terça-feira, 29 de maio de 2018

II. SOBRE TORNAR-SE TOTALMENTE.


Teosofia. Artigo da Revista Theosophy in Australian. Texto de Linda Oliveira. II. SOBRE TORNAR-SE TOTALMENTE HUMANO. ABERTURA. O que será essa ponte ou deveríamos dizer esta abertura? Na terminologia teosófica, a palavra normalmente usada é antahkarana. Helena P. Blavastky (1831-1899) descreve-a como o caminho ou a ponte entre os aspectos mais e menos elevados de manas, que serve como um meio de comunicação entre os dois. Mas também se diz que esse termo refere a diversas pontes ou aberturas deste tipo entre inúmeros centros no ser humano, ligações de “substância de consciência vibrante”. Isso nos dá a impressão de que um antahkarana está muito vivo, em movimento. Se um antahkarana pode unir determinados centros dentro do ser humano, então, de alguma forma, ele desempenha uma função de ligação. Isso nos remete a fohat, aquela essência de eletricidade cósmica ou consciência cósmica, que se diz ser sempre presente do início ao fim de um Universo, aquela energia Universal viva que também possui um efeito de ligação ou união na vida. De forma semelhante, um antahkarana permanentemente aberto pode nos ligar à nossa natureza superior ou interior, reunindo-nos com nossa Fonte. Quando o antahakarana, que liga os dois aspectos de manas, se abre para o interior da mente, podem acontecer grandes insights criativos no ser humano – insights sobre ciência, sobre a vida, a verdade e assim por diante. Surge a questão: como criamos essa abertura, essa ponte? O processo pode acontecer mais conscientemente, quando a mente tem a capacidade de se manter perceptiva, mas silenciosa, tal como quando em contemplação ou meditação reflexiva. Na verdade, este antahkarana pode abrir e fechar com regularidade em pessoas cujo foco de consciência não está completamente imerso no mundo material. DESENVOLVIMENTO E PURIFICAÇÃO RADICAL. Será que a aquisição de poderes auxilia o processo de renovação? Blavatsky tem uma resposta muito interessante e bem relevante para essa pergunta. Alguns podem pensar sobre a jornada do Adeptado como um processo cumulativo – o desenvolvimento de faculdades e poderes adicionais. Contudo, ela diz: Muitas pessoas parecem pensar que o Adeptado não é resultante de um desenvolvimento radical, mas uma construção suplementar. Parecem imaginar que um Adepto é um homem que (...) primeiro adquire um poder e depois outro, mas assim que alcançar um determinado número desses poderes, é imediatamente rotulado de Adepto. Sem titubear, ela define aquisição de poderes para alcançar o Adeptado uma “fantasia equivocada”, embora reconheça que “poderes” como a clarividência e a viagem extra corpo tende a fascinar a maioria. A Sociedade teosófica, observou, não foi fundada para ensinar maneiras novas e fáceis de aquisição de “poderes”. Muito mais do que isso, sua missão é “reacender a tocha da verdade há tanto extinta para todos, exceto para uns poucos, e manter esta verdade viva por meio da formação de uma união fraterna da humanidade, o único solo sobre o qual a boa semente pode germinar. De qualquer maneira, diz-se que determinados poderes interiores se desenvolvem no curso da própria evolução. Se buscarmos seu desenvolvimento, provavelmente será prematuro. Sábio seria focalizar, em vez disso, em criar a união da humanidade, o “único solo sobre o qual a semente pode crescer” – sementes estas que não brotam do solo do eu pessoal. Nessa citação, Blavatsky usou o termo “desenvolvimento radical” para dar ênfase. O que será que significa? Aquilo que é radical é fundamental ou básico. Assim, desenvolvimento radical pode ser considerado como aquela mudança ou desenvolvimento que abre caminho para que a nossa natureza fundamental ou básica venha à tona. Podemos presumir que a abertura ou ponte permanente para a nossa natureza interior, o antahkarana, é formada pelo desenvolvimento radical, que envolve a purificação e transmutação