quinta-feira, 25 de abril de 2019

SHIVA - O DEUS HINDU DESTRUIDOR E REGENERADOR


Hinduísmo. Mosaico Espiritual. No Hinduísmo, o Deus Único, como em grande parte das tradicionais espirituais se divide em Trindade, conhecida como Trimûrti. A que envolve Shiva se desenvolve em um período tardio da história hindu, como fruto de duas trindades reinantes na era Pré-Védica. Ela une BRAHMA, o Criador, VISHNU, o Conservador, e SHIVA, O DEUS HINDU DESTRUIDOR E REGENERADOR. Este trio condensa três potências essenciais, conhecidas como Gunas. Sattya é a virtude inerente a Vishnu, indicando a energia interior que tudo agrega, a claridade que ilumina o consciente. Já Tamas é a qualidade de Shiva, representando o poder de disseminação, de destruição, as sombras de onde o Universo flui e para as quais ele retorna. Rajas é a potência sem a qual tudo permaneceria em repouso, inerte; ela extrai da relação dialética entre as outras duas forças o material imprescindível para instaurar a geração do novo, pelo qual Brahma é o responsável, abalando assim a inércia;  agindo ao deslocar-se. Shiva e sua companheira Parvati simbolizam o dualismo presente no Universo Revelado na esfera do Espírito e da Matéria, de Purusha e de Pakriti. Shiva não pode ser considerado simplesmente aquele que tudo devasta, pois ele desintegra o velho para edificar o novo. Deste ponto de vista ele pode ser visto como um restaurador, que revigora antigas forças, transmuta tudo à sua volta. As expressões mais primitivas desta divindade são encontradas no Neolítico, por volta de 4.000 a.C. Neste período ele era representado como Pashupati, Pashu, animais, feras; e  Pati, senhor, mestre, o Senhor dos Animais, que simboliza o potencial telúrico, suas energias masculinas. Além desta conotação, ele pode igualmente se referir aos sentimentos e impulsos mais primitivos, como o orgulho, os instintos sexuais mais primários, o ódio, entre outros. Este mestre das feras é a expressão máxima de um ser que venceu sua besta interior, e aprendeu a coexistir com elas. As lendas sobre Pashupati indicam a necessidade absoluta de se aceitar a existência destes animais dentro de cada um, para que então se possa transcendê-los. Shiva também é conhecido como o criador do Yoga, imediatamente associado a Shiva por constituir uma modalidade que, ao ser praticada, gera mutações orgânicas, psíquicas e emocionais. Ele é o deus que está acima de todos na sua categoria, portanto chamado Mahadeva; o artífice da paz, assim respeitado como Shankara; e o generoso, portador da felicidade, o Shambo ou Shambhu. Shiva, aliás, significa no hinduísmo o Benéfico, e pertence à primeira classe dos deuses. Esta divindade está presente no momento da geração do Universo, como semente oculta, e no fim de tudo, como elemento de destruição e renovação. Quando toda existência funde se novamente ao que Não Manifestado. Sua iconografia o apresenta portando o Trishula, instrumento na forma de um tridente que tem como missão debelar toda ignorância existente no Homem. Suas três extremidades simbolizam os três Gunas acima descritos, a inércia, o movimento e o equilíbrio. Shiva vem acompanhado também da fatal Serpente Naja, a qual, envolta em sua cintura e no seu pescoço, confirma o controle do deus sobre a morte, a conquista da imortalidade. Do alto de sua cabeça flui um jato de água, o próprio rio Ganges que desponta de seus cabelos. Conta-se que o Ganges ou Ganga era muito tumultuoso e arrebatador, portanto, demoliria o Planeta com o poder de sua queda sobre a superfície. Assim, para evitar uma catástrofe, Shiva atendeu os pedidos humanos e concedeu que o rio aterrissasse inicialmente em sua cabeça amenizando o choque. Desta forma, o Ganges pode se derramar sobre a Terra, fluindo naturalmente por todos os seus recantos. Seu símbolo fálico (pênis), chamado Linga, representa a ferramenta criadora, o poder da vida, a potência masculina ligada à criação do Universo. Cultuar este símbolo é como adorar o próprio Shiva. O tambor por ele tocado está relacionado à presença do som no nascimento do Cosmos; através de seus acordes o deus instaura no Universo o ritmo fundamental e marca os movimentos de sua dança. Com a suspensão momentânea do toque deste instrumento, o