Espiritualidade. Texto de N. Sri Ram (1889-1973).
Somente quando começamos a considerar os VALORES que consciente ou
inconscientemente, atribuímos aos elementos que penetram nossas vidas, é que
começamos a viver de maneira inteligente. Mas a faculdade de um exame assim
ainda é rara e, comparativamente, poucos indivíduos a possuem, embora a
influência dessas pessoas estenda-se a um círculo cada vez maior, segundo o
grau de seu dinamismo e o modo como sua influência é propagada. O tempo
presente é caracterizado, entre outras coisas, por uma busca de CORAÇÕES E VALORES
mais ampla e mais intensa como jamais se viu. Todas as pessoas em todo o mundo
estão agora numa situação em que existe a necessidade de uma radical CONSTRUÇÃO
DE VALORES - que são as coisas nas quais acreditam e mais prezam - não tanto
como uma questão de teoria, mas como é mostrado em sua conduta prática
habitual. O CRISTÃO médio pode professar acreditar nos sublimes ensinamentos do
SERMÃO DA MONTANHA (evangelho de Mateus 5 - 7), contudo a fé que
verdadeiramente governa sua conduta pode ser vista no seu lar, seu jornal, seu
escritório, clubes e campo de batalha. O mesmo se dá com relação àqueles que
professam OUTRAS RELIGIÕES. As guerras mundiais (Primeira Guerra Mundial 28 de
julho de 1914 - 11 de novembro de 1918; Segunda Guerra Mundial 1º de setembro
de 1939 - 2 de setembro de 1945) pelas quais passamos. As atuais condições
mundiais (ameaça de guerra nuclear - protagonizadas pela Coréia do Norte e
Estados Unidos da América) e o perigo de uma outra catástrofe, mesmo excedendo
em magnitude a última. Tudo combina para fazer pensar na questão dos VALORES
que são verdadeiros e que devemos esforçar-nos por manter em nossas vidas,
eliminado as ILUSÕES. Dinheiro, poder de todo tipo, pompa e circunstância,
vários prazeres e satisfações, todas essas coisas obviamente são tentadoras e
são buscadas com energia febril. Elas são os VALORES QUE DETERMINA NOSSA
CONDUTA diária lado a lado com qualidades tais como liberdade, verdade,
respeito pela lei, dever, lealdade, gentileza, beleza e justiça, que ainda são
nossos ideais. Mas esses VALORES dependem da verdadeira estima que o indivíduo
neles deposita. Neste, como em outros aspectos, evoluímos apenas pela
experiência como indivíduos e como sociedade, e nosso crescimento é registrado
pelos VALORES QUE MOTIVAM nossas ações. OS VALORES DE UMA SOCIEDADE primitiva
são muito diferentes dos de uma sociedade influenciada pelas artes, pelos
padrões de um modo de vida mais complexo e pelos efeitos das instituições
estabelecidas. VALORES EXISTEM em toda sociedade e subjazem a psicologia e ao
comportamento das pessoas que a compõem. O que esses VALORES na verdade são
pode ser visto a partir de suas vidas, e são uma herança de sua história
cultural e social prévia. OS VALORES que subjazem seu modo de pensar e motivos são
aqueles ESTABELECIDOS POR SEUS LÍDERES E HERÓIS. São também o produto de suas
próprias tentativas e de seus experimentos. É preciso tempo para provar todas
as coisas, para filtrar o VERDADEIRO DO FALSO, daquilo que incrementa a vida e
daquilo que a destrói. Entre as nações do mundo, o povo INDIANO, e também o CHINÊS,
tem um SENSO DE VALORES DESENVOLVIDO através de uma longa história de
raciocínio e realização, que está refletida em sua filosofia e literatura, em
suas instituições sociais e costumes, e em todo seu modo de vida. É verdade
que, através de longa aceitação, esses VALORES tornaram-se convencionais e de
algum modo perderam sua importância viva. O ideal de AHIMSA (não causar o
sofrimento de outro ser - através deste comportamento acredita-se atingir uma
relação mais harmoniosa com o Universo) ou NÃO VIOLÊNCIA, por exemplo, de
Mahamat Gandhi (1869-1948), que foi um expoente tão notável. Por mais que possa
ser incompreendido ou até mesmo violado na prática, é o produto de certo
reconhecimento que jaz nas profundezas da mente do indiano, moldada como tem
sido ao longo de milhares de anos. Todo o conceito de DHARMA (aquilo que mantém
o indivíduo elevado - Lei natural ou Lei cósmica) colocado perante os INDIANOS
pela tradição e por seu código sócio religioso está fundamentado num certo
conjunto de VALORES. Concebido com referência a seus efeitos e repercussões de
longo alcance - esse alcance cobrindo, segundo a filosofia INDIANA, não apenas
uma vida, mas uma sucessão de vidas reencarnadas. E preocupado não apenas com
