Espiritualidade. www.oshobrasil.com.br. Texto de Rajneesh Chandra Mohan Jain, o Osho (1931-1990). SÓ A COMPAIXÃO É TERAPÊUTICA. Amado Osho, você
disse: Só a compaixão é terapêutica. Você poderia comentar sobre a palavra
“compaixão”, compaixão por si mesmo e compaixão pelos outros? "Sim,
somente a compaixão é terapêutica, porque tudo o que é doença no homem é
causado pela falta de amor. Tudo o que está errado com o homem, está de alguma
forma associado ao amor. Ele não tem sido capaz de amar ou ele não tem sido
capaz de receber amor. Ele não tem sido capaz de compartilhar o seu ser. Essa é
a miséria. Isso cria toda sorte de complexos internamente. Aquelas feridas
internas podem vir à superfície de várias maneiras: elas podem se tornar
doenças do físico e doenças mentais, mas no fundo o que o homem sofre é de
falta de amor. Assim como o alimento é necessário para o corpo, o amor é
necessário para a alma. O corpo não consegue sobreviver sem alimento e a alma
não consegue sobreviver sem o amor. Na verdade, sem o amor a alma nunca nasce e
nem há essa questão de sua sobrevivência. Você simplesmente
pensa que tem uma alma. Você acredita que você tem uma alma devido ao seu medo
da morte. Mas você não a conheceu a não ser que você tenha amado. Somente no
amor a pessoa vem a sentir que ela é mais do que o corpo, mais do que a mente. É
por isso que eu digo que a compaixão é terapêutica. O que é compaixão?
Compaixão é a forma mais pura de amor. No sexo, o contato é basicamente físico,
na compaixão o contato é basicamente espiritual. No amor, compaixão e sexo
estão misturados. O amor está no meio do caminho entre sexo e compaixão. Você
também pode chamar a compaixão de prece. Você também pode chamar a compaixão de
meditação. A forma mais elevada de energia é a compaixão. A palavra 'compaixão'
é bela. Metade dela é 'paixão'. De alguma forma a paixão se tornou tão refinada
que ela não é mais como uma paixão. Ela se tornou compaixão. No sexo, você
usa o outro, você reduz o outro a um meio, você reduz o outro a uma coisa. É
por isso que numa relação sexual você se sente culpado. Essa culpa nada tem a
ver com ensinamentos religiosos, essa culpa é mais profunda que os ensinamentos
religiosos. Numa relação sexual, enquanto tal, você se sente culpado. Você se
sente culpado porque você está reduzindo um ser humano a uma coisa, a uma
mercadoria para ser usada e jogada fora. É
por isso que no sexo você também tem uma sensação de escravidão, você também
está sendo reduzido a uma coisa. E quando você é uma coisa, a sua liberdade
desaparece, porque a sua liberdade somente existe quando você é uma pessoa.
Quanto mais você for uma pessoa, mais livre será; quanto mais você for uma
coisa, menos livre será. Os móveis de
seu quarto não são livres. Se você deixar o quarto fechado e voltar muitos anos
depois, os móveis estarão nos mesmos lugares, com a mesma disposição, eles não
se arrumarão numa nova disposição. Eles não têm liberdade. Mas se você deixar
um homem num quarto, você não irá encontrá-lo do mesmo jeito, nem mesmo no dia
seguinte, nem mesmo no momento seguinte. (...). Para uma coisa, o futuro está fechado. Uma pedra permanecerá uma
pedra. Ela não tem qualquer potencial para o crescimento. Ela não pode mudar,
ela não pode evoluir. O homem nunca permanece o mesmo. Ele pode retornar, ele
pode ir adiante, ele pode ir para o inferno ou para o céu, mas nunca permanece
o mesmo. Ele segue se movendo, deste ou daquele jeito. Quando você tem uma
relação sexual com alguém, você reduz aquela pessoa a uma coisa. E ao
reduzi-la, você também se reduz a uma coisa, porque isso é um acordo mútuo do
tipo: 'Eu lhe permito reduzir-me a uma coisa e você me permite reduzi-lo a uma
coisa. Eu lhe permito usar-me e você me permite usá-lo. Nós usamos um ao outro.
