Espiritualidade. Texto de Osho (1931-1990).
"Toda a vida é feita de polaridades: positivo e negativo, nascimento e
morte, homem e mulher, dia e noite, verão e inverno. Toda a vida consiste em
opostos polares. Mas esses opostos não são apenas polares, são também
complementares. Eles se ajudam um ao outro, dão apoio um ao outro. Eles são como tijolos que formam uma arcada. Os
tijolos de uma arcada têm que ser colocados uns contra os outros. Parecem estar
um contra o outro, mas é por meio da oposição deles que a arcada é construída,
que ela permanece firme. A resistência da arcada depende da polaridade dos
tijolos colocados em oposição uns aos outros. Esta é a polaridade máxima: meditação significa a arte de estar
sozinho e amor significa a arte de estar junto. A pessoa completa é aquela que
conhece ambas as artes e é capaz de se mover de uma para a outra com a maior
facilidade possível. E exatamente como a inspiração e a expiração - não há
dificuldade. Elas são opostas – quando vocês inspiram o ar, é um processo;
quando expiram o processo é exatamente o oposto. No entanto, inspiração e
expiração formam uma respiração completa. Na
meditação, vocês inspiram; no amor, expiram. Com o amor e a meditação juntos,
sua respiração estará completa, inteira, total. Durante séculos, as religiões tentaram atingir um polo com a exclusão
do outro. Existem religiões de meditação como, por exemplo, o jainismo e o
budismo - são religiões meditativas, estão enraizadas na meditação. E existem
religiões bhakti, religiões de devoção: o sufismo, o hassidismo -
que estão enraizadas no amor. A religião baseada no amor precisa de Deus como o
'outro' a quem amar, a quem rezar. Sem um Deus, a religião de amor não consegue
existir, é inconcebível - vocês precisam de um objeto de amor. Porém, uma
religião de meditação consegue existir sem o conceito de Deus; essa hipótese
pode ser descartada. Por isso o Budismo e o Jainismo não acreditam em Deus
algum. Não há necessidade de um outro. A pessoa tem apenas que saber como ficar
só, como permanecer silenciosa, como ficar quieta, como estar absolutamente
calma e quieta dentro de si mesma. O outro tem que ser completamente
abandonado, esquecido. Por isso, essas são religiões ateias. Quando pela
primeira vez os teólogos ocidentais entraram em contato com as literaturas
budistas e jainistas, eles ficaram bastante confusos: como chamar de religião a
essas filosofias ateitas? Poderiam ser chamadas de filosofias, mas como
chamá-las de religião? Isso era inconcebível para os teólogos, pois as tradições
judaico e cristã consideram que, para alguém ser religioso, Deus é a hipótese
mais fundamental. A pessoa religiosa é aquela temente a Deus, mas os budistas e
jainistas dizem que não existe Deus; Assim a questão de temer a Deus não
existe. No Ocidente, durante milhares de anos, pensava-se que a pessoa que
não acreditava em Deus era um ateu, não era uma pessoa religiosa. Mas Budha era
ateu e religioso. Essa ideia soava muito estranha para os ocidentais porque
eles nem sequer imaginavam que existiam religiões que tinha como base a
meditação. E o mesmo é verdadeiro para
os seguidores de Bhuda e Mahavira. Eles riem da tolice das outras religiões que
acreditam em Deus, porque essa ideia como um todo é absurda. É apenas fantasia,
imaginação, nada mais; é uma projeção. Mas para mim, ambas são, ao mesmo tempo,
verdadeiras. Minha compreensão não está
baseada em um único polo; minha compreensão é fluida. Eu saboreei a verdade de
ambos os lados: eu amei totalmente e meditei totalmente. Esta é a minha
experiência: a de que uma pessoa está completa só quando conhece os dois polos.
