Editor do Mosaico. Assistindo
recentemente ao filme A Cabana do diretor Stuart Hazeldine com lançamento em 7
de abril desse ano, aqui no Brasil, percebi segundo aqueles que leram ao best
seller do mesmo nome, que circulou pelo mundo em vários idiomas vendendo mais
de 12 milhões de exemplares, que ele é fiel ao livro do autor William P. Yong
publicado primeiramente em 2007. O enredo foi muito bem elaborado em estilo
drama, usando os recursos que a tecnologia cinematográfica disponibilizada, mas
comedido entre o simples e modesto, sendo isto objetivamente com o intuito de
introduzir a "fantasia" e imaginação como elementos de interpretação
contextual. Como diz Albert Einstein "Ser suficiente artista é ter a
capacidade de desenhar a imaginação. A imaginação é mais importante que o
conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação envolve ao mundo".
Para quem não leu o livro, que é o meu caso, o filme é revestido de cenas
surpreendentes e muitas vezes comoventes, fazendo a gente ficar ligado no
enredo apresentado pelo diretor do início ao fim. A história passasse numa
família cristã, que costumava comparecer à missa no fim de semana. A igreja com
vitrais coloridos, sugerindo cenas de Jesus e a imagem de Deus estampada nas
janelas era avistada pelo pai, que impressionava-se com a figura de Deus com
barba longa uma face envelhecida e carrancuda. Entretanto, esta condição de
ouvir o sermão do oficial encarregado e cantar com a congregação, não refletiu
satisfatoriamente no caráter daquele que era o chefe da família, que era
constituída de dois adolescentes, uma menina e a mãe. Ele com caráter
possessivo-temperamental tentava resolver seus conflitos existenciais jogando a
culpa nos membros familiares, discutindo com a esposa e incriminando o filho
mais velho. Sem nenhum diálogo com o mesmo, inflamava sua conversa na
brutalidade, tanto que, num desses momentos, à noite no meio da chuva, espancou
o filho chicoteando-o, e fazendo com que ele recitasse um versículo bíblico
nessa situação de agonia. O filho não aguentando tamanha agressão recorrente, e
também, sem nenhuma orientação tanto ética quanto espiritual para compreender e
resolver a questão de maneira racional não usando a violência contra seu
genitor. Numa missa ouvindo o sermão, é compelido a confessasse, contando
baixinho ao pároco sua angústia (conflito com o pai) que o roía por dentro.
Mesmo assim o clérigo, não tomou providência para ajudar diretamente o rapaz,
nem depois que descarregou sua fúria sutilmente. Como seu pai bebia,
ocultamente foi ao porão da casa e misturou veneno a bebida provocando a morte
dele. A história "começa" neste ponto, onde o filho parricida
torna-se o protagonista, carregando até o final a culpa, o pecado e
perversidade desse ato. Em Êxodo 12,13-14 diz: "Honra teu pai e a tua mãe,
a fim de que venhas a ter longa vida na terra, que Yhweh, o teu Deus te dá. Não
matarás". "O carma negativo é gerado invariavelmente pelas más
intenções. Sempre que, proposital ou invariavelmente, prejudiquemos outro ser,
somos culpados de agir com más intenções. O Buda nos ensinou os cinco preceitos
para nos auxiliar a superar o hábito de lesar os demais e a nós mesmos com as
nossas más intenções. Fundamento da moralidade budista e ponto de partida para
o verdadeiro crescimento do ser humano, os Cinco Preceitos são: 1. Não matar.
2. Não roubar. 3. Não mentir. 4. Não ter má conduta sexual. 5. Não se
entorpecer com álcool ou drogas". O roteiro não destacou o crime praticado
pelo garoto em sua questão jurídica criminal, contudo tomando o caminho da
crise existência, a mesma da qual seu pai foi acometido. Evidentemente a
natureza não deixaria impune este delito, pois o carma é a "lei universal
de causa e efeito que governa as ações intencionais. De acordo com ela, todos
os atos intencionais produzem resultados, que mais cedo ou mais tarde serão
sentidos por quem realizou a ação. Boas ações produzem efeitos cármicos
positivos, ao passo que os efeitos cármicos das más ações, são negativos".
