Hare
Krishna. Texto de Chandramukha Swami. PORQUE ESCOLHER A BONDADE?. Lançando um
novo olhar sobre o mundo, pela ética da BONDADE, podemos experimentar paz em
meio à desordem, sensibilidade em meio as desavenças. Existe
uma grande divisão neste mundo que podemos denominar “coisas vivas” e “coisas
mortas”, e tudo se resume praticamente a uma combinação dessas duas “coisas” ou
energias. Entre as coisas sem vida, podemos citar o teclado
do computador que agora uso, o par de meias que esquenta meus pés, meus óculos,
etc., pois nada disso apresenta consciência. Todos os seres vivos, como, por
exemplo, uma simples flor, um animal, um ser humano, etc., são combinações
dessas duas energias, a material e a espiritual. Somente quando a energia
espiritual habita um corpo específico é que este pode apresentar algum grau de
consciência, tais como uma flor viva, um animal vivo, um homem vivo. Por outro
lado, quando não apresentam mais vida, isso indica claramente que o corpo não
serve mais como morada da energia espiritual. Com isso, podemos observar que
nós não somos meros corpos materiais, mas, sim, a consciência, ou a energia
viva que agora os habita; almas espirituais. E, enquanto almas, somos seres de
luz capazes de irradiar BONDADE inesgotável, mas, quando mergulhamos neste mundo, ganhamos
um revestimento corpóreo, e ficamos sujeitos à influência da energia material,
nossa luz se manifestando parcialmente. Tudo depende, portanto, da consciência
que imprimimos em nossas ações. A própria energia material, por sua vez, irá
reagir à sua maneira, e irá exercer sua influência sobre nós de três diferentes
modos: o MODO DA BONDADE (uma influência mais
branda), o modo da PAIXÃO (uma influência
intermediária) e o modo da ESCURIDÃO (uma influência mais
densa). É sobre isto que trataremos, sobretudo enfatizando a importância de
escolhermos a frequência da BONDADE para dirigir nossas ações e pensamentos, até porque
a BONDADE é a própria energia original da alma, uma característica
intrínseca a ela, e não uma imposição artificial ou algo que possa ser obtido
de fora para dentro. Fazer da BONDADE o estilo de nossa vida significa, portanto, resgatar a essência
da nossa própria natureza. Portanto, embora tenhamos sempre a impressão de que
estamos agindo por vontade própria e que somos os senhores de nós mesmos,
devemos considerar que, ao nos envolvermos em alguma atividade física, mental
ou intelectual, há uma tríade de forças da natureza operando interna e
externamente sobre nós. Essas três forças são chamadas de GUNAS: ESCURIDÃO (tamas), PAIXÃO (rajas)
e BONDADE (sattva). (Cf. Bhagavad-gita 14.5). Literalmente
falando, GUNA significa “CORDA” ou “CORDÃO”. Trançados entre si de
diferentes maneiras e em diversas proporções, esses três cordões se agregam em
infinitas combinações para impor diferentes estados de espírito, ou modos, a
todos os seres. Como efeitos do MODO DA BONDADE, podemos destacar a
presença da luz, da benevolência, da pureza, do desapego ou da amabilidade de
um indivíduo ou de um ambiente. As evidências ligadas ao MODO DA PAIXÃO são
claramente presenciadas quando impulsos de grande coragem, rompantes de ambição
e fortes sentimentos de ansiedade e anseio se manifestam em alguém ou em alguma
atmosfera em particular. Quando obscuridade, falta de asseio, embotamento,
inércia e desânimo se sobressaem em um indivíduo ou ambiente, não há dúvidas de
que o MODO DA ESCURIDÃO está exercendo seu
poder e manifestando sua predominância. Compreender como estes três modos atuam
radicalmente no cotidiano do indivíduo e aprender a lidar com eles são
prerrogativas especiais dos seres humanos. Essa compreensão é tão importante
que, quando o indivíduo identifica a influência dessa tríade de forças
invisíveis em si mesmo, percebe claramente que sua atual personalidade não é
seu Eu verdadeiro, mas mero produto da combinação dessa tríade. Então, através
da auto-observação, ele pode começar a tentar assumir as rédeas de sua
existência, marcando, assim, o início de sua jornada de auto realização. Chega
um momento em que a alma corporificada não se conforma com o papel de mero
figurante de sua própria vida. Ela aspira recuperar sua função de ator
principal, que é o que definitivamente lhe cabe. Para tal, ela terá que
“exorcizar” a personalidade mundana que por ora se apossa do seu corpo e, como
falsa protagonista, insiste em conduzir sua vida. Na verdade, a vitória final
da batalha entre a alma (o Eu superior) e o ego falso (o eu inferior) irá se
consolidar quando o indivíduo atingir a BONDADE imaculada
– uma condição extremamente rara e totalmente isenta da influência dos
três GUNAS (livre, inclusive, da BONDADE material).
