terça-feira, 23 de julho de 2019

I DA INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS


Espiritismo. www.institutoandreluiz.org. Texto de Allan Kardec (1804-1869). I. DA INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPORAL. 1. Veem os Espíritos tudo o que fazemos? “Podem ver, pois que constantemente vos rodeiam. Cada um, porém, só vê aquilo a que dá atenção. Não se ocupam com o que lhes é indiferente”. 2. Podem os Espíritos conhecer os nossos mais secretos pensamentos? “Muitas vezes chegam a conhecer o que desejaríeis ocultar de vós mesmos. Nem atos, nem pensamentos se lhes podem dissimular”. a) Assim, mais fácil nos seria ocultar de uma pessoa viva qualquer coisa, do que a esconder dessa mesma pessoa depois de morta? “Certamente. Quando vos julgais muito ocultos, é comum terdes ao vosso lado uma multidão de Espíritos que vos observam.” 3. Que pensam de nós os Espíritos que nos cercam e observam? “Depende. Os levianos riem das pequenas partidas que vos pregam e zombam das vossas impaciências. Os Espíritos sérios se condoem dos vossos reveses e procuram ajudar-vos.” Influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos." 4. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.” 5. De par com os pensamentos, que são nos próprios, outros haverá que nos sejam sugeridos? “Vossa alma é um Espírito que pensa. Não ignorais que, frequentemente, muitos pensamentos vos acodem a um tempo sobre o mesmo assunto, não raro, contrários uns dos outros. Pois bem! No conjunto deles, estão sempre de mistura os vossos com os nossos. Daí a incerteza em que vos vedes. É que tendes em vós duas ideias a se combaterem.” 6. Como havemos de distinguir os pensamentos que são nos próprios dos que são nos sugeridos? “Quando um pensamento vos é sugerido, tendes a impressão de que alguém vos fala. Geralmente, os pensamentos próprios são os que acodem em primeiro lugar. Afinal, não vos é de grande interesse estabelecer essa distinção. Muitas vezes, é útil que não saibais fazê-la. Não a fazendo, obra o homem com mais liberdade. Se se decide pelo bem, é voluntariamente que o pratica; se toma o mau caminho, maior será a sua responsabilidade.” 7. É sempre de dentro de si mesmos que os homens inteligentes e de gênio tiram suas ideias?  “Algumas vezes, elas lhes vêm do seu próprio Espírito, porém, de outras muitas, lhes são sugeridas por Espíritos que os julgam capazes de compreendê-las e dignos de vulgarizá-las. Quando tais homens não as acham em si mesmos, apelam para a inspiração. Fazem assim, sem o suspeitarem, uma verdadeira evocação.” Se fora útil que pudéssemos distinguir claramente os nossos pensamentos próprios dos que nos são sugeridos, Deus nos houvera proporcionado os meios de o conseguirmos, como nos concedeu o de diferençarmos o dia da noite. Quando uma coisa se conserva imprecisa, é que convém assim aconteça. 8. Diz-se comumente ser sempre bom o primeiro impulso. É exato?  “Pode ser bom, ou mal, conforme a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom naquele que atende às boas inspirações.” 464. Como distinguirmos se um pensamento sugerido procede de um bom Espírito ou de um Espírito mau? “Estudai o caso. Os bons Espíritos só para o bem aconselham. Compete-vos discernir.” 9. Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?  “Para que sofrais como eles sofrem.” a) - E isso lhes diminui os sofrimentos? “Não; mas fazem-no por inveja, por não poderem suportar que haja seres felizes.” b) - De que natureza é o sofrimento que procuram infligir aos outros? “Os que resultam de ser de ordem inferior a criatura e de estar afastada de Deus.” 10. Por que permite Deus que Espíritos nos excitem ao mal? “Os Espíritos imperfeitos são instrumentos próprios a pôr em prova a fé e a constância dos homens na prática do bem. Como Espírito que és, tens que progredir na ciência do infinito. Daí o passares pelas provas do mal, para chegares ao bem. A nossa missão consiste em te colocarmos no bom caminho. Desde que sobre ti atuam influências más, é que as atrais, desejando o mal; porquanto os Espíritos inferiores correm a te auxiliar no mal, logo que desejes praticá-lo. Só quando queiras o mal, podem eles ajudar-te para a prática do mal. Se fores propenso ao assassínio, terás em torno de ti uma nuvem de Espíritos a te alimentarem no íntimo esse pendor. Mas outros também te cercarão, esforçando-se por te influenciarem para o bem, o que restabelece o equilíbrio da balança e te deixa senhor dos teus atos.” É assim que Deus confia à nossa consciência a escolha do caminho que devamos seguir e a liberdade de ceder a uma ou outra das influências contrárias que se exercem sobre nós." 11. Pode o homem eximir-se da influência dos Espíritos que procuram arrastá-lo ao mal? “Pode, visto que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem.” 12. Renunciam às suas tentativas os Espíritos cuja influência a vontade do homem repele?  “Que querias que fizessem? Quando nada conseguem, abandonam o campo. Entretanto, ficam à espreita de um momento propício, como o gato que tocaia o rato.” 13. Por que meio podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos?  “Praticando o bem e pondo em Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos Espíritos inferiores e aniquilareis o império que desejam ter sobre vós. Guardai-vos de atender às sugestões dos Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que sopram a discórdia entre vós outros e que vos insuflam as paixões más. Desconfiai especialmente dos que vos exaltam o orgulho, pois que esses vos assaltam pelo lado fraco. Essa a razão por que Jesus, na oração dominical, vos ensinou a dizer: “Senhor! Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.” 14. Os Espíritos, que ao mal procuram induzir-nos e que põem assim em prova a nossa firmeza no bem, procedem desse modo cumprindo missão? E, se assim for, cabe-lhes alguma responsabilidade? “A nenhum Espírito é dada a missão de praticar o mal. Aquele que o faz fá-lo por conta própria, sujeitando-se, portanto, às consequências. Pode Deus permitir-lhe que assim proceda, para vos experimentar; nunca, porém, lhe determina tal procedimento. Compete-vos, pois repeti-lo.” 15. Quando experimentamos uma sensação de angústia, de ansiedade indefinível, ou de íntima satisfação, sem que lhe conheçamos a causa, devemos atribuí-la unicamente a uma disposição física? “É quase sempre efeito das comunicações em que inconscientemente entrais com os Espíritos, ou da que com elas tivestes durante o sono.” 16. Os Espíritos que procuram atrair-nos para o mal se limitam a aproveitar as circunstâncias em que nos achamos, ou podem também criá-las?  “Aproveitam as circunstâncias ocorrentes, mas também costumam criá-las, impelindo-vos, mau grado vosso, para aquilo que cobiçais. Assim, por exemplo, encontra um homem, no seu caminho, certa quantia. Não penses tenham sido os Espíritos que a trouxeram para ali. Mas, eles podem inspirar ao homem a ideia de tomar aquela direção e sugerir-lhe depois a de se apoderar da importância achada, enquanto outros lhe sugerem a de restituir o dinheiro ao seu legítimo dono. O mesmo se dá com relação a todas as demais tentações.” 17. Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado neste corpo? “O Espírito não entra em um corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.” 18. Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada? “Sem dúvida, e são esses os verdadeiros possessos. Mas, é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos.” O vocábulo possesso, na sua acepção vulgar, supõe a existência de demônios, isto é, de uma categoria de seres maus por natureza, e a coabitação de um desses seres com a alma de um indivíduo, no seu corpo. Pois que, nesse sentido, não há demônios e que dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo, não há possessos na conformidade da ideia a que esta palavra se acha associada. O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se com relação a Espíritos imperfeitos que a subjuguem. 19. Pode alguém por si mesmo afastar os maus Espíritos e libertar-se da dominação deles? “Sempre é possível, a quem quer que seja, subtrair-se a um jugo, desde que com vontade firme o queira.” 20. Mas, não pode acontecer que a fascinação exercida pelo mau Espírito seja de tal ordem que o subjugado não a perceba? Sendo assim, poderá uma terceira pessoa fazer que cesse a sujeição da outra? E, nesse caso, qual deve ser a condição dessa terceira pessoa? “Sendo ela um homem de bem, a sua vontade poderá ter eficácia, desde que apele para o concurso dos bons Espíritos, porque, quanto mais digna for a pessoa, tanto maior poder terá sobre os Espíritos imperfeitos, para afastá-los, e sobre os bons, para os atrair. Todavia, nada poderá, se o que estiver subjugado não lhe prestar o seu concurso. Há pessoas a quem agrada uma dependência que lhes lisonjeia os gostos e os desejos. Qualquer, porém, que seja o caso, aquele que não tiver puro o coração nenhuma influência exercerá. Os bons Espíritos não lhe atendem ao chamado e os maus não o temem.” 