Nós ambos nos tornamos coisas'. É por
isso (...). Observe dois amantes: enquanto eles ainda não se acomodaram, o
romance ainda está vivo, a lua de mel não termina e você vê as duas pessoas
vibrando com a vida, prontas para explodir-se, prontas para explodir-se no
desconhecido. E depois, observe um casal de marido e mulher, e você verá duas
coisas mortas, dois cemitérios, lado a lado, ajudando um ao outro a se manter
morto, forçando um ao outro a se manter morto. Esse é o conflito constante no
casamento. Ninguém quer ser reduzido a uma coisa. O sexo é a forma mais
baixa daquela energia 'X'. Se você é religioso chame isso de 'Deus"; se
você é um cientista, chame isso de 'X'. Essa energia, X, pode se tornar amor.
Quando ela se torna amor, então você começa a respeitar a outra pessoa. Sim,
algumas vezes você usa a outra pessoa, mas você se sente agradecido por isso.
Você nunca diz muito obrigado a uma coisa. Quando você está amando uma mulher e
você faz amor com ela, você lhe diz: muito obrigado. Quando você faz amor com
sua esposa, alguma vez você lhe disse muito obrigado? Não, você não dá valor
algum. A sua esposa já lhe disse alguma vez obrigado? Talvez, muitos anos
atrás, você consegue se lembrar de um tempo quando vocês ainda estavam indecisos,
quando estavam experimentado, fazendo a corte, seduzindo um ao outro, talvez.
Mas uma vez que vocês se acomodaram, ela disse alguma vez muito obrigado a você
por alguma coisa? Você tem estado fazendo tantas coisas por ela, ela tem estado
fazendo tantas coisas por você, vocês ambos têm vivido um para o outro... mas a
gratidão desapareceu. No amor existe
gratidão, existe uma profunda gratidão. Você sabe que a outra pessoa não é uma
coisa. Você sabe que o outro tem uma grandeza, uma personalidade, uma alma, uma
individualidade. No amor você dá liberdade total ao outro. Na verdade você dá e
você recebe, é uma relação de dar e receber, mas com respeito. No sexo há uma relação de dar e receber, mas sem
respeito. Na compaixão, você simplesmente dá. Não há qualquer ideia, em lugar
algum em sua mente, de receber algo em troca. Você simplesmente compartilha.
Não que nada retorne. Mil desdobramentos retornam, mas espontaneamente,
simplesmente como uma consequência natural. Não há qualquer espera por isto.
No amor, se você dá alguma coisa, no fundo
você fica esperando aquilo que deve vir em troca. Se aquilo não vem, você
percebe uma reclamação interna. Você pode não dizer, mas de mil e uma maneiras
você pode insinuar que você não está satisfeito, que você está se sentindo
traído. O amor parece ser uma barganha sutil. Na compaixão, você
simplesmente dá. No amor, você está agradecido porque o outro deu alguma coisa
a você. Na compaixão você está agradecido porque o outro recebeu alguma coisa
de você, porque o outro não rejeitou você. Você veio com energia para dar, você
veio com muitas flores para compartilhar e o outro lhe permitiu, o outro estava
receptivo. Você está agradecido porque o outro estava receptivo. A compaixão é a mais elevada forma de amor. Muita
coisa vem em troca, mil desdobramentos eu digo, mas esse não é o ponto, você
não fica esperando por isto. Se não vier, não há qualquer reclamação. Se vier,
você simplesmente fica surpreso. Se vier, isso será inacreditável. Se não vier,
não há qualquer problema, você nunca dá o seu coração a alguém por qualquer
barganha. Você simplesmente distribui porque você tem. Você tem tanto que se
você não distribuir, você se sentirá sobrecarregado. É exatamente como uma nuvem
carregada que tem que chover. E da próxima vez quando uma nuvem estiver
chovendo observe atentamente e você sempre ouvirá; quando a nuvem estiver
chovendo e a terra tiver absorvido, você sempre ouvirá a nuvem dizendo à terra
'muito obrigado'. A terra ajuda a nuvem a se descarregar. Quando uma flor
desabrocha, ela tem que compartilhar a sua fragrância ao vento. Isso é natural.
