Espiritismo. Texto de Alan
Kardec (1804-1869). Capítulo IX. INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPORAL.
1. Penetração dos Espíritos no Nosso Pensamento. 2. Influência Oculta dos
Espíritos nos Nossos Pensamentos e nas Nossas Ações. 3. Possessos. 4.
Convulsionários. 5. Afeição dos Espíritos por Certas Pessoas. 6. Anjos
Guardiães, Espíritos Protetores, Familiares ou Simpáticos. 7. Influência dos
Espíritos nos Acontecimentos da Vida. 8. Ação dos Espíritos nos Fenômenos da
Natureza. 9. Os Espíritos Durante os Combates. 10. Pactos. 11. Poder Oculto.
Talismãs. Feiticeiros. 12. Bênção e Maldição. PENETRAÇÃO DOS ESPÍRITOS NO NOSSO
PENSAMENTO. Os Espíritos vêm tudo o que fazemos? “Podem vê-lo, já que estais
constantemente rodeado por eles; cada um, porém, só vê as coisas para as quais
dirige sua atenção, pois as que lhe são indiferentes, com estas não se ocupa.”
Os Espíritos podem conhecer nossos mais secretos pensamentos? “Frequentemente,
conhecem o que desejaríeis esconder de vós mesmos; nem atos, nem pensamentos
lhes podem ser dissimulados.” Dessa forma, seria mais fácil esconder algo de
uma pessoa viva, do que fazê-lo a esta mesma pessoa, depois de morta?
“Certamente; quando vos julgais bem ocultos, tendes, frequentemente, uma
multidão de Espíritos, ao vosso lado, que vos vê.” O que pensam de nós os
Espíritos que nos cercam e que nos observam? “Depende. Os Espíritos brincalhões
riem dos pequenos aborrecimentos que vos causam e zombam das vossas
impaciências. Os Espíritos sérios deploram vossos defeitos e tentam
ajudar-vos.” INFLUÊNCIA OCULTA DOS ESPÍRITOS NOS NOSSOS PENSAMENTOS E NAS
NOSSAS AÇÕES. Os Espíritos influem nos nossos pensamentos e nas nossas ações?
“Sob este aspecto, a influência deles é maior do que imaginais, pois, com muita
frequência, são eles que vos dirigem.” Temos pensamentos que nos são próprios e
outros que nos são sugeridos? “Vossa alma é um Espírito que pensa; não ignorais
que vários pensamentos vos chegam, ao mesmo tempo, sobre um mesmo assunto e,
com frequência, muito contrários uns aos outros; pois bem! Há sempre
pensamentos vossos e nossos; é o que vos deixa na incerteza, porque tendes, em
vós, duas ideias que se combatem.” Como distinguir os pensamentos que nos são
próprios daqueles que nos são sugeridos? “Quando um pensamento é sugerido, é
como uma voz que vos fala. Os pensamentos próprios são, em geral, os do
primeiro impulso. De resto, não há, para vós, grande interesse em estabelecer
essa distinção e, frequentemente, é útil não saber fazê-la: o homem age mais
livremente; se se decide pelo bem, ele o faz voluntariamente; se toma o mau
caminho, só terá mais responsabilidade.” Os homens inteligentes e de gênio
haurem sempre suas ideias de dentro de si mesmos? “Algumas vezes, as ideias vêm
do seu próprio Espírito; porém, frequentemente, elas lhes são sugeridas por
outros Espíritos, que os julgam capazes de compreendê-las e dignos de
transmiti-las. Quando não as encontram em si mesmos, apelam para a inspiração;
é uma evocação que fazem, sem disso suspeitarem.” Se fosse útil que pudéssemos
distinguir claramente nossos próprios pensamentos daqueles que nos são
sugeridos, Deus nos teria dado o meio, como nos dá o de distinguir o dia da
noite. Quando uma coisa permanece vaga, é que é melhor que assim seja. Dizem,
algumas vezes, que o primeiro impulso é sempre bom; isto é exato? “Ele pode ser
bom ou mau, conforme a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom, naquele
que escuta as boas inspirações.” Como distinguir se um pensamento sugerido vem
de um bom ou de um mau Espírito? “Estudai a coisa; os bons Espíritos só
aconselham o bem; cabe a vós distinguir.” Com que objetivo os Espíritos
imperfeitos nos impulsionam para o mal? “Para vos fazer sofrer, como eles.”
Isto diminui seus sofrimentos? “Não, mas eles o fazem por inveja de ver seres
mais felizes.” De que natureza é o sofrimento que querem infligir? “Os que
resultam de estar em uma ordem inferior e afastado de Deus.” Por que Deus
permite que Espíritos nos excitem ao mal? “Os Espíritos imperfeitos são os
instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens no bem.
Tu, como Espírito, deves progredir na ciência do infinito, é por isso que
passas pelas provas do mal, para chegares ao bem. Nossa missão é colocar-te no
bom caminho e, quando más influências agem sobre ti, é que tu as atrais, pelo
desejo do mal, pois os Espíritos inferiores vêm ajudar-te no mal, quando tens a
vontade de cometê-lo; eles só podem te auxiliar no mal, quando desejas o mal.
Pois bem! Se fores inclinado ao assassínio, terás uma nuvem de Espíritos que
manterão este pensamento em ti; mas terás, também, outros que tentarão te
influenciar para o bem, o que faz com que a balança se reequilibre e te deixe
senhor dos teus atos.” É assim que Deus deixa à nossa consciência a escolha do
caminho que devamos seguir e a liberdade de ceder a uma ou a outra das
influências contrárias, que se exercem sobre nós. Podemos nos libertar da
influência dos Espíritos que nos induzem ao mal? “Sim, pois eles só se apegam
àqueles que os chamam, através dos seus desejos, ou os atraem, pelos seus
pensamentos.” Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade do homem
renunciam às suas tentativas? “Que queres que façam? Quando nada há a fazer,
recuam; todavia, aguardam o momento favorável, como o gato espreita o rato.”
Através de que meio podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos?
“Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência
dos Espíritos inferiores e destruís o império que queiram ter sobre vós.
Desconfiai das sugestões dos Espíritos que suscitam em vós maus pensamentos,
que sopram a discórdia entre vós e que vos excitam todas as más paixões.