ganhos e perdas, prazeres e dores temporários do homem, mas com sua felicidade
permanente e seu progresso rumo a emancipação final da dor. As duas Guerras
Mundiais ocorreram para a libertação de indivíduos, tanto quanto de nações,
para viverem suas vidas a seu próprio modo sem serem molestados. Sem preceitos
ou MEDO de VIOLÊNCIA, para pensarem seus próprios pensamentos e exprimi-los,
desde que sejam compatíveis com o gozo de IGUAL LIBERDADE para OS OUTROS. Essa LIBERDADE
tem sido comprada com sacrifícios sem precedentes na história humana. Aqui
obviamente, está um princípio cujo valor, para a felicidade duradoura de toda a
raça humana, tem sido exaltado e fixado por amplo consenso. E tornado a tônica
de uma escala de valores por meio da qual as expressões de vida humana devem
ser moduladas e governadas. Esta escala de VALORES afeta todas as fases de
nossa vida. Tomemos como ilustração a INFÂNCIA e o problema da educação para a
máxima aptidão em sua vida posterior. Reconhece-se, cada vez mais, que quase
toda CRIANÇA possui em si a semente de uma UNICIDADE que se desenvolvida será a
sua posse e contribuição mais preciosa para a cultura de sua sociedade. Pois
essa originalidade em seus primórdios - até mesmo mais do que em suas
manifestações posteriores mais pronunciadas e estabelecidas - tem um valor todo
próprio. Conformidade foi uma virtude quando foi preciso estabelecer a
existência de Leis Naturais invioláveis. Havia respeito pelas leis, que na
ordem natural eram invioláveis, e que eram igualmente a base de uma ordem justa
e estabelecida na sociedade humana. Isso representou um VALOR ESSENCIAL para o
crescimento e a felicidade individuais, e jamais as transcenderemos. Mas, se o
promover a conformidade de qualquer sistema de pensamento estabelecido, seja
corporificado na educação ou em qualquer outro ramo de nossa ordem social,
limitarmos o livre movimento do pensamento, sua expressão própria e livre
exploração. Mataremos toda possibilidade de originalidade e variação, e em vez
de servirmos à causa da vida - que é a causa de deleite e expansão - serviremos
a meta de petrificação e morte. Assim, em qualquer sistema expansivo com uma
escala de VALORES UNIFICANTES - unificantes no sentido de criar ordem e
harmonia, e não caos e discórdia - a individualidade, seja da criança ou do
cidadão adulto, deve ter seu próprio lugar e VALOR FUNDAMENTAIS. Existem certos
VALORES que duram para sempre; mas todos estão resumidos na mais elevada
felicidade humana atingível na Terra. Uma vez que cada homem (na verdade cada
forma animada) busca mais vida - e a felicidade experimentada no fluxo da vida
- a busca instintiva por esse objetivo não é incompatível com os VALORES que
promovem a felicidade Universal e individual. E o aumento de vida expresso, não
em parasitismo, mas em criatividade e contribuição para o bem geral. Na
verdade, qualquer civilização que corporifique VALORES assim não precisará ser
mantida por supressão ou força, pois servirá às necessidades fundamentais do
povo que dela participa. Numa civilização assim se pode confiar que cada
indivíduo aceitará esses VALORES por suas próprias observações e experiência.
Não precisam ser-lhe impingidos pelos métodos adotados em estados autoritários
para condicionar as mentes de seu povo. Uma Lei verdadeira precisa apenas ser
enunciada no estabelecimento dos fatos que ela ilumina e resume. A Segunda
Guerra Mundial, enquanto durou, elevou o contraste entre os ideais defendidos
pelas nações combatentes respectivamente. Foi uma época de TENSÃO, de VISÃO E
VALORES EXACERBADOS. Quando VIDA, FELICIDADE e FORTUNA eram largamente
sacrificados, não se podia FIXAR VALOR mais elevado à causa do que essas
bênçãos, normalmente tão estimadas em tempos de PAZ. Mas os VALORES
experimentados quando os fios da consciência humana são tensionados e depois
erguidos para REVERÊNCIA, estão prontos para se dissolver quando o momento
tiver passado. E houver não apenas reversão à estreiteza de nosso viver
trivial, mas até mesmo uma reação pela tensão imposta pelo esforço. Numa era de
contatos fugazes, de competição incessante e dura, é mais difícil do que sempre
foi, para qualquer indivíduo, ver com clareza e manter seu SENSO DE VALORES.
Todavia, os verdadeiros VALORES constituem o ÚNICO MAPA e BÚSSULA que possuímos
para alcançar nossa META ÚLTIMA. Livro O Interesse Humano. Abraço. Davi.
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