21. As fórmulas de exorcismo têm qualquer eficácia sobre os maus Espíritos? “Não. Estes últimos riem e se obstinam, quando vêem alguém tomar isso a sério.” 22. Pessoas há, animadas de boas intenções e que, nada obstante, não deixam de ser obsidiadas. Qual, então, o melhor meio de nos livrarmos dos Espíritos obsessores? “Cansar-lhes a paciência, nenhum valor lhes dar às sugestões, mostrar-lhes que perdem o tempo. Em vendo que nada conseguem, afastam-se.” 23. A prece é meio eficiente para a cura da obsessão? “A prece é em tudo um poderoso auxílio. Mas, crede que não basta que alguém murmure algumas palavras, para que obtenha o que deseja. Deus assiste os que obram, não os que se limitam a pedir. É, pois, indispensável que o obsidiado faça, por sua parte, o que se torne necessário para destruir em si mesmo a causa da atração dos maus Espíritos.” 24. Que se deve pensar da expulsão dos demônios, mencionada no Evangelho? “Depende da interpretação que se lhe dê. Se chamais demônio ao mau Espírito que subjugue um indivíduo, desde que se lhe destrua a influência, ele terá sido verdadeiramente expulso. Se ao demônio atribuirdes a causa de uma enfermidade, quando a houverdes curado direis com acerto que expulsastes o demônio. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, conforme o sentido que empresteis às palavras. As maiores verdades estão sujeitas a parecer absurdos, uma vez que se atenda apenas à forma, ou que se considere como realidade a alegoria. Compreendei bem isto e não o esqueçais nunca, pois que se presta a uma aplicação geral.” 25. Desempenham os Espíritos algum papel nos fenômenos que se dão com os indivíduos chamados convulsionários? “Sim e muito importante, bem como o magnetismo, que é a causa originária de tais fenômenos. O charlatanismo, porém, os tem amiúde explorado e exagerado, de sorte a lançá-los ao ridículo.” a) De que natureza são, em geral, os Espíritos que concorrem para a produção desta espécie de fenômenos? “Pouco elevada. Supondes que Espíritos superiores se deleitem com tais coisas?” 26. Como é que sucede estender-se subitamente a toda uma população o estado anormal dos convulsionários e dos que sofrem de crises nervosas? “Efeito de simpatia. As disposições morais se comunicam mui facilmente, em certos casos. Não és tão alheio aos efeitos magnéticos que não compreendas isto e a parte que alguns Espíritos naturalmente tomam no fato, por simpatia com os que os provocam.” Entre as singulares faculdades que se notam nos convulsionários, algumas facilmente se reconhecem, de que numerosos exemplos oferecem o sonambulismo e o magnetismo, tais como, além de outras, a insensibilidade física, a leitura do pensamento, a transmissão das dores, por simpatia, etc. Não há, pois, duvidar de que aqueles em quem tais crises se manifestam estejam numa espécie de sonambulismo desperto, provocado pela influência que exercem uns sobre os outros. Eles são ao mesmo tempo magnetizadores e magnetizados, inconscientemente. 27. Qual a causa da insensibilidade física que se observa em alguns convulsionários, assim como em outros indivíduos submetidos às mais atrozes torturas? “Em alguns é, exclusivamente, efeito do magnetismo que atua sobre o sistema nervoso, do mesmo modo que certas substâncias. Em outros, a exaltação do pensamento embota a sensibilidade. Dir-se-ia que nestes a vida se retirou do corpo, para se concentrar toda no Espírito. Não sabeis que, quando o Espírito está vivamente preocupado com uma coisa, o corpo nada sente, nada vê e nada ouve?” A exaltação fanática e o entusiasmo hão proporcionado, em casos de suplícios, múltiplos exemplos de uma calma e de um sangue frio que não seriam capazes de triunfar de uma dor aguda, senão admitindo-se que a sensibilidade se acha neutralizada, como por efeito de um anestésico. Sabe-se que, no ardor da batalha, combatentes há que não se apercebem de que estão gravemente feridos, ao passo que, em circunstâncias ordinárias, uma simples arranhadura os poria trêmulos. Visto que esses fenômenos dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos, lícito se torna perguntar como há podido uma autoridade pública fazê-los cessar em alguns casos. Simples a razão. Meramente secundária é aqui a ação dos Espíritos, que nada mais fazem do que aproveitar-se de uma disposição natural. A autoridade não suprimiu essa disposição, mas a causa que a entretinha e exaltava. De ativa que era, passou esta a ser latente. E a autoridade teve razão para assim proceder, porque do fato resultava abuso e escândalo. Sabe-se, demais, que semelhante intervenção nenhum poder absolutamente tem, quando a ação dos Espíritos é direta e espontânea. Afeição que os Espíritos votam a certas pessoas. 28. Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas? “Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem. Os Espíritos inferiores com os homens viciosos, ou que podem tornar-se tais. Daí suas afeições, como consequência da conformidade dos sentimentos.”29. É exclusivamente moral a afeição que os Espíritos votam a certas pessoas? “A verdadeira afeição nada tem de carnal; mas, quando um Espírito se apega a uma pessoa, nem sempre o faz só por afeição. À estima que essa pessoa lhe inspira pode agregar-se das paixões humanas.” 30. Interessam-se os Espíritos pelas nossas desgraças e pela nossa prosperidade? Afligem-se os que nos querem bem com os males que padecemos durante a vida? “Os bons Espíritos fazem todo o bem que lhes é possível e se sentem ditosos com as vossas alegrias. Afligem-se com os vossos males, quando os não suportais com resignação, porque nenhum benefício então tirais deles, assemelhando-vos, em tais casos, ao doente que rejeita a beberagem amarga que o há de curar.” 31. Dentre os nossos males, de que natureza são os de que mais se afligem os Espíritos por nossa causa? Serão os males físicos ou os morais? “O vosso egoísmo e a dureza dos vossos corações. Daí decorre tudo o mais. Riem-se de todos esses males imaginários que nascem do orgulho e da ambição. Rejubilam com os que redundam na abreviação do tempo das vossas provas." Sabendo ser transitória a vida corporal e que as tribulações que lhe são inerentes constituem meios de alcançarmos melhor estado, os Espíritos mais se afligem pelos nossos males devidos a causas de ordem moral, do que pelos nossos sofrimentos físicos, todos passageiros. Pouco se incomodam com as desgraças que apenas atingem as nossas ideias mundanas, tal qual fazemos com as mágoas pueris das crianças. Vendo nas amarguras da vida um meio de nos adiantarmos, os Espíritos as consideram como a crise ocasional de que resultará a salvação do doente. Compadecem-se dos nossos sofrimentos, como nos compadecemos dos de um amigo. Porém, enxergando as coisas de um ponto de vista mais justo, os apreciam de um modo diverso do nosso. Então, ao passo que os bons nos levantam o ânimo no interesse do nosso futuro, os outros nos impelem ao desespero, objetivando comprometer-nos. (Allan Kardec) 32. Os parentes e amigos, que nos precederam na outra vida, maior simpatia nos votam do que os Espíritos que nos são estranhos? “Sem dúvida e quase sempre vos protegem como Espíritos, de acordo com o poder de que dispõem.” a) - São sensíveis à afeição que lhes conservamos? “Muito sensíveis, mas esquecem-se dos que os olvidam.” 33. Há Espíritos que se liguem particularmente a um indivíduo para protegê-lo? “Há o irmão espiritual, o que chamais o bom Espírito ou o bom gênio.” 34. Que se deve entender por anjo de guarda ou anjo guardião? “O Espírito protetor, pertencente a uma ordem elevada.” 35. Qual a missão do Espírito protetor? “A de um pai com relação aos filhos; a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida.” 36. O Espírito protetor se dedica ao indivíduo desde o seu nascimento? “Desde o nascimento até a morte e muitas vezes o acompanha na vida espírita, depois da morte, e mesmo através de muitas existências corpóreas, que mais não são do que fases curtíssimas da vida do Espírito.” 37. É voluntária ou obrigatória a missão do Espírito protetor? “O Espírito fica obrigado a vos assistir, uma vez que aceitou esse encargo. Cabe-lhe, porém, o direito de escolher seres que lhe sejam simpáticos. Para alguns, é um prazer; para outros, missão ou dever.” a) Dedicando-se a uma pessoa, renuncia o Espírito a proteger outros indivíduos? “Não; mas protege-os menos exclusivamente.”38. O Espírito protetor fica fatalmente preso à criatura confiada à sua guarda? “Frequentemente sucede que alguns Espíritos deixam suas posições de protetores para desempenhar diversas missões. Mas, nesse caso, outros os substituem.” 