Desconfiai, principalmente, daqueles que vos exaltam o orgulho, pois vos pegam
pelo vosso ponto fraco. Eis por que Jesus vos ensina a dizer, na oração
dominical: Senhor! Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.” Os
Espíritos que procuram nos induzir ao mal e que, assim, colocam em prova nossa
firmeza no bem, receberam a missão de fazê-lo e, se é uma missão que cumprem,
têm responsabilidade por isso? “Nenhum Espírito recebe a missão de fazer o mal;
quando o faz, é por sua própria vontade e, por conseguinte, sofre as
consequências disto. Deus pode permitir-lhe fazer isto, para vos experimentar,
mas não lhe ordena que o faça, cabendo a vós repeli-lo.” Quando experimentamos
um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível ou de satisfação interior,
sem causa conhecida, isto se deve unicamente a uma disposição física? “É quase
sempre um efeito das comunicações que estabeleces, inconscientemente, com os
Espíritos, ou que estabelecestes com eles, durante o sono.” Os Espíritos que
querem nos excitar ao mal apenas se aproveitam das circunstâncias em que
estamos, ou podem criar essas circunstâncias? “Aproveitam-se da circunstância,
mas frequentemente a provocam, impelindo-vos, inconscientemente, em direção ao
objeto de vossa cobiça. Assim, por exemplo, um homem encontra, no seu caminho,
uma soma de dinheiro: não penses que foram os Espíritos que levaram o dinheiro
àquele lugar, mas eles podem dar ao homem a ideia de ir naquela direção e,
então, sugerem-lhe o pensamento de se apoderar dele, enquanto outros lhe
sugerem o de restituir esse dinheiro à pessoa a quem pertence. Acontece o mesmo
com todas as outras tentações.” POSSESSOS. Um Espírito pode, momentaneamente,
usar o envoltório de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e
agir em lugar daquele que nele se acha encarnado? “O Espírito não entra num corpo
como entras numa casa; identifica-se com um Espírito encarnado que possui os
mesmos defeitos e as mesmas qualidades, para agirem conjuntamente; porém, é
sempre o Espírito encarnado que age, como quer, sobre a matéria de que está
revestido. Um Espírito não pode se substituir àquele que está encarnado, pois o
Espírito e o corpo ficam ligados até o tempo fixado para o termo da existência
material.” Se não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois
Espíritos no mesmo corpo, a alma pode achar-se na dependência de um outro
Espírito, de maneira a ser subjugada ou obsidiada por ele, ao ponto de sua
vontade vir a estar, de certa forma, paralisada? “Sim, e são esses os
verdadeiros possessos; mas fica sabendo que essa dominação nunca se efetua sem
a participação daquele que a sofre, quer por sua fraqueza, quer pelo seu
desejo. Frequentemente, têm sido tomados por possessos, epilépticos, ou loucos,
que mais necessitavam de médico do que de exorcismo.” A palavra possesso, na
sua acepção vulgar, supõe a existência de demônios, isto é, de uma categoria de
seres de natureza má, e a coabitação de um desses seres com a alma de um
indivíduo, no corpo deste. Visto que, nesse sentido, não há demônios e que dois
Espíritos não podem habitar, simultaneamente, o mesmo corpo, não há possessos,
conforme a ideia associada a esta palavra. A palavra possesso deve ser
entendida apenas como a dependência absoluta, em que a alma pode achar-se com
relação a Espíritos imperfeitos que a subjuguem. Pode-se, por si mesmo, afastar
os maus Espíritos e libertar-se da dominação deles? “Pode-se sempre subtrair-se
a um jugo, quando se tem a vontade firme.” Não pode acontecer que a fascinação
exercida por um mau Espírito seja tamanha que a pessoa subjugada disso não se
aperceba? Então, uma terceira pessoa poderia fazer cessar a sujeição e, nesse
caso, que condição ela deveria preencher? “Se for um homem de bem, sua vontade
pode auxiliar, apelando para o concurso dos bons Espíritos, pois, quanto mais
se for um homem de bem, mais poder se ter-se-á sobre os Espíritos imperfeitos,
para afastá-los e, sobre os bons, para atraí-los. Contudo, ele seria impotente,
se aquele que está subjugado não participasse disso; há pessoas a quem agrada
uma dependência que lisonjeia seus gostos e seus desejos. Em todos os casos,
aquele cujo coração não for puro, não poderá ter influência alguma; os bons
Espíritos o desprezam e os maus não o temem.” As fórmulas de exorcismo têm
alguma eficácia sobre os maus Espíritos? “Não; quando estes Espíritos vêm
alguém levar a coisa a sério, riem dele e se obstinam.” Há pessoas animadas de
boas intenções e que não deixam de ser obsidiadas; qual o melhor meio de se
livrar dos Espíritos obsessores? “Cansar-lhes a paciência, não levar em conta
suas sugestões, mostrar-lhes que perdem seu tempo; então, quando vêm que nada
conseguem, eles se vão.” A prece é um meio eficaz para a cura da obsessão? “A
prece é, em tudo, um poderoso auxílio; mas, acreditai, que não basta murmurar
algumas palavras, para obter o que se deseja. Deus assiste os que agem e, não,
os que se limitam a pedir. Portanto, é preciso que o obsidiado faça, de sua
parte, o que for necessário para destruir, em si mesmo, a causa que atrai os
maus Espíritos.” O que se deve pensar da expulsão dos demônios de que se falou
no Evangelho? “Isto depende da interpretação. Se chamais demônio um mau
Espírito que subjuga um indivíduo, quando sua influência for destruída, ele
será verdadeiramente expulso. Se atribuís uma doença ao demônio, quando
tiverdes curado a enfermidade, direis, também, que expulsastes o demônio. Uma
coisa pode ser verdadeira ou falsa, conforme o sentido que se dê às palavras.
As maiores verdades podem parecer absurdas, quando apenas se vê a forma e
quando se toma a alegoria pela realidade. Compreendei-o bem e gravai isto;
trata-se de uma aplicação geral.” CONVULSIONÁRIOS. Os Espíritos desempenham
algum papel nos fenômenos que se produzem nos indivíduos designados sob o nome
de convulsionários? “Sim e muito grande, assim como o magnetismo, do qual se
originam, em primeira instância; porém, o charlatanismo tem, com frequência,
explorado e exagerado estes efeitos, o que os fez cair no ridículo.” De que
natureza são, geralmente, os Espíritos que concorrem para esta espécie de
fenômenos? “Pouco elevada; acreditais que Espíritos superiores se divirtam com
coisas semelhantes?” Como o estado anormal dos convulsionários e dos crisíacos
(aquele que se encontra em estado de momentânea crise produzida pela ação
magnética) pode se estender, subitamente, a toda uma população? “Efeito
simpático; as disposições morais se comunicam muito facilmente, em alguns
casos; não sois alheios o bastante aos efeitos magnéticos, para não
compreenderdes isto e a parte que certos Espíritos devem aí tomar, devido à
simpatia por aqueles que os provocam.” Dentre as faculdades estranhas que se
observam nos convulsionários, sem dificuldade, reconhecem-se algumas, das quais
o sonambulismo e o magnetismo oferecem numerosos exemplos: tais são, entre
outras, a insensibilidade física, a leitura do pensamento, a transmissão das
dores, por simpatia, etc. Não se pode, portanto, duvidar de que aqueles
crisíacos não estejam numa espécie de estado de sonambulismo desperto,
provocado pela influência que exercem uns sobre os outros. Eles são, ao mesmo
tempo, magnetizadores e magnetizados, inconscientemente. Qual a causa da
insensibilidade física que se observa, quer em alguns convulsionários, quer em
outros indivíduos submetidos às mais atrozes torturas? “Em alguns é,
exclusivamente, um efeito magnético que age sobre o sistema nervoso, da mesma
maneira que certas substâncias. Em outros, a exaltação do pensamento embota a
sensibilidade, porque a vida parece ter-se retirado do corpo para se concentrar
no Espírito. Não sabeis que, quando o Espírito está fortemente preocupado com
alguma coisa, o corpo não sente, não vê e nada ouve?” A exaltação fanática e o
entusiasmo oferecem, frequentemente, nos suplícios, o exemplo de uma calma e de
um sangue frio que não poderiam superar uma dor aguda, se não se admitisse que
a sensibilidade acha-se neutralizada por uma espécie de efeito anestésico.
Sabe-se que, no calor do combate, muitas vezes, não se percebe um ferimento
grave, enquanto que, em circunstâncias comuns, um arranhão faria tremer. Visto
que esses fenômenos dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos,
pode-se perguntar como foi possível, em alguns casos, a intervenção de uma
autoridade fazê-los cessar. A razão é simples. A ação dos Espíritos, aqui, é
apenas secundária; eles somente se aproveitam de uma disposição natural. A
autoridade não suprimiu esta disposição, mas a causa que a entretinha e
exaltava; de ativa, ela se tornou latente, e a autoridade teve razão de agir
dessa forma, porque dela resultava abuso e escândalo. Sabe-se, afinal, que esta
intervenção é impotente, quando a ação dos Espíritos é direta e espontânea.