O rapaz casasse, adquire família tendo dois filhos como seu pai, contudo convivendo
com o "fantasma" da culpa, remorso e ressentimento. A família decide
passar férias num balneário a beira mar com alguns amigos para descansar e
lazer. Ao dormirem eles têm um diálogo interessam onde a criança interroga
sobre Deus, quanto a ser uma lenda ou uma verdade. Ela chama Deus de papai. Ele
adverte os filhos quanto aos perigos do local, mas situações imprevistas são
difíceis de controlar. Tanto que seus filhos passeavam no mar num barco quando
esse vira, e o garoto ficando preso quase morre, sendo salvo por seu pai que o
vê desesperado afogando e batendo os braços lançasse prontamente ao mar. Após,
um estranho fato ocorre, sua filhinha brincando no local afastasse o bastante
para perdesse. Todos saem em busca da garotinha, inclusive muitos dos que
estavam no balneário. A polícia é chamada e procurando por todos os lados do
parque, não a encontra em lugar nenhum. Algumas investigações feitas dão
indícios que a menina esteve numa Cabana. A família volta arrasada pra casa, na
esperança de encontrar a filha de alguma forma. O carma negativo cobrava do pai
sua atitude transgressora no passado. Ele começava a culpar Deus por aquela
situação, achando-se injustiçado não se conformando com a perda da criança.
Esse é um importante ponto que o diretor soube explorar bem, mostrando como é
difícil para nós suportar a perder de entes queridos, seja qual for a
ocorrência em que se dar o fato. Nunca pensamos diretamente em nossa finitude,
vivendo como se fossemos durar sempre. Nesse ponto o enredo faz um recorte para
explicar o que se passava no interior do pai que precisava ser resolvido, e
como essa circunstância o afetava ao ponto de fazê-lo revoltar-se contra a
divindade, sem que tivesse razão nenhuma para tal. Em sonho o pai vê uma
cabana, pressentindo que por lá sua filha teria estado quando na floresta
costeira passavam férias. Nesse sonho segue de carro até o local, e virando
numa curva bate o veículo. Nesse devaneio idílico ou realidade abstrata está
ambientada a dimensão extra sensorial, onde mostra-se a maneira que o diretor
imprimia à que demos conta da profundidade do Mistério e a circunstância que
envolvia a interioridade do protagonista. Ele vai através duma floresta gelada
e encontra a Cabana, da qual recebeu referência no bilhete que sonhara. Entra,
e logo percebe sangue no assoalho, também algumas veste que supostamente eram
de sua filha. Desespera, chorando amargamente. Neste instante aparece a figura
de um jovem que o conduz por uma estrada clara e límpida, onde vê-se cores
definidas na vegetação esplendorosa e tranquila. Além de um rio calmo e
cristalino. Mais adiante uma casa de madeira toda ornamentada com simplicidade
e os utensílio domésticos necessários. A ideia do filme é mostrar que essa
"atmosfera" é uma representação do céu ou paraíso cristão. O apóstolo
João diz no Apocalipse 21,1 "Então vi, novo céu e nova Terra, pois o
primeiro céu e a primeira Terra, haviam passado, e o mar já não mais
existia". Ele quis mostrar, que podemos ter surpresas quanto a simbologia
celeste que necessariamente não corresponde a literalidade vista pela maioria
dos cristãos mais dogmáticos. Essa parte é bastante rica em detalhes que não
vou especificar, esperando que os leitores possam assistir e perceber como o
diálogo entre os personagens introduzidos nas cenas imaginadas na
"visão" que o "herói" está se descortinando à sua
existência. Deus nesse devaneio é representado por uma mulher negra. Imagina a
aceitação da figura feminina como Deus numa sociedade acentuadamente machista,
sexista, e em alguns casos homofóbica como a nossa; a visão causa certo
estranhamento. Jesus o salvador do mundo está tipificado pelo rapaz, que
tornou-se seu amigo ao entrar nesta dimensão celeste. Jesus aqui é um jovem
franzino e contextualizado no tempo, mais preocupado com o aqui e agora, que o
futuro por acontecer. O Espírito Santo é uma jovem de descendência oriental.
