Judaísmo. www.pt.chabad.org. Por
Rabi Menachem Mendell Schneerson. (1902-1994). QUAL A FINALIDADE DA VIDA?
Bênçãos e saudações: (…). O senhor escreve que se encontra
perplexo quanto às respostas à questões como: "Qual a finalidade da
vida?" E "qual o significado de um judeu?" – E que dúvidas e
confusões afligem-no dolorosamente. Como
o senhor escreve que frequentou a universidade e estudou ciências,
provavelmente está familiarizado com o tipo de equacionamento de um problema
complicado. Se queremos comprovar um determinado sistema, quanto às leis e
princípios nele prevalecentes, começamos pelas partes que se prestam mais
facilmente à análise e à verificação. Quando tivermos comprovado a maior parte
do sistema, passo por passo (ou progressivamente em complexidade). Poderemos
então, depreender com segurança que, se a maior parte deste sistema se enquadra
em certas leis específicas, o restante do mesmo, também é regido pelas mesmas
leis. O próprio bom-senso justifica a admissão
de que, se uma determinada lei é válida numa vasta maioria de casos, isso
também ocorrerá num caso particular em que não possa ser demonstrada com
segurança. Aplicando este método de enfoque ao Universo como um todo,
estamos cada vez mais convencidos, ano após ano, da lei e ordem que regem a
Natureza, incluindo a matéria inerte, até o átomo diminuto, e partículas ainda
menores. A Ciência Nuclear descobriu
harmonia e ordem, jamais imaginadas antes, em aproximadamente cem elementos
conhecidos até hoje. Num Universo de tamanha harmonia e organização, obviamente
o homem também deve estar submetido à ordem e finalidade. Indo um passo à frente, a conclusão inevitável é que,
uma vez que existem tais leis e tal ordem no Universo, deve haver uma
Autoridade Mais Elevada responsável pelas mesmas. A analogia é bem conhecida:
Quando temos em nossas mãos um livro impresso, de centenas de páginas, contendo
uma história concatenada ou uma filosofia, não podemos sequer, por qualquer
rasgo de imaginação, admitir que uma garrafa de tinta foi derramada
acidentalmente e produziu o livro. Da mesma forma, é muito menos admissível –
infinitamente menos admissíveis – que o nosso universo, com o seu número
infinito de átomos, moléculas e partículas, todas distribuídas em perfeita
ordem e harmonia, existem por acidente. Obviamente há um Criador e
Arquiteto, o qual dispõe e relaciona todas as diversas partes do Universo em
perfeita união e harmonia, em conformidade com o conjunto de leis que Ele cria
e supervisiona. É claro que todo o sistema está além da nossa compreensão, uma
vez que a nossa compreensão, bem como a nossa existência como um todo, é apenas
uma parte infinitesimal de toda a ordem cósmica, e certamente não é, de forma
alguma, comparável ao do próprio Criador. Evidentemente, é absurdo esperar
poder compreender o Criador, e mais ilógico ainda, negar sua existência, devido
à nossa incapacidade em compreendê-lo. Pode uma unidade conter um número
infinito de unidades? E aqui, pelo menos há alguma relação, pois tanto a unidade
(Um), como um número infinito de unidades (Uns) são objetos idênticos –
números, ao passo, que não há comunhão entre a criação e o Criador. Aplicando a analogia da ciência, um passo adiante: na
física, na química, etc., quando uma lei é deduzida de uma série de
experiências e comprovada por diferentes pessoas, sob condições variáveis de
pressão, temperatura, umidade, etc., eliminando desta forma a possibilidade de
erro, efeitos colaterais, etc., esta lei é aceita e torna-se válida também para
o futuro. Esta "regra" científica é aplicável, também, a
acontecimentos e fenômenos no passado. Quando um determinado acontecimento ou
fenômeno é referido, admitido por muitos historiadores e reportado de maneira
idêntica, não há "dúvida científica" de que o fato realmente ocorreu
naquelas circunstâncias. Exemplo de
acontecimento histórico foi a Revelação no Monte Sinai relatada de maneira
idêntica por milhões de homens, mulheres e crianças; pessoas de todos os níveis
de vida e antecedentes que presenciaram pessoalmente e depois relataram
fervorosamente a seus filhos, geração após geração, sem interrupção, até os
dias de hoje. Em tempo algum, mesmo
durante os piores pogroms e massacres de judeus não houve menos do que milhões
de judeus mantendo fervorosamente esta tradição. É bem sabido que jamais na