Mas, enquanto essa vitória completa não acontece, o indivíduo se vale da máxima
de “fazer um bom uso de um mau negócio”, pois entende que, embora os GUNAS tenham
seus aspectos indesejáveis, cada um deles pode ser útil quando bem utilizados.
O que significa isso? FAZENDO
UM BOM USO DE UM MAU NEGÓCIO. A BONDADE,
por si só, já é um bom negócio, já que a consciência daquele que está sob sua
influência naturalmente se expande, e as portas do seu corpo, a saber, os
sentidos e a mente, se abrem. Assim, a luz da bondade penetra
suavemente em sua consciência e resplandece através de suas atitudes,
aumentando sua capacidade de percepção e facilitando seu discernimento e
entendimento das questões mais profundas da vida. Ao se tornar idêntico a si
mesmo, o indivíduo – agora, autêntico – recebe mais liberdade para atuar sem
ser influenciado pelas reações cármicas indesejáveis. Dessa sua nova postura,
emana uma vibração amável e generosa, uma vez que seus atos e falas estão
alinhados com sua vida prática. Porém, tão logo a BONDADE é
afetada por algum grau de influência da PAIXÃO, o
indivíduo começa a se julgar superior em relação aos outros. Somente ao superar
a própria BONDADE material maculada e alcançar a BONDADE pura
(sem influência da PAIXÃO ou ESCURIDÃO), ele será capaz de desenvolver uma
visão perfeita, baseada na igualdade espiritual de todos os seres. Então, com
um só golpe, se livrará da influência do ego falso e do sentimento de
superioridade. De qualquer modo, mesmo que ainda esteja na plataforma material,
a BONDADE é mais pura e superior aos outros gunas e,
portanto, deve ser fortemente almejada. Um bom exemplo disso é a relação entre
um cidadão e as leis que o governam. Como sabemos, quem desconhece e desacata
as leis acaba aprisionado por elas, ao passo que quem as cumpre vive em
liberdade. De forma semelhante, quem não considera as “leis” que regem a BONDADE acaba
aprisionado pelo orgulho falso, enquanto quem as compreende e as obedece
consegue superá-lo. No que se refere às qualidades da PAIXÃO,
podemos citar o crescimento da energia, poder, coragem e determinação no
indivíduo. Por outro lado, se ele for incapaz de equilibrar e canalizar tais
qualidades, terá que conviver com a cobiça, egoísmo e ansiedade e, fatalmente,
se deparar com situações conflituosas que poderão levá-lo à ira e à frustração.
