Hinduísmo. Mosaico
Espiritual. No Hinduísmo, o Deus Único, como em grande parte das tradicionais
espirituais se divide em Trindade, conhecida como Trimûrti. A que envolve Shiva se
desenvolve em um período tardio da história hindu, como fruto de duas trindades reinantes
na era Pré-Védica. Ela une BRAHMA, o Criador, VISHNU, o Conservador, e SHIVA, O DEUS HINDU DESTRUIDOR E REGENERADOR. Este trio condensa três potências essenciais,
conhecidas como Gunas. Sattya é a virtude inerente a Vishnu, indicando a
energia interior que tudo agrega, a claridade que ilumina o consciente. Já
Tamas é a qualidade de Shiva, representando o poder de disseminação, de
destruição, as sombras de onde o Universo flui e para as quais ele retorna.
Rajas é a potência sem a qual tudo permaneceria em repouso, inerte; ela extrai
da relação dialética entre as outras duas forças o material imprescindível
para instaurar a geração do novo, pelo qual Brahma é o responsável, abalando
assim a inércia; agindo ao deslocar-se. Shiva e sua companheira Parvati
simbolizam o dualismo presente no Universo Revelado na esfera do Espírito
e da Matéria, de Purusha e de Pakriti. Shiva não pode ser considerado
simplesmente aquele que tudo devasta, pois ele desintegra o velho para edificar
o novo. Deste ponto de vista ele pode ser visto como um restaurador,
que revigora antigas forças, transmuta tudo à sua volta. As expressões mais
primitivas desta divindade são encontradas no Neolítico, por volta de 4.000 a.C. Neste
período ele era representado como Pashupati, Pashu, animais, feras; e
Pati, senhor, mestre, o Senhor dos Animais, que simboliza o potencial telúrico,
suas energias masculinas. Além desta conotação, ele pode igualmente se referir
aos sentimentos e impulsos mais primitivos, como o orgulho, os instintos
sexuais mais primários, o ódio, entre outros. Este mestre das feras é a
expressão máxima de um ser que venceu sua besta interior, e aprendeu a
coexistir com elas. As lendas sobre Pashupati indicam a necessidade absoluta de
se aceitar a existência destes animais dentro de cada um, para que então se
possa transcendê-los. Shiva também é conhecido como o criador do Yoga,
imediatamente associado a Shiva por constituir uma
modalidade que, ao ser praticada, gera mutações orgânicas, psíquicas e
emocionais. Ele é o deus que está acima de todos na sua categoria, portanto
chamado Mahadeva; o artífice da paz, assim respeitado como Shankara; e o
generoso, portador da felicidade, o Shambo ou Shambhu. Shiva, aliás, significa
no hinduísmo o Benéfico, e pertence à primeira classe dos deuses. Esta
divindade está presente no momento da geração do Universo, como semente oculta,
e no fim de tudo, como elemento de destruição e renovação. Quando toda
existência funde se novamente ao que Não Manifestado. Sua iconografia o
apresenta portando o Trishula, instrumento na forma de um tridente que tem como
missão debelar toda ignorância existente no Homem. Suas três extremidades
simbolizam os três Gunas acima descritos, a inércia, o movimento e o
equilíbrio. Shiva vem acompanhado também da fatal Serpente Naja, a qual,
envolta em sua cintura e no seu pescoço, confirma o controle do deus sobre a morte,
a conquista da imortalidade. Do alto de sua cabeça flui um jato de água, o
próprio rio Ganges que desponta de seus cabelos. Conta-se que o Ganges ou Ganga
era muito tumultuoso e arrebatador, portanto, demoliria o Planeta com o poder
de sua queda sobre a superfície. Assim, para evitar uma catástrofe, Shiva
atendeu os pedidos humanos e concedeu que o rio aterrissasse inicialmente em
sua cabeça amenizando o choque. Desta forma, o Ganges pode se derramar sobre a
Terra, fluindo naturalmente por todos os seus recantos. Seu símbolo fálico
(pênis), chamado Linga, representa a ferramenta criadora, o poder da vida, a
potência masculina ligada à criação do Universo. Cultuar este símbolo é como
adorar o próprio Shiva. O tambor por ele tocado está relacionado à presença do
som no nascimento do Cosmos; através de seus acordes o deus instaura no
Universo o ritmo fundamental e marca os movimentos de sua dança. Com a
suspensão momentânea do toque deste instrumento, o Universo se dilui e só
ressurge quando ele volta a tocá-lo. Na tradição hindu, Shiva é o deus da
destruição. Em seus cabelos há um crânio e uma lua nova, morte e renascimento.
