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SEFIROT – AS DEZ EMANAÇÕES DIVINAS. Rabi Moisés de Leon, cabalista espanhol do
século XIII, escreveu: 'As dez sefirot são o segredo da existência, o aparato
da sabedoria, o meio pelo qual os mundos de cima e de baixo foram criados.
Segundo o Zohar, D´us deu forma e conteúdo à Sua Criação através das dez
sefirot. Toda a realidade, tanto espiritual quanto material, é criada por meio
destas que são vistas como "forças fundamentais",
"recipientes" da atividade de D´us. As sefirot são "canais"
através dos quais a energia Divina flui, permeia e se torna parte de cada coisa
que existe, criando assim uma "corrente espiritual" que liga e vivifica
todas as coisas, impregnando-as da Essência Divina. As leis que regem o fluxo
destas energias foram estabelecidas durante o processo da Criação, que pode ser
vista como uma progressiva transformação de níveis de energia espiritual. Nesta
progressiva transformação, foram criados universos espirituais paralelos, sendo
o nosso mundo o último desta corrente. Em nosso mundo, a Luz está mais afastada
da sua Fonte Divina, portanto D´us está mais "escondido" de nós e,
por isso, este mundo é espiritualmente inferior aos outros. Mas, ao mesmo
tempo, é superior por ser a meta e o fim da Criação Divina. Nele, o homem-única
criatura com livre arbítrio - pode afetar, por meio de suas ações, o fluxo das
Energias Divinas, criando mudanças de grandes proporções em outros mundos. Com
isto poderá aperfeiçoar o Cosmo e fazer com que a Criação vá aproximando-se de
sua meta Divina. Nos textos cabalísticos podemos encontrar enumeradas onze
sefirot. No entanto, como duas destas - Keter e Da'at - representam dimensões
diferentes de uma mesma força, ambas se excluem mutuamente. Por isso, a
tradição geralmente fala de dez sefirot. O Zohar, Livro do Esplendor, a obra
central da Cabalá, de autoria do Rabi Shimon Bar Yochai (séc II EC) e, mais
tarde, a doutrina de Rabi Isaac Luria centram-se nas sefirot. Seu conceito
aparece em outras obras como o Sefer Yetsirá, atribuída ao patriarca Abraão, e
o Sefer Ha-Bahir de autoria de Rabi Nechunia ben ha-Kanah. As sefirot parecem
estar envolvidas em um mistério, de difícil compreensão, já que além de serem
puramente espirituais, possuem inúmeros e complexos níveis de significado,
inúmeras interpretações e implicações. Podemos até vislumbrar como agem, mas só
alguns sábios espiritualmente elevados, verdadeiros mestres da Torá, chegam a
compreender sua essência e seus segredos. Por que, então, estudar ou se
preocupar com assunto tão indecifrável? Porque, como escreveu Rabi Moisés de
Leon, as sefirot são o segredo da existência e de nós mesmos, o segredo de como
nos aperfeiçoamos, aperfeiçoando, ao mesmo tempo, o mundo à nossa volta. O que
é uma sefirá. Cada sefirá é um modo ou um poder específico através do qual D'us
governa e sustenta o Universo. Por isso, as sefirot podem ser consideradas como
"atributos" ou "qualidades", ou ainda,
"vestimentas" Divinas. Quando pedimos a D´us que use conosco de Sua
Bondade Absoluta e nos abençoe com a Sua Abundância, estamos pedindo para que
Ele se releve através do atributo da sefirá Chessed. Podemos dizer que as
sefirot são a "matéria-prima" do Cosmo, o "código genético"
que pode ser identificado em todos os níveis e dentro de todos os aspectos da
Criação. Tudo o que foi criado - do mais espiritual ao mais material, do maior
ao menor - toma forma através das sefirot. Segundo nossos sábios místicos, por
este motivo elas constituem o paradigma conceitual para se entender a Criação.
