quarta-feira, 28 de junho de 2017

TRANSCENDÊNCIA.

Espiritualidade. Texto de Sri Prem Baba (1965-  ). TRANSCENDÊNCIA. Capítulo Seis. DESPERTAR O AMOR – EM ÚLTIMA INSTÂNCIA, o propósito é um só. O propósito da alma individual é também o propósito de toda a humanidade e de tudo que existe, pois ele se relaciona com a própria essência da criação. Manifestar o propósito significa exalar a fragrância do Ser que nos habita. E essa fragrância é o amor que se encontra adormecido em nós. O propósito só pode se manifestar quando já despertamos pelo menos um tanto desse amor. Ao mesmo tempo em que o amor desperta, o propósito vai se revelando, e ao mesmo tempo em que o propósito se revela, o amor se expande. Quando falo de amor, estou me referindo ao sentido verdadeiro da palavra, e não ao amor, condicionado pelos desejos e caprichos do ego. Refiro-me ao amor real, que é desinteressado e incondicional. O amor real ama, independentemente daquilo que recebe em troca. Ele não depende do amor do outro para existir. Ele não quer recompensas, promessas e garantias, ele simplesmente ama. SERVIR É AMAR – AMAR, EM ÚLTIMA instância, é servir. Existe uma profunda conexão entre o amor e o serviço, pois quem ama, naturalmente, serve, e quem serve, naturalmente, ama. Da mesma forma que não existe amor sem liberdade, não pode haver serviço sem amor. Amar e servir desinteressadamente representam a mais elevada forma de consciência que pode haver neste planeta. Para alguns, isso pode parecer até mesmo um pouco romântico, mas é contrário. Estou me referindo a uma realidade: nós não estamos aqui a passeio. Não viemos para fazer umas compras no shopping, namorar um pouco, casar, deixar alguns filhos no mundo e depois ir embora. Viemos para servir. E enquanto não acordarmos para essa realidade, seguiremos fracassando em nossas tentativas de encontrar a paz e a felicidade. Enquanto acharmos que estamos aqui apenas para satisfazer os desejos do ego, estaremos fadados ao sofrimento. Nós viemos para servir, mas costumo dizer apenas que viemos para amar, pois é uma forma mais fácil de assimilar e compreender. O que ocorre é que, para muitos, serviço é uma palavra que carrega conotações negativas. Normalmente, o servir é associado a um fazer subordinado, a um senso de inferioridade. E o ego se incomoda muito com isso. Inclusive, um dos elementos a serem purificados através da prática do seva (serviço desinteressado) é justamente esse orgulho, essa falta de humildade. O ego é quem se sente inferior. Ele sempre quer estar em posições especiais, fazendo somente coisas legais que julga serem mais importantes. E é exatamente isso que precisa ser transformado. É preciso compreender o significado mais profundo dessa prática tão mal interpretada que é, na verdade, uma das mais elevadas virtudes da alma. Servir de forma desinteressada  representa um alto grau de desenvolvimento espiritual. Entretanto, principalmente no Ocidente, onde a cultura glorifica o ego e alimenta uma postura arrogante diante das coisas, servir é sinônimo de rebaixamento. Já na Índia e em outras culturas em que as principais tradições espirituais se baseiam na relação mestre discípulo, servir está entre as práticas mais avançadas e elevadas. Eu sei que ao falar de serviço desinteressado, de renúncia da autoria e do resultado das ações, entrega espiritual e relação mestre discípulo, estou tocando em temas delicados, justamente por serem de difícil compreensão. Tudo isso é muito misterioso para a mente racional. Para alguns, esses temas geram até mesmo certa aversão. Isso ocorre porque nos lugares onde a cultura foi basicamente influenciada pelo racionalismo, a mente e a razão têm predomínio sobre o coração e a intuição. A mente raciocina e tenta entender, mas não consegue, porque não é possível compreender com a mente o que está além dela. E certos aspectos da entrega espiritual estão muito além da mente. Para aqueles cuja configuração mental foi rigidamente formatada pela razão e que estão condicionados ao hábito de questionar e duvidar, antes de conhecer e confiar, entender o fenômeno da entrega de um discípulo para um mestre é algo extremamente difícil. Mas, independentemente do que a mente consegue entender, é fato que algumas almas vêm com o propósito mais específico de servir a um mestre. Alguns servirão através da sua profissão, dos seus projetos pessoais ou sociais, da sua arte. Outros servirão através da entrega a um mestre, o que significa que colocarão seus dons e talentos diretamente a serviço da missão que vieram realizar. E entre estes, alguns serão levados a estar dentro de uma comunidade espiritual, vivendo uma vida de renúncia, mas estes serão poucos, até porque estamos sendo chamados a integrar a espiritualidade à vida material. A maioria dos buscadores espirituais, mesmo estando sob a direção de um mestre, precisa viver a espiritualidade de uma forma  prática, que