sexta-feira, 11 de novembro de 2016

OS SETE MANDAMENTOS DE UM CORAÇÃO SAUDÁVEL.



Saúde. Por André Bernath, Letícia Raposo e Sérgio Bergocce. Programa desenvolvido por uma das mais importante instituições de cardiologia do planeta reúne os cuidados primordiais para dar vida longa e tranquila ao músculo cardíaco. Aprenda as metas e as atitudes decisivas na prevenção do infarto, como aplica-las na rotina e aproveite para fazer um teste que sinaliza o seu risco hoje. Era um desses encontros pra entrar para a história: depois de horas de reunião, um grupo de renomados cardiologistas americanos chegava, enfim, à lista dos dez fatores que mais influenciavam a saúde cardiovascular. Desses, três são elementos imutáveis, ou seja, não há hábito ou remédio capaz de anular seus efeitos – falamos da idade, do sexo e da carga genética. Os outros sete (e ai vem a boa notícia) são passíveis de mudanças. Isso significa que, ao atuar sobre eles, podemos minimizar nossa exposição a infarto e AVCs (acidente vascular cerebral), dupla de males que são a principal causa de morte no Brasil. Entram, nesse rol a alimentação, o grau de atividade física, o peso, a medida da pressão, o colesterol (...). Surgia, assim, o Life’s Simple 7, conjunto de metas e medidas para prevenir sustos ao peito da Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês). A iniciativa é encarada com tanta seriedade nos Estados Unidos que virou uma das principais estratégias para atingir o objetivo da entidade: reduzir em 20% o número de eventos cardiovasculares até 2020. “A ideia é focar nas mudanças no estilo de vida e trazer benefícios de longo prazo à população”, defende a nutricionista Rachel Johnson, consultora da AHA. Após quatro anos da implementação do Life’s  Simple 7, os cientistas (e a própria sociedade) começam a colher seus frutos. Uma revisão de estudos da Universidade Johns Hopkins constatou uma queda significativa nos índices de ataques cardíacos e derrames entre pessoas que adotaram as premissas do programa. Outra investigação, assinada pela Universidade de Minnesota e baseada em dados de 13 mil pessoas ao longo de três décadas, registrou uma menor probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca entre os sujeitos que seguiam as recomendações depois reunidas pela AHA. “Isso só reforça a importância de adotar hábitos saudáveis mais cedo a fim de prevenir o problema”, diz o epidemiologista Aaron Folsom. Chegou a hora de os brasileiros conhecerem e botarem em prática os mandamentos em prol do coração. “A hipertensão é a doença crônica que mais mata no globo”, sentencia o cardiologista Luiz Bortolotto, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo – Brasil. A pressão alta causa um aperto nos vasos, o que exige esforço extra do músculo cardíaco para bombear o sangue. Se a situação persiste por anos a fio, ela cobra seu preço na forma de infarto, derrame, falência renal (...). Não à toa, conservar as medidas de pressão dentro dos parâmetros é um dos pilares do Life’s Simple 7. Nesse sentido, o Instituto Nacional do Coração, dos Pulmões e do Sangue dos Estados Unidos testou até que ponto os valores deveriam baixar em 9 mil hipertensos. Metade tinha que reduzi-los para 13 por 9 – valor aceitável atualmente – enquanto a outra parcela passou por um tratamento agressivo a fim de derrubar a medição para 12 por 8. O estudo precisou ser interrompido no meio porque o grupo da terapia intensiva teve o risco de um ataque cardíaco ou um AVC subtraído em um terço – o mesmo efeito não foi visto nos outros voluntários. “Em pacientes mais velhos com problemas associados, limites mais rígidos de pressão também trazem benefício”, diz Bortoloto. NÃO DÁ PRA MUDAR. Três condições que impactam o bem-estar do coração não podem ser alteradas. IDADE. O envelhecimento enfraquece o músculo cardíaco e favorece problemas que culminam em um maior risco ao órgão, como a pressão alta. GENÉTICA. Mutações no DNA elevam a propensão a algumas doenças. É o caso da hipercolesterolemia familiar, quando o colesterol alto é culpa dos genes. SEXO. Há diferenças estruturais entre o coração do homem e o da mulher. Além disso, o infarto, que afeta ambos, tem sintomas distintos neles e nelas. CONTROLARÁS A PRESSÃO. 24% dos brasileiros sofrem com a hipertensão. 59% das pessoas com mais de 65 anos têm pressão alta. COMO MEDIR A PRESSÃO: Cinco dicas para utilizar corretamente os aparelhos domésticos – mas não vá entrar numa neura (stress). 