Interessante essa mescla de divindades realizada pelo roteirista, trazendo a
consciência coletiva que todas as tradições em sua representação pensam Deus de
forma e maneira diferentes – o certo ou o errado foge da análise cultural no
aspecto de confrontação – devendo ser vista pela assimilação e comparação. Deus
mostra-lhe que não havia motivos para sua revolta. Sua atitude era mesquinha e
egoísta, necessitando perdoar seu pai, mesmo depois de tudo que ele sofreu, não
importando que havia falecido. A situação passada era resultado de seus atos
impensados e sem reflexão. Jesus leva-o à ver o mar, andando com ele sobre as
águas como no caso do apóstolo Pedro em Mateus 14,25-31. Mostrando que ele,
perdera a fé e consequentemente se entulhava de ceticismo e incredulidade.
Entretanto havia esperança de que as coisas se normalizariam. O Espírito Santo
mostra-lhe as almas daqueles que estavam no céu. Aparentemente contrariando a doutrina
onde o pecado é castigado com a disciplina, seu cruel pai estava lá, e se
encontraram. A ideia aqui é que nos renascimentos futuros seu pai, já havia
passado pela disciplina e sofrimento cármico quitando sua dívida. Ele chorando
pediu perdão ao pai se reconciliando dos seus malfeitos com um abraço mútuo.
Também sua filha aparece, mas infelizmente ele não pode abraçá-la. Precisará
entender o porquê da separação. Jesus o encaminha à uma gruta para encontrar-se
com sua consciência, Nesse interessante diálogo ele fica claro de sua situação
hipócrita e chorando arrependesse de tudo, compreendendo sua real situação.
Saindo da caverna encontra um ancião; junto a esse, ambos vão por um labirinto
descobrir onde está o corpo de sua querida filhinha. Chegando ao local
reconhece-a envolta em lenções, bem como a roupa que usava quando havia
desaparecido. Dolorosamente reconhece que ela foi abusada e deixada sem vida
naquela caverna. Ele aos prantos carrega-a, indo pela estrada até a casa onde
estava hospedado com a trindade divina. No céu, fazem o sepultamento de sua
querida filhinha, e mesmo em meio a muita desolação, agradece a Deus tamanha
benção de entender os caminhos pelos quais a vida muitas vezes deve passar,
para rompendo a morte entrar no paraíso divino. O protagonista é acordado desse
sonho, quando está dirigindo seu carro indo a Cabana, e de repente, o acidente
é concretizado pelo desastre em realidade. É hospitalizado, devido aos
ferimentos sendo visitado por um amigo, e nessa condição toma consciência do
ocorrido. Recebendo a visita dos familiares, agora com uma visão completa das
circunstância que passou, explica aos mesmos o êxtase da visão e como deu-se
seu encontro com Deus. A SEMENTE DO GRÃO DE MOSTARDA. Recontada por Fábio
Lisboa. “Desde criança, Gotmai era a mais magra das crianças e por isso era
chamada de Kisa Gomati (Gotami Magricela). Kisa Gotami era pobre, órfã e sofria
com as humilhações, no entanto, mantinha o seu coração puro e livre de ódio.
Ela, inocentemente, sem saber, ajudou um rico e avarento mercador. E este a fez
casar-se com o seu filho. Casada, Gotami achou que iria melhorar de vida, mas
aí é que as coisas pioraram. Apesar de não sofrer mais dificuldades
financeiras, o marido a tratava como escrava e a humilhava ainda mais. Seu corpo
magro até aguentava o sofrimento, mas a sua alma se entristecia cada vez mais
com a violência e injustiça do mundo. Quando o seu filho veio ao mundo,
finalmente, o mundo de Kisa Gotami mudou completamente. Ela
amava aquele bebê mais do que tudo em sua vida! E o amor infantil e inocente
que ela recebia em troca era um tesouro inestimável! A mãe ajudou o filho a dar
os primeiros passos e logo o menino começou a andar sozinho. Mas o marido
continuava exigente e intransigente e naquele dia exigiu tantas coisas que o
filho acabou ficando sozinho. O menino ficou andando pelo quintal, até cair,
dando um grito. E caído ficou choramingando. A mãe chegou como um raio em
socorro ao filho, pegou o menino nos braços e viu uma cobra saindo de perto da
criança. O menino foi ficando roxo, chorando cada vez mais baixinho, se acalmou
nos braços da mãe, até que o choro parou e ele se foi, empalidecido. Kisa
Gotami saiu correndo com o filho no colo, em desespero, pedindo por ajuda: Por
favor, me dê um remédio para curar o meu filhinho! Ela tocava nas casas e era
humilhada: As pessoas, carrancudas, batiam a porta em sua cara. Depois riam e
comentavam: Que mulher louca! A criança está morta! A mulher ouvia, mas não
queria acreditar. Por que você não se mexe, filho? Eu quero você de novo
andando e brincando – pensava ela. “Por favor, me dê um remédio para o
meu filho, ele não se mexe! Um homem sensato se compadeceu da dor da mãe que
não queria aceitar a morte do filho e disse: Eu não tenho esse remédio que você
procura mas eu posso indicar quem o tem. E eu te suplico: me diga quem é! Você
precisa falar com Sakyamuni, o Buda. A mulher à beira da loucura foi ver o
Iluminado e exclamou, chorando: Senhor, meu filho estava brincando entre as
flores e tropeçou numa serpente que se enroscou no seu braço. Depois ficou
pálido e silencioso. Não posso aceitar que ele deixe o meu colo assim. Senhor,
meu mestre, dá-me um remédio que cure o meu filho. O Iluminado respondeu: Sim
irmãzinha, há uma coisa que pode curar teu filho e a ti, se puderes
consegui-la, porque os que consultam os médicos tomam o que lhes é receitado.