O elemento ESCURIDÃO é, em geral, entendido como
negativo, pois vela a consciência de sua vítima. Conduzindo-a à indolência,
preguiça e má vontade, o MODO DA ESCURIDÃO (tamas)
faz dela uma pessoa indigna de confiança, negligente com seus deveres e
compromissos. Entretanto, assim como a visão de certas pessoas fica
comprometida pela falta da luz da BONDADE, ou se tornam acomodadas e letárgicas pela ausência da energia
da paixão, existem aquelas que, desconhecendo a maneira de lidar com o
lado positivo de tamas, acabam voando alto demais com as longas asas de sua
intelectualidade, por isso se encontrando em dificuldades para pisar em terra
firme e não conseguindo lidar com as coisas práticas da vida. De qualquer modo,
não há como negar que a ESCURIDÃO é predominantemente uma força que
puxa a pessoa para baixo, vela o conhecimento do indivíduo e diminui suas
virtudes, assim como a BONDADE é uma força que predominantemente impulsiona a pessoa para
cima e a faz crescer em valores. As incontáveis combinações dos três modos da
natureza explicam os diferentes estados de espírito dos amigos, parentes,
casais, etc., e definem o rumo que os diferentes relacionamentos irão tomar. E
como as misturas dos três modos são praticamente infinitas, há grande
multiplicidade de tipos de relacionamentos. De qualquer modo, todo ser
corporificado tem que compreender estas três forças, pois, enquanto estiver
neste mundo, será inevitável lidar com elas, já que todos precisam da luz da BONDADE,
da energia da PAIXÃO e, ao mesmo tempo, das boas qualidades que provêm de TAMAS,
que podem ajudar o indivíduo a criar bases sólidas. Podemos destacar o valor de
uma simples vela e sua capacidade de iluminar um determinado recinto. Seu corpo
de cera, consistente, representa a ESCURIDÃO; o fogo ateado em seu pavio representa
a PAIXÃO; enquanto seu produto final, a luz, capaz de iluminar o
recinto, representa a BONDADE. Não se deve, portanto, pensar que a ESCURIDÃO e
a PAIXÃO desaparecerão por completo da vida de um indivíduo
governado pela bondade. Ao contrário, orientado pelas diretrizes ajuizadas da bondade, o
indivíduo saberá fazer uso correto da ESCURIDÃO e
da PAIXÃO. COMO
ALCANÇAR A BONDADE. O indivíduo sem ética ou moral leva uma
vida incivilizada, pois quem se entrega irrestritamente ao gozo dos sentidos
está certamente sob o controle da ESCURIDÃO. Aquele que leva uma vida civilizada,
com disciplina e honestidade, todavia sem almejar o despertar da sua
consciência, está na PAIXÃO. Embora este estágio se caracterize pelo apego aos benefícios
materiais efêmeros, o indivíduo pode fazer algum avanço no campo de
autoconhecimento e auto realização caso refine seus sentimentos através da
arte, da cultura e da filosofia. A verdadeira compreensão, no entanto, só é
possível na bondade, o estágio mais elevado da vida humana, onde o foco não está em
se obter ganhos materiais ou em simplesmente discernir a matéria do espírito,
mas em se livrar dos condicionamentos materiais para vincular-se com o
Absoluto. De qualquer modo, mesmo indivíduos em PAIXÃO ou ESCURIDÃO poderão
se elevar de posição caso busquem a associação de pessoas na BONDADE, pois
quem aceita ser orientado por uma grande alma que esteja no MODO DA BONDADE não
terá dificuldades em avançar em seu caminho de auto realização.
Independentemente do seu estágio de vida, ao seguir a orientação de alguém
situado em bondade – e, portanto, competente para promovê-lo à mesma condição
– ele progredirá certamente no caminho do autoconhecimento e auto realização. A CONDIÇÃO IDEAL PARA A AUTO REALIZAÇÃO.
Para nos ajudar a entender a importância vital da bondade para
a auto realização, vamos observar o significado etimológico da palavra
sânscrita sattva. Sat significa “verdade”, e tva,
“condição de”. Em outras palavras, quem consegue se situar na bondade alcança
a condição ideal para se livrar de maya, ou ilusão, e acessar sat, a
verdade. Na realidade, as práticas de austeridade, os estudos espirituais, a
caridade, etc., executados na BONDADE são sempre direcionados ao serviço desinteressado da
humanidade e visam, acima de tudo, a satisfação de Deus e, portanto, despertam
a auto realização no executor e podem livrá-lo das garras da energia ilusória,
harmonizando-o com a natureza absoluta e divina. Contudo, quando estas mesmas
práticas não visam a auto realização ou a satisfação de Deus, tendo outra
finalidade, elas estão sob a influência da paixão ou
da ESCURIDÃO e, portanto, não concedem
benefícios permanentes e completos para o executor. É interessante mencionarmos
que a palavra sat não significa apenas “verdade”, mas também quer dizer
“eternidade” (Cf. Bhagavad-gita 2.16). Nesse contexto, as
escrituras sagradas védicas mencionam que os verdadeiros conhecedores do espírito, BRAHMAN,
executam austeridades, penitências e caridades sob a guia da BONDADE.
Com isso, eles conseguem obter benefícios permanentes (sat) e
são conduzidos firmemente para a auto realização. A CARACTERÍSTICA MARCANTE DO SER HUMANO.
A PAIXÃO é a característica mais marcante dos seres humanos. Sob o
seu jugo, o indivíduo se torna excessivamente ativo; embora, muitas vezes, sem
a menor direção. Para preencher o vazio do seu cotidiano, ele costuma girar
estonteantemente em torno de mil e uma de suas invenções mentais, as quais
geralmente se traduzem em um grande nada. São tantas idas e vindas, tantas
visitas a fazer, tantas reuniões a participar, tantos telefonemas a atender,
tantos e-mails a responder (ufa!) que, de tanto correr, o pobre indivíduo
é carcomido aos pedacinhos e fica sem tempo para viver. Mas dá para ser feliz
sem viver? Por outro lado, é essa mesma paixão que
rejunta e submete as pessoas a sentimentos variados, gerando uma enorme gama de
relacionamentos; alguns amigáveis, outros nem tanto. Como uma das suas “marcas
registradas” é a ansiedade, a PAIXÃO fermenta no coração do indivíduo a sensação de que sempre
lhe falta algo. E porque tira sua capacidade de compreender quais são suas
carências verdadeiras, a paixão o induz a buscar no outro a parte que lhe falta. A pessoa
é incapaz de entender que a amargura de sua própria solidão será interrompida
somente através da conexão plena com o Absoluto. Nesse momento, ela não sentirá
mais a necessidade de se buscar em outras metades. De qualquer modo, quando
a PAIXÃO une pessoas que tiveram a sorte de crescer dentro de um
núcleo familiar saudável e foram devidamente nutridas com valores humanos, tais
como veracidade, respeito, gentileza e carinho, a PAIXÃO rapidamente
migra para o MODO DA BONDADE e cria harmonia e
consonância entre as pessoas, seja na esfera profissional, amistosa ou
conjugal. A MAIS ELEVADA DAS VIRTUDES. Talvez
não sejamos capazes de nos dar conta disso, mas desejamos profundamente a
energia da BONDADE, sentimos fortemente sua falta, pois, sem sua presença, nosso
coração não pode experimentar verdadeira felicidade e nossa consciência se
expandir. A BONDADE é tão essencial que até para entendê-la precisamos dela.
Ao fluir divinamente em nossas vidas, ela nos ajuda a encontrar e a seguir o
roteiro maravilhoso que o Criador preparou para nós. Como um beija-flor,
a BONDADE precisa ser atraída. Como fazê-lo? Basta cultivarmos um
jardim florido de virtudes dentro de nós para que ela se aproxime, nos envolva
e nos fecunde com sua energia construtiva. É claro que as circunstâncias
externas podem ajudar, mas, para que se estabeleça em nossos corações, no âmago
do nosso centro divino, a BONDADE tem que ser cultivada internamente. Por outro lado, se nos
deixarmos levar pelas queixas, lamentações, mágoas e acreditarmos em injustiças
alheias, simplesmente iremos repeli-la e daremos as costas a ela. A BONDADE só
permanece na companhia do indivíduo que entendeu definitivamente que ninguém ou
nada pode lhe prejudicar, a não ser o mau uso do seu próprio livre-arbítrio;
este, sim, é o responsável pela sua própria cegueira e escuridão.
Desse modo, a chave para o “SER FELIZ” ou o “SER INFELIZ” ou a dita passagem
para o “CÉU” ou o “INFERNO” está nas mãos de cada um de nós! Tudo depende,
antes de mais nada, do nosso próprio livre-arbítrio. No entanto, o que
significa “LIVRE-ARBÍTRIO”? O que há por trás desse componente tão misterioso,
místico e emblemático? Trata-se do maior presente de Deus a cada um de nós. O
livre-arbítrio é a partícula de independência divinal que nos cabe, é uma
espécie de onipotência minúscula, sublime e sagrada. Acima de tudo, é uma
amostra da natureza generosa e liberal de Deus, uma prova cabal de que podemos
confiar nele; que, apesar de todo-poderoso, entrega em nossas mãos a decisão de
aceitarmos ter ou não um caso de amor espontâneo com Ele. A FONTE SECRETA DA BONDADE. Dizer
que uma vida está sendo governada pela bondade é
dizer que ela está sendo conduzida pelo amor, cuja fonte secreta é o cultivo de
pureza, autossatisfação, desapego, beleza, harmonia, etc. Por outro lado, uma
existência sem cultivo de BONDADE e de AMOR está sob a perigosa influência da mistura
de PAIXÃO e ESCURIDÃO. É uma existência gerida por uma
mistura desarmônica de egoísmo, cobiça e competição. Se não fosse assim, como
haveria tanta injustiça social no mundo em que vivemos, como haveria tanto
desequilíbrio do meio-ambiente, conflitos e buscas insanas por poder, prestígio
e lucro? É claro que muitos apontarão um conjunto complexo de eventos
históricos como a causa disso tudo, o que, até certo ponto, é verdade; mas, por
trás desses eventos, podemos perceber a predominância dos modos inferiores
da escuridão e da PAIXÃO.
Uma sociedade carente da energia da BONDADE não
se preocupa em formar cidadãos com valores e virtudes, mas em gerar indivíduos
consumistas. É só por isso que a luxúria, a cobiça e a ira prevalecem no mundo.
Como poderia ser diferente se a identidade dos indivíduos está meramente
baseada no corpo? Ora, um indivíduo comum que acredita que a vida é uma
banalidade biológica e que sabe que, em pouco tempo, seu corpo irá se decompor,
terá muita dificuldade de fugir das propostas de desfrute material. Apesar das
suas melhores intenções, ele acabará sendo engolido pela paixão e
pela ESCURIDÃO. Como seria diferente numa sociedade
que, no alto de sua maldade, apela intensamente com propagandas que só visam
encorajar os indivíduos a explorarem interminavelmente os recursos da Terra?
Como, vivendo embalado pelos refrãos repetitivos que insistem em afirmar que “é
melhor viver o mais intensamente seus breves dias”, o indivíduo conseguirá
evitar ser empurrado para uma vida egocêntrica e competitiva? Portanto, quanto
maior for a mentalidade de que o ser vivo é unicamente matéria e, portanto, tem
uma vida extremamente breve, mais difícil será estabelecer uma meta
interessante para a sua existência. Vamos criar uma situação imaginária:
cansado de tanto viajar, sou informado de que uma nova empresa aérea está no
mercado e, por preços imbatíveis, oferece aeronaves diferenciadas, com
poltronas de última geração, serviço de bordo com impressionante variedade de
iguarias, sistema multimídia avançado; enfim, conforto completo. Entusiasmado
