Mitologia.
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Mitologia Universal na visão de Marilu Martinelli. II. MITOLOGIA IORUBÁ – UM
ENCONTRO COM A ALMA DA MÃE ÁFRICA. IFÁ
É o orixá oculto e imanifesto, dotado do poder
divinatório mais sagrado da tradição iorubá. Ifá representa o mistério da vida
e da morte, o transmissor dos desígnios do universo. Ele é a expressão da
vontade de Olodumare, o deus único e supremo.
Ressaltar que a arte divinatória do
jogo de búzios é um atributo da Yalorixá; e o opelê (rosário divinatório) é atributo
do Babalaô. No Brasil essa diferenciação não é respeitada.
EXU ELEGBARÁ.
Seu veículo para se comunicar é o “opelê”, um tipo de rosário feito de sementes
a ele consagradas, que lançadas ao solo configuram as infinitas maneiras da
vida se apresentar e evoluir. Os “odus”, como são chamados os 16 fundamentos e
configurações básicos, nos quais o babalaô lê as conjunções que correspondem ao
momento de vida do consulente, funcionam vibracionalmente. Essas informações
atuam no inconsciente do consulente sem interferência do intelecto. Na África,
o babalaô permanece fiel à tradição ancestral, e confia na linguagem silenciosa
dos símbolos, na geometria sagrada, sem interferir. No Brasil, o babalaô ou a
Yalorixá decifra os sinais e indica ao consulente as potencialidades,
orientando-o como agir. Ifá,
assim como Olodumare, também não incorpora no adepto, mas é reverenciado como o
porta voz de Olodumare e portador dos versos ancestrais da tradição. Os versos
de Ifá contêm os mitos e as lendas que encerram princípios e os ensinamentos
transmitidos oralmente: são os fundamentos e valores milenares. Eles constituem
o livro de sabedoria desta tradição, que é basicamente oral. É interessante
Esse orixá ganhou no Brasil uma versão totalmente
distorcida pelos colonizadores católicos e catequistas jesuítas. E hoje em dia,
devido a isso e ao desconhecimento da tradição pela maioria da população, quer
seja negra quer seja branca, ele é visto como a personificação do mal e da
perversidade, mesmo entre adeptos de seitas formadas pelo sincretismo
afro-brasileiro. Para
algumas seitas de origem africana e aculturadas, Exu não é um orixá. Os exus
para elas são espíritos sem luz, muito presos às sensações, que atuam para o
bem ou para o mal mediante uma paga. Atualmente, algumas correntes do
cristianismo neopentecostal enfatizam esta versão, o que contribui para
alimentar o engano e a distorção do mito. Trata-se de um enorme equívoco,
porque para os iorubás não existe a concepção do diabo, a personificação do
mal; não existe a figura antropomórfica do mal, uma força externa a quem
imputar as tentações, erros e malfeitos.
Exu é o orixá da dualidade na manifestação
da vida; certo e errado, dia e noite, homem e mulher, bem e mal, ou seja, a
bipolaridade de modo geral. Como o Hermes grego e o Mercúrio romano, ele faz a
ligação entre o mundo material e o mundo espiritual; é o guardião dos templos,
das cidades, das encruzilhadas, das casas e das pessoas. No candomblé, é o
primeiro orixá a ser homenageado nas cerimônias do “xirê”. Ele é invocado para
que neutralize eventuais mal-entendidos entre os adeptos e perturbações
energéticas de modo geral. Os missionários cristãos o identificaram com o
diabo em razão da sua representação como um homem nu exibindo um respeitável
falo ereto, ou como um cupinzeiro brotando do solo representando o órgão sexual
masculino. Ele representa a fartura, a prosperidade, a flexibilidade, a
sedução, a fertilidade, a criatividade, argúcia, e a sexualidade. Para os
iorubás é fundamental casar e ter filhos, e o falo masculino é visto como a
sementeira, a fonte da descendência, da procriação e do fogo das paixões. Execrar Exú é partir
a espinha dorsal do povo iorubá, e sua concepção livre e alegre da vida. Para
Exu pede-se a interferência nas coisas materiais, porque ele sabe lidar com as
peças que constituem o jogo da vida e sabe ampliar o leque das possibilidades.