Ele destrói para construir algo novo, alegoricamente está associado a ideia de
transformação. Numa das mãos ele tem um tambor que representa o referencial do
tempo, onde estamos presos. Na outra mão há uma chama que queima a película do
tempo e nos abre para a eternidade. O Linga é a figura fálica emblemática de
Shiva, uma escultura feita de pedra negra que representa o pênis, o instrumento
da criação e da força vital. Reverenciar o Linga é o mesmo que reverenciar
Shiva e derramar água de forma constante sobre esse pênis de pedra é uma parte
do ritual. O filme Garganta Profunda (1972) do diretor Gerald Damiano
(1928- ), causou escândalo e protesto no mundo oriental e ocidental ao
introduzir elemento desse sagrado culto hindu de forma deturpada, abjeta e
pornográfica, afrontando e injuriando a religião hindu. Antonin Artuad
(1896-1948) diz: "O que une os seres é o amor. O que os separa é a sexualidade.
Somente o homem e a mulher que podem unir-se acima de toda a sexualidade são
fortes". Uma das mais antigas acusações a doutrina Freudiana, mas que
ganha adeptos em nossos dias, é a de seu falocentrismo. Acreditamos ser
possível demonstrar que nem Sigmund Freud (1856-1939) nem Jacques Lacan
(1901-1981) procurariam refutá-la. Caso contrário, não teriam se ocupado, cada
um por seu torno, em esclarecer a função do falo no que concerne à assunção do
sexo próprio. Não é nosso objetivo retomar a crítica acima mencionada. No
entanto queremos observar que, se a muitos anos as feministas estigmatizavam o
escândalo. Afinal de contas, se resume no encontro de dois termos, a mulher e o
falo. Numerosos cultos atestam que este último é um sagrado fundamento, talvez
mesmo o sagrado por excelência. Mas que lugar ocupa exatamente o falo no cerne
da doutrina psicanalítica? Como verificar sua incidência nas três estruturas
clínicas reconhecidas pela psicanálise? Será que o entendimento da função do
falo pode nos ajudar no diagnóstico diferencial: psicose, perversão e neurose?
Inseri esse texto para demonstrar que o tema (falo) interessa hoje a ciência,
sendo que, na psicanálise seu estudo tem produzido resultados clínicos e
terapêuticos positivos em pacientes com transtornos os mais variados. A
adoração do falo de Shiva é estranho a nós ocidentais cristãos, mas olhando
numa perspectiva espiritual, o hindu vislumbra nesse ritual, a fertilidade
em todos os aspectos da vida. Seja familiar, profissional (dentro da esfera de
suas castas), colheita abundante quanto as plantações. Saúde física e evolução
espiritual, casamentos e idades longevos. Desenvolvimentos fraternos, amor aos
animais e todas as criaturas existente, desde os minúsculos seres, aos mais
avantajados em tamanho. O culto do falo, remonta o hinduísta a integração com a
natureza: rios, mares, oceanos, riachos, nascentes d'água. Árvores, plantas,
relva, montanhas, rochas e tudo aquilo que se percebe no mundo presente, e o
imperceptível nos mundos que não acessamos. Veja a riqueza espiritual por trás
desse ritual que os missionários cristãos do século XVII (1601-1700),
financiados pela igreja estatal do colonizador inglês. Ao visitarem os templos
hindus em Nova Delhi – Índia e outras
cidades, de maneira bárbara e selvagem, como iconoclastas, destruíram as
imagens sagradas do deus Shiva. Além de outras divindades que estavam naqueles
recintos sagrados. Um ato irresponsável e monstruoso, afrontando o povo hindu,
que mansamente, não entendendo tal atitude, choravam ante aquele horror do
dominador estrangeiro. Mesmo no evangelho de Cristo pregado nesse contexto de
afronta e insulto, empunhavam as armas como figura de poder e sujeição. Fatos
como esses mostram a intolerância religiosa, e até onde pode se chegar quando dogmas
religiosos sobrepõem ao bom senso e compreensão humana. Tachando a
espiritualidade do outro de perversão sexual ou feitiçaria. Absurdos como esses
ouvimos e lemos ainda hoje no século XXI (2001-2100) relatados por noticiários
impressos ou televisivos. Abraço. Davi.
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