Senão, ela é apenas uma metade; algo fica faltando nela. Budha é uma
metade - Jesus também. Jesus conhecia o que é o amor, Budha conhecia o que é a
meditação; mas, se eles se encontrassem, seriam impossível se comunicarem entre
si. Um não compreenderia a linguagem do outro. Jesus falaria sobre o reino de
Deus e Budha começaria a rir: 'Que absurdo é esse que você está dizendo? O
reino de Deus?' Bhuda diria apenas: 'Cessação do eu, desaparecimento do eu'. E
Jesus: 'Desaparecimento do eu? Cessação do eu? Isso é cometer suicídio, o
suicídio máximo. Que espécie de religião é essa? Fale do Eu Supremo!' Um não entenderia as palavras do outro. Se alguma
vez eles tivessem se encontrado, precisariam de um homem como eu como
intérprete; caso contrário não haveria comunicação entre eles. Eu teria de
interpretar de tal maneira que acabaria sendo infiel a ambos! Jesus falaria em
'reino de Deus', que eu traduziria por 'nirvana' - então Buda poderia entender.
Buda diria 'nirvana' e, para Jesus, eu diria 'reino de Deus' - então ele
poderia compreender. Agora a humanidade precisa de uma visão total. Nós já
vivemos com visões parciais por muito tempo. Essa foi uma necessidade do
passado, mas agora o homem amadureceu. Os meus sannyasins têm de provar que
podem meditar e rezar ao mesmo tempo; que podem meditar e amar ao mesmo tempo;
que podem estar tão silenciosos quanto possível e que podem celebrar e dançar
tanto quanto possível. Seu silêncio tem de se tornar a sua celebração, e sua
celebração tem que se tornar o seu silêncio. Eu lhes dei a tarefa mais difícil
que já foi dada a um discípulo, porque esse é o encontro dos opostos. E
nesse encontro, todos os outros opostos vão se fundir e tornar-se um: Oriente e
Ocidente, homem e mulher, matéria e consciência, este mundo e o outro mundo,
vida e morte. Todos os opostos vão se encontrar e fundir-se por meio desse
encontro, pois essa é a polaridade máxima; ela contém todas as polaridades.
Esse encontro criará um novo ser humano -
Zorba (1), o Bhuda. Esse é o nome que eu dou ao novo homem. E cada um dos meus
sannyasins precisa fazer todos os esforços possíveis para se transformar nessa
liquidez, nesse fluxo, de modo que os dois polos façam parte deles. Assim,
vocês terão sentido o gosto da totalidade. E conhecer a totalidade é o único
meio para se conhecer o que é o sagrado. Não há outro meio". www.osho.com.br.
Abraço. Davi.
(1). Filme Zorba - O Grego. Direção: Michael Cacoyanni. Protagonista: Antonny Quinn. Gênero: Drama. "Ano de produção: 1964. Censura: a partir dos 18 anos. "Um escritor
inglês chega a Grécia e pega um navio, pois vai até Creta para trabalhar em uma
mina que herdou do pai, um grego de nascença. Logo ele conhece Alexis Zorba
(Anthony Quinn), um determinado camponês grego que também quer trabalhar na
mina. Os dois acabam indo se hospedar em um pequeno hotel administrado por uma
velha prostituta francesa que é cortejada por Zorba, que encoraja seu amigo
escritor para dar atenção a uma bela viúva, que é muito desejada pelos homens
do local. A mina necessita de alguns reparos, mas Zorba convence um grupo de
monges que permita remover um pouco da madeira de uma floresta deles, que fica
em uma montanha próxima e inventa um meio de transportá-la para a mina. Quando
Zorba e seu patrão retornam à cidade, a velha prostituta ajuda o inglês a
superar sua timidez. Assim, ele toma coragem e vai visitar a viúva e os dois
acabam fazendo amor. Mas rumores começam a percorrer a ilha após o escritor ter
sido visto entrando na casa dela e um dos muitos admiradores da viúva é tomado
pelo desespero e se suicida. Em virtude deste acontecimento, os aldeões começam
a apedrejá-la e o escritor, testemunhando tudo aquilo, manda chamar Zorba.
Quando ela está prestes para ser esfaqueada, Zorba chega e interfere, fazendo o
agressor soltar a arma, mas quando tudo parecia contornado ela, em um momento
de descuido, é apunhalada pelo pai do jovem que se matara. Sentindo que a
prostituta estava prestes a morrer, Zorba bondosamente concorda em se casar com
ela e enquanto trabalha na mina fica sabendo que a saúde dela piorou. Ele volta
rápido e ela morre em seus braços mas, apesar das mortes, o trabalho não pode
parar e a vida continua com todo seu esplendor, não importando o que aconteça. www.adorocinema.com.br. Abraço. Davi.
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