Espiritismo. www.institutoandreluiz.org. Texto
de Allan Kardec (1804-1869). II. DA INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO
CORPORAL. 50. Na vida espírita, reconheceremos o Espírito nosso protetor? “Decerto,
pois não é raro que o tenhais conhecido antes de encarnardes.” 51. Pertencem todos
os Espíritos protetores à classe dos Espíritos elevados? Podem contar-se entre
os de classe média? Um pai, por exemplo, pode tornar-se o Espírito protetor de
seu filho? “Pode, mas a proteção pressupõe certo grau de elevação e um
poder ou uma virtude a mais, concedidos por Deus. O pai, que protege seu filho,
também pode ser assistido por um Espírito mais elevado.” 52. Os Espíritos que
se achavam em boas condições ao deixarem a Terra, sempre podem proteger os que
lhes são caros e que lhes sobrevivem? “Mais ou menos restrito é o poder
de que desfrutam. A situação em que se encontram nem sempre lhes permite
inteira liberdade de ação.” 53. Quando em estado de selvageria ou de
inferioridade moral, têm os homens, igualmente, seus Espíritos protetores? E,
assim sendo, esses Espíritos são de ordem tão elevada quanto a dos Espíritos
protetores de homens muito adiantados? “Todo homem tem um Espírito que
por ele vela, mas as missões são relativas ao fim que visam. Não dais a uma
criança, que está aprendendo a ler, um professor de filosofia. O progresso dos
Espírito familiar guarda relação com o do Espírito protegido. Tendo um Espírito
que vela por vós, podeis tornar-vos, a vosso turno, o protetor de outro que vos
seja inferior e os progressos que este realize, com o auxílio que lhe
dispensardes, contribuirão para o vosso adiantamento. Deus não exige do
Espírito mais do que comportem a sua natureza e o grau de elevação a que já
chegou.” 54. Quando o pai, que vela pelo filho, reencarna, continua a vela por
ele? “Isso é mais difícil. Contudo, de certo modo o faz, pedindo, num
instante de desprendimento, a um Espírito simpático que o assista nessa missão.
Demais, os Espíritos só aceitam missões que possam desempenhar até ao fim. “Encarnado, mormente
em mundo onde a existência é material, o Espírito se acha muito sujeito ao
corpo para poder dedicar-se inteiramente a outro Espírito, isto é, para poder
assisti-lo pessoalmente. Tanto assim que os que ainda se não elevaram bastante
são também assistidos por outros, que lhes estão acima, de tal sorte que, se
por qualquer circunstância um vem a faltar, outro lhe supre a falta.” 55. A cada indivíduo
achar-se-á ligado, além do Espírito protetor, um mau Espírito, com o fim de
impeli-lo ao erro e de lhe proporcionar ocasiões de lutar entre o bem e o
mal? “Ligado, não é o termo. É certo que os maus Espíritos procuram
desviar do bom caminho o homem, quando se lhes depara ocasião. Sempre, porém,
que um deles se liga a um indivíduo, fá-lo por si mesmo, porque conta ser
atendido. Há então luta entre o bom e o mau, vencendo aquele por quem o homem
se deixe influenciar.” 57. Podemos ter muitos Espíritos protetores? “Todo
homem conta sempre Espíritos, mais ou menos elevados, que com ele simpatizam,
que lhe dedicam afeto e por ele se interessam, como também tem junto de si
outros que o assistem no mal.” 58. Os Espíritos que conosco simpatizam
atuam em cumprimento de missão? “Não raro, desempenham missão
temporária; porém, as mais das vezes, são apenas atraídos pela identidade de
pensamentos e sentimentos, assim para o bem como para o mal.” a) Parece lícito
inferir-se daí que os Espíritos a quem somos simpáticos podem ser bons ou maus,
não? “Sim, qualquer que seja o seu caráter, o homem sempre encontra
Espíritos que com ele simpatizem.” 58. Os Espíritos familiares são os
mesmos a quem chamamos Espíritos simpáticos ou Espíritos protetores? “Há
gradações na proteção e na simpatia. Dai-lhes os nomes que quiserdes. O
Espírito familiar é antes o amigo da casa.” Das explicações acima e das observações
feitas sobre a natureza dos Espíritos que se afeiçoam ao homem, pode-se deduzir
o seguinte: O Espírito protetor, anjo de guarda, ou bom gênio é o que tem por
missão acompanhar o homem na vida e ajudá-lo a progredir. É sempre de natureza
superior, com relação ao protegido. Os Espíritos familiares se ligam a certas
pessoas por laços mais ou menos duráveis, com o fim de lhes serem úteis, dentro
dos limites do poder, quase sempre muito restrito, de que dispõe. São bons,
porém muitas vezes pouco adiantados e mesmo um tanto levianos. Ocupam-se de
boamente com as particularidades da vida íntima e só atuam por ordem ou com
permissão dos Espíritos protetores. Os Espíritos simpáticos são os que se
sentem atraídos para o nosso lado por afeições particulares e ainda por uma
certa semelhança de gostos e de sentimentos, tanto para o bem como para o mal.