1. Escolha uma hora em que você esteja relaxado e continue sentado por um tempo. 2. Não tome café ou álcool nem fume ou converse antes ou durante a aferição. 2. Faça mais de uma tomada. Se os valores estiverem muito diferentes, o dispositivo pode estar com defeito. 4. Realize os testes sempre no mesmo horário do dia. 5. Se as taxas estiverem constantemente elevadas, procure um cardiologista quanto antes. METAS PARA A PRESSÃO. Valor ótimo: menor que 12 por 8. Valor normal: menor que 13 por 8,5. Hipertensão estágio1: 14 a 15,9 por 9 a 9,9. Hipertensão estágio 2: 16 a 17,9 por 10 a 10,9. Hipertensão grave: maior que 18 por 11. O QUE FAZER? Ingerir menos sal e perder alguns quilos ajudam a domar a pressão. Se essas atitudes iniciais não forem suficientes, remédios são convocados. BAIXARAS O COLESTEROL. O colesterol que trafega pelo corpo é essencial para a membrana das células, a produção de vitamina D, a fabricação dos hormônios sexuais e uma série de outros processos cruciais ao organismo. O chato é quando ele se encontra em excesso. “Daí, pode se depositar nas artérias e dar início à formação de placas”, conta o médico André Faludi, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Se entupir, já viu (...). A tendência de endurecer as metas de colesterol chegou com tudo por aqui, um dos tópicos mais debatidos nos congressos da área é justamente até que ponto o LDL, o colesterol ruim, deve baixar. A orientação hoje é mantê-lo abaixo dos 100 mg/dl de sangue, ou 70 mg/dl para sujeitos com alto risco cardiovascular. Porém, muitos especialistas já defendem que as próximas diretrizes sugiram níveis abaixo de 50 mg/ para todo mundo! Isso se tornou possível com a chegada de novos medicamentos para os casos difíceis de tratar. “De acordo com evidências recentes, quanto mais baixo estiver o LDL (lipoproteínas de baixa densidade), menor o índice de eventos cardiovasculares”, conta o cardiologista Marcio Miname, da Unidade Clínica de Lípides do Incor (Instituo do Coração). Metas – Colesterol LDL (em MG/DL). Ótimo: menor que 100 (70 para os de alto risco). Desejável: entre 100 e 129. Limítrofe: entre 130 e 159. Alto: entre 160 e 189. Muito alto: maior ou igual a 190. Metas – Colesterol Total (em MG/DL). Desejável: menor que 200. Limítrofe: entre 200 e 239. Alto: maior ou igual a 240. O QUE FAZER? Manter uma dieta balanceada e praticar exercícios regularmente são pré requisitos para controlar o colesterol total e suas frações. Se muitos familiares possuem níveis altos, vale verificar-se não há um fundo genético. As estatinas são a principal classe de fármacos para baixar o LDL. 40% dos brasileiros estão com o colesterol alto. 25% pertencem à faixa dos 60 anos. Daí o maior risco ao peito. COLESTEROL DO PRATO NÃO PARA NOS VASOS? A história é recente e ainda gera confusão. Mas, pelo que a ciência sabe até o momento, os teores de colesterol da comida não se convertem necessariamente em colesterol na corrente sanguínea. A quantidade de LDL (lipoproteínas de baixa densidade) circulando é determinada, em sua maioria, pela fabricação da molécula no próprio fígado. Quem incentiva o órgão a liberar a substância em demasia seria a gordura saturada, presente na coxa de frango com pele, no queijo amarelo, no baco, na manteiga e na costela suína. A recomendação é não ultrapassar 20 gramas desse tipo por dia. A edição de abril do periódico científico The Lancet trouxe o maior retrato do diabete já realizado. Com a colaboração de pesquisadores de todo o mundo, a publicação analisou às informações de saúde de 4 milhões de pessoas de 146 países diferentes. Os resultados mostram que o número de adultos diabéticos pulou de 108 milhões em 1980 para 422 milhões em 2014. “O envelhecimento, a obesidade e o sedentarismo contribuem para esse agravamento”, afirma o endocrinologista João Eduardo Nunes Salles, da Sociedade Brasileira de Diabetes. Ter açúcar demais nos vasos promove um pacote de maldades ao coração. Primeiro, o sangue fica viscoso e transita com lentidão, o que facilita o surgimento de coágulos. Em segundo lugar, a insulina, responsável por colocar a glicose para dentro das células, também tem a função de relaxar as artérias. Como o hormônio não trabalha direito, a pressão tende a subir. Por fim, muitos diabéticos enfrentam dilemas com a balança. E o excesso de gordura no abdômen está relacionado à presença de substâncias inflamatórias que prejudicam a circulação. Metas – (em MG/DL). Normal: menor que 100. Alterada: entre 100 e 126. Diabete: maior que 126. O QUE FAZER? Fique de olho na glicemia e mantenha hábitos saudáveis, que auxiliam a conter essas taxas. 