Este orixá está além do bem e do mal, das perdas e ganhos, é uma força amoral,
um potencial inesgotável de energia que pode ser utilizada segundo o nível de
consciência dos homens. Exu revela que a moralidade não está sujeita à
divindade, mas às escolhas humanas e suas consequências. Para os iorubás, a
ética depende da qualidade do caráter dos homens e se exterioriza nas suas
intenções e ações. Exu
é o mais complexo e contraditório de todos os orixás, tem virtudes e defeitos,
e como os humanos está sempre exercitando as oscilações entre o bem e o mal.
Pode fazer o bem quando solicitado, assim como pode pregar peças e até
eventualmente fazer o mal. Exu ensina que tudo na vida tem seu valor e seu
preço no jogo de perdas e ganhos. Este orixá é uma força que atua de acordo com
a consciência do adepto, e o resultado e a ressonância das ações é
responsabilidade de quem recorrer a Exu. Nele está o princípio da comunicação;
ele retrata nossa dualidade interior, e rege o uso da energia vital, o corpo
dos desejos, emoções e sensações. Exú abre caminhos, derruba barreiras e cria
novas ordens. Seu
mito diz que ele veio ao mundo munido de um bastão em forma de falo (“ogó”),
que tem a propriedade de transportá-lo para onde quiser em instantes. Exu é o
orixá que revela que do caos surge a ordem, e tem função reguladora no cosmos.
É o orixá que atua como fiel da balança entre as forças de construção e de
destruição. A redenção de Exu é a verdadeira abolição da escravatura de uma
raça e de uma cultura. Livrar Exu da falsa imagem demoníaca e conhecer seu real
significado mítico é um passo fundamental para a superação dos preconceitos
raciais, sociais e religiosos em relação aos adeptos da tradição iorubá e
principalmente aos afrodescendentes no Brasil.
O
Mito
Existem mitos que apresentam Exu como filho de Oxum
criado por partenogênese, sem intervenção masculina, e que teria recebido o axé
(poder) de todos os demais orixás. Este mito diz que Olodumare enviou 16 orixás
para criar a vida na Terra, 15 homens e uma mulher. Os orixás masculinos
boicotaram as ações do único orixá feminino entre eles e por isso, a deusa se
retira da Terra. O resultado da sua saída foi fome, miséria, seca, esterilidade
e sofrimento. Desesperados, os orixás vão até Olodumare e narram a situação.
Olodumare diz que sem a deusa, o princípio feminino, nada se movimentaria nem
floresceria, e que eles deviam convencer Oxum a voltar para a Terra. Então,
eles foram até a deusa e imploraram que voltasse. Relutante, ela aceitou,
impondo uma condição: todos eles deveriam depositar seus “axés” em seu ventre;
seu filho seria filho de todos eles e detentor dos seus poderes. Os demais
orixás masculinos obedeceram e Oxum gestou e deu à luz Exu. Outro mito o
apresenta como filho de Yemanjá e Oxalá. As narrativas variam de acordo com a
região da África. Seu domínio está em toda parte, mas as oferendas são feitas
em encruzilhadas e porteiras, porque Exú é o orixá que indica caminhos e
ultrapassa os obstáculos, as demandas e dificuldades de optar, criar e
realizar. O seu elemento é o fogo, a comida a ele oferecida é a farofa de dendê
e os animais consagrados são o galo preto e o bode preto. Suas cores são o
preto (que representa a soma de todas as cores na matéria, as trevas de onde
nasce a luz) e o vermelho (que representa o fluido vital, o sangue e o movimento,
a ação). O dia da semana dedicado a Exu é segunda-feira. Sua saudação: Laroiê!
Exu ê Mogibá.
Iemanjá, a Deusa-Matriz da Criação
Iemanjá, cujo nome deriva de “Yèyé Omo ejá” (Mãe de
todos os peixes), é a Grande Mãe do povo Egbá. Na África, os Egbá formam uma
nação de idioma iorubá que vivia outrora numa região entre Ifé e Ibadan. Nessa
região, Iemanjá era adorada como o orixá padroeiro, e na natureza seu santuário
era o rio Yemojá, local sagrado para seus fiéis, onde seu “axé” se assentava e emanava
mais fortemente. Dali seu poder se espalhava por toda parte, isto porque o rio,
quando desaguava no mar, levava o Axé de Iemanjá para os oceanos e irradiava o
poder da deusa por todo o planeta.