De ordinário, a duração de suas relações se acha subordinada às circunstâncias.
O mau gênio é um Espírito imperfeito ou perverso, que se liga ao homem para
desviá-lo do bem. Obra, porém, por impulso próprio e não no desempenho de
missão. A tenacidade da sua ação está em relação direta com a maior ou
facilidade de acesso que encontre por parte do homem, que goza sempre da
liberdade de escutar-lhe a voz ou de lhe cerrar os ouvidos. (Allan Kardec). 59. Que se há de
pensar dessas pessoas que se ligam a certos indivíduos para levá-los à
perdição, ou para guiá-los pelo bom caminho? “Efetivamente, certas
pessoas exercem sobre outras uma espécie de fascinação que parece irresistível.
Quando isso se dá no sentido do mal, são maus Espíritos, de que outros
Espíritos também maus se servem para subjugá-las. Deus permite que tal coisa
ocorra para vos experimentar.” 60. Poderiam, os nossos bom e mau
gênios encarnar, a fim de mais perto nos acompanharem na vida? “Isso
às vezes se dá. Porém, o que mais frequentemente se verifica é encarregarem
dessa missão outros Espíritos encarnados que lhes são simpáticos.” 61. Haverá Espíritos
que se liguem a uma família inteira para protegê-la? “Alguns Espíritos
se ligam aos membros de uma determinada família, que vivem juntos e unidos pela
afeição; mas, não acrediteis em Espíritos protetores do orgulho das raças.” 62. Assim como são
atraídos, pela simpatia, para certos indivíduos, são-no igualmente os
Espíritos, por motivos particulares, para as reuniões de indivíduos? “Os
Espíritos preferem estar no meio dos que se lhes assemelham. Acham-se aí mais à
vontade e mais certos de serem ouvidos. É pelas suas tendências que o homem
atrai os Espíritos e isso quer esteja só, quer faça parte de um todo coletivo,
como uma sociedade, uma cidade, ou um povo. Portanto, as sociedades, as cidades
e os povos são, de acordo com as paixões e o caráter neles predominantes,
assistidos por Espíritos mais ou menos elevados. Os Espíritos imperfeitos se
afastam dos que os repelem. Segue-se que o aperfeiçoamento moral das coletividades,
como o dos indivíduos, tende a afastar os maus Espíritos e a atrair os bons,
que estimulam e alimentam nelas o sentimento do bem, como outros lhes podem
insuflar as paixões grosseiras.” 63. As aglomerações de indivíduos, como
as sociedades, as cidades, as nações, têm Espíritos protetores especiais? “Têm,
pela razão de que esses agregados são individualidades coletivas que,
caminhando para um objetivo comum, precisam de uma direção superior.” 64. Os Espíritos
protetores das coletividades são de natureza mais elevada do que os que se
ligam aos indivíduos? “Tudo é relativo ao grau de adiantamento, quer se
trate de coletividades, quer de indivíduos.” 65. Podem certos Espíritos auxiliar o
progresso das artes, protegendo os que às artes se dedicam? “Há Espíritos
protetores especiais e que assistem os que os invocam, quando dignos dessa
assistência. Que queres, porém, que façam com os que julgam ser o que não são?
Não lhes cabe fazer que os cegos vejam, nem que os surdos ouçam.” Os antigos fizeram,
desses Espíritos, divindades especiais. As Musas não eram senão a
personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes,
como os deuses Lares e Penates simbolizavam os Espíritos protetores da família.