com a propaganda, me descuido e compro precipitadamente um bilhete para o
próximo voo. Depois de embarcar e me acomodar estou devidamente em uma poltrona
luxuosa, ouço a saudação do comissário de bordo aos tripulantes: “Obrigado por
escolher nossa empresa. Esperamos que aproveite bem seu voo com destino ao
Inferno”. “Meu Deus! Que destino cruel”, penso eu. “Bem, ao menos tenho o
consolo de ir para o Inferno em alto estilo”. Calma, caro leitor! Estamos
apenas brincando. É claro que não temos nada contra apreciar os prazeres e as
comodidades que esta vida pode nos proporcionar. O problema é priorizarmos os
prazeres superficiais da vida em detrimento das questões mais importantes, como
a meta de nossa própria vida. Como disse Jesus: “De que adianta o homem ganhar
o mundo, mas perder a sua alma?”. Não se trata de desvalorizar as ideias de
progresso no campo dos confortos físicos, mas não há como concordar com a
abordagem mundana da sociedade moderna, que bombardeia os cidadãos inocentes
com intermináveis propagandas que estimulam o gozo dos sentidos e tentam
convencê-los de que somente o desfrute mundano os fará felizes. E o que dizer
da influência dos meios de comunicação e das redes sociais? Se a pessoa não
tiver um profundo senso seletivo, depois de algumas horas de contato com a
televisão e com a internet, não conseguirá evitar a turbulência dos sentidos;
sobretudo a cobiça e a agitação sexual – isso para não falar que as telas de TV
e de computadores colocam seus expectadores em ondas cerebrais alfas, os
hipnotizando e os tornando mais suscetíveis e receptivos às suas sugestões. É
por isso que as imagens se alojam nas mentes das pessoas com contundência
impressionante, onde geralmente perduram por meses e anos; a maioria se tornando
presa fácil nas mãos de pessoas que, por conta de suas fraquezas, lucram
impiamente. Quem duvida disso deve se lembrar de que os maiores ramos de
negócios mundiais estão ligados ao comércio de drogas lícitas e ilícitas,
remédios e promiscuidade. Se queremos, portanto, provocar uma verdadeira
mudança no mundo, individual e coletiva, temos que nos livrar da PAIXÃO e
da ESCURIDÃO e fazer da BONDADE o
nosso estilo de vida. O futuro do mundo e o nosso próprio futuro dependem
disso. Definitivamente, o nosso mundo será bem melhor quando a sociedade humana
se tornar austera e parar de se entregar às ideias consumistas exageradas, que
deixam atrás de nós um rastro de danos irreparáveis. É urgente, portanto, que
as pessoas mais sensíveis cultivem a BONDADE, até
porque, somente preenchendo seus corações de BONDADE,
elas terão a capacidade de causar impacto positivo nos corações de outros. O PODER TRANSFORMADOR DA BONDADE.
Quando se aloja no coração, a BONDADE produz verdadeira satisfação e torna qualquer atividade
prazerosa, pois mesmo enquanto executa atividades corriqueiras, tais como
cozinhar, limpar a casa, caminhar, cuidar da saúde, etc., o indivíduo sente-se
feliz. Então, o que dizer da felicidade que ele saboreia ao dedicar-se às
práticas pertinentes ao autoconhecimento e à auto realização, tais como
orações, meditações, leituras, louvores ou qualquer outra atividade que possa
ajudá-lo a dar manutenção, refinar e intensificar sua BONDADE?