10% dos brasileiros são diabéticos. É o quarto país com mais casos. 50% dos que têm a doença não receberam o diagnósticos. DOMARÁS O AÇUÇAR NO SANGUE. PRATICARÁS ATIVIDADES FÍSICAS. Fazer algum exercício regular não só previne como é uma maneira reconhecida de controlar uma série de perrengues nos vasos. Por isso que muitos médicos preferem indicar nos casos menos severos um esporte (junto com uma dieta equilibrada) a fim de controlar a pressão, o colesterol e a glicose antes de partir para os remédios. “Quanto melhor o preparo físico do indivíduo, menor é a mortalidade cardiovascular”, frisa o cardiologista Daniel Kopiler, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. Quando mexemos o corpo, as câmaras cardíacas se contraem numa velocidade maior para levar oxigênio e nutrientes para os músculos. Isso aprimora a circulação sanguínea e deixa o coração preparado para ocasiões de estresse. Além disso, a atividade física incentiva a liberação de óxido nítrico, que reduz a tensão dos vasos – boa pedida para quem é hipertenso. Até pacientes que se reabilitam de doenças da pesada, como insuficiência cardíaca, se beneficiam de uma prática esportiva mais intensa. “Desde que feito junto com um profissional, o treinamento tem um ótimo papel na recuperação”, observa Kopiler. Meta: 150 minutos de atividade física moderada por semana. Ou (...) 75 minutos de exercício vigoroso por semana. O QUE FAZER? Reserve algum momento do dia para praticar exercícios. Não vale gastar os 150 minutos de uma só vez! Outra boa dica é tomar atitudes contra o sedentarismo, como priorizar escada fixar em vez das rolantes e dos elevadores. 15% dos brasileiros se declaram totalmente inativos. 5,3 milhões de mortes anuais no mundo são atribuídas ao sedentarismo. ADOTARAS UM CARDÁPIO SAUDÁVEL. Uma investigação da Universidade de Oxford na Inglaterra, acompanhou 450 mil chineses por quatro anos para saber como era o consumo de frutas e hortaliças entre eles. Cerca de 18% dos participantes comiam esses alimentos frescos todos os dias. Quando comparados ao grupo de respondentes que afirmou não ingerir vegetais, eles apresentavam uma pressão arterial mais baixa e níveis de glicose sob rédeas curtas. E olha que esses são apenas um dos itens da dieta ideal para a saúde do coração. “O ômega-3, encontrado em peixes de água fria como a sardinha e o salmão, e as fibras, presentes em grãos integrais, também atuam na prevenção das doenças cardiovasculares”, destaca a nutricionista Marcia Gowdak, diretora  científica do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. O Life’s Simple 7 ainda pede para maneirar no sódio e nas bebidas açucaradas. “O abuso no sal leva à hipertensão e estimula o apetite, o que faz a gente exagerar nas refeições”, explica Marcia. O açúcar de refrigerantes e sucos, por sua vez, abre as portas para o ganho de peso. Metas: 5 porções de frutas e verduras todos os dias. 2 porções de peixes na semana, especialmente os gordurosos. 3 porções de grãos ou cereais integrais por dia. Menos de 1500 miligramas de sódio por dia. Menos de 450 calorias de bebidas açucaradas por semana. O QUE FAZER? Capriche na feira e aproveite frutas e hortaliças para criar receitas saborosas e variadas. Não coloque saleiros à mesa (tempere tudo antes) e prefira sucos naturais feitos em casa. 64% dos brasileiros não consomem vegetais com frequência. 15% admitem que botam muito sal no prato. PERDERAS OU MANTERÁS O PESO. Você se lembra daquele pelotão de cientistas que fez um levantamento sobre diabete na página passada? Pois eles acharam que tinham pouco trabalho e resolveram pesquisar a obesidade nos quatro cantos do planeta. Para isso, foram tabulados dados de 19,2 milhões de adultos de 186 nações entre 1975 e 2014. Eles descobriram que a média do índice de Massa Corporal (IMC), cálculo utilizado para avaliar a forma física, passou de 21 nos anos 1970 para 24 na atualidade – tendência clara de engorda. O número de obesos pulou de 105 milhões para 641 milhões nesse meio tempo. Os autores estimam que a chance de atingirmos as metas de redução do sobrepeso nas