Também modernamente, as artes, as diferentes indústrias, as cidades, os países
têm seus patronos, que mais não são do que Espíritos superiores, sob várias
designações. Tendo todo homem Espíritos que com ele simpatizam, claro é que,
nos corpos coletivos, a generalidade dos Espíritos que lhes votam simpatia está
em proporção com a generalidade dos indivíduos; que os Espíritos estranhos são
atraídos para essas coletividades pela identidade dos gostos e das ideias; em
suma, que esses agregados de pessoas, tanto quanto os indivíduos, são mais ou
menos bem assistidos e influenciados, de acordo com a natureza dos sentimentos
dominantes entre os elementos que os compõem. Nos povos, determinam a atração
dos Espíritos os costumes, os hábitos, o caráter dominante e as leis, as leis
sobretudo, porque o caráter de uma nação se reflete nas suas leis. Fazendo
reinar em seu seio a justiça, os homens combatem a influência dos maus
Espíritos. Onde quer que as leis consagrem coisas injustas, contrárias à
Humanidade, os bons Espíritos ficam em minoria e a multidão, que aflui, dos
maus mantém a nação aferrada às suas ideias e paralisa as boas influências
parciais, que ficam perdidas no conjunto, como insuladas espigas entre
espinheiros. Estudando-se os costumes dos povos ou de qualquer reunião de
homens, facilmente se forma ideia da população oculta que se lhes imiscui no
modo de pensar e nos atos. Pressentimentos (Allan Kardec). 66. O pressentimento
é sempre um aviso do Espírito protetor? “É o conselho íntimo e oculto
de um Espírito que vos quer bem. Também está na intuição da escolha que se haja
feito. É a voz do instinto. Antes de encarnar, tem o Espírito conhecimento das
fases principais de sua existência, isto é, do gênero das provas a que se
submete. Tendo estas caráter assinalado, ele conserva, no seu foro íntimo, uma
espécie de impressão de tais provas e esta impressão, que é a voz do instinto,
fazendo-se ouvir quando lhe chega o momento de sofrê-las, se torna
pressentimento.” 67. Acontecendo que os pressentimentos e a voz do instinto são sempre
algum tanto vagos, que devemos fazer, na incerteza em que ficamos? “Quando
te achares na incerteza, invoca o teu bom Espírito, ou ora a Deus, soberano
senhor de todos, e Ele te enviará um de seus mensageiros, um de nós.” 68. Os avisos dos
Espíritos protetores objetivam unicamente o nosso procedimento moral, ou também
o proceder que devamos adotar nos assuntos da vida particular? “Tudo.
Eles se esforçam para que vivais o melhor possível. Mas, quase sempre tapais os
ouvidos aos avisos salutares e vos tornais desgraçados por culpa vossa.” Os Espíritos
protetores nos ajudam com seus conselhos, mediante a voz da consciência que
fazem ressoar em nosso íntimo. Como, porém, nem sempre ligamos a isso a devida
importância, outros conselhos mais diretos eles nos dão, servindo-se das pessoas
que nos cercam. Examine cada um as diversas circunstâncias felizes ou infelizes
de sua vida e verá que em muitas ocasiões recebeu conselhos de que se não
aproveitou e que lhe teriam poupado muitos desgostos, se os houvera escutado.
