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Texto de Allan Kardec (1804-1869). I. DA INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO
CORPORAL. 1. Veem os Espíritos tudo o que fazemos? “Podem ver, pois que
constantemente vos rodeiam. Cada um, porém, só vê aquilo a que dá atenção. Não
se ocupam com o que lhes é indiferente”. 2. Podem os Espíritos conhecer os nossos
mais secretos pensamentos? “Muitas vezes chegam a conhecer o que
desejaríeis ocultar de vós mesmos. Nem atos, nem pensamentos se lhes podem
dissimular”. a) Assim, mais fácil nos seria ocultar de uma pessoa viva qualquer
coisa, do que a esconder dessa mesma pessoa depois de morta? “Certamente.
Quando vos julgais muito ocultos, é comum terdes ao vosso lado uma multidão de
Espíritos que vos observam.” 3. Que pensam de nós os Espíritos que nos
cercam e observam? “Depende. Os levianos riem das pequenas partidas que
vos pregam e zombam das vossas impaciências. Os Espíritos sérios se condoem dos
vossos reveses e procuram ajudar-vos.” Influência oculta dos Espíritos em
nossos pensamentos e atos." 4. Influem os Espíritos em nossos
pensamentos e em nossos atos? “Muito mais do que imaginais. Influem a
tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.” 5. De par com os
pensamentos, que são nos próprios, outros haverá que nos sejam sugeridos? “Vossa
alma é um Espírito que pensa. Não ignorais que, frequentemente, muitos
pensamentos vos acodem a um tempo sobre o mesmo assunto, não raro, contrários
uns dos outros. Pois bem! No conjunto deles, estão sempre de mistura os vossos
com os nossos. Daí a incerteza em que vos vedes. É que tendes em vós duas
ideias a se combaterem.” 6. Como havemos de distinguir os pensamentos que
são nos próprios dos que são nos sugeridos? “Quando um pensamento vos é
sugerido, tendes a impressão de que alguém vos fala. Geralmente, os pensamentos
próprios são os que acodem em primeiro lugar. Afinal, não vos é de grande
interesse estabelecer essa distinção. Muitas vezes, é útil que não saibais
fazê-la. Não a fazendo, obra o homem com mais liberdade. Se se decide pelo bem,
é voluntariamente que o pratica; se toma o mau caminho, maior será a sua
responsabilidade.”
7. É sempre de dentro
de si mesmos que os homens inteligentes e de gênio tiram suas ideias? “Algumas
vezes, elas lhes vêm do seu próprio Espírito, porém, de outras muitas, lhes são
sugeridas por Espíritos que os julgam capazes de compreendê-las e dignos de
vulgarizá-las. Quando tais homens não as acham em si mesmos, apelam para a
inspiração. Fazem assim, sem o suspeitarem, uma verdadeira evocação.” Se fora
útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos pensamentos próprios dos
que nos são sugeridos, Deus nos houvera proporcionado os meios de o
conseguirmos, como nos concedeu o de diferençarmos o dia da noite. Quando uma
coisa se conserva imprecisa, é que convém assim aconteça. 8. Diz-se comumente ser
sempre bom o primeiro impulso. É exato? “Pode ser bom, ou mal,
conforme a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom naquele que atende às
boas inspirações.” 464. Como distinguirmos se um pensamento sugerido procede de
um bom Espírito ou de um Espírito mau? “Estudai o caso. Os bons Espíritos só
para o bem aconselham. Compete-vos discernir.” 9. Com que fim os
Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal? “Para que sofrais como eles
sofrem.” a) - E isso lhes diminui os sofrimentos? “Não; mas fazem-no por
inveja, por não poderem suportar que haja seres felizes.” b) - De que natureza
é o sofrimento que procuram infligir aos outros? “Os que resultam de ser de
ordem inferior a criatura e de estar afastada de Deus.” 10. Por que permite
Deus que Espíritos nos excitem ao mal? “Os Espíritos imperfeitos são
instrumentos próprios a pôr em prova a fé e a constância dos homens na prática
do bem. Como Espírito que és, tens que progredir na ciência do infinito. Daí o
passares pelas provas do mal, para chegares ao bem. A nossa missão consiste em
te colocarmos no bom caminho. Desde que sobre ti atuam influências más, é que
as atrais, desejando o mal; porquanto os Espíritos inferiores correm a te
auxiliar no mal, logo que desejes praticá-lo. Só quando queiras o mal, podem
eles ajudar-te para a prática do mal. Se fores propenso ao assassínio, terás em
torno de ti uma nuvem de Espíritos a te alimentarem no íntimo esse pendor. Mas
outros também te cercarão, esforçando-se por te influenciarem para o bem, o que
restabelece o equilíbrio da balança e te deixa senhor dos teus atos.” É assim
que Deus confia à nossa consciência a escolha do caminho que devamos seguir e a
liberdade de ceder a uma ou outra das influências contrárias que se exercem
sobre nós."