O Rabi Isaac Luria (1534-1572), o Arizal, afirmava que as sefirot são
"tanto os instrumentos que D´us usa para dirigir o mundo, quanto as
janelas através das quais podemos perceber o Divino". A palavra sefirá é
relacionada com várias palavras hebraicas: Saper, que significa revelar ou se
comunicar; Sapir, safira, brilho ou luminárias; Safar, contagem, número, e
também com Sefar, que significa limite, fronteira. Em sua essência, todas estas
palavras têm conceitos inter-relacionados e apontam para duas funções básicas
das sefirot. Em primeiro lugar são "luzes" (orot). A luz de uma
sefirá é o fluxo de energia Divina que está em seu interior e serve para
revelar ou expressar a grandiosidade Divina. Em segundo lugar são
"vasos" ou "recipientes" (kelim) que "filtram" ou
"revestem" a Luz Infinita que as preenche. Trazem esta Luz desde a
Fonte de Todas as Fontes, Raiz de todas as Raízes, D´us Infinito, o Ein Sof,
até nosso mundo finito. Sem estes "filtros" ou
"vestimentas" a Criação seria totalmente dominada pela Luz Divina. Em
sua trajetória espiritual, a Luz vai diminuindo, possibilitando que a Criação
se aproxime do Criador. Para tentar entender estes conceitos, pensemos por um
instante no sol, uma das menores estrelas criadas por D´us neste universo.
Apesar de posicionado a milhões de quilômetros da Terra, sua energia nos dá luz
e calor indispensáveis. Mas, se tentarmos fitá-lo, sem proteção, sua luz nos
cegará. Imaginemos uma nave espacial tentando aproximar-se do sol. O calor e a
energia a aniquilariam! Do ponto de vista humano, as sefirot podem parecer
possuir existência múltipla e independente. Uma sefirá representa a força e o
poder do julgamento rigoroso; outra, a bondade e o amor; outra, a misericórdia
e assim por diante. Porém, as sefirot e o Ein Sof formam uma unidade, uma
existência única. Moisés Cordovero (1522-1570), cabalista do século XV escreveu
a este respeito: "Para ajudar-te a conceber o processo da emanação das
sefirot, imagina a água que escorre por vasos de diferentes cores: branco,
vermelho, verde e assim por diante. À medida em que a água se espalha nesses
vasos, parece adquirir a cor do vaso, embora seja desprovida de cor. A mudança
na cor não afeta a água em si, mas apenas a nossa percepção da mesma. O mesmo
acontece com as sefirot. A essência não muda; só parece mudar quando escorre
dentro dos vasos ". De onde vêm? O processo de emanação. Numa
interpretação mística, o primeiro capítulo do Gêneses, ao relatar a Criação, descreve
um início, o mais primordial: revela o processo da saída de D'us das
profundezas Dele mesmo e a emanação das dez sefirot, ou seja, sua emergência de
dentro do Ein Sof, D´us Infinito. Para se referir a D'us os cabalistas mais
antigos cunharam o termo Ein Sof, que significa literalmente
"Infinito" ou "Aquele que não tem fim nem limite". Um dos
axiomas básicos da Cabala é que o homem não tem meios de entender D´us,
Infinito e Imutável, nem tão pouco os Seus motivos. Porém, apesar de D'us ser
ilimitado e oculto, Ele se revela a nós parcialmente - e na medida em que cada
um de nós pode reconhecer o Seu poder e a Sua existência - através da Criação e
das dez sefirot. Em contraste com este D'us "pessoal" das sefirot,
Ein Sof representa a transcendência absoluta de D'us. Segundo o Rabi Isaac
Luria, "no início do início" a Luz de D'us Infinito, Or Ein Sof,
preenchia toda a realidade, pois D'us é a própria Realidade, sem início e sem
fim. Nada havia além da Luz Divina, pois nada pode manter sua própria existência