permita que estejam na cidade, trabalhando em empresas e sustentando a família. Mas, ao contrário do que muitos acreditam, essa configuração de vida não impede que haja uma relação profunda entre um mestre e um discípulo. Muito pelo contrário. Muitas vezes a conexão é ainda mais forte quando não se está perto do corpo do mestre, porque essa proximidade física, além de gerar purificações muito intensas, também pode causar uma série de projeções que se tornarão obstáculos na jornada. Isso ocorre porque alguns não compreendem a dimensão humana do mestre e acabam se perdendo em idealizações. O importante é saber que a relação mestre discípulo independe da presença física, até porque é uma relação que se dá no plano do espírito. O encontro entre um mestre e um discípulo é um fenômeno extremamente raro e precioso que muitos não poderão ter o privilégio de experimentar, justamente porque envolve elementos que ultrapassam os limites da razão humana. E um desses elementos é a devoção. A devoção é uma esfera do amor incondicional um tanto incompreendida e julgada pela mente cética. É um aspecto mais refinado do amor, que não se pode explicar – só se pode vivenciar. Somente a arte pode tentar expressar o que a devoção representa, pois trata-se de um mistério a ser desvendado pelo coração. Não é possível pensar em devoção, apenas sentir devoção. Não é possível convencer alguém sobre a devoção, pois é algo a ser experienciado. Quando o amor amadurece, a devoção naturalmente floresce. Até um determinado momento, a sua devoção pode ser focada em alguma forma divina, alguma imagem, algum nome ou algum mestre, mas o aspecto mais elevado da devoção é quando o amor vai além da forma ou das questões pessoais e deixa de ter um endereço ao qual corresponder. É, quando isso acontece, o serviço deixa de ser uma purificação, um remédio que você usa para curar doenças. O serviço flui simplesmente porque ele se tornou a razão maior da vida. Muitos, porém, confundem a devoção com o fanatismo, o que é um tremendo engano. Devoção e fanatismo são dimensões radicalmente opostas. A devoção nasce da experiência da verdade e o fanatismo nasce da imaginação. Ele é um produto da mente condicionada, pois se baseia em crenças, aquele que não conhece a verdade acredita na verdade – a verdade criada pela sua própria mente. O fanático acredita ser o dono da verdade sem nem mesmo ter tido um vislumbre dela. No fundo, ele se esconde da Verdade através de uma suposta fé. Qualquer expressão que negue a sua vontade é vista como uma ameaça; qualquer um que não acredite no que ele acredita é visto como inimigo. E isso ocorre justamente porque, no fundo, ele nega a Verdade. Sua fé é baseada em crenças e verdades emprestadas – e uma falsa fé. O fanatismo é, portanto, uma expressão do falso eu. Ele se disfarça atrás de uma máscara de devoto, mas não é nada além de uma distorção do amor. O verdadeiro devoto é aquele que,  tendo passado pelo deserto do ceticismo e pelas provas da dúvida e dos questionamentos que ela traz, teve um vislumbre da Verdade. E através dessa experiência desenvolveu as virtudes da autêntica fé e do serviço desinteressado, o que envolve humildade, e aceitação e gratidão, assim como dedicação, retidão e foco. Aquele que se torna um devoto da vida acorda pela manhã e pergunta ao Mistério: “Como posso servir? Ele se coloca à disposição do amor para servir a divindade na forma de todos os seres vivos, na forma da vida. Esse é o sentido mais profundo de tornar-se um canal puro do amor. E isso é o que podemos chamar de entrega espiritual. PROPÓSITO COMUM – QUANDO A DEVOÇÃO E o serviço desinteressado se encontram, ocorre uma poderosa alquimia. Tenho sido testemunha de muitas belas manifestações que nascem dessa combinação, principalmente quando esse fenômeno ocorre num grupo de pessoas. Quando uma alma se doa para realizar a meta maior através do amor, isso é algo realmente valoroso, mas quando muitas almas se reúnem em torno do mesmo propósito, movidas pela devoção, coisas extraordinárias acontecem. Extraordinário é superar limitações e vencer desafios:: é manifestar a luz em meio à escuridão; é conseguir amar o outro mesmo quando ele está sendo canal do mais profundo ódio e da ignorância; é estar unido ao outro mesmo quando tudo leva à separação. Isso é TRANSCENDÊNCIA, ou seja, é ir além do egoísmo e manifestar o altruísmo. E o que possibilita a manifestação disso que estou chamando de extraordinário é a união. Sem união, não há TRANSCENDÊNCIA. A união é capaz de realizar verdadeiros milagres, porque quando unimos nossas forças (nossos potenciais e virtudes) em torno da mesma meta, nos tornamos verdadeiramente poderosos. E essa é a força que tem um sangha, que é uma comunidade de pessoas unidas em torno de um mestre espiritual para a realização de um propósito comum. O sangha é um organismo vivo que vai expandindo conforme cada indivíduo