11. Pode o homem
eximir-se da influência dos Espíritos que procuram arrastá-lo ao mal? “Pode,
visto que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam,
ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem.” 12. Renunciam às suas
tentativas os Espíritos cuja influência a vontade do homem repele? “Que
querias que fizessem? Quando nada conseguem, abandonam o campo. Entretanto,
ficam à espreita de um momento propício, como o gato que tocaia o rato.” 13. Por que meio
podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos? “Praticando o bem
e pondo em Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos Espíritos
inferiores e aniquilareis o império que desejam ter sobre vós. Guardai-vos de
atender às sugestões dos Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que sopram
a discórdia entre vós outros e que vos insuflam as paixões más. Desconfiai
especialmente dos que vos exaltam o orgulho, pois que esses vos assaltam pelo
lado fraco. Essa a razão por que Jesus, na oração dominical, vos ensinou a
dizer: “Senhor! Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.” 14. Os Espíritos, que
ao mal procuram induzir-nos e que põem assim em prova a nossa firmeza no bem,
procedem desse modo cumprindo missão? E, se assim for, cabe-lhes alguma
responsabilidade? “A nenhum Espírito é dada a missão de praticar o mal.
Aquele que o faz fá-lo por conta própria, sujeitando-se, portanto, às
consequências. Pode Deus permitir-lhe que assim proceda, para vos experimentar;
nunca, porém, lhe determina tal procedimento. Compete-vos, pois repeti-lo.” 15. Quando
experimentamos uma sensação de angústia, de ansiedade indefinível, ou de íntima
satisfação, sem que lhe conheçamos a causa, devemos atribuí-la unicamente a uma
disposição física? “É quase sempre efeito das comunicações em que
inconscientemente entrais com os Espíritos, ou da que com elas tivestes durante
o sono.”
16. Os Espíritos que
procuram atrair-nos para o mal se limitam a aproveitar as circunstâncias em que
nos achamos, ou podem também criá-las? “Aproveitam as circunstâncias
ocorrentes, mas também costumam criá-las, impelindo-vos, mau grado vosso, para
aquilo que cobiçais. Assim, por exemplo, encontra um homem, no seu caminho,
certa quantia. Não penses tenham sido os Espíritos que a trouxeram para ali.
Mas, eles podem inspirar ao homem a ideia de tomar aquela direção e sugerir-lhe
depois a de se apoderar da importância achada, enquanto outros lhe sugerem a de
restituir o dinheiro ao seu legítimo dono. O mesmo se dá com relação a todas as
demais tentações.”
17. Pode um Espírito
tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é,
introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado
neste corpo? “O Espírito não entra em um corpo como entras numa casa.
Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os
mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é
sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um
Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá
que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência
material.”
18. Desde que não há
possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo
corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar
subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa
maneira, paralisada? “Sem dúvida, e são esses os verdadeiros possessos.
Mas, é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que
a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos
epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos, têm
sido tomados por possessos.” O vocábulo possesso, na sua acepção vulgar, supõe
a existência de demônios, isto é, de uma categoria de seres maus por natureza,
e a coabitação de um desses seres com a alma de um indivíduo, no seu corpo.