AFEIÇÃO DOS ESPÍRITOS POR CERTAS PESSOAS. Os Espíritos se afeiçoam
preferentemente a certas pessoas? “Os bons Espíritos simpatizam com os homens
de bem, ou suscetíveis de se melhorar; os Espíritos inferiores, com os homens
viciosos, ou que podem tornar-se assim; daí, suas afeições, como consequência
da semelhança das sensações.” Crisíacos: A palavra usada pelo autor, para
definir este estado, foi crisiaques. Esta palavra, não dicionarizada (nem em
francês, nem em português), foi traduzida por “crisíacos”, em analogia com
“maniaque” – maníaco. A origem do termo é latina (crise) e, neste caso,
refere-se à manifestação patente de uma ruptura do equilíbrio do sistema
nervoso: crise nervosa. Traduzi-la assim objetiva manter a integridade do texto
original, já que, apesar de a expressão da crise assemelhar-se à dos
histéricos, que pode mesmo propagar-se em histeria coletiva, o autor não fez
uso da palavra hystériques. A afeição dos Espíritos por certas pessoas é
exclusivamente moral? “A verdadeira afeição nada tem de carnal; mas, quando um
Espírito se apega a uma pessoa, nem sempre é por afeição e ele pode, a esta,
misturar uma reminiscência das paixões humanas.” Os Espíritos se interessam
pelas nossas desgraças e pela nossa prosperidade? Aqueles que nos querem bem
afligem-se com os males que experimentamos durante a vida? “Os bons Espíritos
fazem o bem que lhes é possível e ficam felizes com todas as vossas alegrias.
Afligem-se com os vossos males, quando não os suportais com resignação, porque
estes males nenhum proveito têm para vós e porque, neste caso, sois como o
doente que rejeita o remédio amargo que deve curá-lo.” Qual a natureza do mal
que faz os espíritos mais se afligirem por nós? O mal físico, ou o mal moral?
“Vosso egoísmo e vossa dureza de coração: tudo deriva daí; eles se riem de
todos os males imaginários que nascem do orgulho e da ambição; regozijam-se,
com os que têm por efeito abreviar vosso tempo de provação. ”Sabendo que a vida
corporal é transitória e que as tribulações que a acompanham são meios de
alcançar um estado melhor, os Espíritos se afligem mais pelos nossos males
morais, que nos afastam deles, do que pelos males físicos que são passageiros.
Os Espíritos pouco se incomodam com as desgraças que atingem apenas nossas
ideias mundanas, como fazemos com as mágoas pueris das crianças. O Espírito que
vê nas aflições da vida um meio de progresso para nós, considera-as como a
crise momentânea que deve salvar o doente. Compadece-se dos nossos sofrimentos
como nos compadecemos dos de um amigo; porém, vendo as coisas de um ponto de
vista mais justo, ele os aprecia de maneira diversa da nossa e, enquanto os
bons reerguem nossa coragem, no interesse do nosso futuro, os outros nos levam
ao desespero, visando comprometê-lo. Nossos parentes e nossos amigos que nos
precederam na outra vida têm por nós maior simpatia do que os Espíritos que nos
são estranhos? “Sem dúvida e frequentemente vos protegem como Espíritos,
conforme seu poder.” São sensíveis à afeição que lhes conservamos? “Muito
sensíveis, mas esquecem-se daqueles que os esquecem.” ANJOS GUARDIÃES.
ESPÍRITOS PROTETORES, FAMILIARES OU SIMPÁTICOS. Há Espíritos que se apegam a um
indivíduo, em particular, para protegê-lo? “Sim, o irmão espiritual; é o que
chamais o bom espírito ou o bom gênio.” O que se deve entender por anjo
guardião? “O Espírito protetor de uma ordem elevada.” Qual a missão do Espírito
protetor? “A de um pai com relação aos filhos; a de conduzir seu protegido ao
bom caminho, ajudá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições,
sustentar sua coragem nas provas da vida.” O Espírito protetor está ligado ao
indivíduo, desde o seu nascimento? “Desde o nascimento até a morte e,
frequentemente, acompanha-o, depois da morte, na vida espiritual, e até em
várias existências corporais, pois estas existências são apenas fases bem
curtas, com relação à vida do Espírito.” A missão do Espírito protetor é
voluntária ou obrigatória? “O Espírito é obrigado a velar por vós, porque aceitou
essa tarefa; mas, tem o direito de escolher seres que lhe são simpáticos. Para
uns, é um prazer, para outros, uma missão, ou um dever.” Apegando-se a uma
pessoa, o Espírito renuncia a proteger outros indivíduos? “Não, mas ele o faz
menos exclusivamente.” O Espírito protetor fica fatalmente preso ao ser
confiado à sua guarda? “Frequentemente, acontece de alguns Espíritos deixarem
sua posição para desempenhar diversas missões; mas, nesse caso, a substituição
é feita.” Algumas vezes, o Espírito protetor abandona o seu protegido, quando
este é rebelde aos seus conselhos? “Ele se afasta, quando vê que seus conselhos
são inúteis e que a vontade de submeter-se à influência dos Espíritos
inferiores é mais forte; mas, não o abandona completamente e sempre se faz
ouvir; é, então, o homem quem tapa os ouvidos. Ele retorna, desde que seja
chamado.” “Há uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos pelo seu
encanto e pela sua doçura: a dos anjos guardiães. Não será uma ideia muito
consoladora pensar em ter, sempre, junto de vós, seres que vos são superiores,
que estão sempre, prontos a vos aconselhar, vos sustentar, vos ajudar a subir a
montanha áspera do bem; que são amigos mais confiáveis e devotados do que as
mais íntimas ligações que se façam, nesta Terra? Estes seres aí estão por ordem
de Deus; foi Ele quem os colocou perto de vós; eles aí estão por amor a Ele; e
cumprem, junto de vós, uma bela, porém, penosa missão. Sim, onde quer que
estejais, ele estará convosco: os cárceres, os hospitais, os lugares de
devassidão, a solidão, nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas de
quem vossa alma sente os mais suaves impulsos e ouve os sábios conselhos.” “Se
conhecêsseis melhor essa verdade! Quantas vezes ela vos ajudaria nos momentos
de crise; quantas vezes vos salvaria dos maus Espíritos! Mas, com frequência,
este anjo do bem terá que dizer-vos abertamente: “Não te recomendei isto? E não
o fizeste; não te mostrei o abismo? E nele te precipitaste; não te fiz ouvir,
na tua consciência, a voz da verdade e não seguiste os conselhos da mentira?”
