IV. RAJA YOGA. Texto de I. K.
Taimni (1898-1978). RAJA YOGA. SAMADHI PADA. Toda drastuh svraupe “vasthanam”.
I-3. ENTÃO, O VIDENTE ESTÁ ESTABELECIDO EM SUA PRÓPRIA NATUREZA ESSENCIAL E
FUNDAMENTAL. Este sutra assinala, de maneira geral, o que acontece quando todas
as modificações da mente, em todos os níveis, foram completamente inibidas. O
vidente é estabelecido em seu próprio svariipa ou, em outras palavras, atinge a
auto realização. Não podemos saber o que é este estado de auto realização
enquanto estivermos envolvidos no movimento das citta vrttis. Só pode ser
percebido de dentro para fora, não pode ser compreendido de fora para dentro.
Mesmo a compreensão parcial e superficial que podemos obter sob nossas
limitações atuais, por meio do estudo e da reflexão, somente é possível
alcançar após dominarmos por completo a teoria e a técnica do Yoga,
apresentadas neste tratado. Os estágios mais elevados de consciência que se
revelam no estado do samadhi, mencionados em I-44 e 45, são chamados de
rtambhara ou geradores de verdade e retidão. À sua luz, o yogi pode conhecer a
verdade subjacente em todas as coisas em manifestação. Mas ele pode conhecer a
verdade dessa maneira, somente nas coisas que fazem parte de drsyam, o visto, e
não de drasta, o vidente. Para isso ele tem que praticar nirbija samadhi
(I-51). Vrtti sarupyam itaratra. I-4. NOS OUTROS EXISTE A ASSIMILAÇÃO DO
(VIDENTE) COM AS MODIFICAÇÕES DA (MENTE). Quando as citta vrttis não estão no
estado de nirodha, e drasta não está estabelecido em seu svarupa, ele está
assimilado com aquele vrtti particular que ocorre ocupar, no momento, o campo
de sua consciência. Uma comparação talvez ajude o estudante a compreender essa
assimilação da consciência com a transformação da mente. Que ele imagine uma
lâmpada elétrica acesa suspensa em um recipiente, cheio de água límpida. Se a
água for violentamente agitada por um dispositivo mecânico, ele apresentará
toda espécie de formas, em três dimensões, em torno da lâmpada, sendo essas
formas iluminadas pela luz da lâmpada e mudando a cada momento. Mas, e a
lâmpada? Ela se perderá de vista, e toda a luz dela emanada será assimilada, ou
perdida, na água que a cerca. Que ele imagine, agora, que a agitação da água
vá, aos poucos, diminuindo até que a água fique completamente parada. A medida
que as formas tridimensionais começarem a desaparecer, a lâmpada elétrica irá
aparecendo gradualmente e, quando a água estiver completamente tranquila,
somente a lâmpada será visível. Esta comparação ilustra, de modo um tanto
precário, tanto a assimilação da consciência do purusha, com a modificação da
mente, quanto sua reversão a seu próprio
estado não modificado quando a mente entra em repouso. A mente entra em
repouso, ou através de para vairagya, desenvolvido por Isvara pranidhana, ou
através da prática do samadhi, o resultado em ambos os casos é o mesmo, ou
seja, Iluminação e Liberação. Este sutra, a exemplo do anterior, tem o
propósito de responder, de uma forma geral, apenas a pergunta “que acontece a
purusha quando não está estabelecido em seu svarupa? Seu completo significado
somente pode ser compreendido quando todo o livro tiver sido estudado, e os
vários aspectos do assunto adequadamente entendidos. Vrttayah pancatayyah
klistaklistah. I-5. AS MODIFICAÇÕES DA MENTE SÃO DE CINCO TIPOS E SÃO DOLOROSAS
E NÃO DOLOROSAS. Após indicar a natureza essencial da técnica do Yoga, o autor
classifica os vrttis. Ele os agrupa de duas maneiras. Primeiro, em relação aos
nossos sentimentos, se eles são dolorosos, prazerosos ou de caráter neutro. Em
segundo lugar, de acordo com a natureza do pratyaya produzido em nossa
consciência. Consideremos, primeiramente, a reação desses vrttis sobre nossos
sentimentos. Essa reação, de acordo com Patanjali, é dolorosa ou não dolorosa,
o que parecerá ao estudante superficial, um modo um tanto estranho de
classificar as modificações mentais. É claro que há certas modificações que têm
um caráter neutro, isto é, não produzem em nossa mente qualquer reação
prazerosa ou dolorosa. Quando, por exemplo, ao caminhar, notamos uma árvore,
trata-se de mera percepção sensorial que não desperta em nós qualquer
sentimento de prazer ou de dor. A grande maioria de nossas percepções
sensoriais, que resultam nas modificações da mente, têm este caráter neutro e
forma classificadas como “não dolorosas”. Mas há outras modificações da mente
que despertam em nós prazer ou dor. Por exemplo, quando provamos um alimento
saboroso, ou vemos um belo pôr do Sol, ou cheiramos uma rosa, temos um
sentimento nítido de prazer. Por outro lado, quando vemos uma cena horrível, ou
ouvimos um grito de angústia, a transformação resultante da mente é
definitivamente dolorosa. Por que, então, Patanjali classificou todas essas
modificações da mente, que despertam em nós algum sentimento, como dolorosas? A
razão é dada em II-15, juntamente com a filosofia dos Klesas. Basta, de
momento, mencionar que, de acordo com a teoria dos klesas, na qual se baseia a
filosofia do Yoga, todas as experiências de prazer ou dor são realmente penosas
para as pessoas que desenvolveram a faculdade de discernimento e não estão
cegas pelas ilusões da vida inferior. É a nossa ignorância, causada por essas
ilusões, que nos faz ver prazer em experiências que são fonte potencial de dor
e, portanto, nos faz correr atrás desses prazeres. Se nossos olhos interiores
estivessem abertos, veríamos a dor “potencial” oculta em tais prazeres, e não
apenas quando a dor está presente de modo “ativo”. Veríamos, então, a
justificativa para a classificação de todas as experiências que envolvem nossos
sentimentos e, assim, dão origem a raga e dvesa como dolorosas. Isto pode
parecer ao estudante. Isto pode parecer ao estudante um ponto de vista um tanto
pessimista sobre a vida, mas que ele suspenda seu julgamento, até que tenha
estudado a filosofia dos klesas, na seção II. Se todas as experiências
envolvendo os nossos sentimentos são dolorosas, então, é lógico que se
classifique as demais, que são de caráter neutro e não afetam nossos
sentimentos, como não dolorosas. Ver-se-á, então, que a classificação primária
de citta vrttis como dolorosas e não dolorosas não e desarrazoada, mas do ponto
de vista do Yoga, perfeitamente lógica e razoável. O outro ponto de vista com
base no qual as citta vrttis foram classificadas é a natureza do pratyaya
produzido em citta. O objetivo de classifica-los dessa maneira é mostrar que
todas as nossas experiências, ao domínio da mente, consistem em modificações
mentais e nada mais. O controle e a total supressão dessas modificações,
portanto, extinguem por completo nossa vida inferior e levam-nos,
inevitavelmente, à aurora da consciência superior. Classificados dessa maneira,
os vrttis ou modificações são de cinco tipos, como se mostra no próximo sutra.
Pramana viparyaya vikalpa nidra smrtayah. I-6. (ELAS SÃO) CONHECIMENTO CORRETO,
CONHECIMENTO ERRÔNEO, FANTASIA SONO E MEMÓRIA. Mais uma vez, num exame
superficial, a classificação quíntupla pode parecer um tanto estranha, porém,
um estudo mais profundo comprovará ser ela perfeitamente científica. Se
analisarmos nossa vida mental, no que concerne ao seu conteúdo verificaremos
que ela consiste em um grande número de imagens variadas. Um estudo mais
acurado dessas imagens mostrará, todavia, que todas elas podem ser
classificadas em cinco amplos subtítulos, enumerados neste sutra. Antes de
examinarmos cada um desses subtítulos separadamente, nos cinco sutras
subsequentes, tentemos entender, de maneira geral, o sistema fundamental de
classificação. Pramana e viparyaya abrangem todas as imagens que são formadas
por algum tipo de contato direto, através dos órgãos dos sentidos, com o mundo
exterior dos objetos. Vikalpa e smrti abrangem todas as imagens ou modificações
da mente que são produzidas sem qualquer contato direto com o mundo exterior.