Pois que, nesse sentido, não há demônios e que dois Espíritos não podem habitar
simultaneamente o mesmo corpo, não há possessos na conformidade da ideia a que
esta palavra se acha associada. O termo possesso só se deve admitir como
exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se com relação a
Espíritos imperfeitos que a subjuguem. 19. Pode alguém por si mesmo afastar os
maus Espíritos e libertar-se da dominação deles? “Sempre é possível, a quem
quer que seja, subtrair-se a um jugo, desde que com vontade firme o queira.” 20. Mas, não pode
acontecer que a fascinação exercida pelo mau Espírito seja de tal ordem que o
subjugado não a perceba? Sendo assim, poderá uma terceira pessoa fazer que
cesse a sujeição da outra? E, nesse caso, qual deve ser a condição dessa
terceira pessoa? “Sendo ela um homem de bem, a sua vontade poderá ter
eficácia, desde que apele para o concurso dos bons Espíritos, porque, quanto
mais digna for a pessoa, tanto maior poder terá sobre os Espíritos imperfeitos,
para afastá-los, e sobre os bons, para os atrair. Todavia, nada poderá, se o
que estiver subjugado não lhe prestar o seu concurso. Há pessoas a quem agrada
uma dependência que lhes lisonjeia os gostos e os desejos. Qualquer, porém, que
seja o caso, aquele que não tiver puro o coração nenhuma influência exercerá.
Os bons Espíritos não lhe atendem ao chamado e os maus não o temem.” 21. As fórmulas de
exorcismo têm qualquer eficácia sobre os maus Espíritos? “Não. Estes
últimos riem e se obstinam, quando vêem alguém tomar isso a sério.” 22. Pessoas há,
animadas de boas intenções e que, nada obstante, não deixam de ser obsidiadas.
Qual, então, o melhor meio de nos livrarmos dos Espíritos obsessores? “Cansar-lhes
a paciência, nenhum valor lhes dar às sugestões, mostrar-lhes que perdem o
tempo. Em vendo que nada conseguem, afastam-se.” 23. A prece é meio
eficiente para a cura da obsessão? “A prece é em tudo um poderoso
auxílio. Mas, crede que não basta que alguém murmure algumas palavras, para que
obtenha o que deseja. Deus assiste os que obram, não os que se limitam a pedir.
É, pois, indispensável que o obsidiado faça, por sua parte, o que se torne
necessário para destruir em si mesmo a causa da atração dos maus Espíritos.” 24. Que se deve pensar
da expulsão dos demônios, mencionada no Evangelho? “Depende da
interpretação que se lhe dê. Se chamais demônio ao mau Espírito que subjugue um
indivíduo, desde que se lhe destrua a influência, ele terá sido verdadeiramente
expulso. Se ao demônio atribuirdes a causa de uma enfermidade, quando a
houverdes curado direis com acerto que expulsastes o demônio. Uma coisa pode
ser verdadeira ou falsa, conforme o sentido que empresteis às palavras. As
maiores verdades estão sujeitas a parecer absurdos, uma vez que se atenda
apenas à forma, ou que se considere como realidade a alegoria. Compreendei bem
isto e não o esqueçais nunca, pois que se presta a uma aplicação geral.” 25. Desempenham os
Espíritos algum papel nos fenômenos que se dão com os indivíduos chamados
convulsionários? “Sim e muito importante, bem como o magnetismo, que é
a causa originária de tais fenômenos. O charlatanismo, porém, os tem amiúde
explorado e exagerado, de sorte a lançá-los ao ridículo.” a) De que natureza são,
em geral, os Espíritos que concorrem para a produção desta espécie de
fenômenos? “Pouco elevada. Supondes que Espíritos superiores se deleitem com
tais coisas?”
26. Como é que sucede
estender-se subitamente a toda uma população o estado anormal dos
convulsionários e dos que sofrem de crises nervosas? “Efeito de
simpatia. As disposições morais se comunicam mui facilmente, em certos casos.