da comunidade vai se curando e amadurecendo. E na medida em que o sangha expande e se fortalece, ele vai se transformando em refúgio de cura e conexão para todos aqueles que estão em busca da verdade. É por isso que o sangha é visto pelos budistas como uma das joias sagradas do caminho da iluminação. O sangha é o corpo do mestre. E o que permite a saúde do corpo do mestre é a capacidade do sangha de trabalhar em união, amizade e harmonia, pois é através do sangha que o mestre realiza a sua missão no mundo. Um mestre só pode realizar seu propósito por meio da realização do propósito daqueles que o acompanham, pois é parte da sua missão guia-los para essa realização. Um dos aspectos do trabalho de um mestre é justamente acordar a lembrança do propósito e ativar as potencialidades latentes daqueles que escolhem trilhar o caminho com ele, para que possam se colocar a serviço do bem maior. Na medida em que esse trabalho é feito e o discípulo começa a doar seus dons e a entregar os presentes que trouxe para o mundo, o mestre também é presenteado, pois o maior presente para um mestre espiritual  é ver o seu aluno se realizar. Na relação mestre discípulo, apesar de o mestre ter a função de guiar, ambos estão crescendo juntos: um vai expandindo através da expansão do outro. E quando esse movimento ocorre por meio da união de muitas almas, verdadeiros saltos quânticos de expansão da consciência coletiva se tornam possíveis. Consciência é sinônimo de luz, de iluminação. O sangha funciona como uma grande bolha luminosa que, à medida em que cresce, dissipa a escuridão. É um dos mais poderosos instrumentos do caminho da autorrealização. SER O AMOR – AUTORRREALIZAÇÃO OU REALIZAÇÃO de si mesmo significa tomar consciência de quem somos, significa despertar do sonho da separação criado pelo ego e voltar à percepção da Unidade. Em última instância, realizar-se significa retornar à própria essência amorosa: assim como um rio se funde no mar, a consciência humana se funde na consciência divina. A consciência é única, mas por causa da natureza ilusória deste plano, ela parece estar fragmentada. Como já vimos ao encarnarmos na Terra para viver essa experiência material, através de um corpo e de um ego, somos envolvidos por um véu ilusório que nos faz acreditar que estamos separados. Ter um ego implica, necessariamente, na existência de uma ideia de eu. Portanto, faz parte do jogo neste planeta ter esse senso de separação. Faz parte do aprendizado da alma encarnada num corpo acreditar que é uma gotinha de água enquanto é o próprio oceano. E, assim como acreditamos ser uma gota, também nos esquecemos do oceano. Na filosofia hindu, aquele que se liberta da ilusão da separação e toma consciência da sua verdadeira identidade é chamado de jivanmukta (alma livre). Esse é o caminho que estamos percorrendo. O caminho da autorrealização ou da libertação – o caminho do encontro da gota com o oceano. E o que possibilita essa lembrança é o amor desperto. Sem amor, não há expansão da consciência. E sem expansão da consciência, não pode haver lembrança. Lembrar significa iluminar, trazer para o campo de visão. E esquecer significa escurecer, retirar do campo de visão. Quando nos esquecemos de alguma coisa, é como se aquilo não existisse. O amor é a luz que nos habita, é o que nos move neste plano. Todos os males deste mundo existem por causa do amor adormecido em nós. E quando falo adormecido, estou me referindo a um estado inativo. Quer dizer que o amor está presente, porém adormecido ou desativado. Assim como uma semente que não é plantada não pode transformar-se numa árvore e dar frutos, o amor adormecido não pode cumprir sua meta de expansão da consciência. Portanto, chegamos ao final do nosso estudo concluindo que estamos aqui para despertar o amor adormecido. Não somente em nós, mas em todos os seres, até porque o amor desperta em nós quando queremos ver o outro despertar. Acredito que, nesse ponto do nosso estudo, já deve estar claro que só é possível brilhar quando trabalhamos para que o outro também brilhe; só é possível se curar, quando trabalhamos para que todos se curem; só é possível realizar o nosso propósito quando trabalhamos para a realização do propósito do outro. O amor é a semente e ao mesmo tempo o fruto maduro da árvore da consciência. Ele é  a própria seiva da vida, é a nossa essência. Assim como o perfume da rosa é inseparável da rosa, o amor é inseparável do Ser. Quando amamos de verdade, estamos exalando a fragrância do Ser. Assim como o propósito do Sol é iluminar e aquecer, o propósito do ser humano é amar. Por isso eu sempre digo que tudo se resume ao amor. Livro Propósito – A Coragem de Ser Quem Somos. Abraço. Davi.

Um comentário:

  1. Como identificar o amor incondicional?
    Como ter certeza que aprendi a amar os inimigos...e pessoas que não me amam?

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