terça-feira, 15 de novembro de 2016

CONFLITO RELIGIOSO NA NIGÉRIA - ÁFRICA.



Intolerância Religiosa. Recorrentemente lemos na internet reportagem como essa abaixo, que traz a negativa carga do ódio religioso ainda impregnado em muitas culturas. A princípio não procuramos pesquisar sobre os fatos e nem os motivos que colaboram para que a intransigência continue existindo. Isso, muitas vezes, nos leva a julgamento irrefletido desprovido de um conteúdo mais substancial sobre o histórico dos ocorridos. A dissertação após a notícia é uma tentativa de trazer a luz o assunto num contexto mais amplo, para que, os leitores tenham elementos razoáveis para tirar suas conclusões, sem se influenciarem com a imagem passada, que é forte, mas no discernimento assumir uma opinião imparcial no contexto da justiça e honestidade. “Pelo menos 40 pessoas foram mortas, após um massacre brutal a uma comunidade cristã Batista na Nigéria. Homens armados (provavelmente membros da tribo Fulani) invadiram Godogodo no estado de Kaduna – Nigéria – um assentamento predominantemente cristão – no último sábado (15/10). O incidente ocorreu após assassinatos anteriores na mesma aldeia. Além dos mortos e feridos neste ataque recente, centenas de pessoas foram expulsas de suas casas e igrejas também foram destruídas. Moradores da aldeia disseram que o massacre aconteceu pouco depois de alguns jornalistas terem passado por lá para fazer uma matéria sobre um ataque com facões que havia matado oito pessoas no final de setembro, segundo relatórios da agência cristã Morning Star News. Uma testemunha do ataque, Peter Atangi, viu seus quatro filhos sendo mortos pelos pastores Fulani (grupo de extremistas islâmicos que perseguem cristãos na Nigéria). “Os pastores vieram à noite, no sábado (15/10). Eles invadiram nossas casa depois de atacar um posto de controle militar. Eles usavam armas sofisticadas, além de facões, facas e paus. Assim que eles chegaram, começaram a atirar indiscriminadamente e começamos a correr em direções diferentes”, disse ele. “Eles atiraram e mataram meus quatro filhos. Enquanto corríamos para salvar nossas vidas, eles também atearam fogo em nossas casas. Muitos estão desabrigados agora”, acrescentou. O pastor Isaac Balason, da Igreja Batista Nasara, em Godogodo, falou com a agência Morning Star News pelo telefone durante o momento do ataque. “Agora são 20 h e 30 min e o ataque está acontecendo”, disse ele. “Não temos certeza se vamos sobreviver a isto. Por favor, estejam em oração conosco”, pediu. Solomon Musa, advogado e presidente da União Popular do Sul de Kaduna, disse em uma conferência de imprensa na última segunda feira (17/10), que os residentes locais identificaram pelo menos 40 pessoas que morreram. Ele disse: “A comunidade Godogodo voltou a sofrer um ataque feroz, aterrador, brutal, selvagem e bárbaro por parte dos pastores Fulani sem qualquer motivo aparente, no último sábado, (15/10/16)”, disse ele. “Até agora, os moradores conseguiram identificar pelo menos 40 corpos, além de vários outros cadáveres queimados, o que dificulta o reconhecimento”. De acordo com Solomon quase todas as casas da aldeia foram queimadas. “A selvageria e barbárie do ataque é inacreditável”, disse ele. “No entanto, os governos federal e estadual parecem permanecer tranquilos e evasivos. Fomos abandonados e negligenciados” Reverendo Thomas Akut, da Igreja Evangélica Winning All Good News, em Godogodo disse que o ataque expulsou todos os 245 membros de sua igreja. “A maioria das aldeias ao redor de Godogodo foram destruídas e milhares de cristãos foram expulsos de suas casas”, disse ele, observando que considera que este ataque é parte de uma guerra islâmica contra os cristãos. Esta é uma jihad”, disse ele. É uma guerra santa islâmica contra cristãos na parte sul do estado de Kaduna”. A organização cristã Word Watch Monitor relatou que mais de 3000 pessoas – a maioria sendo cristãs – forma mortas em ataques de pastores Fulani nos últimos cinco meses e mais de 5.000 pessoas foram expulsas de suas aldeias. Outro pastor nigeriano, Reverendo Agostinho Akpen Lev, disse ao site da organização: “Este é outro jihadista, assim como o Boko Haram no nordeste do país. Os terroristas transportam armas sofisticadas, às vezes até usam armas químicas em nossas comunidades. Eles atacam muitas vezes durante a noite, quando as pessoas estão dormindo. Eles atacam pessoas indefesas e vão embora. Eles têm claramente um objetivo: Acabar com a presença do cristianismo e assumir as terras. Fonte: Guiame, com informações do Christian Today”. www.jmnoticias.com.br. Redator do Mosaico. A notícia é bombasticamente apresentada ao público se