Influência dos Espíritos nos acontecimentos da vida. (Allan Kardec). 59. Exercem os
Espíritos alguma influência nos acontecimentos da vida? “Certamente,
pois que vos aconselham.”a) Exercem essa influência por outra forma que não
apenas pelos pensamentos que sugerem, isto é, têm ação direta sobre o
cumprimento das coisas? “Sim, mas nunca atuam fora das leis da
Natureza.” Imaginamos
erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos
extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os
figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta
nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que
se executa com o concurso deles. Assim é que, provocado, por exemplo, o
encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a
alguém a ideia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para
certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles obram de tal maneira
que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu
livre-arbítrio. (Allan Kardec). 60. Tendo, como têm,
ação sobre a matéria, podem os Espíritos provocar certos efeitos, com o
objetivo de que se dê um acontecimento? Por exemplo: um homem tem que morrer;
sobe uma escada, a escada se quebra e ele morre da queda. Foram os Espíritos
que quebraram a escada, para que o destino daquele homem se cumprisse? “É
exato que os Espíritos têm ação sobre a matéria, mas para cumprimento das leis
da Natureza, não para as derrogar, fazendo que, em dado momento, ocorra um
sucesso inesperado e em contrário àquelas leis. No exemplo que figuraste, a
escada se quebrou porque se achava podre, ou por não ser bastante forte para
suportar o peso de um homem. Se era destino daquele homem perecer de tal maneira,
os Espíritos lhe inspirariam a ideia de subir a escada em questão, que teria de
quebrar-se com o seu peso, resultando-lhe daí a morte por um efeito natural e
sem que para isso fosse mister a produção de um milagre.” 61. Tomemos outro
exemplo, em que não entre a matéria em seu estado natural. Um homem tem que
morrer fulminado pelo raio. Refugia-se debaixo de uma árvore. Estala o raio e o
mata. Poderá dar-se tenham sido os Espíritos que provocaram a produção do raio
e que o dirigiram para o homem? “Dá-se o mesmo que anteriormente. O raio
caiu sobre aquela árvore em tal momento, porque estava nas leis da Natureza que
assim acontecesse. Não foi encaminhado para a árvore, por se achar debaixo dela
o homem. A este, sim, foi inspirada a ideia de se abrigar debaixo de uma árvore
sobre a qual cairia o raio, porquanto a árvore não deixaria de ser atingida, só
por não lhe estar debaixo da fronde o homem.” 62. No caso de uma pessoa mal
intencionada disparar sobre outra um projétil que apenas lhe passe perto sem a
atingir, poderá ter sucedido que um Espírito bondoso haja desviado o
projétil? “Se o indivíduo alvejado não tem que perecer desse modo, o
Espírito bondoso lhe inspirará a ideia de se desviar, ou então poderá ofuscar o
que empunha a arma, de sorte a fazê-lo apontar mal, porquanto, uma vez
disparada a arma, o projétil segue linha que tem de percorrer.” 63. Que se deve
pensar das balas encantadas, de que falam algumas lendas e que fatalmente
atingem o alvo? “Pura imaginação. O homem gosta do maravilhoso e não se
contenta com as maravilhas da Natureza.” a) - Podem os Espíritos que dirigem os
acontecimentos terrenos ter obstada sua ação por Espíritos que queiram o
contrário? “O que Deus quer se executa. Se houver demora na execução, ou lhe
surjam obstáculos, é porque Ele assim o quis.” 64. Não podem os
Espíritos levianos e zombeteiros criar pequenos embaraços à realização dos
nossos projetos e transtornar as nossas previsões? Serão eles, numa palavra, os
causadores do que chamamos pequenas misérias da vida humana? “Eles se
comprazem em vos causar aborrecimentos que representam para vós provas
destinadas a exercitar a vossa paciência. Cansam-se, porém, quando veem que
nada conseguem. Entretanto, não seria justo, nem acertado, imputar-lhes todas
as decepções que experimentais e de que sois os principais culpados pela vossa
irreflexão. Fica certo de que, se a tua louça se quebra, é mais por desazo teu
do que por culpa dos Espíritos.” a) Destes, os que provocam
contrariedades obram impelidos por animosidade pessoal, ou assim procedem
contra qualquer, sem motivo determinado, por pura malícia? “Por uma e outra
coisa. Às vezes os que assim vos molestam são inimigos que granjeastes nesta ou
em precedente existência. Doutras vezes, nenhum motivo há.”. 65. Extingue-se com a