Não és tão alheio aos efeitos magnéticos que não compreendas isto e a parte que
alguns Espíritos naturalmente tomam no fato, por simpatia com os que os
provocam.” Entre as singulares faculdades que se notam nos convulsionários,
algumas facilmente se reconhecem, de que numerosos exemplos oferecem o
sonambulismo e o magnetismo, tais como, além de outras, a insensibilidade
física, a leitura do pensamento, a transmissão das dores, por simpatia, etc.
Não há, pois, duvidar de que aqueles em quem tais crises se manifestam estejam numa
espécie de sonambulismo desperto, provocado pela influência que exercem uns
sobre os outros. Eles são ao mesmo tempo magnetizadores e magnetizados,
inconscientemente.
27. Qual a causa da
insensibilidade física que se observa em alguns convulsionários, assim como em
outros indivíduos submetidos às mais atrozes torturas? “Em alguns é,
exclusivamente, efeito do magnetismo que atua sobre o sistema nervoso, do mesmo
modo que certas substâncias. Em outros, a exaltação do pensamento embota a
sensibilidade. Dir-se-ia que nestes a vida se retirou do corpo, para se
concentrar toda no Espírito. Não sabeis que, quando o Espírito está vivamente
preocupado com uma coisa, o corpo nada sente, nada vê e nada ouve?” A exaltação
fanática e o entusiasmo hão proporcionado, em casos de suplícios, múltiplos
exemplos de uma calma e de um sangue frio que não seriam capazes de triunfar de
uma dor aguda, senão admitindo-se que a sensibilidade se acha neutralizada,
como por efeito de um anestésico. Sabe-se que, no ardor da batalha, combatentes
há que não se apercebem de que estão gravemente feridos, ao passo que, em
circunstâncias ordinárias, uma simples arranhadura os poria trêmulos. Visto que
esses fenômenos dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos,
lícito se torna perguntar como há podido uma autoridade pública fazê-los cessar
em alguns casos. Simples a razão. Meramente secundária é aqui a ação dos
Espíritos, que nada mais fazem do que aproveitar-se de uma disposição natural.
A autoridade não suprimiu essa disposição, mas a causa que a entretinha e
exaltava. De ativa que era, passou esta a ser latente. E a autoridade teve
razão para assim proceder, porque do fato resultava abuso e escândalo. Sabe-se,
demais, que semelhante intervenção nenhum poder absolutamente tem, quando a
ação dos Espíritos é direta e espontânea. Afeição que os Espíritos votam a
certas pessoas.
28. Os Espíritos se
afeiçoam de preferência a certas pessoas? “Os bons Espíritos simpatizam com
os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem. Os Espíritos inferiores com
os homens viciosos, ou que podem tornar-se tais. Daí suas afeições, como
consequência da conformidade dos sentimentos.”29. É exclusivamente moral a
afeição que os Espíritos votam a certas pessoas? “A verdadeira afeição
nada tem de carnal; mas, quando um Espírito se apega a uma pessoa, nem sempre o
faz só por afeição. À estima que essa pessoa lhe inspira pode agregar-se das
paixões humanas.”
30. Interessam-se os
Espíritos pelas nossas desgraças e pela nossa prosperidade? Afligem-se os que
nos querem bem com os males que padecemos durante a vida? “Os bons
Espíritos fazem todo o bem que lhes é possível e se sentem ditosos com as
vossas alegrias. Afligem-se com os vossos males, quando os não suportais com
resignação, porque nenhum benefício então tirais deles, assemelhando-vos, em
tais casos, ao doente que rejeita a beberagem amarga que o há de curar.” 31. Dentre os nossos
males, de que natureza são os de que mais se afligem os Espíritos por nossa
causa? Serão os males físicos ou os morais? “O vosso egoísmo e a dureza
dos vossos corações. Daí decorre tudo o mais. Riem-se de todos esses males
imaginários que nascem do orgulho e da ambição. Rejubilam com os que redundam
na abreviação do tempo das vossas provas." Sabendo ser transitória a
vida corporal e que as tribulações que lhe são inerentes constituem meios de
alcançarmos melhor estado, os Espíritos mais se afligem pelos nossos males
devidos a causas de ordem moral, do que pelos nossos sofrimentos físicos, todos
passageiros. Pouco se incomodam com as desgraças que apenas atingem as nossas
ideias mundanas, tal qual fazemos com as mágoas pueris das crianças. Vendo nas
amarguras da vida um meio de nos adiantarmos, os Espíritos as consideram como a
crise ocasional de que resultará a salvação do doente. Compadecem-se dos nossos
sofrimentos, como nos compadecemos dos de um amigo. Porém, enxergando as coisas
de um ponto de vista mais justo, os apreciam de um modo diverso do nosso.