Procura uma simples semente de mostarda preta, porém só deves recebê-la de uma
casa onde nunca tenha entrado a morte. Aflita, a magra Gotami foi de casa em
casa pedindo o grão de mostarda. As pessoas se compadeciam dela e lhe davam a
semente, porém, quando ela perguntava se já tinha morrido alguém naquela casa,
lhe respondiam: Ah! São muitos as pessoas queridas que já morreram nesta
família. Não nos lembre da nossa dor. Agradecida, ela lhes devolvia a semente
de mostarda que não serviria para preparar o remédio e dirigia-se a outros que
diziam a ela: Aqui está a semente, porém já morreu nosso empregado. Aqui está a
semente, porém o semeador morreu entre a estação chuvosa e a colheita. Pode
levar esta semente, mas saiba a morte levou a nossa filha antes da hora. E
assim foi, o dia todo procurou mas não encontrou nenhuma casa onde a morte já
não tivesse passado. Nenhuma semente serviria para trazer o seu filho de volta.
No começo, achou que ninguém entendia a sua dor. No decorrer do dia, percebeu
que a dor da morte não era só sua. Muitos sofreram com ela e ela sofreu ao
ouvir histórias de pessoas que se foram, avôs, avós, pais, mães, filhos,
filhas, irmãos, irmãs, empregados, amigos, parentes e até animais queridos. Ela
entendeu a mensagem do Iluminado. Enterrou sozinha o seu filho, mas sabia que
era como se estivesse ao lado de muitos conhecidos e desconhecidos, dando o
último adeus ao menino. Kisa Gotami voltou até Buda, o Desperto, que lhe
perguntou: Encontrou a semente? Não, Mestre. Mas procurando o que não poderia
encontrar, achaste um amargo bálsamo (...). Enterraste o teu filho? Sim. Sobre
o meu seio, o meu menininho dormiu hoje o sono da morte. E eu só pude chorar
sozinha (...). De manhã estava sozinha, no fim da tarde, ainda sozinha, percebi
que havia uma multidão comigo. Agora sabes que, cedo ou tarde, todo mundo chora
uma dor semelhante à tua. Por que, meu Senhor? Nenhum nascido pode evitar a
morte. Assim como os frutos maduros caem da árvore, assim os mortais estão
expostos à morte desde que nascem. A vida corporal do homem acaba partindo-se
como a vasilha de barro do oleiro. Jovens e adultos, ignorantes e sábios, todos
estão sujeitos à morte. Porém, o sábio que conhece a Lei não se perturba,
porque nem pelo pranto nem pelo desânimo obtém a paz, mas pelo contrário, isso
tudo aviva as dores e os sofrimentos do corpo. A morte não faz caso de
lamentações. Embora viva dez ou cem anos, acaba o homem por separar-se de seus
amados ao sair deste mundo. Quem deseja a paz da alma, deve arrancar de sua
ferida a flecha do desgosto, da queixa, da lamentação. Feliz será aquele que
consegue vencer a dor”. www.contarhistoria.com.br.
Abraço. Davi.
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