Depois, em razão de guerras tribais,
esse povo imigrou para Abeokutá, e como não podiam transportar o rio consigo,
levaram areia, cristais, seixos e outros objetos sagrados que ele continha em
seu leito. Carregaram tudo o que significava suporte do axé (energia, poder) da
sua deusa. O axé que transportaram eles transferiram para o leito do rio Ogun
(não confundir com o orixá que tem o mesmo nome) que atravessa Abeokutá, o
qual, desde então, para eles é a morada local de Iemanjá. Todos os anos os
fiéis africanos recolhem em jarras brancas as águas sagradas desse rio para
banhar-se e lavar o lugar onde está o assentamento na terra do axé da deusa.
Esse lugar é o templo a ela dedicado na vastidão da natureza. Depois eles vão
até uma fonte e enchem jarras; feito isto, seguem em procissão ao encontro de
outros fiéis que carregam estátuas de madeira representando Iemanjá como uma
linda mulher, e tocam tambores e outros instrumentos de percussão, dançando e
saudando aquela que para eles é a deusa-matriz da criação. O cortejo se dirige
à cidade e segue abençoando os moradores pelo caminho. O povo nas ruas saúda a
deusa com reverência e fervor, enquanto a procissão continua indo em direção ao
local onde a esperam as autoridades locais. Para os fiéis devotos de Iemanjá,
nesse dia a deusa oferece uma emanação abundante de bênçãos sobre a humanidade.
Iemanjá no Brasil
Quando os iorubás vieram para o novo mundo, Iemanjá
se tornou objeto de grande adoração principalmente no Brasil e em Cuba.
O culto a Iemanjá é muito forte entre brasileiros e cubanos
afro-descendentes ou não, e os adeptos da tradição a reverenciam como a mãe de
todos os Orixás, o princípio feminino gerador de vida, da beleza, da abundância
e da mutabilidade. Pode-se
dizer que Iemanjá é o orixá mais popular no Brasil. Tanto na África quanto no
Brasil e em Cuba, ela representa o poder das águas como berçário da vida.
Iemanjá é reverenciada como o generoso e fértil útero do planeta, e também é
venerada como a Grande Mãe. O mar é o sagrado colo da deusa, que nutre e embala
seus filhos no berço das ondas do mar. Iemanjá é o orixá que atua na natureza
como a força que dá forma e anima a matéria, e que transforma energia material
em espiritual, e a espiritual em cósmica, e do éter manifesta a vida primordial
nas águas oceânicas. Iemanjá tem sob seu comando todos os elementais das águas
salgadas.
Aspectos
de Iemanjá
Na Bahia, os iniciados no candomblé dizem que há
sete aspectos de Iemanjá: Iemowô,
a esposa de Oxalá. Iamassê,
a mãe de Xangô. Ewá,
a mãe do mistério das águas profundas das regiões abissais. Olossá, a senhora da
lagoa africana na qual deságuam os rios de Abeokutá. Iemanjá Ogunté,
casada com Ogun Alagbedé (para alguns ela seria a mãe de Ogun). Iemanjá Assabá, a
fiandeira que tece os fios da trama da vida.
Iemanjá Assessu, a deusa que rege tanto
as águas doces como as águas salgadas, uma energia feminina indomável, o
aspecto mais misterioso e poderoso desse orixá.
Representação de Iemanjá
A representação desse orixá na África é uma mulher
madura, de grande beleza, dotada de formas voluptuosas e seios fartos. Para
eles, dos seios generosos de Iemanjá jorra a água da vida. Aqui no Brasil ela é
representada como uma linda e jovem mulher com cabelos negros e longos,
portando uma tiara na cabeça, com muitas pérolas adornando seus cabelos, mãos e
colo. Nas estátuas e gravuras, ela está usando sempre um vestido azul claro
salpicado de estrelas e peixinhos dourados; o vestido desenha suas formas
sinuosas. Iemanjá
é uma energia feminina portadora de beleza, mistério, amor, sensualidade,
poder, generosidade, abundância, transformações, autoridade e respeito. É uma
mãe amorosa, zelosa e acolhedora, mas firme e disciplinadora ao mesmo tempo.