Não é uma barganha, não é um negócio. Isso é simplesmente natural. A flor está
repleta de fragrância. O que fazer? Se a flor mantiver a fragrância para si
mesma, ela irá se sentir muito, muito tensa, em angústia profunda. A maior
angústia na vida é quando você não pode expressar, quando você não pode
comunicar, quando você não pode compartilhar. O homem mais pobre é aquele que
nada tem a compartilhar, ou aquele que tem algo a compartilhar mas que perdeu a
capacidade, a arte, a maneira de como compartilhar, aí o homem é pobre. O
homem sexual é muito pobre. Em comparação, o homem amoroso é mais rico. O homem
de compaixão é o homem mais rico, ele está no topo do mundo. Ele não tem
qualquer confinamento, qualquer limitação. Ele simplesmente dá e segue o seu
caminho. Ele nem mesmo espera você lhe dizer um muito obrigado. Com tremendo
amor ele compartilha a sua energia. É isso que eu chamo terapêutico. (...).
Para ser compassivo é preciso que se tenha, em primeiro lugar, compaixão por si
mesmo. Se você não amar a si mesmo, você nunca será capaz de amar um outro
alguém. Se você não for amável consigo mesmo, você não conseguirá ser amável
com ninguém mais. Os seus chamados santos, que são muito duros consigo mesmos,
estão simplesmente fingindo que são amáveis com os outros. Isso não é possível.
Psicologicamente isso é impossível. Se você não puder ser amável consigo mesmo,
como você poderá ser amável com os outros? Qualquer
coisa que você for consigo mesmo, você será com os outros. Deixe que isso seja
um ditado básico. Se você se detesta, você irá detestar os outros. E foi-lhe
ensinado detestar a si mesmo. Ninguém jamais disse a você 'ame a si mesmo'.
Essa própria ideia parece absurda: amar a si mesmo? A própria idéia não faz
sentido: amar a si mesmo? Nós sempre pensamos que, para amar, nós precisamos de
uma outra pessoa. Mas se você não aprender consigo mesmo, você não será capaz
de praticar com os outros. Foi-lhe dito constantemente, você foi
condicionado, que você não tem qualquer valor. De todas as direções lhe foi
mostrado, lhe foi dito que você é sem valor, que você não é o que deveria ser,
que você não é aceito como você é. Existem muitos 'deves' pendurados sobre a
sua cabeça e todos esses 'deves' são quase impossíveis de serem satisfeitos. E
quando você não consegue satisfazê-los, quando você tem um pequeno tropeço,
você se sente condenado. Uma profunda raiva surge em você em relação a si
mesmo. Como você pode amar os outros? Tão cheio de ódio, onde você irá
encontrar amor? Assim, você simplesmente finge, você simplesmente demonstra que
está amoroso. No fundo você não está amoroso com ninguém, você não pode estar.
Esses fingimentos são bons por uns poucos dias, depois o colorido desaparece,
então a realidade se revela por si mesma. Todo caso amoroso está em cima
de pedras. Mais cedo ou mais tarde, todo caso amoroso se torna muito
envenenado. E como ele se torna tão envenenado? Ambos fingem que estão amando,
ambos seguem dizendo que amam. O pai diz que ama a criança, a criança diz que
ama o pai, a mãe diz que ama a filha e a filha segue dizendo a mesma coisa. Irmãos
dizem que amam um ao outro. Todo o mundo conversa a respeito de amor, canta
canções de amor, e você poderia encontrar outro local tão destituído de amor?
Nem uma pitada de amor existe, e montanhas de falatórios, um Himalaia de
poesias a respeito do amor. Parece que
todas essas poesias são apenas compensações. Porque nós não conseguimos amar,
nós temos que acreditar de alguma maneira, através da poesia, da canção, que
nós amamos. Aquilo que nos falta na vida, nós colocamos na poesia. O que nós
vamos perdendo na vida, nós colocamos no filme, na novela. O amor está
absolutamente ausente porque o primeiro passo ainda não foi dado. O
primeiro passo é: aceite-se como você é. Abandone todos os 'deves". Não
carregue qualquer 'deve' em seu coração. Não é para você ser algo diferente do
que é. Não é de se esperar que você faça algo que não pertença a você. Você
existe para ser exatamente você mesmo. Relaxe e seja simplesmente você mesmo.
Seja respeitoso para com sua individualidade e tenha a coragem de assinar a sua
própria assinatura. Não siga copiando as assinaturas de outros. Não é de
se esperar que você se torne um Jesus ou um Buda ou um Ramakrishna. O que
se espera é que você se torne simplesmente você mesmo. Foi bom que Ramakrishna
nunca tentou se tornar alguma outra pessoa, assim ele se tornou Ramakrishna.
Foi bom que Jesus nunca tentou tornar-se Abraão ou Moisés, assim ele se tornou
Jesus. E é bom que Buda nunca tenha tentado tornar-se Patanjali ou Krishna. Foi
por isso que ele se tornou Buda. Quando
você não está tentando se tornar um outro alguém, então você simplesmente
relaxa e uma graça surge. Então você está cheio de grandeza, esplendor e
harmonia, porque aí não existe qualquer conflito. Nenhum lugar para ir, nada
pelo qual brigar, nada para forçar nem para obrigar-se violentamente. Você se
torna inocente. Em tal inocência, você sentirá compaixão e amor por si
mesmo. Você se sentirá tão feliz consigo mesmo que ainda que Deus venha bater
em sua porta e diga: 'Você gostaria de se tornar uma outra pessoa?, você dirá:
'Você ficou louco? Eu sou perfeito! Obrigado, e nunca mais tente fazer isso, eu
sou perfeito como sou.' (...). As rosas
desabrocham tão lindamente porque elas não estão tentando se tornar lótus. E a
flor de lótus desabrocha tão lindamente porque ela nunca ouviu as lendas a
respeito das outras flores. Tudo na natureza segue tão belamente em harmonia
porque ninguém está tentando competir com algum outro, ninguém está tentando se
tornar algum outro. Tudo é do jeito que é. Simplesmente
veja o ponto! Seja apenas você mesmo e lembre-se de que você não pode ser
alguma outra coisa, faça o que você fizer. Todo esforço é fútil. Você tem que
ser simplesmente você mesmo. Existem
dois caminhos: um é: rejeitando, você pode permanecer o mesmo; condenando, você
pode permanecer o mesmo. Ou, aceitando, entregando-se, curtindo, deliciando-se,
você pode permanecer o mesmo. A sua atitude pode ser diferente, mas você vai
continuar do jeito que você é, a pessoa que você é. Uma vez que você aceite, a
compaixão surge. E então, você começa a aceitar os outros. (...).Mova-se lentamente, alerta, observando, estando
amoroso. Se você for sexual, eu não digo para abandonar o sexo; eu digo faça-o
mais alerta, faça-o como uma prece, faça-o mais profundo, assim ele pode
tornar-se amor. Se você está amando, então faça isso com mais gratidão, traga
uma gratidão, uma alegria, uma celebração e uma prece mais profunda ao amor,
traga meditação para ele, assim ele pode se tornar compaixão. A não ser
que a compaixão tenha acontecido para você, não pense que você viveu
corretamente, ou que você viveu de alguma maneira. Compaixão é o florescimento.
E quando a compaixão acontece para uma pessoa, milhões são curadas. Qualquer um
que chegue ao seu redor será curado. A compaixão é terapêutica." www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi
Nenhum comentário:
Postar um comentário