Não há como negar que, quanto mais impregnada de bondade,
mais pacífica a mente de uma pessoa se torna, mais doces as músicas, mais
saborosos os alimentos e mais vívidas as formas são percebidas. Por outro lado,
o indivíduo que não está aberto para cultivar e compartilhar a BONDADE não
consegue aproveitar as diferentes chances de entender melhor as coisas, de se
conhecer melhor, de se amar mais. Neste caso, por mais básicos que sejam,
alguns deveres podem se tornar dolorosos e insuportáveis. A conclusão é que
a BONDADE transforma todo evento em um catalizador incondicional de
coisas boas, e mostra ao indivíduo que qualquer experiência do cotidiano pode
nutri-lo positivamente. A BONDADE não apenas refina os dons e os talentos do indivíduo, mas
inspira-o a oferecê-lo aos outros (o que é chamado de karma-yoga, ou
transformar as ações em serviço desinteressado). No começo, isso pode ocorrer
na plataforma racional, mas, quando essa entrega amadurece e se torna parte da
própria identidade do indivíduo, ele é promovido à fase na qual pode perceber a
presença do Absoluto em tudo (isso é conhecido como bhakti-yoga, a
conexão amorosa com o Absoluto). Esse despertar é fonte de tanta
bem-aventurança e preenchimento que, ao transbordar, leva-o a trabalhar no
despertar do outro. E uma vez que a bondade esteja
desperta nele, ele entende que servir o mundo não é diferente de servir ao
Senhor. Então, seu viver ganha um significado imenso, pois ele se torna um
canal divino, um retransmissor da mesma luz que foi responsável por
despertá-lo. Ao manter-se conectado com a Fonte de toda a BONDADE,
ele desperta cada vez mais sua consciência divina, e por sentir cada vez mais
conforto interior, cresce em gratidão. Sob o amparo da BONDADE, ele
percebe a proteção divina em sua vida, reconhece os cuidados que o bondoso
Senhor tem para com ele e, assim, sente-se plenamente seguro. Com essa
consciência, ele não tem dúvidas de que está exatamente onde deveria estar e vê
as circunstâncias que o rodeiam como ideais e perfeitas para trabalhar seu
crescimento pessoal. Honrando a sua existência, ele vê tudo como oportunidade
de receber e compartilhar coisas boas e positivas. AGUANDO A RAIZ DA ÁRVORE. “Amar
a Deus sobre todas as coisas.” Quão arrebatadoras e primorosas são estas poucas
palavras! Quem se dedica a compreendê-las de fato, vê infinitas possibilidades
descortinarem-se. E quanto mais profundamente mergulha nelas, mais entende que
tudo está nesta maravilhosa síntese dos dez mandamentos. Outros, no entanto,
preferem argumentar que Deus é exclusivista demais ao exigir que nosso amor
seja, acima de tudo, dedicado a Ele. A esses irmãos, eu pergunto: “Será que as
folhas de uma árvore consideram a raiz exclusivista ao pedir que a água seja
direcionada a ela?”, “Será que os diferentes órgãos do corpo consideram o
estômago exclusivista quando ele reivindica a comida para ele?”. As folhas de
uma árvore sabem que, mesmo sendo endereçada primeiramente à raiz, a água
chegará a elas, assim como os diferentes órgãos sabem que o alimento recebido
pelo estômago se converterá em preciosa e necessária energia. De forma semelhante,
Deus é a raiz da nossa existência! E, portanto, Ele quer prioridade no nosso
amor, mas não exclusividade, pois deseja também que dediquemos amor ao próximo
e a nós mesmos. Contudo, para não perdermos o foco, a essência dos mandamentos
é amá-lo sobre todas as coisas. “Manda quem pode e obedece quem tem juízo”.
Entender a importância de amá-lo não nos parece tão difícil. A dificuldade
consiste em amá-lo sobre todas as coisas, e não sob todas as coisas. Nota-se
que, quando dedicamos acima de todas as coisas o nosso amor a Ele, estamos
priorizando o Seu interesse, e não o nosso ou de qualquer outra pessoa ou
objeto. Nesse caso, entendemos que dar a prioridade do nosso amor a Ele é mais
importante para nós do que oferecermos o nosso amor a nós próprios ou a qualquer
outra pessoa ou causa em primeiro lugar. Entretanto, se consideramos que nós,
ou qualquer outra pessoa, somos algo totalmente separado dele, não iremos
entender a importância de colocar o nosso amor a Ele acima de qualquer outro
objeto. Somente quando nos entendemos como parte dele, assim como as folhas de
uma árvore ou os diferentes órgãos de um corpo, o mandamento único começa a
fazer sentido e entendemos que, sem amá-lo, não podemos amar verdadeiramente
nem a nós mesmos e nem o próximo. Do Livro Bondade Como Estilo de Vida. www.voltaaosupremo.com.br. Abraço.
Davi.
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