Islamismo. www.ccib.org.br. Texto de Sherif Abdel Azeem
Mohammed. II. A MULHER NO ISLAM – MITO E REALIDADE. 11. MÃES. Em muitas
passagens, o Velho Testamento recomenda tratamento gentil e atencioso aos pais
e condena aqueles que os desonram. Por exemplo, "Se alguém amaldiçoa seu
pai ou sua mãe, ele deve morrer" (Levítico 20:9) e "Um homem sábio traz
alegria para seu pai, mas um homem tolo despreza sua mãe" (Provérbios
15:20). Embora honrar o pai somente seja mencionado em alguns lugares, por
exemplo, "Um homem sábio presta atenção às instruções de seu pai"
(Provérbio (13:1), a mãe nunca é mencionada. Além disso, não há ênfase especial
para o tratamento gentil à mãe, como um sinal de apreço pelo seu grande
sofrimento pelo parto e pela amamentação. Por outro lado, as mães não herdam
nada de seus filhos, como seus pais herdam (42). É difícil falar sobre o Novo
Testamento como uma escritura que se lembre de honrar a mãe. Pelo contrário,
tem-se a impressão de que o Novo Testamento considera o tratamento gentil às
mães como um impedimento para o caminho de Deus. De acordo com o Novo
Testamento, ninguém pode tornar-se um bom cristão, digno de tornar-se um
discípulo de Cristo, a menos que ele odeie sua mãe. Atribui-se a Jesus ter
dito: "Se alguém vem a mim e não odeia seu pai e sua mãe, sua esposa e
filhos, seus irmãos e irmãs - sim, mesmo sua própria vida - ele não pode ser
meu discípulo" (Lucas 14:26). Além disso, o Novo Testamento pinta um
quadro de Jesus como indiferente, ou mesmo desrespeitoso, em relação a sua
própria mãe. Por exemplo, quando ela chegou procurando por ele, enquanto ele
pregava para multidão, ele não se preocupou em ir ter com ela: "Então, a
mãe e os irmãos de Jesus chegaram. Em pé, do lado de fora, eles pediram a
alguém para chamá-lo. Uma multidão estava sentada em volta dele e eles lhe
disseram: Sua mãe e seus irmãos estão lá fora procurando-o. Quem são minha mãe
e meus irmãos?, ele perguntou. Então ele olhou para aqueles que estavam
sentados à volta dele e disse: Estes são minha mãe e meus irmãos! Quem quer que
faça a vontade de Deus é meu irmão e irmã e mãe" (Marcos 3:3l/35). Alguém
pode argumentar que Jesus estava tentando ensinar a seus ouvintes uma
importante lição de que os laços religiosos não são menos importantes do que os
laços familiares. Contudo, ele podia ter ensinado aos seus ouvintes a mesma
lição sem mostrar uma tal absoluta indiferença para com sua mãe. A mesma
atitude desrespeitosa aparece quando ele se recusou a endossar uma declaração
feita por um membro de sua audiência, abençoando o papel de sua mãe, que o
havia gerado e alimentado: "Como Jesus dissesse estas coisas, uma mulher
na multidão o chamou,"abençoada seja a mãe que lhe deu à luz e o
alimentou". Ele respondeu: "Abençoados antes sejam aqueles cujos
corações ouvem a palavra de Deus e obedecem" (Lucas 11:27/28). Se uma mãe,
com a estatura da virgem Maria, foi tratada com tal descortesia, conforme
relatado no Novo Testamento, por um filho da estatura de Jesus Cristo, o que
dizer então do tratamento dispensado pelos filhos cristãos comuns às suas mães
cristãs? No Islam, a honra, o respeito e a estima pela maternidade é sem
paralelo. O Alcorão coloca a importância da gentileza para com os pais vindo em
segundo lugar, após a adoração a Deus, o Poderoso: "O teu Senhor decretou
que não adoreis ninguém a não ser Ele, que sejais indulgentes com os vossos
pais, mesmo que a velhice alcance a um deles ou a ambos, em vossa companhia:
não os reproveis, nem os rejeiteis; outro sim, dirigi-lhes palavras honrosas. E
estende sobre eles a asa da humildade e dizei: Ó Senhor meu, tenha misericórdia
de ambos, como eles tiveram de mim, criando-me desde pequeno" (17:23/24).
O Alcorão em muitas outras partes dá ênfase especial para o grande papel da mãe
que dá à luz e alimenta o filho: "E recomendamos ao homem benevolente para
com os seus pais. Sua mãe o suporta entre dores e sua desmama é aos dois anos.
Mostre gratidão a Mim e a seus pais" (31:14). Este lugar muito especial
para as mães no Islam, foi descrito eloquentemente pelo Profeta: "Um homem
perguntou ao Profeta: "A quem deve honrar mais?" O Profeta respondeu:
"Sua mãe". "E quem vem depois?, perguntou o homem. O Profeta
respondeu: "Sua mãe". "E quem vem depois?, perguntou o homem. O
Profeta respondeu: "Sua mãe". E que vem depois?", perguntou o
homem. O profeta respondeu: "Seu pai". (Bukhari e Muslim). Entre os poucos
preceitos do Islam, que os muçulmanos ainda observam fervorosamente até os dias
atuais, é o tratamento atencioso para com as mães. A honra que as mães
muçulmanas recebem de seus filhos e filhas é exemplar. As relações afetuosas
entre as mães muçulmanas e seus filhos, e o profundo respeito com que os homens
se aproximam de suas mães, deixa os ocidentais espantados (43). 12. A HERANÇA
FEMININA. Uma das diferenças mais importantes entre o Alcorão e a Bíblia é a que
se refere ao direito de herança à propriedade de parentes mortos. A postura
bíblica foi sucintamente descrita pelo Rabino Epstein: "As rígidas
tradições desde os tempos bíblicos não dão aos membros femininos de uma casa,
esposa e filhas, o direito de sucessão ao patrimônio familiar. Nos esquemas
mais primitivos de sucessão, os membros femininos da família eram considerados
parte do patrimônio e tão remoto seu direito na herança quanto o de um escravo.
Ao passo que na lei Mosaica, as filhas eram admitidas na sucessão, no caso de
não haver homem com esse direito, embora a esposa não tivesse reconhecido esse
direito, mesmo em condições semelhantes." (44) . Por que as mulheres eram
consideradas como parte do patrimônio familiar? O Rabino Epstein respondeu:
"Elas são propriedades dos pais, antes do casamento; e depois, dos maridos."