História Judaica houve uma interrupção na cadeia de tradição judaica do Sinai
até os dias atuais. Isto faz este acontecimento, o mais autêntico de todos
os acontecimentos históricos da História Humana. Isto significa que a Torá que temos e veneramos é dada por D’us e
contém, não apenas a nossa maneira de viver, mas também a chave para a nossa
existência em todos os tempos, uma vez que é eterna como o seu Doador. Não é um
livro de teoria, filosofia ou especulação, e sim um guia prático para nossa
vida diária, válida em todos os lugares e em qualquer época, incluindo a
América do século XX. Aqui, na Torá, a Lei Escrita e Verbal, a finalidade da
vida humana nesta terra está claramente indicada. Resumindo-a: É viver de acordo com a Torá, cumprindo seus preceitos
(Mitsvot – Farás) e abstendo-se de suas proibições (Mitsvot – Não farás). A
Torá também preveniu contra a natureza fraca do homem para as tentações e
dilemas que ele, criatura de carne e osso, enfrenta na vida. É difícil, quase
impossível para o homem, jamais falhar; e a Torá indicou que, caso isso
aconteça, não há necessidade de se desesperar. Há sempre a possibilidade da
Teshuvá – o retorno a D’us – e ao bom caminho; e o próprio fracasso pode se
transformar em um trampolim para um salto à frente, e um avanço cada vez
maior. Pode-se perguntar: se tudo o que foi escrito acima é tão simples e
lógico, como explicar o número comparativamente pequeno daqueles que observam a
Torá e as mitsvot, enquanto que os transgressores são tão numerosos? A resposta a esta pergunta também é bastante simples.
Eu sinto-a na minha própria carne: quando alguém medita sobre sua própria
conduta e suas realizações, particularmente em sua vida cotidiana [não em
períodos de elevação espiritual especial, como nos dias de Yom Tov, etc.], não
é difícil ver que um número muito grande dessas ações são motivadas por desejos
e inclinações, e não pelo intelecto. Isto é particularmente verdadeiro quando o
conflito não impõe a ameaça imediata de "represarias". Quanto mais
remoto o perigo das sanções, mais fraca se torna a motivação intelectual e a
conduta torna-se mais fortemente influenciada por desejo e emoção; e mais
ainda, quando as sanções são de natureza "abstrata". Pois o medo das
sanções físicas (multas, confinamentos, etc.) é mais eficaz do que a
advertência por argumentação em nome da moral, justiça, humanismo, etc. Há também um fator adicional da natureza humana.
Quando o homem sucumbe à tentação e comete um "pecado", ele pode
experimentar uma de duas espécies de reação: Se ele é honesto e corajoso ele
reconhecerá seu ato pelo que representa, – um fracasso –, bem como uma quebra
de sua própria vontade sincera e consciência. Reconhecendo o seu fracasso como
um sinal de fraqueza, ele procurará suplantá-lo e agirá melhor na próxima vez;
D’us terá compaixão e o perdoará se admitir seu erro e resolver corrigi-lo.
Aquele, porém, que teme enfrentar a verdade e
suas consequências no caso de uma falha, começa a encontrar desculpas para si
próprio e para justificar sua ação negativa. Mais ainda: como "uma
transgressão acarreta outra em sequência", o complexo de culpa, a
necessidade de autojustificativa, tornar-se-ão cada vez mais persistentes e
prementes, não só para acalmar sua própria consciência atormentada, como para
se defender aos olhos dos outros. O amor
mascara todas as ofensas, principalmente o amor próprio, e o suborno cega os
olhos, mesmo dos sábios. Ele se tornará, assim, parcial em seu próprio favor e
em seu pensamento confuso "Criará" uma filosofia pessoal, ou mesmo
uma "weltanschauung" para adaptar-se à sua conduta, que não somente a
justificará, como ainda transformará o vício em virtude. Desnecessário dizer
que é difícil alongar-se nesses assuntos numa carta. Acredito, porém, que os
pontos mencionados servirão como pontos de partida para que o senhor medite e
compreenda que o mundo não é confusão, e que tudo e todos tem o seu lugar e a
sua finalidade. Se o senhor puder se considerar objetivamente liberto de
preconceitos, influências ambientais, bem como outras coisas, o senhor
descobrirá o seu próprio lugar, e a finalidade da vida, à luz do que foi dito
acima (…). Com a benção do Rebe. www.pt.chabad.org. Abraço. Davi
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