39. Poderá dar-se que o Espírito protetor abandone o seu protegido, por se lhe mostrar este rebelde aos conselhos? “Afasta-se, quando vê que seus conselhos são inúteis e que mais forte é, no seu protegido, a decisão de submeter-se à influência dos Espíritos inferiores. Mas, não o abandona completamente e sempre se faz ouvir. É então o homem quem tapa os ouvidos. O protetor volta desde que este o chame. “É uma doutrina, esta, dos anjos guardiões, que, pelo seu encanto e doçura, devera converter os mais incrédulos. Não vos parece grandemente consoladora a ideia de terdes sempre junto de vós seres que vos são superiores, prontos sempre a vos aconselhar e amparar, a vos ajudar na ascensão da abrupta montanha do bem; mais sinceros e dedicados amigos do que todos os que mais intimamente se vos liguem na Terra? Eles se acham ao vosso lado por ordem de Deus. Foi Deus quem aí os colocou e, aí permanecendo por amor de Deus, desempenham bela, porém penosa missão. Sim, onde quer que estejais, estarão convosco. Nem nos cárceres, nem nos hospitais, nem nos lugares de devassidão, nem na solidão, estais separados desses amigos a quem não podeis ver, mas cujo brando influxo vossa alma sente, ao mesmo tempo que lhes ouve os ponderados conselhos. “Ah! se conhecêsseis bem esta verdade! Quanto vos ajudaria nos momentos de crise! Quanto vos livraria dos maus Espíritos! Mas, oh! Quantas vezes, no dia solene, não se verá esse anjo constrangido a vos observar: “Não te aconselhei isto? Entretanto, não o fizeste. Não te mostrei o abismo? Contudo, nele te precipitaste! Não fiz ecoar na tua consciência a voz da verdade? Preferiste, no entanto, seguir os conselhos da mentira!” Oh! Interrogai os vossos anjos guardiões; estabelecei entre eles e vós essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes ocultar nada, pois que eles têm o olhar de Deus e não podeis enganá-los. Pensai no futuro; procurai adiantar-vos na vida presente. Assim fazendo, encurtareis vossas provas e mais felizes tornareis as vossas existências. Vamos, homens, coragem! De uma vez por todas, lançai para longe todos os preconceitos e ideias preconcebidas. Entrai na nova senda que diante dos passos se vos abre. Caminhai! Tendes guias, segui-los, que a meta não vos pode faltar, porquanto essa meta é o próprio Deus. “Aos que considerem impossível que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que nós vos influenciamos as almas, estando embora muitos milhões de léguas distantes de vós. O espaço, para nós, nada é, e não obstante viverem noutro mundo, os nossos Espíritos conservam suas ligações com os vossos. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas ficai certos de que Deus não nos impôs tarefa superior às nossas forças e de que não vos deixou sós na Terra, sem amigos e sem amparo. Cada anjo de guarda tem o seu protegido, pelo qual vela, como o pai pelo filho. Alegra-se, quando o vê no bom caminho; sofre, quando lhe ele despreza os conselhos. “Não receeis fatigar-nos com as vossas perguntas. Ao contrário, procurai estar sempre em relação conosco. Sereis assim mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada um com o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns todos os homens, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão qual oceano sem margens, levando de roldão a incredulidade e a ignorância. Homens doutos, instruí os vossos semelhantes; homens de talento, educai os vossos irmãos. Não imaginais que obra fazeis desse modo: a do Cristo, a que Deus vos impõe. Para que vos outorgou Deus a inteligência e o saber, senão para o repartirdes com os vossos irmãos, senão para fazerdes que se adiantem pela senda que conduz à bem-aventurança, à felicidade eterna?” São Luís, Santo Agostinho. Nada tem de surpreendente a doutrina dos anjos guardiões, a velarem pelos seus protegidos, mau grado à distância que medeia entre os mundos. É, ao contrário, grandiosa e sublime. Não vemos na Terra o pai velar pelo filho, ainda que de muito longe, e auxiliá-lo com seus conselhos correspondendo-se com ele? Que motivo de espanto haverá, então, em que os Espíritos possam, de um outro mundo, guiar os que, habitantes da Terra, eles tomaram sob sua proteção, uma vez que, para eles, a distância que vai de um mundo a outro é menor do que a que, neste planeta, separa os continentes? Não dispõem, além disso, do fluido universal, que entrelaça todos os mundos, tornando-os solidários; veículo imenso da transmissão dos pensamentos, como o ar é, para nós, o da transmissão do som? (Allan Kardec). 