(45) As regras bíblicas de herança estão sublinhadas em Números 27:1/11. Uma
esposa não tem participação no patrimônio de seu marido, enquanto que ele é seu
primeiro herdeiro, mesmo antes de seus filhos. Uma filha pode herdar somente no
caso de não existir herdeiros masculinos. A mãe não é herdeira, enquanto que o
pai é. Viúvas e filhas, no caso de existirem meninos, ficavam por conta dos
herdeiros masculinos para o seu sustento. Por isso que as viúvas e órfãs
estavam entre os membros mais destituídos da sociedade judaica. O cristianismo
seguiu estes padrões por muito tempo. Tanto as leis civis como as eclesiásticas
impediam as filhas de dividirem com seus irmãos o patrimônio do pai. Além
disso, as viúvas eram privadas de qualquer direito à herança. Estas leis iníquas
sobreviveram até o final do século passado (46). Entre os árabes pagãos antes
do Islam, os direitos de herança eram confinados exclusivamente aos parentes
masculinos. O Alcorão aboliu todos esses costumes injustos e deu a todos os
parentes femininos participação na herança: "Às mulheres também
corresponde uma parte do que tenham deixado os pais e parentes, quer seja
pequena quer seja grande, uma quantia determinada" (4:7). As mães
muçulmanas, esposas, filhas e irmãs receberam o direito à herança 1300 anos
antes de os europeus reconhecerem sequer que aqueles direitos existiam. A
divisão da herança é um assunto vasto, com uma grande quantidade de detalhes
(4:7,11, 12, 176). A regra geral é que a parte da mulher é a metade do que o
homem recebe, exceto nos casos em que a mãe recebe parte igual a do pai. Se
tomada isoladamente, esta regra geral referente a homens e mulheres pode
parecer desfavorável. A fim de compreendermos a razão por detrás desta regra,
devemos ter em conta o fato de que as obrigações financeiras do homem muçulmano
excedem em muito às obrigações das mulheres (ver a seção "A Propriedade da
Esposa"). Um noivo deve providenciar para sua noiva o presente de
casamento. Este presente se torna posse exclusiva da noiva e permanece assim, mesmo
que mais tarde venha a se divorciar. A noiva não tem obrigação de presentear
seu noivo. Além disso, os maridos muçulmanos são onerados com a manutenção de
sua esposa e filhos. A esposa, por outro lado, não é obrigada a socorrê-lo no
cumprimento daquela obrigação. Sua propriedade e ganhos são para seu uso
exclusivo, a não ser que ela voluntariamente os ofereça a seu marido. Além
disso, todo mundo percebe que o Islam advoga veementemente a vida familiar. Ele
encoraja fortemente os jovens a se casarem, desencoraja o divórcio e não vê o
celibato como uma virtude. Numa verdadeira sociedade islâmica, a vida familiar
é a norma e a vida de solteiro é uma exceção rara. Quer dizer, todos os homens
e mulheres em idade de se casarem são casados na sociedade islâmica. À luz desses
fatos, pode-se perceber que o homem muçulmano, em geral, tem uma grande
responsabilidade financeira e que, por isso, as regras de herança significam
uma compensação para este desequilíbrio, de forma que a sociedade possa viver
livre de todas as lutas de classe ou de sexo. Após uma simples comparação entre
os direitos e deveres financeiros da mulher muçulmana, uma muçulmana inglesa
concluiu que o Islam tratou as mulheres não só favoravelmente, mas também
generosamente (47). 13. A CONDIÇÃO DAS VIÚVAS. Velho Testamento não reconhecia o
direito de herança a elas, e por isso as viúvas eram as mais vulneráveis entre
a população judaica. Os parentes masculinos, que herdavam todo o patrimônio do
marido morto, sustentavam a mulher com a administração desse patrimônio.
Contudo, as viúvas não tinham meios de se assegurarem que esta provisão estava
sendo cumprida e, por isso, viviam pela misericórdia dos outros. Assim, as
viúvas estavam situadas entre as classes mais baixas da antiga Israel e a
viuvez era considerada um símbolo de grande degradação (Isaías 54:4). Mas, a
condição da viúva na tradição bíblica ia mesmo além de sua exclusão na
propriedade do marido. De acordo com o Gênesis 38, as viúvas sem filhos deviam
se casar com o irmão de seus maridos, mesmo que ele já fosse casado, pois,
dessa maneira, ele podia providenciar uma descendência para o seu irmão morto
e, assim, assegurar que o nome do irmão não morresse. Judá disse a Onan,
"Deite-se com a esposa de seu irmão e cumpra com o seu dever para com ela como
um cunhado, a fim de gerar descendência para o seu irmão". (Gênesis 38:8).
O consentimento da viúva para este casamento não era exigido. A viúva era
tratada como parte da propriedade do marido morto e sua principal função era
assegurar a posteridade para o seu marido. Esta lei bíblica ainda hoje é
praticada em Israel (48). Uma viúva sem filhos em Israel é legada ao irmão de
seu marido. Se o irmão é muito jovem para casar, ela tem que esperar até ele
atingir a idade. Se o cunhado se recusar a casar com ela, então ela fica livre
para se casar com um homem de sua escolha. Não é incomum em Israel que as
viúvas sejam submetidas à chantagem por parte de seus cunhados a fim de
ganharem a sua liberdade. Os árabes pagãos antes do Islam, tinham práticas
semelhantes. Uma viúva era considerada uma parte da propriedade do marido a ser
legada aos herdeiros masculinos e comumente ela era dada em casamento ao filho
mais velho do marido falecido com outra esposa. O Alcorão sarcasticamente
atacou e aboliu este costume degradante: "Não vos caseis com as mulheres
que desposaram vossos pais - exceto fato consumado no passado - porque
realmente é um costume vergonhoso, odiento e abominável (4:22). As viúvas e as
mulheres divorciadas eram tão mal vistas na tradição bíblica que um sacerdote
não podia se casar com uma viúva, uma divorciada ou uma prostituta: "A
mulher com quem ele (sacerdote) se casar deve ser virgem. Ele não deve se casar
com uma viúva, uma divorciada ou uma mulher corrompida pela prostituição, mas
somente com uma virgem de seu próprio povo e assim ele não conspurcará sua
descendência entre o seu povo" (Levítico 2l:13/15). Atualmente em Israel,
um descendente da casta Cohen (os sacerdotes dos dias do Templo) não pode se
casar com uma divorciada, uma viúva ou uma prostituta (49). Na legislação
judaica, uma mulher que enviuvou três vezes, com todos os três maridos morrendo
de causa natural, é considerada "fatal" e proibida de casar de novo
(50). O Alcorão, por outro lado, não reconhece castas ou pessoas fatais. Viúvas
e divorciadas têm liberdade para se casarem com quem quer que seja que elas
escolham. Não há estigma ligado ao divórcio ou à viuvez no Alcorão:
"Quando vos divorciardes das mulheres e elas tenham cumprido o seu período
(três menstruações), tomai-as de volta equitativamente ou libertai-as
equitativamente. Não as tomeis de volta com o intuito de injuriá-las
injustamente, porque quem tal o fizer errará por sua própria conta. Não trateis
dos sinais de Alá como zombaria" (2:23l). "Se algum de vós vier a falecer
e deixar viúvas, elas deverão aguardar quatro meses e dez dias. Quando elas
tiverem cumprido seu período, não sereis responsáveis pelo que elas fizerem de
suas vidas honestamente" (2.240). 14. POLIGAMIA. Passemos agora para
a importante questão que é a poligamia. A poligamia é uma prática muito antiga,
encontrada em muitas sociedades humanas. A Bíblia não condenou a poligamia.