próximas décadas é igual a zero. “O excesso de peso propicia o acúmulo de gordura no coração, colesterol e pressão elevados, descontrole da glicose e liberação de substâncias inflamatórias”, lista a endocrinologista Maria Edna de Melo, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Ou seja, tudo o que faz mal ao peito. Metas do Índice de Massa Corporal (peso/altura). Abaixo do peso: menos de 18,5. Peso ideal: entre 18,5 e 25. Sobrepeso: entre 25 e 30. Obesidade grau 1: entre 30 e 35. Obesidade grau 2: entre 35 e 40. Obesidade grau 3: mais que 40. O QUE FAZER? Não há nada melhor do que a velha fórmula exercício, alimentação saudável e dedicação para eliminar quilos extras. Nos casos graves, os médicos avaliam a indicação de remédios ou cirurgias. 52% dos brasileiros estão acima do peso. 17% são obesos. Em 2006 eram apenas 11%. LARGARAS O CIGARRO. O organismo de quem fuma vive num eterno estado de conflito, ou melhor, de inflamação. Não por menos, tabagistas sofrem de três a cinco vezes mais problemas cardíacos do que sujeitos que não possuem a dependência. Pra começar, a nicotina estreita veias e artérias. “O cigarro contém uma enormidade de outros componentes que lesam o endotélio, a camada de revestimento interno dos vasos”, detalha o cardiologista Abrão José Cury Junior, do Hospital do Coração, na capital paulista. Esses machucados nos tubos que levam o sangue são o lugar perfeito para que a gordura se deposite e dê início à formação de placas e trombos. Isso sem contar que o tabaco atrapalha a ação dos remédios empregados no manejo  da pressão, do colesterol, da glicemia (...). “Fumar é uma espécie de antídoto contra as medicações, o que é bastante perigoso”, compara Cury. MUITO ALÉM DO TABACO. Todo tipo de fumo é prejudicial para o peito. Isso vale para as versões eletrônicas, o charuto, o cachinho e o narguilé (um cachimbo com água típico do Oriente que virou moda entre os jovens). O cigarro, por sua popularidade, acaba sendo objeto de muitos testes. Logo, suas ações malévolas são descritas com maior frequência. O QUE FAZER? Nunca é tarde para abandonar o vício. Familiares, grupos de apoio e tratamento médico são armas valiosas para vencer o cigarro. 15% dos brasileiros fumam regularmente. 25% das mortes cardíacas são provocadas pelo cigarro. SEU CORAÇÃO ESTÁ EM RISCO? Responda as sete perguntas e calcule sua pontuação. Atenção, o teste dá uma ideia geral de sua saúde, mas não substitui, de maneira alguma, o parecer do médico. 1. Você fuma? a. Nunca fumei ou parei de fumar há mais de um ano. b. Deixei de fumar há menos de um ano. c. Eu fumo. 2. Qual é o seu Índice de Massa Corporal (IMC)? a. Está abaixo dos 25. b. Está entre 25 e 30. c. Está acima dos 30. 3. Quanta atividade física você faz por semana? a. Faço 150 minutos de atividade física moderada por semana e/ou 75 minutos de exercício vigoroso. c. Sou sedentário. 4. Como vai a sua dieta? 5 porções de frutas por dia. 2 porções de peixes por semana. 3 porções de grãos integrais por dia. Menos de 1500 miligramas de sódio por dia. Menos de 450 calorias de bebidas açucaradas por semana. a. Cumpro 4 ou 5 componentes por semana. b. Cumpro 2 ou 3 componentes listados. c. cumpro 1 ou nenhum componente listado. 5. Como está o seu colesterol total? a. Abaixo de 200 miligramas por decilitro, sem tomar nenhum remédio. b. entre 200 e 239 mg/dl ou abaixo de 200 mg/dl com remédios. c. Acima de 240 mg/dl. 6. Como está a sua pressão arterial? a. Abaixo de 12 por 8 sem remédios. b. Pressão sistólica entre 12 e 13,8 e a diastólica entre 8 e 8,9 ou dentro dos padrões com remédios. c. Pressão sistólica acima de 14 e diastólica maior que 9. 7. E sua glicemia, como vai? a. Abaixo de 100 mg/dl sem remédios. b. Entre 100 e 125 mg/dl ou dentro dos limites com a ação de remédios. c. Acima 126 mg/dl. Somatório: Para cada resposta A, some 2 pontos. Para cada resposta B, some 1 ponto. Para cada resposta C, não some nenhum ponto. Se você não sabe alguma resposta, considere zero ponto. Resultado: Entre 0 e 5 pontos, sua situação não está favorável. Consulte o cardiologista. Entre 6 e 10 pontos: não foi tão ruim, mas dá pra melhorar! Pense no que você faria para ter mais saúde. Entre 11 e 14; parabéns! Acerte detalhes mínimos para ter um coração tinindo. Revista Saúde. Edição Julho de 2016. Ótimo final de semana. Beijos. Davi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário