Espiritualidade. Texto de Osho (1931-1990). O CAMINHO DA AUTO REALIZAÇÃO.
Este discurso é um marco na obra de Osho, pois foi quando ele pela primeira vez
teve suas palavras gravadas e depois publicadas. A palestra tornou-se o
primeiro capítulo do primeiro livro publicado por Osho. Trata-se da palestra
introdutória ao Campo de Meditação de Ranakpur - Índia, que ele conduziu em junho de
1964. O livro, originalmente publicado em hindi com o título Path to Self
Realization, foi recentemente traduzido para o inglês com o título The Perfect
Way O Caminho Perfeito. “Almas conscientes”. Antes de tudo, por favor, aceitem
o meu amor. Essa é a única coisa com a qual eu posso dar-lhes as boas-vindas ao
isolamento e reclusão destas montanhas. Na verdade, eu nada mais tenho a dar a
vocês. Eu quero compartilhar com vocês o infinito amor que a proximidade com o
divino criou em mim. Eu quero distribuí-lo. E a maravilha disso é que quanto
mais eu compartilho esse amor, mais ele cresce! Talvez a verdadeira riqueza
seja aquela que aumenta com a distribuição. A riqueza que diminui quando é
compartilhada, não é verdadeira riqueza, de modo algum. Vocês então aceitam o
meu amor? Eu vejo aceitação em seus olhos e eu vejo também que seus olhos se
tornaram repletos de amor em reciprocidade. AMOR INVOCA AMOR E ÓDIO INVOCA
ÓDIO. TUDO AQUILO QUE NÓS DAMOS RETORNA PARA NÓS. Essa é uma lei eterna. Assim,
tudo aquilo que você deseja receber, é aquilo que você deve dar ao mundo. Você
não pode receber flores em retribuição a espinhos. Eu vejo flores de amor e paz
desabrochando em seus olhos. Eu estou em profunda gratidão por
isso, agora, nós não somos muitos aqui: o amor nos junta e faz com que
muitos se tornem um. Corpos físicos estão separados e continuarão separados,
mas existe alguma coisa por trás dos corpos que se encontra no amor, que se
torna um através do amor. Só depois dessa unidade, de nos tornarmos um, é que
alguma coisa pode ser dita e compreendida. A COMUNICAÇÃO SÓ É POSSÍVEL NO AMOR.
Nós nos reunimos nesse lugar isolado para que eu possa dizer algo a vocês e
vocês possam me ouvir. Esse dizer e esse ouvir não são possíveis sem uma
corrente de amor. As portas do coração somente se abrem para o amor. E lembre-se
de que SOMENTE QUANTO ALGUÉM OUVE COM O CORAÇÃO, e não com a cabeça, É QUE O
OUVIR ACONTECE. Você pode me perguntar, 'o coração também ouve?' eu lhe direi
QUE O OUVIR ACONTECE, É ATRAVÉS DO CORAÇÃO. A cabeça nunca ouviu qualquer
coisa. A CABEÇA É UMA PEDRA SURDA. E isso também é verdadeiro quanto ao falar.
SOMENTE QUANDO AS PALAVRAS VÊM DO CORAÇÃO, elas SÃO CHEIAS DE SIGNIFICADO.
Somente quando as palavras vêm do coração, elas têm a fragrância das flores
frescas; se não for assim, elas serão apenas envelhecidas e murchas, elas serão
artificiais - flores plásticas. Eu vou derramar o meu coração em vocês, e se os
corações de vocês permitirem-me entrar, haverá um encontro e uma comunicação. E
então, naquele momento de encontro, aquilo que as palavras são incapazes de
expressar, será comunicado. Muitas coisas não ditas serão ouvidas dessa maneira
- aquilo que não pode ser colocado em palavras, aquilo que fica entrelinhas,
também será comunicado. Palavras são indicações muito impotentes, mas se
ouvidas em paz total da mente e em silêncio, elas se tornam potentes. Isso é o
que eu chamo de ouvir com o coração. Mas, geralmente, mesmo quando ouvimos
alguém, nós permanecemos cheios de nossos próprios pensamentos. Esse é o FALSO
OUVIR. Então você não é um shravak, um ouvinte. Você está apenas
sob a ilusão de que você está ouvindo, mas de fato você não está. Para 'ouvir
corretamente', é necessário que a MENTE ESTEJA EM ESTADO DE OBSERVAÇÃO,
completamente silenciosa. Quando você está apenas ouvindo e nada mais está fazendo,
somente então você será capaz de ouvir e compreender, e essa compreensão se
tornará LUZ E TRANSFORMAÇÃO dentro de você. Se assim não acontecer, então você
não está ouvindo a quem quer que seja, mas apenas a si mesmo, você permanece
cercado por um tumulto enfurecido dentro de você. E quando você está envolvido
dessa maneira nada pode ser comunicado a você. Então você parece estar vendo,
mas não está; você parece estar ouvindo, mas não está. CRISTO disse: 'aqueles
que têm olhos para ver, que vejam. Aqueles que têm ouvidos para ouvir, que
ouçam.' Estava ele dizendo que as pessoas não tinham olhos nem ouvidos? É claro
que elas tinham olhos e ouvidos, mas a mera presença de olhos e ouvidos, não é
suficiente para ver e ouvir. Algo mais é necessário e sem isso a existência ou
não existência de olhos e ouvidos dá no mesmo. Aquele algo mais é o silêncio
interior e a consciência observadora. Somente quando essas qualidades estão
presentes é que as portas da mente se abrem e algo pode ser dito e ouvido. Eu
espero que vocês me ouçam dessa maneira durante o período deste campo de
meditação. Uma vez que vocês tenham aprendido isso, isso se tornará sua
companheira por toda a vida. Isso será o suficiente para livrá-lo de
preocupações triviais. Você poderá se despertar para o grande universo
misterioso externo e você poderá experienciar a eterna e infinita luz de
consciência escondida por trás do tumulto de sua mente. Ver corretamente e
ouvir corretamente não são meras necessidades para este campo de meditação,
são, na verdade, os pilares para todo um viver corretamente. Da mesma maneira
que tudo é claramente refletido através de um lago totalmente calmo, sem ondas,
também é verdade que o divino será refletido em você quando você se tornar
calmo e quieto como o lago. Eu estou vendo um grande silêncio crescendo em
vocês. Os seus olhos - a sede pela vida que eu vejo em vocês - estão me
convidando a dizer aquilo que eu quero dizer. Eles estão me apressando a
revelar as verdades que eu tenho visto e que mexeram com minha alma, porque os
seus corações estão ansiosos e impacientes por compreendê-las. Vendo o quanto
vocês estão desejosos e prontos, meu coração está também pronto para se
derramar em vocês. Nessa paz que nos circunda, com o estado cheio de paz de
suas mentes, eu certamente serei capaz de dizer o que quero dizer para todos
vocês. Se eu tivesse encontrado ouvidos surdos diante de mim, eu iria me
segurar. A luz não permanece do lado de fora quando ela encontra as portas de
sua casa fechadas? Da mesma forma eu fico parado do lado de fora de muitas
casas. Mas é um bom sinal as suas portas estarem abertas. É um bom começo.
Amanhã de manhã começaremos a nossa jornada de experimento de meditação por
cinco dias. Como suporte para isso, eu gostaria de dizer algumas poucas coisas
para vocês. Para a meditação, para a percepção da verdade, o solo de suas
mentes tem que estar preparado da mesma maneira que uma pessoa precisa preparar
o solo para cultivar flores. Assim eu gostaria que vocês compreendessem alguns
sutras, alguns pontos chaves. O primeiro sutra é: VIVA NO PRESENTE.
Durante os dias do Campo não se deixem levar pelo fluxo mecânico de seus
pensamentos a respeito do passado e do futuro. É por causa disso que o momento
vivo, o momento que realmente existe, é desperdiçado e se perde
desnecessariamente. Nem o passado nem o futuro existem. Um é apenas a memória,
o outro é apenas imaginação. Somente o presente é o momento vivo e verdadeiro.
E se é para se conhecer a verdade, ela só pode ser conhecida se estivermos no
presente. Durante esses dias de meditação, mantenham-se conscientemente livres
do passado e do futuro. Aceite que eles não existem. Somente o momento em suas
mãos, o momento em que você está, existe. Você tem que viver nele, e vivê-lo
totalmente. Esta noite durma tão profundo como se todo o seu passado tivesse
sido deixado de lado. Morra para o passado. E de manhã, acorde como um novo
homem numa nova manhã. Não deixe que acorde aquele mesmo que foi para a cama.
Deixe que aquele tenha um bom sono. Deixe que no lugar dele acorde o que
está sempre novo e sempre revigorado. Mantenha continuamente em sua lembrança
por todo o tempo esse viver no presente, e fique alerta para que aquele
pensamento mecânico a respeito do passado e do futuro nem volte de novo. Para
isso, é suficiente permanecer atento. Se você permanecer atento, ele não
vai se desencadear. A consciência destrói o hábito. O segundo sutra é: VIVA
NATURALMENTE. Todo o comportamento do homem é artificial e formal. Nós
sempre nos mantemos encobertos por um falso manto e por causa dessa coberta nós
gradualmente esquecemos nossa própria realidade. Você tem que deixar cair essa
pele falsa e jogá-la fora. Nós nos reunimos aqui, não para encenar um drama,
mas para nos conhecermos, para compreendermos a nós mesmos. Da mesma forma que
os atores de uma peça removem seus trajes e maquiagem e colocam-nos de lado
após a apresentação, nestes cinco dias, você tem que remover suas falsas
máscaras e jogá-las fora. Deixe que aquilo que é original e natural em você
venha à tona e viva nisso. A meditação somente cresce numa vida simples e
natural. Durante esses dias de meditação, saiba que você não tem que manter
nenhuma posição, você não é especial, você não tem qualquer status. Jogue fora
todas essas máscaras. Você é simplesmente você, um ser humano comum, sem nome,
sem status, sem classe, sem família, sem casta - simplesmente uma pessoa sem
nome, um indivíduo muito comum. Você tem que viver desse jeito. E lembre-se que
essa é também a nossa verdadeira realidade. O terceiro sutra é: VIVA SÓ.
