quarta-feira, 26 de outubro de 2016

VII. O EVANGELHO DO BUDHA.



Budismo. Texto do Yogi Kharishnanda Sarawasti (1922-2001). FUNDAÇÃO DO REINO DA VERDADE. Capítulo onze. OS DEZ PECADOS E OS DEZ MANDAMENTOS. Assim falou o Senhor Budha: “Dez coisas tornam más as ações dos homens. Três são pecados do corpo, quatro os da língua e três os da alma. “Os três pecados do corpo são: o homicídio, o roubo e o adultério. Os quatro da língua são: a mentira, a calúnia, a injúria, as palavras ociosas. Os três pecados da alma são: a avareza, o ódio e o erro. Por isso, dou a vocês os seguintes mandamentos: 1º Não matem. Respeitem todo ser vivente. 2º Não roubem, não furtem. Deixem que cada qual desfrute do resultado do seu trabalho. 3º Evitem toda impureza e sejam castos, em tudo. 4º Não mintam. Digam discretamente a verdade, com suavidade e prudência, de maneira a não ofender. 5º Não murmurem nem sejam eco da maledicência. 6º Não jurem nem blasfemem. Falem com decência e dignidade. 7º Não percam tempo em conversações ociosas. Falem coisas proveitosas ou estejam calados. 8º Não tenham inveja nem cobiça. Alegrem-se com a felicidade alheia. 9º Purifiquem o próprio coração de toda malícia. Não tenham ira nem rancor, nem ódio mesmo contra os que os caluniem e os queiram mal. Sejam todo bondade e benevolência para com os seres vivos. 10º Libertem a mente da escravidão da ignorância, e aprendam a Verdade para que não caiam no ceticismo e no erro. Capítulo doze. A MISSÃO DO PREGADOR. Assim disse o Senhor Budha: “Como tenho que morrer e não mais poderei edificar o espírito de vocês com sermões e práticas, escolherei dentre vocês os mais idôneos para me sucederem na pregação. “Os escolhidos usarão as vestes do Tathágatha em sua morada e ocupação a sua cátedra. “As vestes do Tathágatha são a sublime compaixão e a inesgotável paciência; sua morada é a caridade e o amor a todos os seres: e sua cátedra é a compreensão e prática da Lei. O pregador tem que expor impavidamente a Verdade. Deve ter o espírito de persuasão, alimentado pela prática da virtude e da fidelidade aos seus votos. O pregador deve manter-se firme em sua missão sem vacilar em cumpri-las. Não deve cair na vaidade de buscar a companhia dos magnatas, nem tampouco há de unir-se aos frívolos e imorais. Se for assaltado pela tentação, deve pensar no Budha com fé que, então, vencerá. O pregador deve acolher com benevolência a todos os que ouvem a sua doutrina, e seus sermões devem estar isentos de toda malícia. Não murmurará dos demais pregadores, e quando tiver que repreender em público, fustigará o pecado, mas sem indicar o pecador. Ocupará a cátedra vestido de uma túnica simples e roupas interiores conveniente, em paz com todo o mundo e sem máculas em sua disposição. Não se distrairá em controvérsias, nem as suscitará com o propósito de mostrar a sua superioridade e o seu talento. Pelo contrário, deve permanecer calmo e tranquilo. Não alimentará nenhum sentimento hostil. Seu principal objetivo deve ser o de ajudar que todo indivíduo siga com pés firmes o reto caminho da iluminação. Se o pregador se aplicar com zelo à sua tarefa, o Tathágata lhe mostrará o transcendente esplendor da lei e as pessoas o honrarão por ter recebido a bênção do Tathágata, porque o Tathágata bendiz o pregador e os que escutam com respeito a sua doutrina. Todos os que compreendem e aceitam a Verdade, aperfeiçoam a sua mente, pois tal é o alcance do poder da doutrina, que uma só frase da Boa Lei é capaz de converter quem a leia, escreva ou recite, pondo-o no caminho da iluminação. Os escravos de paixões impuras se emanciparão ao ouvir a voz do pregador. Os ignorantes adquirirão sabedoria ao meditarem na profundidade da doutrina. Os que agem impulsionados pelo ódio, o converterão em amor e se refugiarão no Budha. O pregador deve ser enérgico, confiante na bondade de sua missão, sem jamais duvidar do êxito final. Deve assemelhar-se ao camponês que, na falta de água para regar, cava a terra árida, e embora encontre areia, não desanima, porém vai mais fundo até encontrar a água fresca de que necessita. Mesmo quando as pessoas se mostrem surdas à voz do pregador, ele sabe que deve ir mais fundo no coração delas. Em suas mãos, Oh! Pregador, deixo a doutrina da Boa Lei. Guardem-na, leiam-na, reliam-na, meditem nela e preguem-na por todo o mundo, a todas as pessoas. O Tathágata não é avaro nem mesquinhamente vaidoso, e deseja que participem da perfeita ciência do Budha todos os que estiverem dispostos a recebe-la. Sejam como ele. Imitem-no. Sigam o seu exemplo, difundindo generosamente a verdade. Reúnam ao redor de vocês todos os que quiserem escutar as doces e consoladoras palavras da Lei. Estimulem os incrédulos a receberam a Verdade e encham de alegria o coração deles. Quando o Senhor Budha terminou a sua prática, os discípulos exclamaram a uma voz, cheios de entusiasmo espiritual. O senhor, que se deleita na bondade que flui da compaixão, é como uma imensa nuvem de qualidades benéficas e excelentes quando o senhor derrama a chuva da Lei, apaga o fogo que abrasa os homens. Nós, senhor, faremos o que ordenar o Tathágata. Obedeceremos às suas palavras. Este novo voto de obediência repercutirá por todo o Universo, e ressoará repetidamente nos ouvidos dos futuros instrutores que vierem a pregar a Boa Lei. E o Bem aventurado disse: O Tathágata assemelha-se a um rei poderosos que governa o seu reino com justiça, porém precisa repelir o ataque dos seus inimigos. Quando o rei vê seus soldados lutarem, alegra-se com o valor deles. Vocês são os soldados do Tathágata, e o perverso Mara (o destruidor, tentador), o inimigo que se tem de vencer. E aos seus soldados, o Tathágata dará como prêmio a cidade do nirvana, a grande capital da Boa Lei. E o Dharmaraja, o potente rei da justiça, conferirá a seus fiéis o diadema da suprema sabedoria e da eterna felicidade. Cada um no próprio coração, os discípulos fizeram voto de observar fielmente os ensinamentos do Mestre. Os Brâmanes começaram a olhar com receio para aquele homem cuja conduta se harmonizava tão perfeitamente com sua doutrina e ameaçava derrubar o domínio que eles exerciam na consciência do vulgo com seus ritos, cerimônias e sacrifícios em honra aos deuses sempre sedentos do sangue de suas vítimas. PREGAÇÃO DO BUDHA. Capítulo um. O DHARMAPADA. O Dharmapada é o caminho religioso que os discípulos do Senhor Budha seguem. O que somos hoje e o que seremos amanhã depende dos nossos pensamentos. Se procedemos mal, sofremos as consequências; se procedermos bem, nós mesmos nos purificamos. Nem o puro nem o impuro podem purificar o seu próximo. Cada qual deve purificar-se por si mesmo. Os Tathágatas não são nada mais do que pregadores. O homem reflexivo entra no caminho e se emancipa da escravidão de Mara. Quem para quando é preciso andar e entrega-se à preguiça, ou cujos pensamentos são débeis, não encontrará o caminho da iluminação. Aquele que se observa cuidadosamente encontrará a Verdade. Certamente o domínio de si mesmo é difícil, porém, quem se domina saberá dominar os demais. Quem vence a si mesmo é um vencedor mais glorioso do que aquele que sozinho vence mil vezes mil homens no campo de batalha. Os enfatuados dizem: Eu fiz isto. Os outros devem se submeter a mim. Neste negócio, hei de desempenhar o papel mais importante. Os enfatuados não pensam no cumprimento do dever. Pensam unicamente em si mesmos. Querem que tudo sirva de pedestal à vaidade deles. As más ações que nos prejudicam são fáceis de executar. Difíceis são as boas que nos favorecem. Faça o homem com entusiasmo o que lhe cumpre fazer. Muito logo o seu corpo jazerá na terra como um simples tronco. Mas com ele não perecerão as consequências de seus pensamentos. Os bons engendrarão boas ações e os maus engendrarão ações más. A diligência é vida: a preguiça é morte. O diligente está sempre vivo. O preguiçoso, mesmo que viva, está morto. Os que imaginam que o erro é a Verdade e que a verdade é o erro não alcançarão o conhecimento da Verdade, porque estão andando num caminho equivocado. Os que discernem a Verdade do erro e reconhecem a Verdade, alcançarão a meta da libertação. Assim como a chuva penetra na casa mal coberta, do mesmo modo a paixão invade aquele que não tem a razão coberta pelo discernimento. E assim como a água da chuva não invade a casa bem fechada, a paixão não invade aquele que está resguardado pela reflexão. Os regadores levam a água para onde desejam. Os arqueiros disparam a flecha à sua vontade. Os carpinteiros esquadram um pedaço de madeira. Porém, o sábio se modela a si mesmo. Fica indiferente ante o elogio e o insulto, e quando ouve e compreende a lei, mantém-se sereno como um lago de água profunda e tranquila. Quem pensa, fala e age com maldosa intenção, a dor o segue como a roda ao boi que puxa o carro. Não procedam mal, pois nesse caso receberão um doloroso sofrimento. Mais vale agir bem, porque ninguém se arrepende de uma boa ação. Quem peca não se alegra com a recordação do pecado, porque a alegria então sentida se transforma em dor. Quem age bem, regozija-se na sua obra, porque a felicidade é o fruto do bem. Que ninguém se suponha incapaz de proceder mal, dizendo: Jamais me atingirá. Assim como a água pouco a