi  nascer no Brasil? Por que constituiu a família que você tem hoje?  Em São João 9: 1-3 lemos "E passando Jesus viu um cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: Rabi, quem pecou, este eu seus pais para que nascesse cego? Jesus respondeu: nem ele pecou nem seus pais, mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus". Esse texto é para introduzirmos alguns pressupostos da reencarnação pois a primeira parte dele traz um indicação de que o homem nasceu cego devido a uma anterior situação que não fora resolvida em sua encarnação passada. Se pensarmos logicamente perceberemos que não há injustiça em Deus, sendo ele justo, por que a cegueira do homem? não tem sentido imaginar que foi para que ele não visse o quanto o mundo é injusto e muitas pessoas são egoístas havendo mais sofrimento que conforto. É razoável que exista coerência no sofrimento pois do contrário perde-se o significado da vida e o por que estamos vivendo nesse mundo. Sem respostas racionais ficamos presos aos conceitos dogmáticos do céus e infernos eterno pouco para certezas quanto ao sentido da vida. Não vejo razão para duvidar da existência de Deus, pois o mundo não existe por acaso e indubitavelmente uma inteligência superior anterior a tudo fê-lo surgir controlando e mantendo esse processo evolutivo cósmico. Quando observamos particularmente as pessoas reconhecemos que para algumas as coisas são mais fáceis  e para outras são difíceis sendo isso uma evidencia de que há um destino (determinismo) expresso por leis de fatos e causas onde os primeiros resultam no segundo e nas mesmas condições a recíproca é verdadeira. Mas também o livre arbítrio é um ingrediente importante nesse sistema de desenvolvimento da vida e essa premissa  foi postulada  por Charles Darwin (1809-1882) "A evolução é o plano que particulariza a vida". Orígenes (182-254) de Alexandria considerado um dos Pais da Igreja defendeu em suas apologias a ideia da reencarnação. Ele se reunia com uma comunidade de cristãos primitivos tendo uma vida casta e piedosa sendo rigoroso na observância dos preceitos de santidade e pureza. Sua erudição e inteligência acima do normal o levou a escrever uma gigantesca obra que segundo fonte fidedignas incluíam mais de 3 mil volumes de próprio punho. Trocou correspondências com Clemente de Alexandria (150-215), Hipólito de Roma (199-217) e Irineu de Lyon (130-202) falando sobre o tema da transmigração das almas, reencarnação e a apocatástase. Apocatástase é a doutrina que representa a redenção e salvação final de todos os seres, inclusive os que habitam o inferno. E, assim, um evento posterior ao próprio Apocalipse. Ela sintetizaria o poder do Logos ou Verbo Encarnado, ou seja, o próprio Cristo como poder redentor e salvador que não conheceria limite algum. Essa proposta levanta uma série de questões interessantes para o cristianismo. (1). Leva a supor que não há um único mundo criado, o que principia no Gênesis e finda no Apocalipse, como sugerido pelas Sagradas Escrituras. Ao contrário, em sua atividade criadora, Deus cria infinitamente uma sucessão de mundos, que só se esgotaria na apocatástase, quando todos os seres repousassem definitivamente em Deus. (2). Nesse contexto os demônios e o diabo caso aceitassem o seu processo de expiação evolutiva poderiam ser salvos em sucessivas encarnações nos mundos superiores invisíveis retornando a sua verdadeira origem que é Deus. (3). Orígenes de Alexandria com essa hipótese sugere que seja estabelecido uma distinção entre o Logos ou o Verbo e sua distinção como Cristo. Uma vez que Cristo é uma encarnação histórica neste mundo em particular, estaria aberta a possibilidade de uma encarnação futura do Logos ou Verbo. Sendo isso compatível com os textos sagrados cristãos, que falam de uma volta do Logos ou Verbo, contudo, permitem questionar a divindade de Cristo, dogma comum (absoluta verdade) no catolicismo e protestantismo. (4). Séculos após a morte de Orígenes também chamado de O Cristão, no segundo Concílio de Constantinopla no ano de 553 (como veremos abaixo) os aspectos de sua doutrina que permitiriam subordinar a figura de Cristo ao Logos e ao Pai, rompendo também com o dogma da Santíssima Trindade foram considerados errôneos. Desde então o cristianismo se refere ao Apocalipse e não a Apocatástase, mas até 553 os cristão consideravam a salvação de todos os seres no juízo final como a infinita misericórdia e graça do Eterno Deus. As cartas trocadas por Orígenes com Clemente, Hipólito e Irineu (originais) estão guardadas em alguns museus da Europa, segundo pesquisadores e investigadores da história da Igreja. Essas cartas são um capítulo a parte que envolvem a política dos interesses pessoal e eclesiásticos da Igreja manipulados para impedir o ensino sobre a reencarnação, pois segundo consta os originais que falam sobre esse assunto foram alterados por um certo padre chamado Rufino de Aquiléia (344-410) sendo esse fato determinante no Concílio de Constantinopla II como uma suposta contraprova da autenticidade dos escritos de Orígenes sobre esse tema. A doutrina da reencarnação foi adotada como dogma pela Igreja até o século VI quando no referido Concílio em 553 a questão deveria ser revisada dando-se um parecer favorável ou desfavorável terminativo. O Imperador Romano do Oriente  na época era Justiniano I (482-565) que indiretamente exercia o chefe oficial da Igreja Cristã Bizantina. O Papa Silvério I (480-557) por simpatizar com a doutrina da reencarnação e não queremos assinar o edito para que ela fosse retirada da ortodoxia clerical foi destituído do cargo e condenado por traição morreu no exílio (deixado sem pão e nem água) por inanição. Justiniano I para referendar o Concílio de Constantinopla II (553) nomeou o Papa Virgílio (537-555) que desobedecendo a ordem do Imperador não compareceu a sessão do Concílio que decidiria o veto contra a doutrina da reencarnação. Assim o Papa Virgílio foi também deposto acusado de perjuro foi exilado por 8 anos e de regresso à Roma morre ante de chegar a cidade. Assim O Colégio de Cardeais sem seu representante máximo decidiram a revelia excluir dos dogmas oficiais da Igreja a doutrina da reencarnação em 5 de maio de 553. Esse é mais um triste capítulo da história do cristianismo que sob ameaças, intrigas e mortes aprovaram uma lei que convinha aos interesses pessoais de alguns Cardeais e do soberano que representava o Império Romano naqueles dias. São Mateus 5: 18 "Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido". O ensino da reencarnação que tem pressupostos bíblicos foi desde então (553) retirado da ortodoxia oficial da Igreja Cristã. Falamos agora a pouco dos originais do livro alterado por Rufino, é a famosa obra De Príncipiis de Orígenes. A obra publicada em latim com tradução para o português pela editora católica Paulus, desse livro, está desconforme nos pontos que tematizam a reencarnação da obra em grego com o título Peri Arcon traduzida para o inglês. Assim a versão Inglesa do original grego é a mais indica para leitura, pois expressa o pensamento real do filósofo cristão. Orígenes adotou a doutrina de Platão (428-347) quanto a reencarnação, pois esse em seu livro A República diz: "Quanto a virtude a responsabilidade é de quem escolha Deus está isento disso. Você é que a estima ou despreza". Desse modo virtude e vício colhem alegria ou sofrimento, segundo Platão uma lei universal imutável. Como dito nas Escrituras: "Tudo o que o homem semear isso também ceifará". O pagamento é proporcional a dívida. Nossas dívidas (vícios e pecados) é finita no tempo, sendo ilógico cobrar-se juros infinitos na danação eterna. O que pensar de um Pai (Deus) que condena seus filhos a tortura eterna, como é dito: "Se tua mão te escandalizar corta-a. Melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. onde o seu bicho não morre e o fogo nunca se apaga". Não sei o que dizer de um versículo tão estranho (terrível) e incompreensível racionalmente. Nesse mesmo texto da República Platão também pensou a transmigração das almas, o qual Orígenes assume em suas apologias. As almas existem antes dos corpos. Assim anjos, demônios e homens (mulheres) são numa visão geral entidades que evoluíram de acordo com seus méritos e deméritos no tempo em que singularizaram seus comportamentos e atitudes nos mundos (visíveis e invisíveis) em que existiram. Desse modo os anjos foram aqueles que praticaram mais virtudes e beatitudes, os demônios exteriorizaram mais os vícios e pecados e os homens num estágio apressado em relação aos dois grupos, expiam (redimem) seus corpos para evoluírem ou involuírem conforme as práticas realizadas pelos pensamentos, palavras e obras. Nessa perspectiva a humanidade está em um processo de redenção individual, em que os vários mundos possibilitarão esse ajuste ou reparação de contas a pagar e a receber. Essa era também a visão dos Estoicos (século III AC) que afirmavam que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos Divino, noção tomada de Heráclito (535 AC 475) de Éfeso. A alma está identificada com este princípio divino como parte de um todo ao qual pertence. Este Logos ou (Razão Universal) ordena todas as coisas. Tudo surge de acordo com Ele, graças a Ele o mundo é um cosmo que em grego significa harmonia. Dos Estóicos é passado a ideia de que os fins tem que ser igual ao começo. Da gigantesca obra de Orígenes infelizmente apenas 3 volumes resistiram as chamas que destruíram a famosa Biblioteca de Alexandria e seu Museu em (415) pulverizando o acervo inestimável de milhares de pergaminhos e papiros que compreendiam a sabedoria humana e divina disponível  para todos os interessados e iniciados nos mistérios menores e nos mistérios maiores da ciência oculta. Os 3 volumes escritos por Orígenes disponível em português são: Sobre os Princípios, Exacta e Contra Celsius onde ele sustentava a doutrina da reencarnação, da pré existência da alma, da transmigração da alma e da apocatástase (a redenção e salvação de todos os seres inclusive os que estavam no inferno). Orígenes pensava  não haver um inferno eterno, mas sim um lugar de disciplina temporária e após esse estágio todos continuariam evoluindo para encontrarem o Logos Eterno. São Lucas 15: 20-22 "E levantando-se foi para seu pai, e quando ainda estava longe viu o pai, e se moveu de íntima compaixão e correndo, lançou-lhe ao pescoço e o beijou. Outro aspecto do ensino esotérico de Orígenes é que ele concebia a interpretação das Escrituras em três níveis. O corpo que era a norma superficial, aquele que as Escrituras dizem: "a letra mata", onde o observador cria doutrinas estreitantes e dogmas absolutos. A alma um estado mais evoluído de decifrar o texto sagrado, mas ainda intermediário apenas nos primeiros estratos da epiderme espiritual. O espiritual é a interpretação profunda e mística do texto sagrado. Nessa fase se perceba que é necessário adentra o portal dos mistérios ocultos "a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus", para retirar das Escrituras sua simbologia e tipologia oculta que representa a essência daquilo que O Espírito deseja falar ao discípulo. O primeiro nível é a literalidade exteriorizado por crenças exclusivistas. O segundo é a conveniência para nosso próprio interesse e bem estar. O terceiro é a interpretação lógica e intuitiva compreendendo as alegorias e tipologias não como verdades, mas princípios e conceitos que podem ser usados em todas as religiões e espiritualidade. Nesse terceiro nível há mistérios que somente os iniciados místicos, cabalistas, sufistas, gnósticos tem acesso, pois fogem ao senso comum da espiritualidade. E alguns mistérios das Escrituras estão selados não sendo permitidos revelá-los, apenas no momento oportuno.  E o filho lhe disse: pai pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado seu filho". Em uma vida não temos como pagar todo o nosso carma é necessário outras vidas para que o ajuste e reparação possam acontecer e continuemos nosso processo evolutivo dentro das fases que distinguem nossos corpos sutis. O inferno eterno era relativizado por Orígenes em seus escrito quando ele usa a referência de Isaías 50: 11 "Eis que todos vós que acendeis fogo e vos cingis com faíscas, andai entre as labaredas dos vossos fogos, e entre as faíscas que acendestes. Isso vos ocorrerá pela minha mão e em tormentos morareis". Orígenes era flexível quanto a interpretações de textos bíblicos onde se percebiam um juízo sumário e executório preferindo uma alegoria representativa para fugir do dogmatismo. A interpretação neo platônica da reencarnação foi ensinada pelos Pais da Igrejas. São Mateus 11: 11 "Em verdade em verdade vos digo que dentre os que de mulher têm nascidos, não apareceu alguém maior do que João Batista, mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele". A reencarnação tem a premissa de voltar à vida para reparar o carma continuando  o processo evolutivo sendo um aspecto de aprendizado para não incorrer nos mesmos erros em renascimentos posteriores. Esses estágios não estão restritos aos humanos, mas alcançam todos os reinos orgânicos evidenciados nos minerais, vegetais e animais, dentro de suas restritas constituições de matérias e formas conscientemente primitivas e mais adiantadas. Podemos inferir um silogismo: A reencarnação e a lei da ação e reação (carma - para cada causa existe um efeito) produzem a evolução que tem como resultado o homem perfeito para ascender no Logos Eterno. São Mateus 5: 48 "Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso pai que está nos céus". Orígenes foi discípulo de Amônio Saccas (175-242) um mestre místico que viveu em Alexandria na primeira  metade do século III e na época era corrente dizer-se que "Amônio o que aprendeu com Deus". Ele foi o fundador do sistema eclético, nascido de pais cristãos, mas renunciou à sua religião nativa e voltou-se à filosofia "pagã". Pelo fato de ter encontrado a Sabedoria Divina em seu próprio interior, foi chamado "Theodidaktos" ou ensinado por Deus, mas ele preferia o termo "Phialethes", ou amante da verdade. Seus discípulos eram também conhecidos como "Filaleteus". Não deixou escritos, ensinamentos orais e seus pupilos foram submetidos ao voto de segredo, como de costume nas Escolas de Mistério. Por conseguinte, ele fez uma distinta tentativa de beneficiar o mundo através do ensinamento daquelas partes da Ciência Secreta que lhe eram permitidas ser reveladas por seus guardiães diretos daqueles tempos.  Outro mestre que influenciou Orígenes  foi Plotino (204-270) que dizia: "O Único (O Deus Supremo) é exaltado acima do Nous e das ideias. Ele está absolutamente acima da existência escapando a razão. Permanecendo sempre em repouso. Ele faz jorrar de Sua própria plenitude como um raio uma imagem de Si mesmo, chamada Nous e que forma o conjunto das ideias do mundo inteligível". Plotino foi discípulo direto de Amônio Saccas, com o qual permaneceu onze anos. O que Platão foi para Sócrates, e o apóstolo João para Jesus, Plotino foi em relação a Amônio. Naqueles dias participou em uma expedição à Ásia na esperança de alcançar a Índia, mas não foi bem sucedido. Seguiu a Roma, onde despendeu o resto de sua vida ensinando e escrevendo. Seu principal trabalho, as Eneadas, incorporam suas ideias teosóficas. Plotino combinou uma das maiores capacidades intelectuais com a profunda iluminação mística, e sua vida foi baseada na autodisciplina e purificação. Sua intensa aspiração espiritual resultou no êxtase, uma sublime condição de existência absorta na Vida Divina, o Samadhi da filosofia hindu. Seu discípulo Porfírio (234-305) relata que Plotino gozou tal experiência em seis ocasiões durante sua vida. Seus ensinamentos tiveram uma duradoura e profunda influência não somente no pensamento filosófico dos séculos posteriores, mas também na teologia cristã. A Igreja tomou sua seminal doutrina da Trindade dos escritos de Plotino. Helena Blavatsky (1831-1899) diz: "Tudo que é grande e nobre na teologia cristã provém do Neo platonismo". Orígenes teve um fim como de todos os mártires por suas ideias iluminadas que se opunham ao dogmatismo vigente da Igreja cristã foi torturado e morto no ano de 254. O conceito de Teosofia ou Sabedoria Arcana foi pensado inicialmente  em Alexandria no século III pelos dois mestres de Orígenes que citamos acima. Romanos 8: 28 "E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem aqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito". Abraço. Davi.

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