dentro do Ein Sof. Para que o universo passasse a existir como entidade
independente, D'us Se "ocultou" e Se "retraiu", cedendo
espaço para a Sua Criação. Esta ação não diminui, de modo algum, a Perfeição
Divina. Este conceito de ocultamento da Luz Divina é chamado nos textos
cabalísticos de tzimtzum (contração). Esta "contração" resultou no
aparecimento de um "espaço" vazio, um "vácuo", um
"ponto" no qual o universo passou então a existir. Rabi Haim Vital
(1543-1620), cabalista e discípulo do Ari, ao explicar o processo dessa
retração Divina, tzimtzum, dá o seguinte exemplo: "A Luz retirou-se como a
água de uma lagoa quando agitada por uma pedra. Quando a pedra cai na lagoa, a
água que está naquele exato lugar não desaparece, mas se afasta, incorporando-se
ao restante. Desta forma, a Luz retraída convergiu-se para o além e no meio
ficou o vácuo". No vácuo primordial criado por este tzimtzum passou a
existir a ausência da Luz, a escuridão primordial. Neste "vácuo",
D'us emanou um "raio" que serviu de "condutor" da Luz
Divina finita. A revelação inicial dentro do "vazio" primordial é a
revelação da Luz. Em Gênese, a primeira declaração explícita da Criação foi:
"D'us disse: Faça-se a luz e a luz se fez". A partir deste
"raio" de Luz, as dez sefirot emanam de forma sucessiva e em ordem
específica. É através destas que D'us - por sua vontade - limita Sua Luz e
manifesta qualidades específicas que Suas criaturas podem apreender e absorver.
De uma forma simplificada, no decorrer do processo de emanação das sefirot são criados
cinco universos paralelos - olamot, quase todos espirituais em sua essência. O
primeiro Adam Kadmon é completamente ligado e unido ao Ein Sof, na realidade
não poderia ser chamado de universo. Segue-se o Atzilut, o mundo da emanação;
Beriyá, da criação, Yetzirá, da formação, e, por último, Assiyá, o mundo da
ação no qual vivemos. As Dez Emanações Divinas. Apesar de D'us ter-Se
"ocultado", continua intimamente conectado à Sua Criação, pois sem
Ele nada existe. Como vimos, agindo como um canal de ligação entre D'us e Sua
Criação, as sefirot permitem a D'us , Infinito e Ilimitado, interagir com Sua
Criação, finita e limitada. É através destas que o Ser Absoluto se revela e se
conecta com Sua Criação. A simples relação de seus nomes não vai transmitir adequadamente
sua essência. Além disso, temos que ter em mente que as imagens e símbolos são
usados apenas para nossa compreensão, pois não expressam o mistério da Criação
e tem que ter cuidado ao abstrair os conceitos. A configuração gráfica das
sefirot, em textos cabalísticos, é uma composição vertical ao longo de três
eixos paralelos. Textos cabalísticos usam vários nomes quando referem-se à
mesma: uma árvore (etz), uma escada (sulam) ou a "imagem celestial de
D´us" - (tzelem Elokim). Neste caso a configuração lembra um corpo humano.
Segue-se a ordem de emanação das sefirot: Keter, coroa - representa a
onipotência e onipresença de D'us; a Vontade Divina Absoluta; a Soberania e
Autoridade de D'us sobre todas as forças da Criação. É a primeira e mais
elevada das sefirot e está além de qualquer compreensão. De tão inexprimível,
às vezes nem é incluída entre as dez sefirot. É a mais próxima da Fonte Divina,
é a base de toda a Criação. Keter transcende as leis que governam o universo,
pois estas só passam a existir após a emanação das sefirot de Chochmá e Biná. A
Cabalá refere-se a esta sefirá como o "mundo da Misericórdia".