Ah! Interrogai vossos anjos guardiães; estabelecei entre eles e vós essa terna
intimidade que reina entre os melhores amigos. Não penseis em lhes ocultar
nada, pois eles têm o olhar de Deus e não podeis enganá-los. Pensai no futuro;
procurai progredir nesta vida; vossas provas serão mais curtas, vossas
existências mais felizes. Vamos! Homens, coragem! De uma vez por todas, lançai
para longe de vós preconceitos e segundas intenções; entrai no novo caminho que
se abre diante de vós. Caminhai! Caminhai! Tendes guias, segui-os: Não percais
de vista o objetivo, pois esse objetivo é o próprio Deus. “Aos que pensarem ser
impossível que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a uma tarefa tão
laboriosa e de todos os instantes, diremos que influenciamos vossas almas,
mesmo estando a vários milhões de léguas de vós: para nós, o espaço nada é e,
mesmo vivendo num outro mundo, nossos Espíritos conservam sua ligação com o
vosso. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas ficai certos de
que Deus não nos impôs uma tarefa acima de nossas forças e não vos deixou
sozinhos na Terra, sem amigos e amparo. Cada anjo guardião tem seu protegido,
pelo qual vela, como um pai vela por seu filho; fica feliz, quando o vê no bom
caminho; sofre, quando seus conselhos são menosprezados.” “Não temais
fatigar-nos com vossas perguntas; ao contrário, entrai sempre em relação
conosco: sereis mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada
homem com seu ESPÍRITO FAMILIAR que fazem de todos os homens médiuns, médiuns
ignorados, hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão, como um
oceano sem limites, para repudiar a incredulidade e a ignorância. Homens
instruídos, instruí; homens de talento, educai vossos irmãos. Não sabeis que
obra fazeis desse modo: é a do Cristo, a que Deus vos impõe. Por que Deus vos
teria dado a inteligência e o saber, se não fosse para compartilhardes com
vossos irmãos, para fazê-los avançar no caminho da ventura e da felicidade
eterna?” São Luís, Santo Agostinho. A doutrina dos ANJOS GUARDIÃES, velando
pelos seus protegidos, apesar da distância que separa os mundos, nada tem de
surpreendente; é, ao contrário, grande e sublime. Não vemos, na Terra, um pai
velar pelo seu filho, embora dele esteja afastado, ajudá-lo com seus conselhos,
através da correspondência? Portanto, o que haveria de espantoso em que os
Espíritos pudessem guiar aqueles que eles tomam sob sua proteção, de um mundo a
outro, visto que, para eles, a distância que separa os mundos é menor do que a
que, na Terra, separa os continentes? Não dispõem, além disso, do fluido
universal, que religa todos os mundos e os torna solidários, veículo imenso da
transmissão dos pensamentos, como o ar é, para nós, o veículo da transmissão do
som? 496. O Espírito que abandona seu protegido, não lhe fazendo mais o bem,
pode fazer-lhe o mal? “Os bons Espíritos nunca fazem o mal; deixam que o façam
aqueles que lhes tomam o lugar; então, acusais a sorte pelas desgraças que vos
afligem, enquanto a culpa é vossa.” O ESPÍRITO PROTETOR pode deixar seu
protegido à mercê de um Espírito que lhe deseje o mal? “Para neutralizar a ação
dos bons, há a união dos maus Espíritos; porém, se o protegido o quiser, dará
toda a força ao seu bom Espírito. O bom Espírito talvez encontre, em outra
parte, uma boa-vontade a auxiliar; aproveita para fazê-lo, enquanto aguarda seu
retorno para junto de seu protegido.” Quando o Espírito protetor deixa seu
protegido extraviar-se na vida, será por impotência de sua parte, para lutar
contra outros Espíritos malévolos? “Não é porque não possa, mas porque não
quer: seu protegido sai das provas mais perfeito e mais instruído; ele o
assiste com seus conselhos, através dos bons pensamentos que lhe sugere, mas
que, infelizmente, nem sempre são ouvidos. Só a fraqueza, o descuido ou o
orgulho do homem é que dão força aos maus Espíritos; o poder deles sobre vós
advém apenas do fato de não lhes opordes resistência.” O Espírito protetor
está, constantemente, com seu protegido? Não haverá alguma circunstância em
que, sem abandoná-lo, ele o perca de vista? “Há circunstâncias em que a
presença do Espírito protetor junto de seu protegido não é necessária.” Haverá
um momento em que o Espírito não precise mais de anjo guardião? “Sim, quando
tiver chegado ao grau de poder conduzir-se por si mesmo, como há um momento em
que o estudante não precisa mais de mestre; mas isto não acontece na Terra.”
Por que a ação dos Espíritos sobre nossa existência é oculta e por que, quando
nos protegem, não o fazem de uma forma ostensiva? “Se contásseis com o apoio
deles, não agiríeis por vós mesmos e vosso Espírito não progrediria. Para que
ele possa se adiantar, precisa de experiência, e, frequentemente, tem de
adquiri-la à sua custa; é preciso que exercite suas forças, sem o que, seria
como uma criança que não deixassem caminhar sozinha. A ação dos Espíritos que
vos querem bem é sempre regulada de maneira a vos deixar vosso livre-arbítrio,
pois, se não tivésseis responsabilidade, não avançaríeis no caminho que deve
conduzir-vos a Deus. O homem, não vendo seu protetor, entrega-se às suas
próprias forças; todavia, seu guia vela por ele e, de tempos em tempos,
chama-lhe a atenção para que se previna do perigo.” O Espírito protetor que
consegue conduzir seu protegido ao bom caminho, experimenta um bem qualquer
para si mesmo? “É um mérito que lhe é levado em conta, seja para seu próprio
adiantamento, seja para sua felicidade. Sente-se feliz, quando vê seus desvelos
coroados de êxito; felicita-se como um preceptor se felicita com o sucesso de
seu aluno.” É responsável, se não tem êxito? “Não, já que fez o que dele
dependia.” O Espírito protetor que vê seu protegido seguir um mau caminho,
apesar dos seus conselhos, experimenta desgosto? Isto não será, para ele, uma
causa de perturbação de sua felicidade? “Ele lamenta seus erros e o deplora;
mas está aflição não se parece com as angústias da paternidade terrestre,
porque ele sabe que há remédio para o mal e que o que não se faz hoje, amanhã
se fará.” Podemos sempre saber o nome do nosso ESPÍRITO PROTETOR, ou ANJO
GUARDIÃO? “Como quereis saber nomes que para vós não existem? Acreditais,
então, que, dentre os Espíritos, só há os que conheceis?” Como, então,
invocá-lo, se não o conhecemos? “Dai-lhe o nome que quiserdes, o de um Espírito
superior pelo qual tendes simpatia ou veneração; vosso Espírito protetor
responderá a esse apelo, pois todos os bons Espíritos são irmãos e se assistem
mutuamente.” Os Espíritos protetores que dão nomes conhecidos são sempre,
realmente, aqueles das pessoas que usavam esses nomes? “Não, mas Espíritos que
lhes são simpáticos e que, com frequência, vêm por ordem deles. Precisais de
nomes; então, eles tomam um que vos inspire confiança. Quando não podeis
cumprir uma missão, pessoalmente, vós mesmos enviais um outro, que age em vosso
nome.” Quando estivermos na vida espiritual, reconheceremos nosso Espírito
protetor? “Sim, pois, frequentemente, o conheceis antes de estar encarnados.”
Os Espíritos protetores pertencem todos à classe dos Espíritos superiores?
Dentre eles, podem encontrar-se os medianos? Um pai, por exemplo, pode se
tornar o Espírito protetor de seu filho? “Ele o pode, porém, a proteção
pressupõe um certo grau de elevação e um poder ou uma virtude a mais, concedida
por Deus. O pai que protege seu filho pode, ele próprio, ser assistido por um
Espírito mais elevado.” Os Espíritos que deixaram a Terra, em boas condições,
sempre podem proteger aqueles que eles amam e que sobrevivem a eles? “O poder
deles é mais ou menos restrito; a posição em que se encontram nem sempre lhes
permite inteira liberdade de agir.” Os homens, no estado selvagem ou de
inferioridade moral, têm, igualmente, seus Espíritos protetores? E, nesse caso,
esses Espíritos são de uma ordem tão elevada quanto os dos homens muito
adiantados? “Cada homem tem um Espírito que vela por ele, mas as missões são
relativas aos seus objetivos. Não dais a uma criança que está aprendendo a ler,
um professor de filosofia. O progresso do ESPÍRITO FAMILIAR é proporcional ao
do Espírito protegido. Mesmo tendo vós mesmos um Espírito superior que vela por
vós, podeis, por vossa vez, tornar-vos o protetor de um Espírito que vos seja
inferior e os progressos que o ajudardes a fazer, contribuirão para o vosso
adiantamento. Deus não pede ao Espírito mais do que comportem sua natureza e o
grau de elevação a que chegou.” Quando o pai que vela por seu filho reencarna,
ainda continua velando por ele? “É mais difícil, mas ele pede, num momento de
desligamento, a um Espírito simpático para assisti-lo nessa missão. Além disso,
os Espíritos só aceitam missões que possam cumprir até o fim. O Espírito
encarnado, principalmente nos mundos onde a existência é material, está muito
subordinado ao seu corpo, para devotar-se inteiramente, isto é, para assisti-lo
pessoalmente; é por isso que os que não são bastante elevados são, eles
próprios, assistidos por Espíritos que lhes são superiores, de tal forma que,
se um faltar, por um motivo qualquer, um outro lhe supre a falta.” Além do
ESPÍRITO PROTETOR, um mau Espírito também está ligado a cada indivíduo, com o
fim de impeli-lo ao mal e de lhe proporcionar uma oportunidade de lutar entre o
bem e o mal? “Ligado não é o termo. É bem verdade que os maus Espíritos
procuram desviar do bom caminho, quando encontram ocasião de fazê-lo; porém,
quando um deles se liga a um indivíduo, ele o faz por si mesmo, porque espera
ser ouvido; então, há luta entre o bom e o mau é vencida por aquele cuja
influência o homem cede.” Podemos ter vários Espíritos protetores? “Cada homem
sempre tem ESPÍRITOS SIMPÁTICOS mais ou menos elevados que a ele se afeiçoam e
por ele se interessam, como há também os que o assistem no mal.” Os ESPÍRITOS
SIMPÁTICO agem em virtude de uma missão? “Algumas vezes podem ter uma missão
temporária, porém, com mais frequência, são atraídos somente pela semelhança de
pensamentos e de sentimentos, tanto para o bem quanto para o mal.” Parece daí
resultar que os Espíritos simpáticos podem ser bons ou maus? “Sim, o homem
sempre encontra Espíritos que simpatizam com ele, qualquer que seja seu caráter.”
Os ESPÍRITOS FAMILIARES são os mesmos que os ESPÍRITOS SIMPÁTICOS ou os
ESPÍRITOS PROTETORES? “Há muitas gradações na proteção e na simpatia; dai-lhes
os nomes que quiserdes. O Espírito familiar é, antes, o amigo da casa.” Das
explicações acima e das observações feitas sobre a natureza dos Espíritos que
se ligam ao homem, pode-se deduzir o seguinte: O Espírito protetor, anjo
guardião, ou bom gênio é aquele que tem por missão acompanhar o homem na vida e
ajudá-lo a progredir. É sempre de natureza superior, relativamente à do
protegido. Os Espíritos familiares se afeiçoam a certas pessoas por laços mais
ou menos duráveis, com o fim de lhes ser úteis, no limite de seu poder,
frequentemente, bastante limitado; são bons, porém, algumas vezes, pouco
adiantados e, até, um pouco levianos; ocupam-se de boa-vontade com detalhes da
vida íntima e só agem por ordem ou com a permissão dos Espíritos protetores. Os
Espíritos simpáticos são aqueles que são atraídos por nós, por afeições
particulares e uma certa semelhança de gostos e de sentimentos, tanto para o
bem quanto para o mal. A duração de suas relações está, quase sempre,
subordinada às circunstâncias. O mau gênio é um Espírito imperfeito ou perverso
que se liga ao homem, com o fim de desviá-lo do bem; mas age por seu próprio
impulso e, não, em virtude de uma missão. Sua tenacidade é proporcional ao
acesso mais ou menos fácil que encontra. O homem é sempre livre para escutar
sua voz ou para repeli-lo. Que se deve pensar dessas pessoas que parecem
ligar-se a certos indivíduos para levá-los, fatalmente, à sua perda, ou para
guiá-los ao bom caminho? “Certas pessoas exercem, efetivamente, uma espécie de
fascinação sobre outras que parece irresistível. Quando isto se dá para o mal,
são maus Espíritos de que se servem outros Espíritos maus, para melhor
subjugar. Deus pode permiti-lo, para vos experimentar.” Nosso bom e nosso mau
gênio poderiam encarnar, para nos acompanhar na vida, de uma forma mais direta?
“Isto acontece algumas vezes; porém, frequentemente também, encarregam desta
missão outros Espíritos encarnados que lhes são simpáticos.” Haverá Espíritos
que se liguem a uma família inteira para protegê-la? “Alguns Espíritos se ligam
aos membros de uma mesma família, que vivem juntos e estão unidos pela afeição,
mas não acrediteis em Espíritos protetores do orgulho das raças.” Os Espíritos,
sendo atraídos para os indivíduos pelas suas simpatias, igualmente o são para
as reuniões de indivíduos, por motivos particulares? “Os Espíritos vão,
preferentemente, onde estão seus semelhantes; aí ficam mais à vontade e mais
certos de serem ouvidos. O homem atrai para si os Espíritos em razão de suas
tendências, quer esteja sozinho, quer forme um todo coletivo, como uma
sociedade, uma cidade, ou um povo. Portanto, há sociedades, cidades e povos que
são assistidos por Espíritos mais ou menos elevados, conforme o caráter e as
paixões neles dominantes. Os ESPÍRITOS IMPERFEITOS se afastam daqueles que os
repelem; daí resulta que o aperfeiçoamento moral das coletividades, como o dos
indivíduos, tende a afastar os maus Espíritos e a atrair os bons, que estimulam
e entretêm o sentimento do bem nas massas, como outros podem neles insuflar as
más paixões.” As aglomerações de indivíduos, como as sociedades, as cidades, as
nações têm seus Espíritos protetores especiais? “Sim, porque essas reuniões são
individualidades coletivas que caminham para um objetivo comum e que precisam
de uma direção superior.” Os Espíritos protetores das massas são de uma
natureza mais elevada do que os que se ligam aos indivíduos? “Tudo é relativo
ao grau de adiantamento das massas, como dos indivíduos.” Certos Espíritos
podem auxiliar o progresso das artes, protegendo os que delas se ocupam? “Há
Espíritos protetores especiais que assistem os que os invocam, quando os julgam
dignos disso; porém, o que quereis que façam com aqueles que acreditam ser o
que não são? Eles não fazem com que os cegos vejam, nem com que os surdos
ouçam.” Os antigos fi zeram deles divindades especiais; as Musas não eram senão
a personificação alegórica dos Espíritos protetores das ciências e das artes,
como designavam sob o nome de Lares e Penates os Espíritos protetores da
família. Entre os modernos, as artes, as diferentes indústrias, as cidades, os
países também têm seus patronos protetores, que são apenas Espíritos
superiores, sob outros nomes. Tendo cada homem seus ESPÍRITOS SIMPÁTICO, daí
resulta que, nas coletividades, a generalidade dos Espíritos simpáticos é
proporcional à da generalidade dos indivíduos; que os Espíritos estranhos para
elas são atraídos pela identidade dos gostos e dos pensamentos; numa palavra,