comparando a uma manchete policial num periódico matutino de grande circulação. Se percebe claramente a intenção de impressionar o leitor, coagindo-o a tomar uma posição em relação ao mais fraco, ou aquele que está sendo ameaçado e sofrendo o vitupério. Não estou discutindo a veracidade das informações apresentadas, se bem que, no aspecto das redundâncias e repetições desnecessárias da reportagem suscita dúvidas em alguns aspectos, mas foco no sensacionalismo que extrapola a compreensão dos fatos. Este é mais um capítulo da intransigência religiosa, observado quando interesses políticos e ideologias extremistas se apossam de pessoas humildes e desconcertadas pela situação social e econômica desfavorável onde vivem, para um convívio de sobrevivência minimamente saudável e comprometida com a esperança de dias melhores. Tentarei situar este conflito sócio religioso da Nigéria, para que possamos ter uma melhor visão do por que tal tensão tem aumentado, inclusive com inúmeras mortes (cristãos e muçulmanos) de ambos os lados. “No aspecto econômico a Nigéria atualmente rivaliza com a África do Sul o lugar de maior potência econômica do continente africano. Tanto que suplantou a concorrente em relação ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), tornando-se o primeiro país africano com US$ 595 bilhões de dólares e uma população de 175 milhões de habitantes. A África do Sul em segundo lugar tem um PIB de US$ 342 bilhões de dólares e uma população de 51 milhões de habitantes. A Nigéria é o segundo maior produtor de petróleo do continente africano, que tem como primeiro Angola. As diferenças entre ambos são enormes tanto que os sul-africanos acham tratar-se de uma distorção o PIB dos nigerianos. Sendo que sua economia é mais diversificada, tendo uma infraestrutura  incomparavelmente melhor do que a da Nigéria. Os sul-africanos produzem dez vezes mais energia para uma população três vezes menor do que do concorrente. O PIB é maior, mas os nigerianos não vivem melhor. Mais da metade dos jovens nigerianos está desempregada. A frustração dos marginalizados alimentam as fileiras do grupo terrorista Boko Haram. Estudos do Internacional Crisis Group mostra que a maioria dos nigerianos é mais pobre hoje do que em 1960, vítimas da corrupção em todas as esferas da sociedade. Grande parte da população está abaixo da linha da pobreza extrema.  Mais de 60% dos nigerianos vivem com menos de um dólar por dia. A África do Sul soube usar a sua predominância econômica no continente para ocupar postos importantes em convescotes internacionais, como o G-20 e o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Professor de Economia da Universidade de Pretória, Danny Bradlow, em entrevista para o jornal sul-africano Daily Maverick disse acreditar que a Nigéria possa vir a reivindicar o papel de representar a África. Os dois países rivais estão de olho em uma cadeira num futuro Conselho de Segurança da ONU, caso venha a ser reformado. A Nigéria está cotada para um novo acrônimo: MINT (que inclui ainda México, Indonésia e a Tunísia)". Na perspectiva social a Nigéria tem um enorme problema que é o terrorismo do Boko Haram. Um grupo sectário (possuindo quase 20.000 combatentes) com ideologia expansionista que confronta o governo federal nigeriano, aventurando a segregação e um futuro estado autônomo no Norte de maioria islâmica. Seus líderes aproveitando a fragilidade da população, tão sofrida com o desemprego, pobreza e desesperança, onde os bônus do progresso, como sempre, desfrutado por pouquíssimos (elite) que fazem parte da classe social mais alta estando nos postos chaves da administração; usam esses ignorantes e desinformados para fins criminosos e desumanos, principalmente quanto a intolerância religiosa. Este grupo terrorista não pode ser chamado de muçulmanos, pois não seguem os ensinamentos do Profeta Muhammad e nem honram o nome de Allah. Ao contrário, mancham com sangue as páginas do Alcorão Sagrado com suas infames e cruéis atitudes em relação aos irmãos cristãos e também muçulmanos como visto na reportagens. Distorcem a Shariah e a Sunnah para seu bel prazer, como fizerem aprisionando e escravizando jovens mulheres, impondo-lhes a força a burca (veste muçulmana) para caracterizá-las fieis ao Islam. O Profeta em nenhum de seus hadith (ditos) ventilou tal ato coercitivo e intimidador. Eles juraram lealdade ao ISIS, por esta razão não merecem confiança e nem crédito naquilo que falam ou fazem. Tanto que usam o crime e a violência para intimidar e ameaçar os nigerianos.  