daquilo que já existe dentre de nós, em vez de aumentar nosso estoque de qualidades, poderes e habilidades. Isso nos leva a outro ponto de renovação, que é um aspecto íntimo do desenvolvimento radical (...). AUTOOBERSAÇÃO; Em vez de adquirir poderes, nossa primeira e mais importante lição é, certamente, nos enxergarmos de forma verdadeira. Sri Ram (1889-1973) deu algumas dicas sobre isso numa palestra chamada “Uma Revolução em Si Mesmo”. Ele observou que é preciso estar ciente do conteúdo de nossa consciência, em primeira instância, antes que a mudança radical ocorra (o desenvolvimento radical de Blavatsky). Ele comparou as reações e ideias presentes na mente com um tipo de saco de conteúdo variado, estando a boca do saco quase fechada e cheia de informações sobre o mundo. Ele sugeriu que nosso pensamento se movimenta grandemente ao redor e entre essas ideias. Na verdade, essa perspectiva talvez não seja pouco plausível. Ao virarmos a mente do avesso, nós a esvaziamos, não sendo possível virar a mente do avesso permanentemente, talvez seja possível tentar fazer isso pelo menos temporariamente quando um problema se apresenta. Sri Ram foi além. Disse que quando se deixa ir embora todo conteúdo da mente, a consciência, que é indestrutível e extraordinariamente flexível, é restaurada à sua condição original, sem qualquer distorção, livre de associações com o conteúdo do passado, pura e capaz de refletir a verdade. Isso pode nos parecer quase impossível, mas os momentos de meditação podem gradualmente ajudar a nos prepararmos para este tipo de mente. Em qualquer caso, para a maioria de nós, provavelmente é um processo gradual. Isso nos traz mais um item de renovação HUMILDADE. Talvez o próximo comentário de Sri Ram seja o mais importante: A condição da mente, quando pura, é uma condição de humildade, na qual existe em si a possibilidade da sabedoria. O que humildade significa de fato? Não quer dizer auto depreciação, o que implicaria ter prazer em ser mais importante. Em vez disso, a humildade é comparada por Sri Ram à sombra de um filme ou placa fotográfica extraordinariamente sensível sobre a qual tudo é verdadeiramente refletido. Ele a descreve como um estado de “negatividade magistral na qual todo positivo dentro de seu campo é automaticamente compreendido”. Portanto, qualquer afirmação de si mesmo tem que cessar para a humildade existir. Este é, então, o estado no qual o antahkarana para a nossa natureza interior pode ser totalmente aberto: por meio da pureza e de uma natureza genuinamente humilde. Seis itens importantes de renovação foram sugeridos aqui: descontentamento, esforço, abertura, desenvolvimento/transformação radical, auto-observação e humildade. TORNANDO-SE TOTALMENTE HUMANO – O QUE ISSO PODE SIGNIFICAR? Estes itens podem oferecer assistência. No entanto, parte da maravilha da jornada para a HUMANIDADE total é que de muitas formas ela é um mistério que nos movimenta para a frente. Ela claramente envolve o cultivo de um modo diferente de viver. Os ensinamentos de Sabedoria Perene podem nos ajudar, mas precisam ser perfeitamente integrados em nossas vidas, em vez de impostos por nossa mente. Outro pensamento de Sri Ram é pertinente aqui: A Teosofia tem que ser compreendida pelo coração, mas deve ser expressa pelas mãos, ou seja, em atos de diversas maneiras. Em outras palavras, ela tem que transformar nossa vida. Temos que viver de forma diferente (...) imprimindo uma nova qualidade em cada ato individual de nossas vidas (...). Assim, cada departamento de nossa vida pode ser iluminado, pode ser belo, espiritualizado, recriado, reconfigurado, por esta sabedoria que chamamos Teosofifa – The Theosophical Revolution – A Revolução Teosófica. A jornada para nossa plena humanidade passa, portanto, por uma série de recriações, renascimentos, renascenças e transformações envolvendo cada departamento da vida. Temos o potencial de dar a cada aspecto de nossa