Pelo contrário, o Velho Testamento e os escritos rabínicos frequentemente
atestam a legalidade da poligamia. Dizem que o Rei Salomão teve 700 esposas e
300 concubinas (Reis 11:3). Também o Rei Davi teve muitas esposas e concubinas
(2 Samuel 5:13). O Velho Testamento tem algumas injunções em como distribuir a
propriedade de um homem entre seus filhos de diferentes mulheres (Deuteronômio
22:7). A única restrição com relação à poligamia é a proibição de tomar uma
irmã da esposa como uma esposa rival (Levítico 18:18). O Talmud aconselha a um
máximo de 4 esposas (51). Os judeus europeus continuaram a praticar a poligamia
até o século XVI. Os judeus orientais praticavam a poligamia regularmente até a
chegada a Israel, onde ela foi proibida por lei. Contudo, na lei religiosa, que
sobrepuja a lei civil em tais casos, a poligamia é permitida (52). E com
relação ao Novo Testamento? De acordo com o padre Eugene Hilman (1924- ), em seu penetrante livro, a poligamia é
reconsiderada, "Em parte alguma do Novo Testamento há uma orientação
expressa de que o casamento deve ser monogâmico ou qualquer orientação que proíba
a poligamia". (53). Além disso, Jesus não falou contra a poligamia, embora
ela fosse praticada pelos judeus de sua época. O padre Hillman chama a atenção
para o fato de que a Igreja de Roma proibiu a poligamia, a fim de se adequar à
cultura Greco-romana (que prescrevia somente uma esposa legal, enquanto que
tolerava o concubinato e a prostituição). Ele citou Santo Agostinho,
"Agora, em nosso tempo, e de acordo com o costume romano, não é mais
permitido tomar uma outra esposa" (54). As igrejas africanas e os cristãos
africanos muitas vezes lembram a seus irmãos europeus que a proibição da
poligamia é mais uma tradição cultural do que uma autêntica injunção cristã. O
Alcorão também permitiu a poligamia, mas não sem algumas restrições: "Se
vós temeis não serdes capazes de conviver justamente com os órfãos, casai com
mulheres de sua escolha, 2 ou 3 ou 4 vezes; mas se temerdes que que não sereis
capazes de conviver justamente com elas, então casai somente com uma"
(4:13). O Alcorão, ao contrário da Bíblia, limitou o número de esposas a 4, sob
a estrita condição de que as esposas sejam tratadas igualmente. Isto não deve
ser entendido como uma exortação a que os crentes pratiquem a poligamia, ou que
a poligamia seja considerada como um ideal. Em outras palavras, o Alcorão
"tolera" ou "permite" a poligamia, e não mais, mas por que?
Por que a poligamia é permitida? A resposta é simples: há lugares e épocas em
que razões morais e sociais compelem para a poligamia. Como os versos do
Alcorão acima indicam, a questão da poligamia no Islam não pode ser entendida como
parte das obrigações da comunidade com relação aos órfãos e viúvas. O Islam,
como uma religião universal, aplicável para todos os lugares e tempos, não
poderia ignorar essas pressões. Em muitas sociedades humanas, as mulheres
superam os homens em quantidade. Em um país como a Guiné, há 122 mulheres para
cada 100 homens. Na Tanzânia, há 95,1 homens para 100 mulheres (55). O que uma
sociedade deve fazer para resolver esse desequilíbrio? Existem várias soluções,
e alguns podem sugerir o celibato, outros preferem o infanticídio feminino (que
ainda acontece no mundo de hoje em alguns lugares). Outros, ainda, podem achar
que a única saída é a sociedade tolerar todas as formas de permissividade
sexual: prostituição, sexo fora do casamento, homossexualismo, etc. Para outras
sociedades, como a maior parte das sociedades africanas de hoje, a saída mais
honrosa é permitir o casamento poligâmico, como uma instituição culturalmente
aceita e socialmente respeitada. A questão, que é muitas vezes incompreendida
no ocidente, é que muitas mulheres de outras culturas necessariamente não vêm a
poligamia como um sinal de degradação da mulher. Por exemplo, muitas jovens
noivas africanas, sejam cristãs ou muçulmanas, prefeririam se casar com um
homem casado, que tenha provado a ele mesmo, ser um marido responsável. Muitas
esposas africanas persuadem seus maridos a tomar uma segunda esposa e assim
eles não se sentem sozinhos (56). Uma pesquisa realizada na segunda maior
cidade da Nigéria com 600 mulheres, com idades entre 15 e 59 anos, mostrou que
60% dessas mulheres não se importariam que seus maridos tivessem uma outra
esposa. Somente 23% expressaram raiva ante a ideia de dividirem seus maridos
com outras mulheres. 76% das mulheres que se manifestaram numa pesquisa
realizada no Quênia, viram a poligamia positivamente. Em outra pesquisa
realizada no campo, 25 de 27 mulheres consideraram a poligamia melhor do que a
monogamia. Estas mulheres sentiram que a poligamia pode ser uma experiência
feliz e benéfica se as co-esposas cooperarem umas com as outras (57). A
poligamia, na maior parte das sociedades africanas é uma instituição tão
respeitada, que algumas igrejas protestantes começaram a tolerá-la,
"Embora a monogamia possa ser ideal para a expressão do amor entre o
marido e a esposa, a igreja deve considerar que em certas culturas a poligamia
é socialmente aceitável e que a crença de que a poligamia é contrária ao
cristianismo não se sustenta por muito tempo". (58) Depois de um cuidadoso
estudo sobre a poligamia africana, o Reverendo David Gitari (1937-2013), da
Igreja Anglicana, concluiu que a poligamia, como idealmente praticada, é mais
cristã do que o divórcio e o novo casamento, porque há uma preocupação com as
esposas e crianças abandonadas. (59) Eu pessoalmente conheço algumas esposas
africanas, finamente educadas, que apesar de terem vivido no Ocidente por
muitos anos, não fazem qualquer objeção à poligamia. Uma delas, que mora nos
USA, solenemente estimula seu marido a tomar uma segunda esposa para ajudá-la
na criação das crianças. O problema do desequilíbrio entre os sexos começa na
verdade nos problemáticos tempos de guerra. Os índios nativos americanos
costumavam sofrer com essa desigualdade de número entre homens e mulheres,
principalmente após as perdas dos tempos de guerra. As mulheres dessas tribos,
que na verdade desfrutavam de uma alta posição, aceitavam a poligamia como a
melhor proteção contra a tolerância por atividades indecentes. Os colonos
europeus, sem oferecerem qualquer outra alternativa, condenavam a poligamia
indiana como "incivilizada" (60). Após a segunda guerra mundial,
havia na Alemanha 7.300.000 mais mulheres do que homens (3.3 milhões delas eram
viúvas). Havia 100 homens na idade de 20 a 30 anos para cada 167 mulheres
naquele mesmo grupo de idade. (6l) Muitas dessas mulheres necessitavam de um
homem, não apenas como uma companhia mas, também, como um mantenedor para a
casa, num tempo de miséria e injustiça sem precedentes. Os soldados do exército
aliado vitorioso exploravam a vulnerabilidade dessas mulheres. Muitas jovens e
viúvas tinham ligações com membros das forças de ocupação. Muitos soldados
americanos e britânicos pagavam por seus prazeres com cigarros, chocolates e
pães. As crianças ficavam felizes com os presentes que os estrangeiros traziam.
Um menino de 10 anos, vendo esses presentes com outras crianças, desejava
ardentemente um "inglês" para a sua mãe e assim, ela não precisaria
passar fome por tanto tempo (62). Devemos perguntar para nossa consciência
sobre esta questão: O que dignifica mais uma mulher? Uma segunda esposa, aceita
e respeitada, ou uma prostituta virtual, como no caso da abordagem
"civilizada" das forças aliadas na Alemanha? Em outras palavras, o
que dignifica mais uma mulher, a prescrição alcorâmica ou a teologia baseada na
cultura do império romano? É interessante notar que, em uma conferência da
juventude internacional, acontecida em Munique, em 1948, o problema alemão do
desequilíbrio no número de homens e mulheres foi discutido. Quando ficou claro
que não havia solução consensual, alguns participantes sugeriram a poligamia. A
reação inicial da reunião foi uma mistura de choque e repugnância. Contudo,
após um estudo cuidadoso da proposta, os participantes concordaram que a
poligamia era a única solução possível. Consequentemente, a poligamia estava
incluída entre as recomendações finais da conferência. (63). Atualmente, o
mundo possui mais armas de destruição em massa do que jamais houve em qualquer
tempo e as igrejas europeias podem, mais cedo ou mais tarde, se ver obrigadas a
aceitar a poligamia como o único caminho. O Padre Hillman, após muito pensar,
admitiu este fato, "É quase concebível que aquelas técnicas genocidas
(nuclear, biológica, química) podem produzir um desequilíbrio tão drástico
entre os sexos que o casamento plural poderia ser um meio necessário de
sobrevivência. Em tal situação, os teólogos e os líderes das igrejas deveriam
rapidamente produzir razões importantes e textos bíblicos que justifiquem um
novo conceito de casamento". (64) Nos dias atuais, a poligamia continua a
ser a solução viável para alguns males das sociedades modernas. As obrigações
comunitárias a que o Alcorão se refere, juntamente com a permissão da
poligamia, são mais perceptíveis atualmente nas sociedades ocidentais do que na
África. Por exemplo, nos USA de hoje, há uma séria crise na comunidade negra.
Um em cada 20 jovens rapazes negros podem morrer antes de atingir a idade de 2l
anos. Para aqueles que estão entre os 20 e 35 anos, o homicídio lidera a causa
da morte (65). Além disso, muitos rapazes negros estão desempregados, na prisão
ou são viciados (66). Como consequência, um em 4 mulheres negras, na idade de
40 anos, nunca se casaram, enquanto que este número é de 1 para 10 mulheres
brancas (67). Além do mais, muitas jovens negras se tornam mães solteiras antes
dos 20 anos e se encontram na situação de serem mantidas. O resultado final
dessas trágicas circunstâncias é que há um aumento no número de mulheres negras
comprometidas com "homem-partilhado" (68). Isto é, muitas dessas infelizes
mulheres negras solteiras estão envolvidas em casos com homens casados. As
esposas muitas vezes não têm consciência do fato de que outras mulheres estão
dividindo seus maridos com elas. Alguns observadores da crise do
"homem-partilhado" na comunidade africana na América têm recomendado
a poligamia consensual, como uma resposta temporária para a diminuição do
número de homens negros, até que reformas mais abrangentes na sociedade
americana sejam tomadas (69). Esses observadores entendem poligamia consensual
como a poligamia sancionada pela comunidade e na qual todas as partes
envolvidas concordem, em oposição ao segredo dos casos com homens casados, os
quais sempre prejudicam tanto a esposa como a comunidade em geral. O problema
do "homem-partilhado" na comunidade africana da América foi ponto de
discussão em um painel realizado na Universidade de Temple, na Filadélfia, em
27.01.93 (70). Alguns dos palestrantes recomendaram a poligamia como um remédio
potencial para a crise. Eles também sugeriram que a poligamia não podia ser
banida por lei, particularmente em uma sociedade que tolera a prostituição e o
concubinato.. O comentário de uma das mulheres participantes, de que os negros
americanos precisavam aprender com a África, onde a poligamia era praticada
responsavelmente, conseguiu entusiásticos aplausos. Philip Kilbride, um
antropólogo americano, de tradição católica romana, em seu livro provocativo,
"Casamento Plural para o Nosso Tempo", propõe a poligamia como
solução para alguns dos males da sociedade americana. Ele argumenta que o
casamento plural pode servir como uma alternativa potencial para o divórcio em
muitos casos,a fim de eliminar o impacto danoso do divórcio sobre as crianças.
Ele afirma que muitos divórcios foram causados pelo excessivo número de casos
extraconjugais ocorridos na sociedade americana. De acordo com Kilbride,
transformar um caso extraconjugal em um casamento poligâmico, ao invés do
divórcio, é melhor para as crianças. Além disso, ele sugere que outros grupos
também se beneficiarão do casamento plural, tais como: mulheres mais velhas,
que enfrentam uma crônica diminuição de homens e os negros americanos, que
estão envolvidos com o "homem-partilhado". (7l). Em 1987, uma votação
conduzida por um estudante de jornalismo da Universidade de Berkeley,
perguntava aos estudantes se eles concordavam que os homens poderiam ser
autorizados, por lei, a terem mais de uma esposa, tendo em vista a visível
diminuição do número de candidatos masculinos para o casamento na Califórnia.
Quase todos os votantes aprovaram a idéia. Uma estudante chegou a declarar que
o casamento poligâmico preencheria suas necessidades físicas e emocionais,
porque lhe daria maior liberdade do que uma união monogâmica (72). Na verdade,
o mesmo argumento foi usado por alguns poucos remanescentes das mulheres
fundamentalistas Mormom, que ainda praticam a poligamia nos USA. Elas acreditam
que a poligamia é um caminho ideal para a mulher ter, tanto profissão como
crianças, uma vez que as esposas se ajudam umas às outras no cuidado com os
filhos. Deve-se acrescentar que a poligamia no Islam é questão de consenso
mútuo. Ninguém pode forçar a mulher a se casar com um homem casado. Além disso,
a esposa tem o direito de estipular que seu marido não deve se casar com outra
mulher (74). A Bíblia, pôr outro lado, algumas vezes vale-se da poligamia
forçada. Uma viúva sem filhos deve se casar com o seu cunhado, mesmo que ele já
seja casado (ver a seção "A condição das Viúvas") e independente de
seu consentimento (Gênesis 38:8/10). Deve-se notar que, em muitas sociedades
muçulmanas de hoje, a prática da poligamia é rara, uma vez que a diferença
entre os sexos não é grande. Pode-se dizer que o número de casamentos
poligâmicos no mundo muçulmano é muito menor do que o de casos extraconjugais
no ocidente. Em outras palavras, os homens no mundo muçulmano são muito mais
monogâmicos do que os homens no mundo ocidental. Billy Graham (1918-2018), o
eminente evangélico cristão, reconheceu este fato: "O cristianismo não
pode se comprometer com a questão da poligamia. Se hoje o cristianismo não pode
fazer isso, é em seu próprio detrimento. O Islam permitiu a poligamia como uma
solução para os males sociais e reconheceu um certo grau de latitude da
natureza humana, mas, somente dentro da estrutura estritamente definida na lei.
Os países cristãos fazem um estardalhaço sobre a monogamia, mas, na verdade,
eles praticam a poligamia. Ninguém ignora a existência das amantes na sociedade
ocidental. A esse respeito, o Islam é fundamentalmente uma religião honesta,
que permite a um muçulmano se casar uma segunda vez se ele precisa, mas proibe
rigorosamente todas as associações clandestinas, a fim de salvaguardar a
probidade moral da comunidade". (75) Releva notar que muitos países no
mundo de hoje, muçulmanos ou não, proibiram a poligamia. Tomar uma segunda
esposa, ainda que com o livre consentimento da primeira, é uma violação da lei.
Por outro lado, trair a esposa, com ou sem o seu conhecimento e/ou
consentimento, é perfeitamente legitimada. Qual é a sabedoria legal por detrás
de tal contradição? A lei foi feita para premiar a decepção e punir a
honestidade? Este é um dos paradoxos fantásticos de nosso mundo
"civilizado". 15. HIJAB. Finalmente, vamos esclarecer o que é considerado no ocidente como o
maior símbolo de opressão e servidão da mulher, o véu, ou a cabeça coberta. É
verdade que não existe algo como o véu na tradição judaico-cristã? Façamos o
registro correto. De acordo com o Rabino Dr. Menachem M. Brayer (Professor de
Literatura Bíblica na Universidade de Yeshiva) em seu livro, "A Mulher
Judia na Literatura Rabínica", era um costume judeu a mulher ir aos
lugares públicos com a cabeça coberta, e, em alguns casos, com todo o rosto
coberto, deixando apenas um olho de fora (76). Ele cita alguns famosos ditos
rabinícos antigos, "Não é bom para as filhas de Israel andarem na rua com
suas cabeças descobertas" e "Amaldiçoado seja o homem que permite que
o cabelo de sua esposa seja visto... uma mulher que expõe seus cabelos como
adorno traz a pobreza". A lei rabínica proibe a recitação de bênçãos e
orações na presença de mulheres casadas com a cabeça descoberta, uma vez que o
cabelo é considerado "nudez" (77). O Dr. Brayer também menciona que
"Durante o período Tannaitic a mulher judia com sua cabeça descoberta era
considerada uma afronta à sua modéstia. Quando sua cabeça estava descoberta ela
podia ser multada em 400 zuzim por esta ofensa". O Dr. Brayer também
explica que o véu da mulher judia nem sempre era considerado como um sinal de
modéstia. Algumas vezes, o véu simbolizava mais um estado de distinção e de
luxúria do que modéstia. O véu personificava a dignidade e superioridade das
mulheres nobres. Também podia representar a inacessibilidade da mulher, como
posse santificada de seu marido (78) O véu significava o auto respeito de uma
mulher e um status social. As mulheres das classes mais baixas vestiam o véu
para dar a impressão de uma posição mais elevada. O fato de o véu significar
sinal de nobreza foi a razão de não se permitir às prostitutas cobrirem seus
cabelos, na antiga sociedade judaica. Contudo, as prostitutas muitas vezes
usavam um lenço especial, a fim de parecerem respeitáveis (79). As mulheres
judias na Europa continuaram a usar o véu até o século XIX, quando suas vidas
se tornaram inter relacionadas com o meio cultural. As pressões externas da
vida europeia no século XIX, obrigaram as mulheres a saírem com as cabeças
descobertas. Algumas judias achavam mais conveniente substituir o tradicional
véu por peruca, como uma outra forma de cobrir a cabeça. Atualmente, muitas
mulheres judias piedosas não cobrem mais suas cabeças, exceto quando se
encontram nas sinagogas (80). Algumas delas, tais como as da citada Hasidic,
ainda usam peruca (81). O que dizer a respeito da tradição cristã? É sabido que
as freiras católicas usaram suas cabeças cobertas por centenas de anos, mas
isto não é tudo. São Paulo, no Novo Testamento, fez algumas declarações muito
interessantes a respeito do véu: "Agora eu quero que vocês percebam que a
cabeça de cada homem é o Cristo e a cabeça da mulher é o homem e a cabeça do
Cristo é Deus. Cada homem que reza ou vaticina com a cabeça coberta desonra a
sua cabeça. Cada mulher que ora ou vaticina com a cabeça descoberta desonra sua
cabeça - é como se sua cabeça estivesse raspada. Se a mulher não cobrir sua
cabeça, ela deve ter os seus cabelos cortados: e para não cair na desgraça de
ter os cabelos cortados ou raspados ela deve cobri-los. Um homem não deve
cobrir sua cabeça uma vez que ele é a imagem e glória de Deus; mas a mullher é
oriunda do homem; o homem não foi criado da mulher, mas a mulher foi criada do
homem. Por esta razão, e por causa dos anjos, a mulher deve ter um símbolo da
autoridade sobre sua cabeça" (I Coríntios 11:3/10. As razões apresentadas
por São Paulo, para que a mulher se cubra, é que o véu significa um sinal de
autoridade do homem, o qual é a imagem e glória de Deus sobre a mulher, que foi
criada dele e para ele. São Tertuliano, em seu famoso tratado "Sobre o véu
das virgens", escreveu "jovens mulheres, vocês se cobrem quando nas
ruas, assim, vocês devem se cobrir quando na igreja, vocês se cobrem quando
estão entre pessoas estranhas, portanto vocês devem se cobrir quando estiverem
entre seus irmãos..." Entre as leis canônicas da Igreja Católica de hoje,
há uma lei que exige que as mulheres cubram suas cabeças quando estiverem na
igreja (82). Algumas denominações cristãs, tais como os Amish e os Menonitas,
por exemplo, mantêm suas mulheres cobertas até hoje. A razão para o véu,
conforme explicado pelos líderes da Igreja, é que "a cabeça coberta é um
símbolo da sujeição feminina ao homem e a Deus", o que, no final,
significa a mesma lógica apresentada por São Paulo no Novo Testamento (83). De
todas as evidências acima, é óbvio que o Islam não inventou a cabeça coberta.
Contudo, o Islam endossa a tese. O Alcorão obriga homens e mulheres a baixarem
seus olhos e guardarem suas modéstias e, com relação às mulheres, determina que
suas cabeças sejam cobertas, além do pescoço e seios: "Diga às crentes que
elas devem baixar seus olhos e guardar sua modéstia; que elas não devem exibir
sua beleza e adornos, exceto o que comumente aparece; que elas devem puxar seus
véus sobre os seios (... )" (24:30/3l) O Alcorão é bem claro no que se
refere ao véu como essencial para a modéstia. Mas, por que a modéstia é
importante? O Alcorão é ainda mais claro: "Ó Profeta, dize às tuas esposas
e filhas, e às crentes, que elas devem se cobrir com suas mantas (quando na
rua) a fim de que elas se distingam das demais e não sejam molestadas"
(33:59). Esta é a questão principal, a modéstia é prescrita para proteger as
mulheres de serem molestadas, isto é, a modéstia é proteção. Assim, a única
proposta do véu no Islam é a proteção. O véu islâmico, diferentemente do véu na
tradição cristã, não é sinal da autoridade do homem sobre a mulher, nem é um
sinal de sua sujeição ao homem. O véu islâmico, diferentemente da tradição
judaica, não é um sinal de luxúria ou de distinção de algumas mulheres casadas
nobres. O véu islâmico é simplesmente um sinal de modéstia, com a proposta de
proteger as mulheres, todas as mulheres. A filosofia islâmica é que é sempre
melhor prevenir do que remediar. Realmente, o Alcorão é tão preocupado com a
proteção dos corpos das mulheres e sua reputação, que um homem que se atrever a
acusar falsamente uma mulher de não ser casta, será severamente punido: "E
aqueles que difamarem as mulheres castas, sem apresentarem 4 testemunhas,
infligí-lhes oitenta chibatadas e nunca mais aceiteis os seus testemunhos por
que tais homens são transgressores". Compare-se esta posição alcorânica
com a punição extremamente branda da Bíblia para os casos de estupro: Se um
homem encontra uma virgem, que está na condição de casar e a estupra e eles são
descobertos, ele deve pagar ao pais da moça 50 shekels de prata. Ele deve se
casar com a moça por que ele a violou. Ele não poderá nunca se divorciar dela
enquanto viver (Deuteronômio 22:38/30). Podemos simplesmente perguntar: Quem é
punido realmente? O homem que somente pagou uma multa pelo estupro ou a moça
que se viu forçada a se casar com o homem que a violentou e a ficar com ele até
que ele morra? Outra questão que se apresenta é: quem proteje mais as mulheres,
o Alcorão com sua postura rigorosa, ou a Bíblia com sua posição mais branda?
Algumas pessoas, sobretudo no ocidente, têm uma tendência a ridicularizar a
argumentação da modéstia para proteção. Elas dizem que a melhor proteção é
divulgar a educação, o comportamento civilizado e o auto-controle. E nós
dizemos: ótimo, mas insuficiente. Se o processo de civilização fosse
suficiente, então por que mulheres nos USA não se atrevem a andar sozinhas em
ruas escuras, ou mesmo a cruzar um parque vazio? Se a Educação fosse a solução,
então por que é que uma respeitada universidade como a de Queen tem um serviço
de condução principalmente para as estudantes no campus? Se o auto-controle
fosse a resposta, então por que tantos casos de molestamento sexual acontecem
em locais de trabalho, como relatados nos jornais a cada dia? Em uma amostra
sobre os molestadores, nos últimos anos, encontramos: marinheiros, diretores,
professores universitários, senadores, juízes da Suprema Corte e até o
Presidente dos Estados Unidos. Eu não posso acreditar em meus olhos, quando
leio sobre as seguintes estatísticas, elaboradas pelo escritório das mulheres
decanas da Universidade de Queens: * No Canadá, uma mulher é atacada
sexualmente a cada seis minutos; * Uma, em cada três mulheres no Canada, será
sexualmente assaltada em alguma época de suas vidas; * 1 em 4 mulheres corre o
risco de ser estuprada alguma vez; * 1 em 8 mulheres será atacada sexualmente
enquanto estiver no colégio ou universidade; e * Um estudo concluiu que 60% dos
estudantes universitários canadenses cometeriam algum tipo de violência sexual
se eles estivessem seguros de não serem descobertos. Alguma coisa está
fundamentalmente errada na sociedade em que vivemos. Uma mudança radical no
modo de vida e na cultura da sociedade se faz absolutamente necessária. Uma
cultura de modéstia é necessária, modéstia no vestir, no falar e nos modos, tanto
de homens como de mulheres. Caso contrário, as terríveis estatísticas
continuarão a crescer e, infelizmente, as mulheres, sozinhas, pagarão o preço.
Realmente, nós todos sofremos, mas Khalil Gibran (1883-1931) disse " (...)
porque a pessoa que recebe os golpes não é como a que se encontra entre
elas" (84). Logo, uma sociedade como a francesa, que expulsa uma jovem de
sua escola por causa de suas roupas, acaba, no final, por, simplesmente, se
ferir a si mesma. Uma das maiores ironias de nosso mundo atual é que, o mesmo
véu que é reverenciado como sinal de "santidade", quando usado pelas
freiras católicas como forma de exibir a autoridade do homem, é mostrado como
forma de "opressão" quando vestido com o objetivo de proteger a
mulher muçulmana. EPÍLOGO. A questão que se apresenta àqueles não mulçumanos, que leram uma versão
inicial do presente estudo é: As mulheres muçulmanas no mundo de hoje recebem
este nobre tratamento tal como descrito aqui? A resposta, infelizmente, é: Não.
Uma vez que a questão é inevitável em qualquer discussão referente à condição
das mulheres no Islam, temos que elaborar uma resposta, a fim de fornecer aos
leitores um quadro completo. Devemos esclarecer, primeiro, que as enormes
diferenças entre as sociedades muçulmanas acabam por fazer generalizações muito
simplistas. Há um vasto espectro de posturas em relação à mulher no mundo
muçulmano atual. Estas posturas diferem de uma sociedade para outra e dentro de
sociedade individual. Contudo, podemos discernir certos traços gerais. Quase
todas as sociedades muçulmanas, em maior ou menor grau, desviaram-se dos ideais
do Islam, com respeito à condição das mulheres. Estes desvios, na maior parte,
se direcionaram para uma ou duas direções. A primeira é mais conservadora,
restritiva e orientada pelas tradições, enquanto que a segunda é mais liberal,
orientada pelos costumes ocidentais. As sociedades que se encaminharam para a
primeira direção tratam as mulheres de acordo com os costumes e tradições
herdados de seus ascendentes. Estas tradições, comumente, privam as mulheres de
muitos direitos garantidos a elas pelo Islam. Além disso, as mulheres são
tratadas de acordo com padrões diferentes daqueles aplicados aos homens. Esta
discriminação penetra a vida de qualquer mulher: ela é recebida com menos
alegria ao nascer do que um menino; ela é menos incentivada a ir para a escola;
ela pode ser privada de qualquer participação na herança de sua família; ela
está sob contínua vigilância com relação a sua modéstia, enquanto que os atos
de imodéstia de seus irmãos são tolerados; ela pode até ser morta por cometer o
que os membros masculinos de sua família comumente se vangloriam de praticar;
ela tem pouca atuação nos assuntos familiares ou nos interesses comunitários;
ela pode não ter o completo controle sobre suas posses e seus presentes de
casamento; e, finalmente, como mãe, ela preferiria gerar filhos homens a fim de
alcançar uma elevada posição em sua comunidade. Por outro lado, há sociedades
muçulmanas (ou certas classes dentro de algumas sociedades) que foram varridas
pela cultura e modo de vida do ocidente. Estas sociedades, muitas vezes,
imitam, de forma inimaginável, tudo o que receberam do ocidente e, finalmente,
acabam por adotar os piores frutos da civilização ocidental. Nestas sociedades,
a prioridade máxima na vida de uma típica mulher "moderna" é realçar
sua beleza física. Em razão disso, seu esforço é mais para compreender sua
feminilidade do que preencher sua humanidade. Por que as sociedades muçulmanas
se desviaram dos ideais do Islam? Não há uma resposta fácil. Uma explicação
penetrante, das razões pelas quais muçulmanos não aderiram aos preceitos
alcorânicos com relação às mulheres, está além do objetivo deste estudo.
Contudo, deve ser esclarecido que as sociedades muçulmanas também se desviaram,
há muito tempo, dos preceitos islâmicos concernentes a muitos aspectos de suas
vidas. Há uma grande diferença entre o que os muçulmanos supõem acreditar e o
que eles realmente praticam. Esta diferença não é um fenômeno recente. Tem sido
assim por séculos e continuará aumentando dia após dia. Esta diferença sempre
crescente tem tido consequências desastrosas sobre o mundo muçulmano e se
manifestam em quase todos os aspectos da vida: tirania e fragmentação política,
economia, injustiça social, falência científica, estagnação intelectual, etc. O
status não islâmico das mulheres no mundo muçulmano atual é simplesmente um
sintoma de doença mais profunda. Qualquer reforma no atual status das mulheres
muçulmanas não terá sucesso se não for acompanhada de reformas mais amplas em
todo o modo de vida das sociedades islâmicas. O mundo muçulmano está
necessitando de um renascimento que o aproxime dos ideais do Islam e não que o
afaste deles. Para resumir, a noção, hoje em dia, de que há um pobre status das
mulheres muçulmanas se deve a uma total incompreensão. Os problemas dos
muçulmanos em geral não são devidos ao fato de eles estarem muito presos ao
Islam. Na verdade, eles se originam exatamente por um longo e profundo
afastamento do Islam. Deve-se também enfatizar que a proposta deste estudo
comparativo não é, em qualquer hipótese, difamar o judaismo ou o cristianismo.
A posição das mulheres nas tradições judaico-cristãs pode parecer retrógrada,
se comparada com nossos padrões de final de século XX, contudo, deve ser
encaradas dentro de seu próprio contexto histórico. Em outras palavras,
qualquer avaliação da posição das mulheres na tradição judaico-cristã tem que
levar em conta as circunstâncias históricas nas quais essas tradições se
desenvolveram. Não pode haver dúvida de que as opiniões dos rabinos e pastores
da Igreja, em relação às mulheres, foram influenciadas por posturas
prevalecentes em suas respectivas sociedades. A própria Bíblia foi escrita por
diversos autores em diversas épocas. Estes autores não podiam ser imparciais
aos valores e modo de vida das pessoas à volta deles. As leis do adultério no
Velho Testamento, por exemplo, eram tão desfavoráveis às mulheres que elas
desafiam qualquer explicação racional por parte de nossa mentalidade. Contudo, se
nós considerarmos o fato de que as primeiras tribos judias eram obcecadas pela
sua homogeneidade genética e extremamente desejosas de se distinguirem das
outras tribos, e que somente a má conduta sexual das mulheres casadas podia
ameaçar essas caras aspirações, nós podemos entender, mas não necessariamente
nos simpatizarmos com elas, as razões de tal obsessão. Também, as ranzinzas dos
padres da Igreja contra as mulheres devem ser encaradas dentro do contexto da
misoginia da cultura greco-romana, na qual eles viviam. Não seria correto
avaliar o legado judaico-cristão, sem levar em consideração o relevante
contexto histórico. De fato, a compreensão adequada do contexto histórico
também é crucial para o entendimento do significado das contribuições do Islam para
a história mundial e a civilização humana. A tradição judaico-cristão foi
influenciada e moldada pelo meio ambiente, condições e culturas existentes à
época. No século VII, esta influência distorceu a mensagem divina revelada a
Moisés e Jesus, muito além do reconhecimento. O pobre status das mulheres no
mundo judaico-cristão no séc. VII é apenas um caso em questão. Em razão disso,
havia uma grande necessidade de uma nova mensagem, que levasse a humanidade de
volta para o caminho reto. O Alcorão descreveu a missão do novo mensageiro como
uma libertação para judeus e cristãos do peso que havia sobre eles: "São
aqueles que seguem o Mensageiro, o Profeta iletrado, o qual encontram
mencionado em suas próprias escrituras - Tora e Evangelho - o qual lhes recomenda
todo o bem e lhes veda o que é mal; ele lhes alivia de seus pesados fardos e
dos grilhões que estão sobre eles" (7:157) Portanto, o Islam não deve ser
visto como uma tradição rival para o judaísmo e cristianismo. Ele deve ser
encarado como uma consumação, complementação e aperfeiçoamento das mensagens
divinas que foram reveladas anteriormente. Ao final desse estudo, gostaria de
oferecer o seguinte conselho para a comunidade muçulmana global. Nega-se a
muitas mulheres muçulmanas os direitos islâmicos básicos. Os erros do passado
devem ser corrigidos. Fazer isto não é um favor, mas sim uma obrigação para
todos os muçulmanos. A comunidade muçulmana mundial deve elaborar um quadro com
as instruções do Alcorão e os ensinamentos do Profeta do Islam. Este quadro
deve garantir a elas todos os direitos doados pelo Criador. Então, todos os
meios necessários têm de ser desenvolvidos, a fim de assegurar a implementação
adequada deste quadro, o qual se faz necessário há muito tempo. Mas, melhor
tarde do que nunca. Se o mundo muçulmano não garantir os direitos islâmicos
plenos a suas mães, esposas, irmãs, filhas, quem o fará? Temos que ter a
coragem de confrontar nosso passado e rejeitar completamente as tradições e
costumes de nossos ascendentes, sempre que essas tradições e costumes se
contraponham aos preceitos do Islam. O Alcorão não criticou severamente os
árabes pagãos por seguirem cegamente as tradições de seus ancestrais? Por outro
lado, temos que desenvolver uma atitude crítica em relação a tudo que recebemos
do ocidente ou de qualquer outra cultura. A interação com e o aprendizado de,
são experiências válidas. O Alcorão sucintamente considerou esta interação como
uma das propostas da criação: “Oh! homens, em verdade Nós vos criamos de um
único casal e vos dividimos em povos e tribos, para reconhecerdes uns aos
outros” (49.13). Pode-se dizer, contudo, que a imitação cega dos outros é um
sinal certo de uma completa falta de autoestima. Estas palavras finais são
dedicadas aos leitores não muçulmanos, judeus, cristãos, ou quaisquer outros. É
desorientador o fato de uma religião, que revolucionou a condição da mulher,
estar sendo tachada e denegrida como sendo uma religião que reprime a mulher.
Esta percepção sobre o Islam é um dos mitos mais difundidos em nosso mundo de
hoje. Este mito está sendo perpetuado por uma enxurrada de livros
sensacionalistas, artigos e imagens na mídia, e filmes de Hollywood. O
resultado inevitável dessas incessantes imagens errôneas tem sido a
incompreensão e o medo a tudo que se refere ao Islam. Este retrato negativo do
Islam na mídia mundial tem que acabar se quisermos viver em um mundo livre de
todos os traços de discriminação, preconceito e equívoco. Os não muçulmanos
devem perceber a existência de uma imensa diferença entre a crença e a prática
muçulmanas e o simples fato de que as ações dos muçulmanos não representam
necessariamente o Islam. Rotular a condição da mulher no mundo muçulmano de
hoje como "islâmica" está tão longe da verdade quanto rotular a
posição da mulher de hoje, no ocidente, como "judaico-cristã". Com
isto em mente, muçulmanos e não muçulmanos devem começar o processo de
comunicação e diálogo, a fim de remover todos os preconceitos, suspeitas e
medos. Um futuro pacífico para a família humana necessita de tal diálogo. O Islam
deve ser visto como uma religião que melhorou consideravelmente a condição da
mulher e lhe garantiu muitos direitos que o mundo moderno só veio a reconhecer
neste século. O Islam ainda tem muito a oferecer à mulher de hoje, dignidade,
respeito e proteção em todos os aspectos e estágios de sua vida, desde o
nascimento até a morte, além do reconhecimento, equilíbrio e meios para a
satisfação de todas as suas necessidades espirituais, intelectuais, físicas e
emocionais. Não espanta que muitos daqueles que escolhem ser muçulmanos em
países como a Inglaterra sejam mulheres. Nos USA, as mulheres se convertem ao
Islam, numa proporção de 4 para cada homem. O Islam tem muito a oferecer ao
mundo de hoje, que está em grande necessidade de um guia e uma liderança moral.
O embaixador Herman Eilts (1922-2006), testemunhando frente ao comitê de
Negócios Estrangeiros do Congresso americano, em junho de 1985, disse que
"a comunidade muçulmana de hoje está perto de um bilhão. Este é um número
expressivo. Mas, para mim, é igualmente expressivo que o Islam hoje seja a
religião monoteista que mais cresce no mundo. Devemos ter isto em conta. Alguma
coisa está certa acerca do Islam. Ele está atraindo uma boa quantidade de
pessoas". Sim, alguma coisa está certa acerca do Islam, e está na hora de
encontrá-la. Espero que este estudo seja um passo nesta direção. www.ccib.org.br. Abraço. Davi
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