vida corpórea a malevolência dos seres que nos fizeram mal na Terra? “Muitas
vezes reconhecem a injustiça com que procederam e o mal que causaram. Mas,
também, não é raro que continuem a perseguir-vos, cheios de animosidade, se
Deus o permitir, por ainda vos experimentar.” a) Pode-se pôr termo a isso? Por que
meio? “Podeis. Orando por eles e lhes retribuindo o mal com o bem,
acabarão compreendendo a injustiça do proceder deles. Demais, se souberdes
colocar-vos acima de suas maquinações, deixar-vos-ão, por verificarem que nada
lucram.” A experiência demonstra que alguns Espíritos continuam em outra
existência a exercer as vinganças que vinham tomando e que assim, cedo ou
tarde, o homem paga o mal que tenha feito a outrem." 66. Têm os Espíritos
o poder de afastar de certas pessoas os males e de favorecê-las com a
prosperidade? “De todo, não; porquanto, há males que estão nos decretos
da Providência. Amenizam-vos, porém, as dores, dando-vos paciência e
resignação. Ficai igualmente sabendo que de vós depende muitas vezes
poupar-vos aos males, ou, quando menos, atenuá-los. A inteligência, Deus
outorgou-nos para que dela vos sirvais e é principalmente por meio da vossa
inteligência que os Espíritos vos auxiliam, sugerindo-vos ideias propícias ao
vosso bem. Mas, não assistem senão os que sabem assistir-se a si mesmos. Esse o
sentido destas palavras: Buscai e achareis, batei e se vos abrirá. Sabei
ainda que nem sempre é um mal o que vos parece sê-lo. Frequentemente, do que
considerais um mal sairá um bem muito maior. Quase nunca compreendeis isso,
porque só atentais no momento presente ou na vossa própria pessoa.” 67. Podem os
Espíritos fazer que obtenham riquezas os que lhes pedem que assim
aconteça? “Algumas vezes, como prova. Quase sempre, porém, recusam,
como se recusa à criança a satisfação de um pedido inconsiderado.” a) São os bons ou os
maus Espíritos que concedem esses favores? “Uns e outros. Depende da intenção.
As mais das vezes, entretanto, os que concedem são os Espíritos que vos querem
arrastar para o mal e que encontram meio fácil de o conseguirem,
facilitando-vos os gozos que a riqueza proporciona.” 68. Será por
influência de algum Espírito que, fatalmente, a realização dos nossos projetos
parece encontrar obstáculos? “Algumas vezes é isso efeito da ação dos
Espíritos; muito mais vezes, porém, é que andais errados na elaboração e na
execução dos vossos projetos. Muito influem nesses casos a posição e o caráter
do indivíduo. Se vos obstinais em ir por um caminho que não deveis seguir, os
Espíritos nenhuma culpa têm dos vossos insucessos. Vós mesmos vos constituís em
vossos maus gênios.” 69. Quando algo de venturoso nos sucede é ao Espírito nosso protetor que
devemos agradecê-lo? “Agradecei primeiramente a Deus, sem cuja permissão
nada se faz; depois aos bons Espíritos que foram os agentes da sua vontade.” a) Que sucederia se
nos esquecêssemos de agradecer? “O que sucede aos ingratos.”. b) No
entanto, pessoas há que não pedem nem agradecem e às quais tudo sai bem! “Assim
é, de fato, mas importa ver o fim. Pagarão bem caro essa felicidade de que não
são merecedores, pois quanto mais houverem recebido, tanto maiores contas terão
que prestar." 70. São devidos a causas fortuitas, ou, ao contrário, têm todos um fim
providencial, os grandes fenômenos da Natureza, os que se consideram como
perturbação dos elementos? “Tudo tem uma razão de ser e nada acontece
sem a permissão de Deus.”. a) Objetivam sempre o homem esses fenômenos? “Às
vezes têm, como imediata razão de ser, o homem. Na maioria dos casos,
entretanto, têm por único motivo o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia
das forças físicas da Natureza.”. b) Concebemos perfeitamente que a
vontade de Deus seja a causa primária, nisto como em tudo; porém, sabendo que
os Espíritos exercem ação sobre a matéria e que são os agentes da vontade de
Deus, perguntamos se alguns dentre eles não exercerão certa influência sobre os
elementos para os agitar, acalmar ou dirigir? “Mas evidentemente. Nem
poderia ser de outro modo. Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele
encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos.”. 71. A mitologia dos
antigos se fundava inteiramente em ideias espíritas, com a única diferença de
que consideravam os Espíritos como divindades. Representavam esses deuses ou
esses Espíritos com atribuições especiais. Assim, uns eram encarregados dos
ventos, outros do raio, outros de presidir ao fenômeno da vegetação, etc.
