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QUE É O ZOHAR. O Sefer ha-Zohar - o Livro do Esplendor - É, sem sombra de
dúvida, a obra principal e mais sagrada da Cabalá, a dimensão mística do
judaísmo. De autoria do grande Rabi Shimon bar Yochai, permanece inacessível
até os dias de hoje para a grande maioria dos que tentam transpor o mistério
que encerra. Quem sabe se por esta razão, ou apesar desta, nenhuma outra obra
mística jamais despertou tanta curiosidade e exerceu tão grande influência? O Zohar é a coluna vertebral da Cabalá, também chamada de Chochmat
ha-Emet - a Sabedoria da Verdade. Na língua hebraica, Cabalá significa
"recebimento" ou "o que foi recebido". Por ser parte
integral da Torá, tem origem e natureza Divina. Apesar de seus ensinamentos
terem sido transmitidos a Adão e aos patriarcas do povo judeu, foi Moisés quem
os recebeu diretamente de D'us durante a Revelação no Monte Sinai e os
instituiu formalmente como parte da história do povo de Israel. Desde então,
está sabedoria mística vem sendo repassada de geração em geração para uns
poucos escolhidos entre os líderes espirituais do povo judeu. Chamados de nistarim (literalmente "os ocultos"), os primeiros
cabalistas preservaram zelosamente esses ensinamentos, transmitindo-os
oralmente às gerações seguintes. Somente no século II da era comum, surgiria no
seio de Israel um homem que possuía os dons espirituais e intelectuais que lhe
permitiram dar forma a essa sabedoria milenar. Seu nome era Rabi Shimon bar
Yochai, uma das personalidades mais reverenciadas na história judaica. A ele
coube o zechut, o honroso mérito de revelar a Luz Divina em todo a sua
majestade e esplendor. Grande líder e um dos maiores sábios
talmúdicos, Rabi Shimon viveu em uma época muito conturbada. Durante sua
geração, Israel penava sob o jugo romano, tendo que se sujeitar à proibição do
estudo da Torá, esta apenas uma entre as inúmeras imposições de Roma. A
gravidade da situação levou os mestres da Lei a adotarem medidas excepcionais.
Preocupados que a perseguição e a dispersão dos judeus pudessem resultar na
perda parcial dos ensinamentos da Torá Oral, os sábios deram seu consentimento
para que os fundamentos de seu conteúdo fossem transcritos. Portanto, o Talmud,
seus comentários, o Midrash e os ensinamentos cabalísticos começaram a ser compilados
e escritos. E foi Rabi Shimon bar Yochai quem estruturou a tradição mística
através do Zohar. No entanto, havia um grande problema
na transcrição dos segredos da Cabalá. Os sábios temiam que pessoas sem preparo
espiritual tivessem acesso aos segredos da Criação e do Universo. Para evitar
que isso acontecesse, O Livro do Esplendor foi escrito de forma praticamente
indecifrável para os não iniciados. E a primeira condição para se fazer parte
desse grupo pequeno e seleto era possuir um vasto e profundo conhecimento sobre
a Torá e sobre a tradição cabalística. Livro
fechado. O Sefer ha'Zohar é um livro fechado e as chaves para sua compreensão
permanecem em mãos de um número reduzido de sábios. Esta obra pode ser
comparada a um sistema codificado, de extrema complexidade, que esconde
tesouros inestimáveis. Rabi Shimon era um daqueles seres pertencentes a um
plano espiritual tão elevado que, entre os que estudam a sua obra, são poucos
os que conseguem assimilar parte de seus ensinamentos. Não obstante, mesmo com
apenas um pouco desse conhecimento, constroem-se montanhas de sabedoria. Como vimos, para os não iniciados, o Zohar é misterioso e praticamente
impenetrável. As dificuldades de compreensão estão presentes em quase todos os
níveis da obra. Além da insondável profundidade de seus preceitos, seu estilo
literário peculiar e sua dialética dificultam a compreensão. Seus textos,
escritos em hebraico ou em aramaico antigo, estão "codificados",
impossibilitando, assim, que pessoas leigas entendam seu significado. Imagens
simbólicas são usadas no lugar de uma terminologia racional e tópicos
independentes são tratados em conjunto, colocando lado a lado assuntos
aparentemente sem relação entre si. Muitas
das passagens do Zohar são compostas por combinações de alusões fragmentadas,
que somente podem ser conectadas por associações secretas. Mas, na realidade,
as conexões existem e são bastante claras para aqueles que entendem seu
simbolismo e significado. Um sábio familiarizado com os segredos místicos da
Torá entende perfeitamente seu conteúdo, seu estilo e sua estrutura
aparentemente ilógica. Se para os não iniciados muitos de seus ensinamentos
carecem de significado, estes mesmos preceitos são, para os que podem
decifrá-los, a chave para desvendar os maiores e mais profundos segredos da
existência e do universo. Apesar de terem sido traduzidos para
o hebraico moderno e para outros idiomas, os verdadeiros ensinamentos do Sefer
ha-Zohar continuam sendo praticamente incompreensíveis. Mesmo para a maioria
dos eruditos na Torá, o Livro do Esplendor continua sendo um enigma. O Talmud e
outras obras da lei judaica são acessíveis e compreensíveis; não apenas é
permitido o seu estudo, como também é incentivado e é uma obrigação colocar-se
em prática os seus ensinamentos. Já o Zohar continua além do alcance
intelectual e espiritual da maioria dos judeus - pelo menos por enquanto.
Grandes cabalistas sempre alertaram que o privilégio de estudar e entender esta
obra era reservado para muito poucos. O
cuidado e o resguardo em relação ao Zohar sempre foram impostos com o propósito
de preservar não só a obra, mas também a alma daqueles que se aventurassem a
estudá-la. Temia-se que seus ensinamentos e revelações pudessem ser mal
interpretados ou usados de forma inadequada. Infelizmente, esses temores se
confirmaram no decorrer da história. Houve vários casos de indivíduos e até
mesmo de grupos que, após mergulharem nas águas do misticismo judaico sem o
preparo adequado, acabaram por se perder. Ainda mais grave: seus ensinamentos
místicos foram utilizados por falsos messias e distorcidos por místicos
não-judeus e por adeptos da ciência do ocultismo. Os resultados foram
catastróficos. Por isso, cabe alertar o leitor que o estudo do Zohar e da
Cabalá somente deve ser conduzido na companhia de um professor que, além de
instruído, tenha atingido um equilíbrio espiritual e mental; que entenda e siga
a Lei Judaica em todos os seus minuciosos pormenores. Seu conteúdo. O
Zohar é fonte de inspiração e sabedoria para os iniciados que ousam adentrar
seus segredos. Seus principais focos são a teosofia - a interação das sefirot e
seus mistérios, a conduta humana e o destino dos judeus neste mundo bem como no
mundo das almas. São raras as ocasiões em que discute de forma explícita a
meditação ou a experiência mística. Ao
penetrar na superfície literal da Torá, O Livro do Esplendor revela as
profundezas místicas de suas histórias, leis e segredos. Transforma a narrativa
bíblica em uma "biografia de D'us". Toda a Torá é lida como
permutações de Nomes Divinos. Cada uma de suas palavras ou de suas mitzvot
simbolizam algum aspecto das sefirot - que representam as maneiras pelas quais
D'us interage com Sua Criação. O Zohar revela que o real significado da Torá
reside em sua parte oculta - chamada de nistar - e em seus segredos místicos. Mas esta obra grandiosa não trata apenas de assuntos esotéricos e
místicos. Não há uma única preocupação sobre a existência humana que permaneça
intocada em suas páginas. Apesar da aura de mistério que a cerca, muitos de
seus ensinamentos têm servido de guia para várias gerações de judeus. De um
lado, o Zohar se aprofunda nos maravilhosos mistérios da alma e do Criador; do
outro, aborda assuntos como o poder do mal e a necromancia, proibida pelo
judaísmo. Nele encontram-se visões da Redenção Messiânica, assim como soluções
para as complexas relações entre seres humanos e os problemas de seu cotidiano. Alicerçado principalmente na Torá, o Zohar é uma obra imensa, dividida
em três trabalhos principais que são, por sua vez, subdivididos em outros
segmentos. Trata-se principalmente de uma exegese - uma dissertação de homilias
- e suas idéias emergem através de comentários e discursos. Nele estão as
interpretações místicas e os comentários das sidrot - as leituras semanais da
Torá. A obra não se restringe aos Cinco Livros de Moisés; também aborda outros
livros da Torá, inclusive o Cântico dos Cânticos, o Livro de Ruth e as
Lamentações. Não cabe enfatizar em demasia que a Cabalá é a parte secreta da
Torá e, portanto, não poderia ser estudada ou seguida à parte da Torá revelada.
Acreditar ou estudar a Cabalá sem o respaldo da Torá Escrita e Oral é, no
mínimo, incongruente, pois não há um único trabalho cabalístico que não
contenha citações dos 24 livros da Torá Escrita, do Talmud e do Midrash. Assim como o Talmud, o Zohar cobre todas as manifestações do espírito
judaico. Porém, enquanto o primeiro é essencialmente uma obra sobre a Lei
Judaica, com pitadas de misticismo, o segundo é principalmente um trabalho
místico que aborda e elabora sobre algumas leis do Torá. O Zohar descreve a
realidade esotérica subjacente à experiência cotidiana. Nele, temas e histórias,
tópicos legais e assuntos litúrgicos são vistos e expostos através de uma
interpretação mística. Um breve
histórico. Como vimos acima, os ensinamentos da
Cabalá começaram a assumir uma forma estruturada através do Livro do Esplendor,
de Rabi Shimon bar Yochai. Segundo o Talmud, após ter fugido das autoridades
romanas que queriam matá-lo, Rabi Shimon e seu filho, Rabi Eleazar ben Azariah,
esconderam-se em uma caverna nas montanhas da Galileia. Pai e filho lá
permaneceram durante treze anos, dedicando-se completamente ao estudo da Torá.
Certamente Rabi Shimon já havia sido exposto aos ensinamentos místicos
judaicos. Mas, enquanto estavam na caverna, ele e seu filho foram visitados
pelas almas de Moisés e do profeta Eliahu, que lhes revelaram muitos outros
preceitos cabalísticos. É possível que outros sábios, antes e depois dele,
também tenham tido os dons intelectuais e espirituais para transmitir os
ensinamentos da Cabalá. Mas foi Rabi Shimon, devido à sua luz, à pureza de sua
alma e aos seus méritos, o escolhido por D'us para fazê-lo. Como atesta a própria obra, coube a Rabi Abba, um dos alunos de Rabi
Shimon, a tarefa de registrar por escrito os ensinamentos de seu mestre. Parte
do Zohar não foi transcrita na época; foi preservada e transmitida de forma
oral pelos discípulos de Rabi Shimon, conhecidos como "a Chevraiá". Mas apesar de transcrito, ainda não havia chegado a hora de ser
divulgado o seu conteúdo. Segundo a tradição, seus manuscritos originais
ficaram escondidos durante mil anos e foram descobertos apenas no século XIII.
Durante as décadas de 1270 e 1280, estes manuscritos ficaram restritos a
círculos cabalistas. Finalmente, chegaram às mãos de um místico judeu espanhol,
Rabi Moshe de Leon (1238-1305), que os editou e publicou na década de 1290. Por que teria essa obra magna permanecido escondida por tanto tempo? O
próprio Livro do Esplendor revela a razão ao afirmar que sua sabedoria e luz
seriam reveladas como preparação para a Redenção Final, que deveria ocorrer
1.200 anos após a destruição do Templo Sagrado. E é exatamente o que aconteceu
! O Grande Templo de Jerusalém foi destruído no ano 70 da nossa era, o que
significa que, segundo as previsões do Zohar, seu conteúdo deveria ser revelado
no ano de 1270. O estudo da Cabalá floresceu na
Espanha e na Provença, mas até a expulsão dos judeus da Península Ibérica, o
Zohar só era conhecido no meio de restritos círculos de sábios e cabalistas.
Após a expulsão, ele emerge desses círculos e passa a exercer uma grande
influência sobre os judeus sefaraditas. Perseguidos e expulsos, os judeus da
Espanha encontraram em seus ensinamentos sobre a Redenção Messiânica uma grande
fonte de conforto e esperança e tanto a obra como seu autor passaram a ser
reverenciados por eles. Até hoje, o Zohar está presente no dia-a-dia dos judeus
dessa origem, pois seus ensinamentos moldaram grande parte de suas tradições e
seus costumes religiosos. Muitos dos cabalistas forçados a sair
da Península Ibérica se estabeleceram na cidade sagrada de Safed, em Israel,
que se tornou um centro de estudos místicos. Em Safed, o Sefer ha'Zohar serviu
de base para os ensinamentos de dois dos maiores cabalistas - ambos sefaraditas
- da era moderna: Rabi Moshe Cordovero (falecido em 1570), conhecido como o
Ramak; e o grande Rabi Yitzhak Luria (1534-1572), o Arizal. Foi em Safed – Israel, que o Arizal transmitiu seus conhecimentos sobre
o Livro do Esplendor e a Cabalá. Desenvolveu um novo sistema para a compreensão
de seus mistérios, chamado de Método Luriânico. Seus ensinamentos são
reconhecidos como a autoridade máxima da Cabalá, tendo sido estudados pelas
gerações de cabalistas que o seguiram. A partir de seus ensinamentos, a Cabalá
se tornou mais acessível e passou a ser disseminada por sábios e místicos
judeus. O próprio Arizal afirmara que havia chegado a era na qual não só seria
permitido revelar a sabedoria da Cabalá, mas tornar-se-ia uma obrigação
fazê-lo. Mas, foi na primeira metade do século
XVIII, com o surgimento do chassidismo - como passou a ser chamado o movimento
iniciado no leste da Europa pelo Rabi Baal Shem Tov - que a Cabalá que fora
ensinada pelo Arizal passou a atingir um número ainda maior de judeus. A
principal contribuição do chassidismo foi sua adaptação da doutrina da Cabalá a
uma linguagem cotidiana e de fácil compreensão. Desta maneira, a profunda
sabedoria de Rabi Shimon bar Yochai passou a influenciar as massas de judeus
asquenazitas do leste Europeu. Com a expansão do chassidismo os ensinamentos do
Zohar passaram a influenciar um número cada vez maior de judeus. A santidade da obra. Chamada também de Ha'Zohar ha-Kadosh - O Sagrado Zohar - esta obra é
envolta por uma aura de suprema santidade. Sua natureza misteriosa e seu
conteúdo inacessível só acrescentaram reverência ao respeito que provoca entre
judeus e não-judeus. Como vimos anteriormente, o Zohar é a suprema autoridade
no campo do misticismo judaico, é a face mística da Revelação Divina
manifestada por meio da Torá. Em termos de santidade, o Zohar foi posto em um
nível ainda maior do que o Talmud, pois enquanto as leis deste último representam
o corpo da Torá, os mistérios do Zohar representam sua alma. Mas, o Livro do
Esplendor nunca se opõe à autoridade do Talmud nem às suas leis. Assim como
alma e corpo são interdependentes; apenas quando unidos e em harmonia podem
proporcionar ao homem uma vida significativa. Da mesma forma, o Zohar e o
Talmud não podem cumprir sua missão, nem sobreviver de forma separada e sem uma
mútua interligação. O Zohar tem sido aceito por todo o
povo judeu, independentemente de seu passado e tradições. Embora apenas um
número limitado de judeus o tenha estudado de fato, continua a influenciar de
maneiras que sequer podem ser imaginadas. Uma história do Baal Shem Tov revela
o amor dos chassidim pelo Zohar e é também um exemplo de sua santidade e poder.
Sabe-se que o Baal Shem Tov (1698-1760) sempre levava uma cópia desta obra com
ele, sendo capaz de realizar milagres e prever o futuro através da força
espiritual do livro. Um dia lhe perguntaram como tinha sido capaz de,
simplesmente olhando para o Zohar, descrever os passos de um homem que havia
desaparecido. E ele respondeu com uma citação do Talmud: "A luz que D'us
fez em seis dias de Criação permitiria ao homem enxergar de um lado do mundo
para o outro, mas esta luz tem sido guardada para os justos no Mundo Vindouro".
E onde está esta luz guardada", perguntou o Baal Shem Tov, respondendo ele
próprio: "Na Torá. Então, quando eu abro o Zohar, eu posso ver o mundo
todo". www.morasha.com.br. Abraço.
Davi
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