Universo se dilui e só ressurge quando ele volta a tocá-lo. Na tradição hindu, Shiva é o deus da destruição. Em seus cabelos há um crânio e uma lua nova, morte e renascimento. Ele destrói para construir algo novo, alegoricamente está associado a ideia de transformação. Numa das mãos ele tem um tambor que representa o referencial do tempo, onde estamos presos. Na outra mão há uma chama que queima a película do tempo e nos abre para a eternidade. O Linga é a figura fálica emblemática de Shiva, uma escultura feita de pedra negra que representa o pênis, o instrumento da criação e da força vital. Reverenciar o Linga é o mesmo que reverenciar Shiva e derramar água de forma constante sobre esse pênis de pedra é uma parte do ritual. O filme Garganta Profunda (1972) do diretor Gerald Damiano (1928-  ), causou escândalo e protesto no mundo oriental e ocidental ao introduzir elemento desse sagrado culto hindu de forma deturpada, abjeta e pornográfica, afrontando e injuriando a religião hindu. Antonin Artuad (1896-1948) diz: "O que une os seres é o amor. O que os separa é a sexualidade. Somente o homem e a mulher que podem unir-se acima de toda a sexualidade são fortes". Uma das mais antigas acusações a doutrina Freudiana, mas que ganha adeptos em nossos dias, é a de seu falocentrismo. Acreditamos ser possível demonstrar que nem Sigmund Freud (1856-1939) nem Jacques Lacan (1901-1981) procurariam refutá-la. Caso contrário, não teriam se ocupado, cada um por seu torno, em esclarecer a função do falo no que concerne à assunção do sexo próprio. Não é nosso objetivo retomar a crítica acima mencionada. No entanto queremos observar que, se a muitos anos as feministas estigmatizavam o escândalo. Afinal de contas, se resume no encontro de dois termos, a mulher e o falo. Numerosos cultos atestam que este último é um sagrado fundamento, talvez mesmo o sagrado por excelência. Mas que lugar ocupa exatamente o falo no cerne da doutrina psicanalítica? Como verificar sua incidência nas três estruturas clínicas reconhecidas pela psicanálise? Será que o entendimento da função do falo pode nos ajudar no diagnóstico diferencial: psicose, perversão e neurose? Inseri esse texto para demonstrar que o tema (falo) interessa hoje a ciência, sendo que, na psicanálise seu estudo tem produzido resultados clínicos e terapêuticos positivos em pacientes com transtornos os mais variados. A adoração do falo de Shiva é estranho a nós ocidentais cristãos, mas olhando numa perspectiva espiritual, o hindu vislumbra nesse ritual, a fertilidade em todos os aspectos da vida. Seja familiar, profissional (dentro da esfera de suas castas), colheita abundante quanto as plantações. Saúde física e evolução espiritual, casamentos e idades longevos. Desenvolvimentos fraternos, amor aos animais e todas as criaturas existente, desde os minúsculos seres, aos mais avantajados em tamanho. O culto do falo, remonta o hinduísta a integração com a natureza: rios, mares, oceanos, riachos, nascentes d'água. Árvores, plantas, relva, montanhas, rochas e tudo aquilo que se percebe no mundo presente, e o imperceptível nos mundos que não acessamos. Veja a riqueza espiritual por trás desse ritual que os missionários cristãos do século XVII (1601-1700), financiados pela igreja estatal do colonizador inglês. Ao visitarem os templos hindus em Nova Delhi – Índia  e outras cidades, de maneira bárbara e selvagem, como iconoclastas, destruíram  as imagens sagradas do deus Shiva. Além de outras divindades que estavam naqueles recintos sagrados. Um ato irresponsável e monstruoso, afrontando o povo hindu, que mansamente, não entendendo tal atitude, choravam ante aquele horror do dominador estrangeiro. Mesmo no evangelho de Cristo pregado nesse contexto de afronta e insulto, empunhavam as armas como figura de poder e sujeição. Fatos como esses mostram a intolerância religiosa, e até onde pode se chegar quando dogmas religiosos sobrepõem ao bom senso e compreensão humana. Tachando a espiritualidade do outro de perversão sexual ou feitiçaria. Absurdos como esses ouvimos e lemos ainda hoje no século XXI (2001-2100) relatados por noticiários impressos ou televisivos. Abraço. Davi.

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