que esses agrupamentos, tanto quanto os indivíduos, são mais ou menos
envolvidos, assistidos, influenciados, conforme a natureza dos pensamentos da
multidão. Nos povos, os motivos de atração dos Espíritos são os costumes, os
hábitos, o caráter dominante, e as leis, principalmente, porque o caráter da
nação se reflete nas suas leis. Os homens que fazem reinar a justiça entre si,
combatem a influência dos maus Espíritos. Onde quer que as leis consagrem
práticas injustas, contrárias à Humanidade, os bons Espíritos fiam em minoria,
e a massa dos maus, que afluem, entretém a nação nas suas ideias e paralisa as
boas influências parciais, perdidas na multidão, como uma espiga se perde no meio
dos espinheiros. Portanto estudando os costumes dos povos ou de qualquer grupo
de homens, é fácil fazer uma ideia da população oculta que se imiscui nos seus
pensamentos e nas suas ações. PRESSENTIMENTOS. O pressentimento é sempre um
aviso do Espírito protetor? “O pressentimento é o conselho íntimo e oculto de
um Espírito que vos quer bem. Ele também está na intuição da escolha que se
fez; é a voz do instinto. O Espírito, antes de encarnar, tem conhecimento das
fases principais de sua existência, isto é, do gênero de provas com que se
compromete; quando estas têm um caráter marcante, delas conserva uma espécie de
impressão, no seu foro íntimo, e esta impressão, que é a voz do instinto,
despertando, quando se aproxima o momento, torna-se pressentimento.” Os
pressentimentos e a voz do instinto sempre têm qualquer coisa de vago; na
incerteza, o que devemos fazer? “Quando estiveres na dúvida, invoca teu bom
Espírito, ou ora a Deus, senhor de todos nós, que ele te enviará um de seus
mensageiros, um de nós.” Os avisos de nossos Espíritos protetores têm como
único objetivo a conduta moral, ou também a conduta a adotar nos assuntos da
vida particular? “Tudo; eles tentam vos fazer viver o melhor possível; porém,
frequentemente, tapais os ouvidos aos bons avisos e vos tornais infelizes por
vossa culpa.” Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos, através da
voz da consciência que fazem soar em nós; porém, como nem sempre damos a isso a
importância necessária, dão-nos conselhos mais diretos, servindo-se das pessoas
que nos cercam. Que cada um examine as diversas circunstâncias felizes ou
infelizes de sua vida e verá que, em várias ocasiões, recebeu conselhos que nem
sempre aproveitou e que o teriam poupado de muitos desgostos, se os tivesse
escutado. INFLUÊNCIA DOS ESPÍRITOS NOS ACONTECIMENTOS DA VIDA. Os Espíritos
exercem uma influência nos acontecimentos da vida? “Certamente, visto que te
aconselham.” Exercem essa influência de outra forma que não seja através dos
pensamentos que sugerem, isto é, têm uma ação direta sobre o cumprimento das
coisas? “Sim, mas nunca agem fora das leis da Natureza.” Imaginamos,
erradamente, que a ação dos Espíritos só deva se manifestar através dos
fenômenos extraordinários; gostaríamos de que viessem em nosso auxílio, por
meio de milagres e os idealizamos sempre armados de uma varinha mágica. Não é
absolutamente dessa forma; eis por que a intervenção deles nos parece oculta e
o que se faz com o concurso deles nos parece muito natural. Assim, por exemplo,
provocarão o encontro de duas pessoas que suporão encontrar-se por acaso;
inspirarão a alguém a ideia de passar por determinado lugar; chamarão sua
atenção para certo ponto, se isso levar ao resultado que desejam obter; de tal
maneira que o homem, acreditando seguir apenas seu próprio impulso, conserva
sempre seu livre-arbítrio. 526. Tendo uma ação sobre a matéria, os Espíritos
podem provocar certos efeitos, visando fazer com que se cumpra um
acontecimento? Por exemplo, um homem deve morrer: sobe numa escada, a escada se
quebra e o homem morre; foram os Espíritos que fizeram a escada quebrar-se,
para que o destino desse homem se cumprisse? “É bem verdade que os Espíritos
têm uma ação sobre a matéria, mas para o cumprimento das leis da Natureza e,
não, para as derrogar, fazendo surgir, em dado momento, um acontecimento
inesperado e contrário a essas leis. No exemplo que citas, a escada se partiu
porque estava podre, ou não era bastante forte para suportar o peso do homem;
se estivesse no destino de tal homem perecer daquela maneira, eles lhe
inspirariam a ideia de subir naquela escada, que deveria quebrar-se sob o seu
peso, e sua morte aconteceria por um efeito natural e sem que fosse necessário
fazer um milagre para isso.” Tomemos um outro exemplo em que o estado natural
da matéria não apareça. Um homem deve perecer fulminado por um raio; refugia-se
debaixo de uma árvore, o raio cai e o mata. Coube aos Espíritos provocar o raio
e dirigi-lo para ele? “Ainda é a mesma coisa. O raio caiu, sobre aquela árvore,
naquele momento, porque estava nas leis da Natureza que assim fosse; ele não
foi dirigido para aquela árvore porque o homem se achasse debaixo dela, mas ao
homem foi inspirada a ideia de se refugiar sob uma árvore, sobre a qual o raio
deveria cair, pois a árvore não deixaria de ser atingida, estivesse ou não o
homem debaixo dela.” Um homem mal intencionado dispara contra alguém um
projétil que passa de raspão e não o atinge. Um Espírito bondoso pode tê-lo
desviado? “Se o indivíduo não deve ser atingido, o Espírito bondoso lhe
inspirará a ideia de se desviar, ou então, poderá ofuscar seu inimigo, de
maneira a fazê-lo errar a portaria, pois, uma vez disparado, o projétil segue a
trajetória que deve percorrer.” Que se deve pensar das balas encantadas de que
tratam algumas lendas e que, fatalmente, atingem um objetivo? “Pura imaginação;
o homem gosta do maravilhoso e não se contenta com as maravilhas da Natureza.”
Os espíritos que dirigem os acontecimentos da vida podem ser contrariados por
Espíritos que desejem o contrário? “O que Deus quer deve ser feito; se houver
demora ou impedimento, é pela sua vontade que acontece.” Os Espíritos levianos
e zombeteiros não podem criar pequenos embaraços que venham a contrariar nossos
projetos e desviar nossas previsões? Numa palavra, serão eles os autores do que
vulgarmente chamamos as pequenas misérias da vida humana? “Eles se comprazem
nesses aborrecimentos que representam para vós provas, a fim de exercitar vossa
paciência; cansam-se, porém, quando vêm que não têm êxito. Todavia, não seria
justo, nem certo, culpá-los por todas as vossas decepções, de que sois, vós
mesmos, os primeiros artesãos, pela vossa irreflexão, pois, acredite que, se a
tua louça se quebra, é muito mais por inabilidade tua, do que por culpa dos
Espíritos.” Os Espíritos que provocam contrariedades agem em consequência de
uma animosidade pessoal, ou atacam o primeiro que chega, sem motivo
determinado, unicamente por malícia? “Por uma e outra coisa; algumas vezes são
inimigos feitos durante esta vida ou numa outra, que vos perseguem; de outras
vezes, não há motivos.” A malquerença dos seres que nos fizeram mal na Terra
extingue-se com a vida corporal deles? “Reconhecem, com frequência, sua
injustiça e o mal que fizeram; mas, frequentemente, também, vos perseguem com
sua animosidade, se Deus o permitir, para continuar a vos experimentar.”
Pode-se pôr um fim a isso? E através de que meio? “Sim, pode-se orar por eles
e, retribuindo-lhes o mal com o bem, eles acabam por compreender seus enganos;
de resto, se se souber pôr-se acima de suas maquinações, eles param, vendo que
nada ganham com isso.” A experiência prova que alguns Espíritos prosseguem na
sua vingança; de uma existência a outra, e que, assim, se expiam, cedo ou
tarde, os erros que tiverem sido cometidos para com alguém. Os Espíritos têm o
poder de desviar os males de certas pessoas e atrair para elas a prosperidade?
“Não inteiramente, pois há males que estão nos decretos da Providência; eles,
porém, amenizam vossas dores, dando-vos a paciência e a resignação. “Ficai
sabendo, também, que, frequentemente, depende de vós desviar esses males, ou,
pelo menos, atenuá-los; Deus vos deu a inteligência para dela vos servirdes e
é, principalmente através dela, que os Espíritos vêm em vosso auxílio,
sugerindo-vos ideias propícias; mas não assistem senão aqueles que sabem
assistir-se a si mesmos; este é o sentido destas palavras: Buscai e achareis,
batei e se vos abrirá. Sabei ainda que o que vos parece um mal, nem sempre o é;
frequentemente, de um mal deve sair um bem muito maior. É o que não compreendeis,
porque só pensais no momento presente ou na vossa própria pessoa.” Os Espíritos podem fazer que se obtenham os
dons da riqueza, se isto lhes for solicitado? “Algumas vezes, como prova, mas
frequentemente se recusam, como se recusa a uma criança o atendimento de um
pedido inconsiderado.” São os bons ou os maus Espíritos que concedem esses
favores? “Uns e outros; isso depende da intenção; porém, na maioria das vezes,
são os Espíritos que querem vos arrastar para o mal e que, para isso, encontram
um meio fácil nos gozos que a riqueza proporciona.” Quando obstáculos parecem
vir, fatalmente, a se opor aos nossos projetos, isto se daria por influência de
algum Espírito? “Algumas vezes por influência dos Espíritos, de outras vezes e
mais frequentemente, é porque procedeis mal. A posição e o caráter influem
muito. Se vos obstinais num caminho que não é o vosso, os Espíritos não são
responsáveis por isso; vós é que sois vosso próprio mau gênio.” Quando nos
acontece alguma coisa venturosa, é ao nosso Espírito protetor que devemos
agradecer? “Agradecei, sobretudo, a Deus, sem cuja permissão nada se faz;
depois, aos bons Espíritos que foram os seus agentes.” O que aconteceria se
esquecêssemos de agradecer? “O que acontece aos ingratos.” Todavia, há pessoas que
não pedem nem agradecem e para as quais tudo dá certo (...). “Sim, mas é
preciso ver o fim; pagarão bem caro essa felicidade passageira que não merecem,
pois quanto mais tiverem recebido, mais terão que devolver.” AÇÃO DOS ESPÍRITOS
NOS FENÔMENOS DA NATUREZA. Os grandes fenômenos da Natureza, aqueles que são
considerados como uma perturbação dos elementos, são devidos a causas
fortuitas, ou têm todos um objetivo providencial? “Tudo tem uma razão de ser e
nada acontece sem a permissão de Deus.” Esses fenômenos sempre têm o homem por
objeto? “Algumas vezes têm para o homem uma razão de ser direta, mas,
frequentemente, também, só têm por objetivo o restabelecimento do equilíbrio e
da harmonia das forças físicas da Natureza.” Concebemos, perfeitamente, que a vontade
de Deus seja a causa primeira, nisto como em todas as coisas; porém, como
sabemos que os Espíritos têm uma ação sobre a matéria e que são os agentes da
vontade de Deus, perguntamos se alguns dentre eles não exerceriam uma
influência sobre os elementos para agitá-los, acalmá-los ou dirigi-los. “Mas, é
evidente; nem poderia ser de outra maneira; Deus não exerce uma ação direta
sobre a matéria; ele tem seus agentes devotados, em todos os graus da escala
dos mundos.” A mitologia dos antigos está inteiramente fundada nas ideias
espíritas, com a diferença de que consideravam os Espíritos como divindades;
ora, eles nos representavam esses deuses ou esses Espíritos com atribuições
especiais; assim, uns eram encarregados dos ventos, outros do raio, outros de presidir
à vegetação, etc.; esta crença é destituída de fundamento? “Ela é tão pouco
destituída de fundamento, quanto ainda está muito aquém da verdade.” Pela mesma
razão, poderia, então, haver Espíritos que habitassem o interior da Terra e
presidissem aos fenômenos geológicos? “Esses Espíritos positivamente não
habitam a Terra, mas presidem e dirigem, segundo suas atribuições. Um dia,
tereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor.” Os
Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza formam uma categoria especial,
no mundo espiritual? São seres à parte, ou Espíritos que foram encarnados, como
nós? “Que o serão ou que o foram.” Esses Espíritos pertencem às ordens
superiores ou inferiores da hierarquia espiritual? “Isso depende de seu papel
ser mais ou menos material ou inteligente; uns comandam, os outros executam; os
que executam as coisas materiais são sempre de uma ordem inferior, entre os
Espíritos, como entre os homens.” Na produção de certos fenômenos, das
tempestades, por exemplo, é um único Espírito que age, ou se reúnem em massa?
“Em massas inumeráveis.” Os Espíritos que exercem uma ação sobre os fenômenos
da Natureza agem com conhecimento de causa, em virtude de seu livre-arbítrio,
ou por um impulso instintivo e irrefletido? “Uns, sim, outros, não. Faço uma
comparação: imagina essas miríades de animais que, pouco a pouco, fazem emergir
do mar ilhas e arquipélagos; julgas que não haja, aí, um fim providencial e que
essa transformação da superfície do globo não seja necessária à harmonia geral?
Entretanto, são apenas animais do último grau que executam essas coisas,
provendo às suas necessidades e sem suspeitarem de que são os instrumentos de
Deus. Pois bem! Do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados são úteis ao
conjunto; enquanto se ensaiam para a vida e antes de terem plena consciência de
seus atos e de seu livre-arbítrio, atuam em certos fenômenos de que são os
agentes inconscientes; primeiramente, executam; mais tarde, quando sua
inteligência estiver mais desenvolvida, comandarão e dirigirão as coisas do
mundo material; mais tarde ainda, poderão dirigir as coisas do mundo moral. É
assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até
o arcanjo, que começou, ele próprio, pelo átomo; admirável lei de harmonia de
que vosso Espírito limitado ainda não pode apreender o conjunto.” OS ESPÍRITOS
DURANTE OS COMBATES. Numa batalha, há Espíritos que assistem e sustentam cada
lado? “Sim, e que lhes estimulam a coragem.” Assim, outrora, os antigos
representavam os deuses tomando partido deste ou daquele povo. Esses deuses
eram apenas Espíritos representados alegoricamente. Na guerra, a justiça está
sempre de um lado; como é que Espíritos tomam partido daquele que não tem
razão? “Bem sabeis que há Espíritos que apenas buscam a discórdia e a
destruição; para eles, a guerra é a guerra: a justiça da causa pouco os toca.”
Alguns Espíritos podem influenciar o general na concepção de seus planos de
campanha? “Sem dúvida alguma, os Espíritos podem influenciar para esse objetivo,
como para todas as concepções.” Maus Espíritos poderiam sugerir-lhe estratégias
errôneas com o objetivo de levá-lo à derrota? “Sim; mas, ele não tem seu
livre-arbítrio? Se seu discernimento não lhe permite distinguir uma ideia justa
de uma falsa, sofre as consequências disso e faria melhor se obedecesse, em vez
de comandar.” O general pode, algumas vezes, ser guiado por uma espécie de
segunda vista, uma visão intuitiva que lhe mostre, antecipadamente, o resultado
de suas estratégias? “Isso acontece, frequentemente, com o homem de gênio; é o
que ele chama de inspiração e faz com que aja com uma espécie de certeza; essa
inspiração lhe vem dos Espíritos que o dirigem e aproveitam ao máximo as
faculdades de que é dotado.” 546. No tumulto do combate, o que acontece com os
Espíritos que sucumbem? Interessam-se ainda pelo combate, após a morte? “Alguns
se interessam por ele, outros dele se afastam.” Nos combates, acontece o que se
dá em todos os casos de morte violenta: no primeiro momento, o Espírito fica
surpreso e como que atordoado. Não acredita estar morto; parece-lhe ainda tomar
parte na ação; só pouco a pouco é que a realidade lhe surge. Os Espíritos que
se combatiam enquanto vivos, uma vez estando mortos, reconhecem-se como
inimigos e se conservam encarniçados uns contra os outros? “Nessas horas, o
Espírito nunca está impassível; no primeiro momento, ele pode ainda querer mal
ao seu inimigo e até persegui-lo; porém, quando as ideias lhe retornam, vê que
sua animosidade não tem mais sentido; todavia, pode ainda dela conservar traços
mais ou menos fortes, conforme o seu caráter.” Ainda percebe o ruído das armas?