Elas são o resultado da atividade independente da mente inferior, usando as
percepções sensoriais reunidas antes na mente e ai armazenadas. No caso de
smrti ou memória, essas percepções sensoriais são reproduzidas na mente com
fidelidade, isto é, na forma e na ordem em que foram obtidas previamente,
através dos órgãos dos sentidos. No caso de vikalpa ou imaginação, elas são
reproduzidas de qualquer forma e em qualquer ordem, a partir do material
sensorial presente na mente. A imaginação pode combinar essas percepções
sensoriais em qualquer forma ou ordem, coerente ou incoerente, mas o poder de
combinar as percepções sensoriais está sob o controle da vontade. No estado de
sonho, a vontade não tem controle sobre estas combinações, e elas aparecem ante
a consciência, ao acaso, fantásticas e, frequentemente, absurdas, influenciadas
até certo ponto pelos desejos presentes na mente subconsciente. O Eu Superior,
com sua vontade e razão, retira-se, por assim dizer, para além do limiar da
consciência, deixando a mente inferior parcialmente enredada, com o cérebro
privado da influência racionalizante da razão e da influência controladora da
vontade. Quando até mesmo os resquícios da mente inferior também se retiram
para além do limiar da consciência cerebral, temos um sono sem sonhos ou nidra.
Neste estado, não há imagens mentais no cérebro. A mente continua ativa em seu
próprio plano, mas suas imagens não são refletidas na tela do cérebro físico.
Que o estudante examine agora sua atividade mental, à luz do que se disse
acima. Que ele adote qualquer modificação da mente concreta inferior, que opera
com nomes e formas, e veja se não consegue inseri-la em um dos cinco grupos. Ele
verificará, para sua surpresa, que todas as modificações da mente inferior
podem ser classificadas sob um ou outro dos subtítulos e, portanto, o sistema
de classificação é perfeitamente racional. É verdade que muitas das
modificações, sob análise, apresentar-se-ão complexas e inseridas em dois ou
mais grupos, mas logo se verificará que os vários ingredientes adaptam-se a um
ou outro dos cinco grupos. Eis por que os vrttis são chamados pancatayyah –
quíntuplos. Pode-se perguntar por que somente as modificações da mente concreta
inferior podem ser levadas em consideração na classificação das citta vrttis.
Citta inclui todos os níveis da mente, o mais baixo dos quais é chamado manas
inferior, o qual funciona através de manomaya kosa e trata das imagens mentais
concretas, com nomes e formas. A resposta a esta pergunta é óbvia. O homem
comum, cuja consciência está confinada à mente inferior, pode conceber apenas
as imagens concretas derivadas de percepções obtidas através dos órgãos
sensoriais físicos. As citta vrttis correspondentes aos níveis mais elevados da
mente, embora definidos, vividos e capazes de serem expressos indiretamente,
através da mente inferior, estão além de sua compreensão e podem ser percebidas
em seus próprios planos no estado do samadhi (liberação ou iluminação), quando
a consciência transcende a mente inferior. O Yoga começa o controle e a
supressão do tipo inferior das citta vrttis, com que o sadhaka está
familiarizado e a qual ele pode compreender. Não haveria por que tratar das
citta vrttis correspondentes aos níveis superiores da mente, mesmo que estas
citta vrttis fossem suscetíveis de classificação comum. O sadhaka tem de
esperar até que ele aprenda a técnica do samadhi. Consideremos agora os cinco
tipos de modificações, individualmente, um a um. Livro A Ciência do Yoga.
Abraço. Davi.
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