Budismo Nitiren
Daishonin (1222-1282). www.maisbelashistoriasbudistas.com.brPor Daisaku Ikeda (1928 - ). COMPAIXÃO. Simples atos como ouvir, compartilhar e
lembrar se tornam uma grande base de apoio para aqueles ao nosso redor. Qual é
a chave para direcionar a adormecida energia vital em prol da felicidade e
desenvolvimento? Eu acredito que uma ação baseada na compaixão é um dos pontos
que colaboram neste processo de transformação. Enquanto os desejos pessoais
direcionam a energia do mundo exterior para nós, a compaixão expande nossa
energia para o ambiente, ao mesmo tempo que alcançamos e enriquecemos a vida
daqueles ao nosso redor. Por estranho que pareça, quanto maior for a energia
dispendida em prol de outros, maior será a sensação de bem-estar que iremos
desfrutar. A compaixão pode
ser descrita de modo simples, como a capacidade de ouvir encarecidamente os
problemas de alguém em estado de aflição. Certa ocasião, eu ouvi o relato de
uma enfermeira que cuidava de uma velha senhora com 87 anos. Ela sempre
permanecia calada em sua cadeira de rodas, com uma feição entediada, lábios cerrados
e sobrancelhas franzidas. Em seu primeiro encontro, a enfermeira gostaria de fazê-la
sorrir, ser capaz de mudar seu semblante. A partir de então, em todos os
momentos que a encontrava, ela segurava suas mãos e buscava o diálogo. Certo
dia, na cafeteria do hospital, a anciã começou a desabafar tudo o que havia
sofrido em sua existência. A enfermeira, enquanto segurava sua mão, somente a
escutava e inclinava sua cabeça como forma de aceitação. Quando a paciente terminou sua história, a
enfermeira encaminhou-a até o seu quarto. No caminho, a senhora sussurrou para
sua nova amiga, "ninguém nunca havia me ouvido desta forma". Assim, a
partir desta data, um belo sorriso se estampou em sua face. A compaixão reside nestes simples atos: ouvir,
compartilhar e lembrar. Quando a compaixão se tornar o nosso estilo de vida,
nossos sofrimentos e contratempos mudam de significado. Seremos capazes de
observá-los como algo necessário para que possamos compreender o sofrimento
alheio, enquanto buscamos a melhor solução para amenizá-lo. Existem momentos em
que uma pessoa somente pode achar conforto na voz de alguém que tenha passado
pelo mesmo tipo de sofrimento. Uma atitude com base na compaixão não significa olhar aquele
que sofre, com um ar de superioridade e lamentar por sua agonia. Ao contrário,
é uma profunda empatia baseada no respeito mútuo como seres humanos. A
compaixão pode ser comparada a um quarto confortável e bem iluminado na qual
convidamos nossos amigos. Neste local, sentamos juntos para discutir sobre a vida
como iguais, aprendendo mutuamente e lutando juntos em prol do auto
aperfeiçoamento. Da mesma forma
que nunca iremos sofrer totalmente sozinhos, pois sempre haverá alguém que irá
sofrer por nossa infelicidade; não há felicidade que existe somente por ela
mesma. A felicidade não é como um bolo que pode ser cortado cuidadosamente em
fatias, para que todos possam ter o seu fino pedaço. O aumento da felicidade de
cada indivíduo gera um crescente aumento de energia positiva que vibra em todo
o mundo. Aqueles que apreciam genuinamente a alegria manifesta de um amigo são
capazes de desfrutar uma profunda felicidade dentro de si. De fato, a nossa
felicidade vibra na mesma intensidade em que ajudamos outros a encontrá-la. Em contraste, um estilo de vida egocêntrico e
obsessivo representa uma forma de miséria interior, que causa profundas feridas
em si e aqueles ao redor. O egoísmo é a principal fonte do sofrimento no mundo.
Entretanto, a compaixão é muito além do que agir de modo simpático. Algumas
vezes, requer que apontamos as fraquezas ou distorções de outro ser humano.
Afinal, esta é a causa do sofrimento humano, as barreiras que bloqueiam o seu
próprio desenvolvimento. É um ato covarde, quando observamos estas falhas e não
as mencionamos para que a própria pessoa se torne ciente desta situação. Isto é
ser um falso amigo. Assim, a compaixão e a coragem estão intimamente
relacionadas. Eu lembro algumas palavras de um filme muito popular em minha
juventude: "É preciso ser forte para viver, mas se não existe carinho, não
há muito significado em viver". Por isto, é preciso uma extrema força para
se envolver com o sofrimento alheio, ao mesmo tempo que lutamos juntos para
ultrapassá-los. O ato de ajudar
o próximo é a chave para sobrepujar o próprio sofrimento. Eleanor Roosevelt
(1884-1962) permanece como uma das mulheres mais admiradas no século XX. Ela
desempenhou um papel fundamental no estabelecimento da Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Seu caráter era tal que no final da sua existência ela
conseguiu obter o respeito por parte de seus mais ferrenhos críticos. Mesmo
assim, esta mulher, que foi capaz de ajudar tantas pessoas, começou sua
existência como uma garota tímida e desajeitada que poderia ser tudo, menos
feliz. Em seus
primeiros anos de vida, não tinha nenhum amigo, pois foi criada por seus tios.
Assim, ela compreendeu desde cedo que a única maneira de vencer o seu
sofrimento seria dando maior atenção ao sofrimento das pessoas ao seu redor.
Desta forma, ela concentrou-se em prol da solução real dos problemas, ao invés
de meramente se preocupar com a opinião alheia. Gradualmente, o seu carinho e dedicação ao povo
- como a primeira-dama dos Estados Unidos - conquistou a admiração e os
corações de milhões de pessoas. A compaixão desperta a sabedoria. Os pais estão
constantemente pensando em como ajudar seus filhos a obterem uma vida melhor e
bem-sucedida. A compaixão pode ser estendida muito além do círculo familiar ou
de amizades, podendo mesmo abranger aquelas pessoas que não apreciamos sua
companhia, a partir do momento em que compreendemos o quão intimamente a vida
nos correlaciona. Eu gostaria de
compartilhar uma bela imagem provinda de uma antiga parábola indiana que
ilustra a interconexão de todos os seres vivos. O ato de decorar o teto de um
palácio mítico é como uma enorme rede. A cada intersecção desta rede desponta
uma brilhante joia que reflete a imagem de todas as outras joias penduradas.
Assim, cada uma delas contém dentro de si, todas as outras gemas. Cada ser
humano é necessário para o incessante brilho de todo o conjunto. Sem a
existência de outras, uma única e isolada joia não pode manifestar todo o seu
brilho. De forma
semelhante, somente através do ato de cuidarmos de outros que seremos capazes
de expandir nossa própria vida, expandindo seu brilho e vitalidade. http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br.
Abraço. Davi.
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