40. O Espírito, que abandona o seu protegido, que deixa de lhe fazer bem, pode fazer-lhe mal? “Os bons Espíritos nunca fazem mal. Deixam que o façam aqueles que lhes tomam o lugar. Costumais então lançar à conta da sorte as desgraças que vos acabrunham, quando só as sofreis por culpa vossa.” 41. Pode um Espírito protetor deixar o seu protegido à mercê de outro Espírito que lhe queira fazer mal?  “Os maus Espíritos se unem para neutralizar a ação dos bons. Mas, se o quiser, o protegido dará toda a força ao seu protetor. Pode acontecer que o bom Espírito encontre alhures uma boa-vontade a ser auxiliada. Aplica-se então em auxiliá-la, aguardando que seu protegido lhe volte.” 42. Será por não poder lutar contra Espíritos maléficos que um Espírito protetor deixa que seu protegido se transvie na vida?  “Não é porque não possa, mas porque não quer. E não quer, porque das provas sai o seu protegido mais instruído e perfeito. Assiste-o sempre com seus conselhos, dando-os por meio dos bons pensamentos que lhe inspira, porém que quase nunca são atendidos. A fraqueza, o descuido ou o orgulho do homem são exclusivamente o que empresta força aos maus Espíritos, cujo poder todo advém do fato de lhes não opordes resistência.” 43. O Espírito protetor está constantemente com o seu protegido? Não haverá alguma circunstância em que, sem abandoná-lo, ele o perca de vista? “Há circunstâncias em que não é necessário esteja o Espírito protetor junto do seu protegido.” 44. Momentos haverá em que o Espírito deixe de precisar, de então por diante, do seu protetor? “Sim, quando ele atinge o ponto de poder guiar-se a si mesmo, como sucede ao estudante, para o qual um momento chega em que não mais precisa de mestre. Isso, porém, não se dá na Terra.” 45. Por que é oculta a ação dos Espíritos sobre a nossa existência e por que, quando nos protegem, não o fazem de modo ostensivo? “Se vos fosse dado contar sempre com a ação deles, não obraríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não progrediria. para que este possa adiantar-se, precisa de experiência, adquirindo-a frequentemente à sua custa. É necessário que exercite suas forças, sem o que, seria como a criança a quem não consentem que ande sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira que não vos tolha o livre-arbítrio, porquanto, se não tivésseis responsabilidade, não avançaríeis na senda que vos há de conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o homem se confia às suas próprias forças. Sobre ele, entretanto, vela o seu guia e, de tempos a tempos, lhe brada, advertindo-o do perigo.” 46. O Espírito protetor, que consegue trazer ao bom caminho o seu protegido, lucra algum bem para si? “Constitui isso um mérito que lhe é levado em conta, seja para seu progresso, seja para sua felicidade. Sente-se ditoso quando vê bem sucedidos os seus esforços, o que representa, para ele, um triunfo, como triunfo é, para um preceptor, os bons êxitos do seu educando.” a) - É responsável pelo mau resultado de seus esforços? “Não, pois que fez o que de si dependia.” 47. Sofre o Espírito protetor quando vê que seu protegido segue mau caminho, não obstante os avisos que dele recebe? Não há aí uma causa de turbação da sua felicidade? “Compungem-no os erros do seu protegido, a quem lastima. Tal aflição, porém, não tem analogia com as angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal e que o que não se faz hoje, amanhã se fará.” 48. Poderemos sempre saber o nome do Espírito nosso protetor, ou anjo de guarda?  “Como quereis saber nomes para vós inexistentes? Supondes que Espíritos só há os que conheceis?” a) - Como então o podemos invocar, se o não conhecemos? “Dai-lhe o nome que quiserdes, o de um Espírito superior que vos inspire simpatia ou veneração. O vosso protetor acudirá ao apelo que com esse nome lhe dirigirdes, visto que todos os bons Espíritos são irmãos e se assistem mutuamente.” 49. Os protetores, que dão nomes conhecidos, sempre são, realmente, os Espíritos das personalidades que tiveram esses nomes? “Não. Muitas vezes, os que os dão são Espíritos simpáticos aos que de tais nomes usaram na Terra e, a mando destes, respondem ao vosso chamamento. Fazeis questão de nomes; eles tomam um que vos inspire confiança. Quando não podeis desempenhar pessoalmente determinada missão, não costumais mandar que outro, por quem respondeis como por vós mesmos, obre em vosso nome?”. O Livro dos Espíritos – Capítulo 9 – 2ª parte. www.institutoandreluiz.org. Abraço. Davi

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