A vida de meditação nasce em completa solidão, quando a pessoa está totalmente
só. Mas geralmente o homem nunca está só. Ele está sempre cercado pelos outros.
E quando ele não está no meio da multidão externa, ele está em uma multidão
interna. Essa multidão tem que ser dispersada. Não permita que a multidão se
reúna dentro de você. E quanto ao lado de fora, viva por si próprio como se
você estivesse sozinho neste Campo. Você não tem que manter relacionamentos com
ninguém mais. No meio desses incontáveis relacionamentos vocês se esqueceram de
vocês mesmos. Todos esses relacionamentos - nos quais vocês são amigos ou
inimigos de alguém, pai ou filho, esposa ou marido - absorveram vocês de tal
maneira que vocês são incapazes de conhecer a si mesmos em suas próprias
individualidades. Alguma vez vocês já tentaram imaginar o que vocês são, fora
de todos esses seus relacionamentos? Alguma vez vocês já se livraram das
vestimentas desses relacionamentos e viram a si mesmos sem elas? Distancie
vocês mesmos de todos esses relacionamentos e vejam que vocês não são filhos de
seus pais e mães, não são os maridos de suas esposas, nem o pai de suas
crianças, nem o amigo de seus amigos, nem o inimigo de seus inimigos - e o que
sobra é o seu verdadeiro ser. Aquela entidade remanescente é o que você é em si
mesmo. Durante esses dias você tem que viver sozinho nesse ser. Seguindo esses
sutras, a sua mente chegará a um estado, o qual é uma necessidade absoluta para
a compreensão da paz e da verdade. Ao lado desses três sutras, eu quero
explicar a vocês os dois tipos de meditação que nós começaremos a fazer a
partir de amanhã de manhã. A primeira meditação é para a manhã. Durante essa
meditação você deverá manter sua coluna espinhal ereta, fechar os seus olhos e
manter o seu pescoço reto. Seus lábios devem estar fechados e sua língua deve
tocar o céu da boca. Respire devagar, mas profundamente. Mantenha a sua atenção
próxima do umbigo. Mantenha-se alerta quanto ao tremor que você sentir no
umbigo devido à respiração. Isso é tudo o que vocês têm que fazer. Esse
experimento acalma a mente e esvazia os pensamentos completamente. A partir
desse vazio a pessoa finalmente entra dentro de si mesma. A segunda meditação é
para a noite. Estenda seu corpo no chão confortavelmente e deixe todos os seus
membros se relaxarem completamente. Feche seus olhos e por cerca de dois
minutos sugira a você mesmo que o corpo está relaxando. Gradualmente o corpo se
tornará relaxado. Então, por dois minutos sugira que sua respiração está se
tornando quieta e sua respiração se tornará quieta. Finalmente por outros dois
minutos, sugira que seus pensamentos estão parando. Essa sugestão firme o
levará a um completo relaxamento, tranquilidade e vazio. Quando a mente
se tornar completamente calma, esteja completamente acordado em seu ser
interior e seja uma testemunha dessa paz. Esse testemunhar levará você ao seu
ser. Vocês devem fazer essas duas meditações. Na verdade elas são estratagemas
artificiais e vocês não devem se agarrar a elas. Com ajuda delas, a inquietação
das mentes se dissolve. E da mesma forma que não mais precisamos da escada ao
completarmos a subida, um dia nós também iremos deixar esses estratagemas. A
meditação atinge a perfeição no dia em que ela se torna desnecessária. Esse
estado é o verdadeiro samadhi, iluminação. Agora a noite já está
avançada e o céu está coberto de estrelas. As árvores e os vales já foram
dormir. Nós também vamos dormir agora. Como tudo isso é quieto e silencioso!
Nós também vamos nos fundir nesse silêncio. Num sono profundo, num sono sem
sonhos, nós vamos para o lugar onde o divino habita. Esse é o samadhi
espontâneo, não-consciente que a natureza deu para nós. Através da meditação,
nós também alcançamos esse mesmo espaço, mas com a meditação nós permanecemos
conscientes e alertas. Essa é a única diferença. E essa é realmente uma grande
diferença. Numa situação nós vamos dormir e na outra nós nos tornaremos
acordados. Vamos agora dormir com a esperança de que o despertar também se
tornará possível. Quando a esperança é acompanhada por determinação e empenho,
ela certamente se realiza. É possível que a existência nos guie ao longo do
caminho. Essa é a minha única prece”. www.oshobrasil.com.br.
Abraço. Davi.
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