O
arquétipo
O arquétipo psicológico de Iemanjá é a delicadeza,
a sensibilidade, o refinamento, a beleza, a feminilidade, a força interior, a
imponência, a renovação e a transformação constante. Iemanjá não tolera
desonestidade, maledicência, inveja, mentira, dissimulação e traição. Nessa
tradição, os filhos de cada orixá trazem características dos seus deuses
protetores. Os adeptos consagrados a Iemanjá são belos e imponentes e também
dotados de grande magnetismo e encanto. Eles chamam a atenção de todos por onde
passam. Também são francos e verdadeiros, primam pelo caráter reto e abertura
para o novo e desconhecido. Sejam homens ou mulheres, têm sempre um
comportamento ético, são gentis, delicados no trato, fiéis, amorosos,
refinados, dotados de discernimento e autoconfiança; mas, como o mar,
surpreendem, podendo mudar de ânimo de repente. Seus filhos se irritam quando
contrariados em seus princípios e podem agir intempestivamente.
O dia da semana dedicado a Iemanjá é o sábado. As
suas cores são: branco, prata, azul claro e cor de rosa. Suas filhas, quando
incorporadas, usam roupas luxuosas nas cores branco, azul claro e prata. Na
cabeça portam uma coroa prateada com uma estrela de 5 pontas desenhada em
relevo; dessa coroa pende uma franja feita de contas de cristal branco e azul
que encobre o rosto da iaô. Na mão direita elas carregam um “abebê” prateado
(um tipo de espelho), no qual se olham enquanto dançam movendo os braços e as
cadeiras em movimentos ondulatórios, ora lentos ou rápidos e vigorosos. Sua
dança é solene, majestosa e graciosa. As oferendas de comida são: milho branco
cozido com mel, bolo de arroz com mel. Animais consagrados à deusa: pata,
galinha e cabra, todas brancas. No sincretismo ela é identificada com Nossa
Senhora da Conceição e Nossa Senhora das Candeias, variando de acordo com
algumas regiões do país. Dia 2 de fevereiro é o dia do ano dedicado a Iemanjá,
quando lindos festejos acontecem em todo o Brasil, especialmente em Salvador,
Bahia. No dia 31 de dezembro no Brasil, adeptos ou não costumam levar até o mar
oferendas para Iemanjá. Entram no mar e pulam 7 ondas antes de oferecer flores
brancas, perfumes, espelhos e adereços à deusa, para que ela os abençoe com
saúde, amor e prosperidade. As casas de candomblé e de umbanda se reúnem numa
grande festa coletiva para saudar a deusa Iemanjá, a rainha do mar. A saudação feita a
esse orixá é: Odôiá! E Odô-Ífé-Iabá!
O
Mito de Iemanjá
São muitas as lendas sobre ela. Dentre tantas,
existe uma nos versos de Ifá que diz: Iemanjá era uma princesa muito linda e
querida por seu pai, o poderoso senhor das profundezas dos oceanos Olokun. O
rei, zeloso de sua filha, queria para ela o melhor. Quando apareceu Orumilá,
senhor das adivinhações, como pretendente à sua mão, Olokun concedeu de
imediato, e esse foi o primeiro marido dela. Separou-se de Orumilá devido seu
temperamento inconstante e depois se casou com Olofin, rei de Ifé, com quem
teve 10 filhos. Porém, ela não tem paradeiro, está sempre em transformação, e
cansada de sua permanência em Ifé, foge. Olokun, seu pai, sabendo do seu
temperamento mutante e voluntarioso, havia entregue a ela, por medida de
precaução, uma garrafa com um preparado, recomendando-lhe que, se encontrasse
em enorme perigo, quebrasse a garrafa no chão.
Ela, na fuga, encaminhou-se para o entardecer
da Terra, o oeste. Olofin-Odudua mandou o seu exército atrás dela. Quando
Iemanjá se viu cercada, quebrou a garrafa e um rio criou-se imediatamente,
envolvendo-a e carregando-a cuidadosamente até o oceano para junto de seu pai
Olokun, de onde ela nunca mais saiu.
Iemanjá dança eternamente nas águas do
mar mostrando sua beleza, fascinando homens e mulheres e fornecendo fartura de
pesca aos homens do mar. É também a deusa do amor e do encantamento. Como
senhora das águas, segue sempre em movimento, transformando e purificando
nossas águas interiores, harmonizando nossas emoções e protegendo seus filhos e
desenhando novos caminhos no corpo da Mãe Terra pela vida afora.
Iansã, a Deusa dos Ventos e das Tempestades
Oyá- Iansã é o orixá que expressa o destemor, o
poder de iniciativa, a paixão e a força inovadora do feminino. Esse orixá, na
África, tem seu axé localizado no rio Níger, e se espalha pelos seus nove
afluentes. O número 9 é ligado a Iansã por esta razão. Iansã representa o
feminino na sua capacidade de enfrentar adversidades, de ter liberdade de
expressão e de decidir o próprio destino. É o princípio feminino transgressor,
portanto é capaz de ousar, romper padrões estabelecidos e apontar novos
caminhos; é a deusa cuja energia rompe convenções e costumes. Iansã é também
chamada a grande guerreira do amor porque Xangô, seu marido muito amado, tinha
grande afinidade com ela, e por isso respeitava seus dons de guerreira, a ponto
de confiar à esposa missões de guerra.
Conta uma lenda que certa vez Xangô
mandou que Oyá fosse até a terra dos “baribas”, com a missão de trazer de lá um
preparado feito pelos sacerdotes desse povo que, quando ingerido, concedia o
poder de lançar chamas pela boca e pelo nariz. Esse era um poder que deveria se
restringir ao rei, mas, Oyá, sempre impetuosa e rebelde, bebeu do preparado, e
se tornou também capaz de cuspir e exalar fogo adquirindo tanto poder quando
seu marido. Oyá
defende o que é justo e luta pela igualdade de direitos de homens e mulheres.
Seu amor por Xangô é tão grande que quando este, depois de ter sido derrotado
no final do seu reinado, abrigou-se nas profundezas da Terra, ela o seguiu
porque não saberia viver sem ele, e os dois deuses permanecem unidos para todo
o sempre. Ela
tem um aspecto chamado Iansã de Igbalé, que tem a capacidade de afastar
espíritos perturbados e perturbadores. Este orixá é o único capaz de afastar os
“eguns” - os espíritos dos mortos, que ainda não têm luz e vagam pelo mundo.
Iansã, com seu poder, impede que eles perturbem os vivos; dançando incorporada
na sua iaô, Iansã os expulsa do ambiente. Dançando, ela os domina, orienta e
encaminha com movimentos rápidos dos braços e com as mãos espalmadas também os
afasta da aura dos fiéis onde eventualmente possam estar alojados. Essa limpeza
ela executa usando seu “iruexim” (um chicote feito de rabo de cavalo ou de
leão, preso a um cabo de osso ou metal). No sincretismo afrobrasileiro ela
é identificada como Santa Bárbara, e também denominada a Rainha dos Raios e
Tempestades (...).
O
Mito
Antes de casar com Xangô, Iansã era mulher de Ogum,
que a amava profundamente. Quando ela conheceu Xangô não resistiu aos seus
olhares sedutores, sua elegância, e beleza; sabendo que Ogum não lhe daria a
liberdade, fugiu com Xangô, despertando a ira e a revolta de Ogum. Xangô também
tinha se apaixonado por ela perdidamente, mas por ser justo, foi pedir perdão
pela fraqueza que não permitiu que ele resistisse ao seu sentimento, e por ter
ofendido Ogum prostrou-se aos pés de Olodumare, (deus supremo). Este, chamou
Ogum e aconselhou-o a perdoar os amantes, porque como ele deveria saber, o
coração é soberano, e portanto deveria aceitar o irremediável, compreender e
perdoar o casal. Ogum
não conseguiu superar seu ressentimento e perseguiu os apaixonados até
encontrar Oyá-Iansã e lutar com ela. Na luta, Ogum derrotou Oyá e dividiu seu
corpo em 9 partes, que se tornaram os afluentes do rio Níger. Conta outra lenda que
Iansã é responsável pelo sucesso da semeadura nas lavouras. Na época da
semeadura, a deusa com sua dança frenética roda sua saia e assim movimenta os
ventos, renova o ar e garante a sobrevivência das pessoas, espalhando sementes
pelo solo. Ela é a deusa e senhora dos ventos, das chuvas e das tempestades.
O
Arquétipo
Iansã simboliza a intrepidez, a independência, o
destemor e a autonomia da mulher. Suas filhas são audaciosas,
autoritárias, corajosas e indomáveis. São extremamente fiéis quando amam, são
devotadas e demonstram lealdade absoluta, porém quando contrariadas são
impulsivas, não levam desaforo para casa, podem perder o controle das emoções
com facilidade. Adoram desafios e não temem o novo e desconhecido. Os
protegidos de Iansã, sejam homens ou mulheres, são atraentes, sensuais e
voluptuosos, e também ciumentos, vaidosos e voluntariosos. O elemento de
Oyá-Iansã é o ar, os ventos. Ela tem domínio sobre as chuvas e as energias
telúricas. E como Igbalé, domina as almas errantes e as conduz no caminho da
evolução. Sua cor é o vermelho e quando seus filhos e filhas a incorporam, usam
roupas vermelhas e uma coroa de metal dourado com franja formada de contas de
cristal vermelho encobrindo o rosto; no pescoço usam colares da mesma cor.
Algumas “yaôs” usam numa das mãos uma pequena espada, lembrando o aspecto
guerreiro do orixá e na outra mão o “iruechim”, o chicote ou rabo de cavalo,
símbolo de poder. As comidas oferecidas a Iansã são o acarajé e o “amalá” de 14
quiabos. Os animais que lhe são consagrados são a cabra e a galinha. A saudação
é Epahei Oyá!
Logunedé, o Orixá Hermafrodita
Este orixá é hoje em dia pouco cultuado na África,
mas no Brasil tem inúmeros adeptos. Logunedé, filho de Oxum e Oxossi Erinlé, é
o orixá hermafrodita. Durante seis meses do ano é masculino, nesse período ele
vive na terra, e seu habitat é na floresta caçando como seu pai; durante os
outros seis meses ele é feminino, e vive nos rios e cachoeiras como sua mãe. A
cada seis meses ele muda de sexo, seis meses se apresenta como homem e nos
outros seis meses como mulher. Logunedé representa a integração da razão e da
sensibilidade, a complementaridade, o masculino e o feminino, as
polaridades em harmonia. Um dos seus símbolos mais fortes é o cavalo
marinho. O cavalo marinho é metade cavalo e metade sereia e é uma espécie que
tem um comportamento muito peculiar. A fêmea põe os ovos e estes depois de
inseminados pelo parceiro são colocados num lugar preparado pelo macho onde
ficam por determinado tempo de maturação, quando passam para o ventre paterno e
lá ficam durante toda a gestação. A fêmea visita o macho apenas uma vez na
semana durante esse período. Quem dá à luz é o macho sozinho, sem a
participação da mãe e é ele quem cuida dos filhotes enquanto ela provê
alimento; depois ambos se reúnem e liberam a cria para a vida.
O Mito
Logunedé é fruto do amor de Oxum e Oxossi e
simboliza o casamento perfeito das polaridades masculina e feminina. Ele é a
integração e superação dos opostos que passam a ser, por sua intervenção
energética, complementares e acolhidos pelo orixá, sem predominância desse ou
daquele gênero. Ele promove a harmonia entre os diferentes e demonstra a
unidade original existente em todas as espécies.
Arquétipo
Os filhos e “eleguns” de Logunedé são
autossuficientes, exigentes na escolha dos parceiros e demoram para eleger
alguém e se casar, e quando o fazem dificilmente o casamento dá certo, embora
sejam ótimos pais e mães e companheiros solidários mesmo depois de separados.
São vaidosos, criativos, ágeis, audaciosos, elegantes e altivos. Têm o dom de
compatibilizar o aparentemente incompatível; são dotados de muita lucidez,
argumentam com muita propriedade e sabem lidar com o inesperado, inusitado e
surpreendente. Quando incorporado no seu “egungun” esse orixá dança com muita
graça, e os passos são a mistura das características de Oxum e de Oxossi. Nas
mãos, usa os objetos representativos de ambos. Ele rege a criatividade, o novo
e a capacidade de realização. Seus elementos são a mata e as florestas e também
as águas doces e cachoeiras. O seu domínio está na caça e na pesca de peixes de
água doce. Suas cores são azul, branco e amarelo ouro. As oferendas de comidas
são as mesmas de Oxossi e de Oxum. O animal a ele consagrado é o “odá” uma
espécie de bode castrado. No
novo mundo ele não foi sincretizado.
A saudação é: Logun, Orikí! www.mitologiacomentada.blogspot.com.br.
Abraço. Davi
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