vida um novo formato, para espiritualiza-la, para recriá-la. Mas se consideramos cada expansão de consciência como uma conquista fixa sobre a qual podemos construir, então não entendemos bem a mensagem. Pois a transformação parece ser uma experiência de natureza muito mais qualitativa do que quantitativa. Fazendo uma analogia, pode-se pensar em um copo d’água como um símbolo de um ser humano. A quantidade de água não varia. No entanto, podemos alterá-la ao passa-la por filtros. Cada filtro representa um tipo de qualidade. Entretanto, não é possível quantificar exatamente que volume de filtragem deve ocorrer antes que a água (nós) se transforme qualitativamente na mais perfeita representação possível daquilo que ela é em essência. De modo semelhante, o ser humano em evolução, eventualmente, pode tender a adotar uma abordagem de vida muito mais qualitativa do que quantitativa. Como uma nova qualidade de consciência acontece por meio de uma transformação, parece que algo mais morre ou desaparece, ou é pelo menos transmutado. Finalmente, quando morremos para o velho ou para aquilo que é impermanente, transmutamos ou mudamos nossa natureza, abrimo-nos para o que somos em essência, para aquele aspecto de nossa natureza que é mais duradouro. Cada ser humano, em última instância, produz, através de svabhava – auto geração – sua singularidade. QUANDO OCORRE A RENOVAÇÃO HUMANA? Nossa literatura pode sugerir que as mais dramáticas transformações da consciência ocorrem como resultado de nossas experiências na vida física, mas não é incomum acontecer no silêncio, após algum tipo de tempestade interior. Como dito em Luz no Caminho. “Busca a flor que desabrocha durante o silêncio que segue à tormenta, e não antes” (...) enquanto a natureza toda não tiver sido vencida e se tornado submissa ao Eu Interior, a flor não poderá abrir-se. Então, sobrevirá uma calma como a que nos países tropicais sucede a uma chuva torrencial (...) E no silêncio profundo ocorrerá o misterioso sucesso, o qual provará que se encontrou o caminho (...). O silêncio pode durar apenas um momento, ou pode prolongar-se por milhares de anos, porém, terá fim. Contudo, reterás contigo a sua força. Uma e outra vez terás que dar e ganhar a batalha. O repouso da natureza só pode ser um intervalo”. Assim, o processo é repetido diversas vezes até que a partir de um ser humano incipiente surja um ser humano plenamente realizado. Se nos mostrassem uma imagem do que nos tornaríamos como um ser humano plenamente realizado, todos poderiam achar que éramos completamente irreconhecíveis. Tal é, ao que parece, a extensão do efeito regenerativo de se tornar totalmente humano. Então, o que significa ser plenamente humano? Poderíamos dizer, provisoriamente, que ser completamente humano é perceber nossa singularidade, é viver de forma totalmente diferente, tendo uma mente pura e uma natureza genuinamente humilde, sendo uma “simples força benéfica na natureza”, para usar as palavras de Helena P. Blavatsky (1831-1891). É se abrir para a vida do Universo, ser um sistema vivo, ser o que naturalmente somos, internamente, sempre vitalizados pelo que é permanente e puro. O egocentrismo com seus aliados com a agressão, indulgência, ambição etc, seria transmutado em Eu Uno firmemente estabelecido naquele que está dentro de nós, que é Universal, porém único. O ensinamento inspirador sobre a existência de Mahatmas ou Grandes Almas sugerem que, eventualmente, é possível vivenciar uma alegria profunda e permanente que irá permanecer inabalável com as vicissitudes da vida. Tal ser humano realmente será um poderoso centro de paz, expandindo-se para novas perspectivas de evolução que dificilmente poderemos imaginar. Assim, o órfão irá se reunir com sua verdadeira linhagem, seu coração espiritual. E então, somente então, saberemos quem realmente somos. Revista Teosófica – As Coisas Transitórias. Abraço. Davi

Nenhum comentário:

Postar um comentário