“Sim, perfeitamente.” O Espírito que assiste, impassível, a um combate, como
espectador, é testemunha da separação da alma e do corpo? Como esse fenômeno se
apresenta para ele? “Há poucas mortes verdadeiramente instantâneas. A maior
parte do tempo, o Espírito, cujo corpo acaba de ser mortalmente golpeado, não
tem consciência desse fato, a princípio; quando começa a se reconhecer, só
então é que pode distinguir o Espírito que se move ao lado do cadáver; isso
parece tão natural que a visão do corpo morto nenhum efeito desagradável
produz; tendo toda a vida se concentrado no Espírito, só ele atrai a atenção; é
com ele que conversam ou a ele que comandam.” PACTOS. Haverá algo de verdadeiro
nos pactos com os maus Espíritos? “Não, não há pactos, porém uma natureza má
que simpatiza com maus Espíritos. Por exemplo: queres atormentar o teu vizinho
e não sabes como fazê-lo; então, chamas por Espíritos inferiores que, como tu,
só querem o mal e, para te ajudar, querem que tu os sirvas em seus maus
desígnios; porém, daí não se segue que teu vizinho não possa deles se livrar,
por meio de uma conjuração contrária e por sua vontade. Aquele que quer cometer
uma ação má chama, por isso mesmo, em seu auxílio, maus Espíritos; é, então,
obrigado a servi-los, como estes também o fazem com relação a ele, pois também
precisam dele para o mal que querem fazer. O PACTO consiste apenas nisto.” A
dependência em que o homem se encontra, algumas vezes, em relação aos espíritos
inferiores, provém de sua entrega aos maus pensamentos que estes lhe sugerem e,
não, de quaisquer estipulações existentes entre eles. O PACTO, no sentido
vulgar atribuído a esta palavra, é uma alegoria representando uma natureza má
que simpatiza com Espíritos malfazejos. Qual o sentido das lendas fantásticas,
segundo as quais, indivíduos teriam vendido sua alma a Satã, para obterem
certos favores? “Todas as fábulas encerram um ensinamento e um sentido moral;
vosso erro está em tomá-las ao pé da letra. Esta é uma alegoria que pode ser
explicada assim: aquele que chama, em seu auxílio, os Espíritos, para deles
obter os dons da riqueza, ou qualquer outro favor, reclama contra a
Providência; renuncia à missão que recebeu e às provas que deve suportar neste
mundo e sofrerá as consequências disso, na vida futura. Isto não quer dizer que
sua alma esteja para sempre condenada à desgraça; mas, já que, em vez de se
desligar da matéria, cada vez mais nela se enterra, o que houver tido de
alegria na Terra, não o terá no mundo dos Espíritos, até que o tenha resgatado,
através de novas provas, talvez maiores e mais penosas. Pelo seu amor aos gozos
materiais, coloca-se na dependência dos Espíritos impuros; há, entre estes e
ele, um pacto tácito que o conduz à sua perda, mas que lhe será sempre fácil
romper, com a assistência dos bons Espíritos, se tiver a vontade firme.” PODER
OCULTO. TALISMÃS. FEITICEIROS. Um homem mau pode, com o auxílio de um mau
Espírito que lhe seja devotado, fazer mal ao seu próximo? “Não; Deus não o
permitiria.” O que se deve pensar da crença no poder, que certas pessoas
teriam, de fazer feitiçarias? “Algumas pessoas dispõem de um poder magnético
muito grande, poder de que podem fazer mau uso, se seus próprios Espíritos
forem maus e, neste caso, podem ser secundadas por outros maus Espíritos; mas,
não creiais nesse pretenso poder mágico, que só existe na imaginação das
pessoas supersticiosas, ignorantes das verdadeiras leis da Natureza. Os fatos
que citam são fatos naturais, mal observados e, principalmente, mal
compreendidos.” Qual pode ser o efeito das fórmulas e práticas com o auxílio
das quais certas pessoas pretendem dispor da vontade dos Espíritos? “Esse
efeito é o de torná-las ridículas, se têm boa-fé; no caso contrário, são
malandros que merecem um castigo. Todas as fórmulas são charlatanice; não há
palavra sacramental alguma, nenhum sinal cabalístico, nenhum talismã que tenha
qualquer ação sobre os Espíritos, pois estes só são atraídos pelo pensamento e não
pelas coisas materiais.” Certos Espíritos não têm, eles próprios, ditado
fórmulas cabalísticas, algumas vezes? “Sim, tendes Espíritos que vos indicam
sinais, palavras estranhas, ou que vos prescrevem certos atos, com o auxílio
dos quais fazeis o que chamais conjuros; mas, ficai bem certos de que são
Espíritos que zombam de vós e abusam da vossa credulidade.” Aquele que, com ou
sem razão, confia no que chama a virtude de um talismã, não pode, por efeito
dessa mesma confiança, atrair um Espírito, visto que é o pensamento que atua,
sendo o talismã apenas um sinal que ajuda a dirigir o pensamento? “É verdade;
porém, a natureza do Espírito atraído depende da pureza da intenção e da
elevação dos sentimentos; ora, é raro que, aquele que seja bastante simplório para
crer na virtude de um talismã, não tenha um objetivo mais material que moral;
em todo o caso, isso denuncia uma pequenez e uma fraqueza de ideias que
favorecem os Espíritos imperfeitos e zombeteiros.” Que sentido se deve atribuir
ao qualificativo de feiticeiro? “Aqueles a quem chamais feiticeiros são pessoas
que, quando de boa-fé, são dotadas de certas faculdades, como o poder magnético
ou a segunda vista; e, então, como eles fazem coisas que não compreendeis, vós
os julgais dotados de um poder sobrenatural. Vossos sábios não têm, muitas
vezes, passado por feiticeiros aos olhos das pessoas ignorantes?” O ESPIRITISMO
E O MAGNETISMO nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a
ignorância teceu uma infinidade de fábulas, em que os fatos são exagerados pela
imaginação. O conhecimento esclarecido destas duas ciências, que por assim
dizer, formam uma só, mostrando a realidade das coisas e sua verdadeira causa,
é o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque mostra o que é
possível e o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não
passa de uma crença ridícula. Algumas pessoas têm, verdadeiramente, o dom de
curar pelo simples toque? “O poder magnético pode chegar até aí, quando é
secundado pela pureza dos sentimentos e um ardente desejo de fazer o bem,
porque, então, os bons Espíritos vêm em auxílio; porém, é preciso desconfiar da
maneira pela qual as coisas são contadas por pessoas muito crédulas ou muito
entusiastas, sempre dispostas a ver o maravilhoso, nas coisas mais simples e
mais naturais. É preciso desconfiar também das narrativas interesseiras, da
parte de pessoas que exploram a credulidade, em seu próprio proveito.” BÊNÇÃO E
MALDIÇÃO. A bênção e a maldição podem atrair o bem e o mal para aqueles que delas
são o objeto? “Deus não escuta uma maldição injusta e aquele que a pronuncia é
culpado aos seus olhos. Como temos os dois gênios opostos, o bem e o mal, pode
haver uma influência momentânea, mesmo sobre a matéria; está influência, porém,
só acontece pela vontade de Deus e como acréscimo de prova para aquele que dela
é objeto. Aliás, geralmente, os maus são amaldiçoados e os bons abençoados. A
BÊNÇÃO E A MALDIÇÃO nunca podem desviar a Providência do caminho da justiça;
ela só atinge o maldito, se ele for mal, e sua proteção só envolve aquele que a
merece. Ótimo final de semana. O Livro dos Espíritos. Abraço. Davi.
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