Chochmá, sabedoria - é o pensamento puro que D'us utiliza para o funcionamento
do universo. É o poder da Luz Original, a força primordial usada para criar os
céus e a terra. Chochmá é a inspiração inicial da qual o Cosmo evoluiu. É vista
como "a planta" usada para a criação do universo físico e espiritual,
pois contém - potencialmente - todas as leis que vão reger a Criação e os axiomas
que determinam como estas leis funcionam. É a raiz dos elementos espirituais:
fogo, água, terra e ar. Sua essência é também incompreensível para nós. Biná,
entendimento, a compreensão, a lógica. Com sua emanação, é criado o sistema
lógico pelo qual os axiomas de Chochmá são delineados e definidos. É através da
Biná que podemos começar a entender os axiomas tanto da Criação quanto do nosso
próprio ser. Da'at, conhecimento; a "lógica aplicada" de modo
diferente das duas anteriores. Não é apenas o acúmulo, mas também a soma de
tudo o que é conhecido. É a capacidade de juntar as informações básicas e
fazê-las funcionar logicamente. Quando Keter se manifesta, D'aat se oculta, já
que são manifestações interna e externa, respectivamente, da mesma força.
Chessed, graça, amor e bondade que nos beneficiam; a grandeza (Guedulá) do
amor. Esta sefirá representa o dar incondicional, o altruísmo, o impulso
incontrolável de expansão. É D'us dando-se às Suas criaturas de forma
irrestrita, abrindo todas as portas da Sua Abundância. D'us usou este atributo
como o instrumento supremo no processo da Criação. Guevurá - poder, justiça, o
julgamento severo (Din); as forças para disciplinar a criação. Guevurá
representa a contração, a restrição, a criação de barreiras. A
"autolimitação" Divina foi indispensável para a criação do Cosmo. A
Cabalá se refere a esta como midat hadin, a medida ou atributo do julgamento,
do rigor. Esta sefirá direciona a energia espiritual para atingir uma meta
específica. É a força que permite o controle para podermos vencer tanto nossos
inimigos internos quanto os externos. Tiferet, beleza, no sentido da harmonia.
É a combinação da harmonia e da verdade, dando espaço para a compaixão. Esta
sefirá está associada com o poder de conciliar as inclinações conflitantes de Chessed
e Guevurá, para que haja compaixão. Na Cabalá é designada como midat
harachamim, "o atributo da misericórdia". A alma do homem emana desta
sefirá pela união desta qualidade com Malchut, o corpo. Netzach, vitória,
eternidade, resistência. Esta sefirá representa a imposição Divina. É o
domínio, a conquista ou a capacidade de vencer. Representa o motivo primeiro da
Criação: a capacidade de vencer o mal. Hod, esplendor, empatia. Esta sefirá
permite que o poder e energia repassados sejam apropriados e aceitáveis a quem
os recebe. É responsável pela criação dentro de uma relação do espaço deixado
para o outro. A qualidade espiritual de Hod salienta o atributo da humildade e
reconhecimento. Hod representa também a submissão que permite a existência do
mal. Yesod, fundação; alicerce representa a reciprocidade ideal numa relação. É
o meio de comunicação, o veículo de transporte de uma condição para outra.
Representa o lugar do prazer espiritual e físico; o vínculo mais poderoso que
pode existir entre dois indivíduos, assim como entre o homem e D'us: a aliança
entre D'us e Israel: o Brit Milá. Malchut, reinado. É a Schechiná, o aspecto
imanente de D'us neste mundo. É o mundo revelado onde o potencial latente é
concretizado. É o poder que D'us nos deu de receber Dele. Como símbolo do
receber, esta sefirá é caracterizada como aquela que não tem nada próprio. É um
keli, um mero recipiente. Malchut é o último elemento de uma corrente que se
inicia na Vontade Divina e encontra sua realização neste mundo. Aquele que recebe
pode dar de volta, tornando-se além de receptor, um doador. As sefirot são
refletidas no homem e desta forma o homem compartilha o Divino. A pessoa que
somos é determinada pelas sefirot no mundo da ação, pois são as bases de nossa
personalidade individual. O "cabo condutor" ou o canal através do
qual estas se manifestam, é a nossa alma. www.morasha.com.br.
Abraço. Davi.
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