A região sul da Nigéria é predominantemente cristã; sendo mais pobre que a região norte com hegemonia muçulmana. Mas isso não significa uma relação de vantagem, pois a distribuição de renda e propriedade privada é extremamente deficitária no pais; resultando na incorporação da pobreza que perpassa os vários segmentos da sociedade independentemente de cor, religião ou sexo. A diferença religiosa vista no país (cristãos e muçulmanos) é marcadamente violenta à décadas (desde os primeiros anos do século XX), não como é intencionalmente exposto na reportagem acima, (a visão ocidentalizada do conflito religioso) onde os cristão são os oprimidos, indefesos mártires e os muçulmanos os violentos, agressores e opressores. Há vários incidente como este onde cristãos protagonizaram os atos criminosos contra inocentes, inclusive com mortes. “Em Jos cidade nigeriana um grupo de jovens cristãos atacou muçulmanos que celebravam o último dia do mês sagrado do Ramadan, matando um número não confirmado de religiosos islâmicos e queimando seus carros, disseram testemunha e o exército. Os fiéis muçulmanos estavam participando das orações do Eid e no fim das orações eles foram cercados pelos jovens cristãos naquela área, afirmou o general brigadeiro Hassam Umaru, comandante da Força Tarefa Especial responsável pela segurança em Jos. Ainda estamos checando as fontes do hospital local, acrescentou, afirmando que haviam vários mortos. Uma testemunha viu vários corpos e pelo menos um estava carbonizado”. www.bbc.com.br. Assim o radicalismo no país (aversão e antipatia) é de ambos os lados. Herança quem sabe da colonização europeia, notadamente realizada pelos britânicos (século XIX e XX), que como de costume, impuseram pela força a religião cristã como a única e “verdadeira”, num ambiente social onde já havia as primitivas manifestações espirituais das tribos, além de que o Islã chegou primeiro no início do século XVI ao norte da África. A questão étnica religiosa da Nigéria é muito complexa, sendo que a opinião exclusivista do Ocidente predominantemente vista pelos cristão protestantes (conhecidos como evangélicos no Brasil) não condiz com os fatos quando confrontado com elementos histórico, sociopolítico e religioso. Por que não se levantar a bandeira do diálogo e entendimento entre as partes (cristãos e muçulmanos) deixando de lado as diferenças expostas nas crenças e dogmas que terão sempre seu lugar na fé daqueles que o praticam. A generalização feita por cristãos protestantes no Ocidente, ignorantes das causas primárias das desavenças, de que os muçulmanos são extremistas é totalmente injusta e (facciosa) parcial; essa atitude, infelizmente acirra o ódio religioso. Como vimos essa deformação existe naqueles que se deixam levar-se pelo orgulho, avareza, fome de poder e mesquinhez em querer dominar seu irmão, estando como uma semente de joio em todas as religiões. Que precisa ser extirpada no momento certo. O Papa Francisco, tem dado o exemplo, como representante máximo da Igreja Católica Romana, de tolerância e amor quanto a diversidade religiosa. Disse recentemente: “não é justo e nem verdadeiro associar o Islã a violência ou ao terrorismo.  Uma coisa é certa, em todas as religiões sempre existe um pequeno grupo fundamentalista. Nós também temos”. Num vídeo publicado pelo Vaticano no início desse ano, o Papa conclama o diálogo entre as religiões pela oração. Percebendo que as diferenças são para que nos aproximemos e compreendamos os pontos de vista de cada um. Isso é feito quando assumimos o amor como base e expansão de nossa fraternidade para com o próximo. No vídeo um diz: eu creio em Deus. Outro se expressa: eu creio em Deus, Aláh. Outro fala: eu creio em Budha. Também são apresentados ícones sagrados das principais religiões por esses que fazem as declarações como, a imagem de Budha, o candelabro judaico, a imagem de krisna e o terço da Santíssima Virgem Maria. No final todos dizem eu creio no amor. São palavras sensatas de quem tem profundidade ao examinar essa tão delicada situação, não se deixando levar por supostas evidências que aparentemente conduz a opinião para o extremo mais fraco ou mais forte. Impedindo que se reconheça que a questão está não nos limites da força ou debilidade, mas no ponto de equilíbrio da sensibilidade humana. Coisa que temos dificuldade de encontrar, pois já prontos em nossos conceitos espirituais não cedemos e nem abrimos espaços para que outras verdades também possam ser incorporadas a nossa forma de pensar e imaginar o mundo. Segundo o teólogo suíço Hans Kung (1928-  ), ele afirma em seu livro Religiões no Mundo – Em Busca dos Pontos Comuns que: Não haverá paz entre as nações, se não houve paz entre as religiões. Abraço. Davi.

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