Então, ao passo que os bons nos levantam o ânimo no interesse do nosso futuro,
os outros nos impelem ao desespero, objetivando comprometer-nos. (Allan
Kardec)
32. Os parentes e
amigos, que nos precederam na outra vida, maior simpatia nos votam do que os
Espíritos que nos são estranhos? “Sem dúvida e quase sempre vos
protegem como Espíritos, de acordo com o poder de que dispõem.” a) - São sensíveis à
afeição que lhes conservamos? “Muito sensíveis, mas esquecem-se dos que
os olvidam.”
33. Há Espíritos que se
liguem particularmente a um indivíduo para protegê-lo? “Há o irmão espiritual,
o que chamais o bom Espírito ou o bom gênio.” 34. Que se deve entender por anjo de
guarda ou anjo guardião? “O Espírito protetor, pertencente a uma ordem
elevada.”
35. Qual a missão do
Espírito protetor? “A de um pai com relação aos filhos; a de guiar o
seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas
suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida.” 36. O Espírito protetor
se dedica ao indivíduo desde o seu nascimento? “Desde o nascimento até
a morte e muitas vezes o acompanha na vida espírita, depois da morte, e mesmo
através de muitas existências corpóreas, que mais não são do que fases
curtíssimas da vida do Espírito.” 37. É voluntária ou obrigatória a missão
do Espírito protetor? “O Espírito fica obrigado a vos assistir, uma vez que
aceitou esse encargo. Cabe-lhe, porém, o direito de escolher seres que lhe
sejam simpáticos. Para alguns, é um prazer; para outros, missão ou dever.” a) Dedicando-se a uma
pessoa, renuncia o Espírito a proteger outros indivíduos? “Não; mas
protege-os menos exclusivamente.”38. O Espírito protetor fica fatalmente
preso à criatura confiada à sua guarda? “Frequentemente sucede que
alguns Espíritos deixam suas posições de protetores para desempenhar diversas
missões. Mas, nesse caso, outros os substituem.” 39. Poderá dar-se que o
Espírito protetor abandone o seu protegido, por se lhe mostrar este rebelde aos
conselhos? “Afasta-se, quando vê que seus conselhos são inúteis e que
mais forte é, no seu protegido, a decisão de submeter-se à influência dos
Espíritos inferiores. Mas, não o abandona completamente e sempre se faz ouvir. É então o
homem quem tapa os ouvidos. O protetor volta desde que este o chame. “É uma doutrina, esta,
dos anjos guardiões, que, pelo seu encanto e doçura, devera converter os mais
incrédulos. Não vos parece grandemente consoladora a ideia de terdes sempre
junto de vós seres que vos são superiores, prontos sempre a vos aconselhar e
amparar, a vos ajudar na ascensão da abrupta montanha do bem; mais sinceros e
dedicados amigos do que todos os que mais intimamente se vos liguem na Terra?
Eles se acham ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Deus quem aí os colocou e,
aí permanecendo por amor de Deus, desempenham bela, porém penosa missão. Sim,
onde quer que estejais, estarão convosco. Nem nos cárceres, nem nos hospitais,
nem nos lugares de devassidão, nem na solidão, estais separados desses amigos a
quem não podeis ver, mas cujo brando influxo vossa alma sente, ao mesmo tempo
que lhes ouve os ponderados conselhos. “Ah! se conhecêsseis bem esta verdade!
Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria dos maus
Espíritos! Mas, oh! Quantas vezes, no dia solene, não se verá esse anjo
constrangido a vos observar: “Não te aconselhei isto? Entretanto, não o
fizeste. Não te mostrei o abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar
na tua consciência a voz da verdade? Preferiste, no entanto, seguir os
conselhos da mentira!” Oh! Interrogai os vossos anjos guardiões; estabelecei
entre eles e vós essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos. Não
penseis em lhes ocultar nada, pois que eles têm o olhar de Deus e não podeis
enganá-los. Pensai no futuro; procurai adiantar-vos na vida presente. Assim
fazendo, encurtareis vossas provas e mais felizes tornareis as vossas
existências. Vamos, homens, coragem! De uma vez por todas, lançai para longe
todos os preconceitos e ideias preconcebidas. Entrai na nova senda que diante
dos passos se vos abre. Caminhai! Tendes guias, segui-los, que a meta não vos
pode faltar, porquanto essa meta é o próprio Deus. “Aos que considerem
impossível que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a tarefa tão
laboriosa e de todos os instantes, diremos que nós vos influenciamos as almas,
estando embora muitos milhões de léguas distantes de vós. O espaço, para nós,
nada é, e não obstante viverem noutro mundo, os nossos Espíritos conservam suas
ligações com os vossos. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas
ficai certos de que Deus não nos impôs tarefa superior às nossas forças e de
que não vos deixou sós na Terra, sem amigos e sem amparo. Cada anjo de guarda
tem o seu protegido, pelo qual vela, como o pai pelo filho. Alegra-se, quando o
vê no bom caminho; sofre, quando lhe ele despreza os conselhos. “Não receeis
fatigar-nos com as vossas perguntas. Ao contrário, procurai estar sempre em
relação conosco. Sereis assim mais fortes e mais felizes. São essas
comunicações de cada um com o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns
todos os homens, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e
se espalharão qual oceano sem margens, levando de roldão a incredulidade e a
ignorância. Homens doutos, instruí os vossos semelhantes; homens de talento,
educai os vossos irmãos. Não imaginais que obra fazeis desse modo: a do Cristo,
a que Deus vos impõe. Para que vos outorgou Deus a inteligência e o saber,
senão para o repartirdes com os vossos irmãos, senão para fazerdes que se
adiantem pela senda que conduz à bem-aventurança, à felicidade eterna?” São
Luís, Santo Agostinho. Nada tem de surpreendente a doutrina dos
anjos guardiões, a velarem pelos seus protegidos, mau grado à distância que
medeia entre os mundos. É, ao contrário, grandiosa e sublime. Não vemos na
Terra o pai velar pelo filho, ainda que de muito longe, e auxiliá-lo com seus
conselhos correspondendo-se com ele? Que motivo de espanto haverá, então, em
que os Espíritos possam, de um outro mundo, guiar os que, habitantes da Terra,
eles tomaram sob sua proteção, uma vez que, para eles, a distância que vai de
um mundo a outro é menor do que a que, neste planeta, separa os continentes?