Semelhante crença é totalmente destituída de fundamento? “Tão pouco
destituída é de fundamento, que ainda está muito aquém da verdade.” a) Poderá
então haver Espíritos que habitem o interior da Terra e presidam aos fenômenos
geológicos? “Tais Espíritos não habitam positivamente a Terra. Presidem aos
fenômenos e os dirigem de acordo com as atribuições que têm. Dia virá em que
recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor.” 72. Formam categoria
especial no mundo espírita os Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza?
Serão seres à parte, ou Espíritos que foram encarnados como nós? “Que
foram ou que o serão.” a) Pertencem esses Espíritos às ordens superiores
ou às inferiores da hierarquia espírita? “Isso é conforme seja mais ou
menos material, mais ou menos inteligente o papel que desempenhem. Uns mandam,
outros executam. Os que executam coisas materiais são sempre de ordem inferior,
assim entre os Espíritos, como entre os homens.” 73. A produção de
certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é obra de um só Espírito, ou
muitos se reúnem, formando grandes massas, para produzi-los? “Reúnem-se em
massas inumeráveis.” 74. Os Espíritos que exercem ação nos fenômenos da Natureza operam com
conhecimento de causa, usando do livre-arbítrio, ou por efeito de instintivo ou
irrefletido impulso? “Uns sim, outros não. Estabeleçamos uma
comparação. Considera essas miríades de animais que, pouco a pouco, fazem
emergir do mar ilhas e arquipélagos. Julgas que não há aí um fim providencial e
que essa transformação da superfície do globo não seja necessária à harmonia
geral? Entretanto, são animais de ínfima ordem que executam essas obras,
provendo às suas necessidades e sem suspeitarem de que são instrumentos de
Deus. Pois bem, do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados oferecem utilidade
ao conjunto. Enquanto se ensaiam para a vida, antes que tenham plena
consciência de seus atos e estejam no gozo pleno do livre-arbítrio, atuam em
certos fenômenos, de que inconscientemente se constituem os agentes. Primeiramente,
executam. Mais tarde, quando suas inteligências já houverem alcançado um certo
desenvolvimento, ordenarão e dirigirão as coisas do mundo material. Depois,
poderão dirigir as do mundo moral. É assim que tudo serve, que tudo se encadeia
na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser
átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode
apreender em seu conjunto!” 75. Algo de verdade haverá nos pactos com os maus
Espíritos? “Não, não há pactos. Há, porém, naturezas más que simpatizam com
os maus Espíritos. Por exemplo: queres atormentar o teu vizinho e não sabes
como hás de fazer. Chamas então por Espíritos inferiores que, como tu, só
querem o mal e que, para te ajudarem, exigem que também os sirvas em seus maus
desígnios. Mas, não se segue que o teu vizinho não possa livrar-se deles por
meio de uma conjuração oposta e pela ação da sua vontade. Aquele que intenta
praticar uma ação má, pelo simples fato de alimentar essa intenção, chama em
seu auxílio maus Espíritos, aos quais fica então obrigado a servir, porque dele
também precisam esses Espíritos, para o mal que queiram fazer. Nisto é que
consiste o pacto.” O fato de o homem ficar, às vezes, na dependência dos
Espíritos inferiores nasce de se entregar aos maus pensamentos que estes lhe
sugerem e não de estipulação quaisquer que com eles faça. O pacto, no sentido
vulgar do termo, é uma alegoria representativa da simpatia existente entre um
indivíduo de natureza má e Espíritos malfazejos. 76. Qual o sentido
das lendas fantásticas em que figuram indivíduos que teriam vendido suas almas
a Satanás para obterem certos favores? “Todas as fábulas encerram um
ensinamento e um sentido moral. O vosso erro consiste em tomá-las ao pé da
letra. Isso a que te referes é uma alegoria, que se pode explicar desta
maneira: aquele que chama em seu auxílio os Espíritos, para deles obter
riquezas, ou qualquer outro favor, rebela-se contra a Providência; renuncia à
missão que recebeu e às provas que lhe cumpre suportar neste mundo. Sofrerá na
vida futura as consequências desse ato. Não quer isto dizer que sua alma fique
para sempre condenada à desgraça. Mas, desde que, em lugar de se desprender da
matéria, nela cada vez se enterra mais, não terá, no mundo dos Espíritos, a
satisfação de que haja gozado na Terra, até que tenha resgatado a sua falta,
por meio de novas provas, talvez maiores e mais penosas. Coloca-se, por amor
dos gozos materiais, na dependência dos Espíritos impuros. Estabelece-se assim,
tacitamente, entre estes e o delinquente, um pacto que o leva à sua perda, mas
que lhe será sempre fácil romper, se o quiser firmemente, granjeando a
assistência dos bons Espíritos.” 77. Pode um homem mau, com o auxílio de
um mau Espírito que lhe seja dedicado, fazer mal ao seu próximo? “Não;
Deus não o permitiria.” 78. Que se deve pensar da crença no poder, que
certas pessoas teriam, de enfeitiçar? “Algumas pessoas dispõem de
grande força magnética, de que podem fazer mau uso, se maus forem seus próprios
Espíritos, caso em que possível se torna serem secundados por outros Espíritos
maus. Não creias, porém, num pretenso poder mágico, que só existe na imaginação
de criaturas supersticiosas, ignorantes das verdadeiras leis da Natureza. Os
fatos que citam, como prova da existência desse poder, são fatos naturais, mal
observados e sobretudo mal compreendidos.” 79. Que efeito podem produzir as
fórmulas e práticas mediante as quais pessoas há que pretendem dispor do
concurso dos Espíritos? “O efeito de torná-las ridículas, se procedem
de boa-fé. No caso contrário, são tratantes que merecem castigo. Todas as
fórmulas são mera charlatanaria. Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum
sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os Espíritos,
porquanto estes só são atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais.”
a) - Mas, não é exato que alguns Espíritos têm ditado, eles próprios, fórmulas
cabalísticas? “Efetivamente, Espíritos há que indicam sinais, palavras
estranhas, ou prescrevem a prática de atos, por meio dos quais se fazem os
chamados conjuros. Mas, ficai certos de que são Espíritos que de vós outros
escarnecem e zombam da vossa credulidade.” 80. Não pode aquele que, com ou sem
razão, confia no que chama a virtude de um talismã, atrair um Espírito, por
efeito mesmo dessa confiança, visto que, então, o que atua é o pensamento, não
passando o talismã de um sinal que apenas lhe auxilia a concentração? “É
verdade; mas, da pureza da intenção e da elevação dos sentimentos depende a
natureza do Espírito que é atraído. Ora, muito raramente aquele que seja
bastante simplório para acreditar na virtude de um talismã deixará de colimar
um fim mais material do que moral. Qualquer, porém, que seja o caso, essa
crença denuncia uma inferioridade e uma fraqueza de ideias que favorecem a ação
dos Espíritos imperfeitos e escarninhos.” O Espiritismo e o magnetismo nos dão a
chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um
sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela
imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam
uma única, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas,
constitui o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela
o que é possível e o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que
não passa de ridícula crendice. (Allan Kardec). 81. Têm algumas
pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contato? “A
força magnética pode chegar até aí, quando secundada pela pureza dos
sentimentos e por um ardente desejo de fazer o bem, porque então os bons
Espíritos lhe vêm em auxílio. Cumpre, porém, desconfiar da maneira pela qual
contam as coisas pessoas muito crédulas e muito entusiastas, sempre dispostas a
considerar maravilhoso o que há de mais simples e mais natural. Importa
desconfiar também das narrativas interesseiras, que costumam fazer os que
exploram, em seu proveito, a credulidade alheia.” 82. Podem a bênção e
a maldição atrair o bem e o mal para aquele sobre quem são lançados? “Deus
não escuta a maldição injusta e culpado perante ele se torna o que a profere.
Como temos os dois gênios opostos, o bem e o mal, pode a maldição exercer
momentaneamente influência, mesmo sobre a matéria. Tal influência, porém, só se
verifica por vontade de Deus como aumento de prova para aquele que é dela
objeto. Demais, o que é comum é serem amaldiçoados os maus e abençoados os
bons. Jamais a bênção e a maldição podem desviar da senda da justiça a
Providência, que nunca fere o maldito, senão quando mau, e cuja proteção não
acoberta senão aquele que a merece.” O Livro dos Espíritos Capítulo 9 – 2ª
parte. www.institutoandreluiz.org.
Abraço. Davi
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