Não dispõem, além disso, do fluido universal, que entrelaça todos os mundos,
tornando-os solidários; veículo imenso da transmissão dos pensamentos, como o
ar é, para nós, o da transmissão do som? (Allan Kardec). 40. O Espírito, que
abandona o seu protegido, que deixa de lhe fazer bem, pode fazer-lhe mal? “Os
bons Espíritos nunca fazem mal. Deixam que o façam aqueles que lhes tomam o
lugar. Costumais então lançar à conta da sorte as desgraças que vos acabrunham,
quando só as sofreis por culpa vossa.” 41. Pode um Espírito protetor deixar o
seu protegido à mercê de outro Espírito que lhe queira fazer mal? “Os
maus Espíritos se unem para neutralizar a ação dos bons. Mas, se o quiser, o
protegido dará toda a força ao seu protetor. Pode acontecer que o bom Espírito
encontre alhures uma boa-vontade a ser auxiliada. Aplica-se então em
auxiliá-la, aguardando que seu protegido lhe volte.” 42. Será por não poder
lutar contra Espíritos maléficos que um Espírito protetor deixa que seu
protegido se transvie na vida? “Não é porque não possa, mas porque não
quer. E não quer, porque das provas sai o seu protegido mais instruído e
perfeito. Assiste-o sempre com seus conselhos, dando-os por meio dos bons
pensamentos que lhe inspira, porém que quase nunca são atendidos. A fraqueza, o
descuido ou o orgulho do homem são exclusivamente o que empresta força aos maus
Espíritos, cujo poder todo advém do fato de lhes não opordes resistência.” 43. O Espírito
protetor está constantemente com o seu protegido? Não haverá alguma
circunstância em que, sem abandoná-lo, ele o perca de vista? “Há
circunstâncias em que não é necessário esteja o Espírito protetor junto do seu
protegido.” 44. Momentos haverá em que o Espírito deixe de precisar, de então por
diante, do seu protetor? “Sim, quando ele atinge o ponto de poder
guiar-se a si mesmo, como sucede ao estudante, para o qual um momento chega em
que não mais precisa de mestre. Isso, porém, não se dá na Terra.” 45. Por que é oculta
a ação dos Espíritos sobre a nossa existência e por que, quando nos protegem,
não o fazem de modo ostensivo? “Se vos fosse dado contar sempre com a
ação deles, não obraríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não progrediria.
para que este possa adiantar-se, precisa de experiência, adquirindo-a
frequentemente à sua custa. É necessário que exercite suas forças, sem o que,
seria como a criança a quem não consentem que ande sozinha. A ação dos
Espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira que não vos tolha o
livre-arbítrio, porquanto, se não tivésseis responsabilidade, não avançaríeis
na senda que vos há de conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o homem se
confia às suas próprias forças. Sobre ele, entretanto, vela o seu guia e, de
tempos a tempos, lhe brada, advertindo-o do perigo.” 46. O Espírito
protetor, que consegue trazer ao bom caminho o seu protegido, lucra algum bem
para si? “Constitui isso um mérito que lhe é levado em conta, seja para
seu progresso, seja para sua felicidade. Sente-se ditoso quando vê bem
sucedidos os seus esforços, o que representa, para ele, um triunfo, como
triunfo é, para um preceptor, os bons êxitos do seu educando.” a) - É
responsável pelo mau resultado de seus esforços? “Não, pois que fez o que de si
dependia.” 47. Sofre o Espírito protetor quando vê que seu protegido segue mau
caminho, não obstante os avisos que dele recebe? Não há aí uma causa de
turbação da sua felicidade? “Compungem-no os erros do seu protegido, a
quem lastima. Tal aflição, porém, não tem analogia com as angústias da
paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal e que o que não
se faz hoje, amanhã se fará.” 48. Poderemos sempre saber o nome do
Espírito nosso protetor, ou anjo de guarda? “Como quereis saber nomes
para vós inexistentes? Supondes que Espíritos só há os que conheceis?” a) - Como então o
podemos invocar, se o não conhecemos? “Dai-lhe o nome que quiserdes, o
de um Espírito superior que vos inspire simpatia ou veneração. O vosso protetor
acudirá ao apelo que com esse nome lhe dirigirdes, visto que todos os bons
Espíritos são irmãos e se assistem mutuamente.” 49. Os protetores,
que dão nomes conhecidos, sempre são, realmente, os Espíritos das
personalidades que tiveram esses nomes? “Não. Muitas vezes, os que os
dão são Espíritos simpáticos aos que de tais nomes usaram na Terra e, a mando
destes, respondem ao vosso chamamento. Fazeis questão de nomes; eles tomam um
que vos inspire confiança. Quando não podeis desempenhar pessoalmente
determinada missão, não costumais mandar que outro, por quem respondeis como
por vós mesmos, obre em vosso nome?”. O Livro dos Espíritos – Capítulo 9 – 2ª
parte. www.institutoandreluiz.org.
Abraço. Davi
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