pouco enche o vaso, do mesmo modo o imprudente se deixará invadir lentamente pelo mal. Que ninguém levianamente o bem, dizendo: Nunca o atingirei. Pois assim como a água pouco a pouco enche o vaso, do mesmo modo o sábio aos poucos se encherá da bondade. Como um simples vento arranca uma raizinha, assim Mara (ilusão) vencerá o preguiçoso e o débil que só vive para o prazer, sem refrear seus sentidos. Mas assim como a montanha de granito resiste à violência de um ciclone, também resistirá as tentações de Mara aquele que refreia os sentidos e desdenha os prazeres. O louco que reconhece a sua loucura tem algo de prudente; porém, o louco que se presume sábio está realmente louco. O pecado é como uma flor bela e perfumada: é agradável a vista e ao olfato, porém produz um fruto por demais repugnante e amargo. A virtude é como a flor cercada de espinhos, sem matizes nem aroma, porém cujo fruto é deleitosos aos sentidos do espírito. Muito mal pode causar o ódio ao ódio e um inimigo a outro inimigo, porém, maior mal pode causar a si mesmo o homem mal dirigido. Muito bem pode fazer um homem bem dirigido. A hera (plantas trepadeiras e rasteiras) pode sufocar a árvore que a sustem. Assim também o perverso se degrada até o ponto em que o seu inimigo o desejava ver. O insensato que se afeiçoa aos prazeres a si mesmo se prejudica como se fosse o seu maior inimigo. Os ciclones arrasam os campos. A vaidade, o ódio, a avareza e a luxúria são as más ervas no campo da humanidade. A afeição ao prazer produz desgosto; o temor do sofrimento engendra o medo. Quem não se afeiçoa ao prazer nem teme a dor não conhece o desgosto nem o medo. Quem cede à vaidade e se apega ansiosamente ao prazer, invejará mais tarde aquele que adquiriu a virtude por meio da meditação. Cada qual vê as faltas e os vícios do seu próximo, porém não repara nos seus. Assemelha-se ao trapaceiro jogador de dados. Quem bisbilhota os defeitos alheios e deles se escandaliza aviva o fogo de suas próprias paixões. O homem prudente lamenta-se de seus defeitos e não repara nos defeitos alheios. Ao contrário, observa sempre o aspecto harmonioso do seu próximo. O virtuoso brilha de longe como a manhã nevada. O perverso é invisível como a flecha disparada à noite. Quem busca e consegue o prazer à custa de terceiros ficará escravo das cadeias do egoísmo e não se livrará do ódio. Vença o ódio com o amor, a avareza com a liberalidade, o erro com a verdade, o mal com o bem. Não se extingue o ódio com o ódio, só o amor pode desvanece-lo. Digam sempre a verdade, não cedam à ira e deem se lhes pedirem. Desse modo vocês alcançarão a divindade. Limpe o prudente as impurezas de sua personalidade como o joalheiro limpa as impurezas da prata, uma após outra, devagar e com cuidado. Não tratem ninguém com violência, e sim, com justiça e segundo a lei. Todos amarão ao virtuoso, inteligente, verdadeiro, justo e cumpridor de seu dever. Assim como a abelha sorve o néctar sem alterar os matizes e nem o perfume da flor, assim vive o sábio entre as pessoas do mundo. Se o viandante não encontrar em seu caminho quem lhe seja igual ou superior, siga sozinho, e não em companhia de algum insensato. Longa é a noite de insônia. Uma légua é ainda mais longa para quem está cansado. Também é longa e penosa a vida para o insensato que desconhece a verdadeira religião. Um único dia da vida para quem conhece e pratica a verdadeira religião vale mais do que cem anos vividos sem conhece-la. Alguns forjam um dharma arbitrário, maquinam especulações complexas e supõem que só suas teorias podem dar resultados proveitosos. No entanto, a Verdade é uma só, pois no Universo não existem verdades diferente. Se refletirmos no valor de várias teorias, aceitaremos a que nos livra do pecado; porém, seremos capazes de praticá-la? Eis aqui a dificuldade. O melhor caminho é o óctuplo. Não há outro que conduza à purificação da mente. Tudo o mais são ilusões enganosas de Mara, o tentador. Quem segue o caminho óctuplo extingue o sofrimento. O Tathágata disse: Preguei a entrada no caminho quando compreendi que a espinha cravada na carne era indispensável. Não por disciplina nem por votos, e sim por profundo conhecimento, mereci a felicidade da libertação que o homem mundano não pode conhecer. Não descansem, ó discípulos, até que a sede do desejo se extinga. A extinção dos desejos passionais é a melhor religião. O dom da religião supera os demais dons; a doçura da religião é a maior doçura; as delícias da religião superam todas as delícias; e a extinção da sede do desejo aniquila o sofrimento. Assim como o lírio nasce fragrante entre as ruínas, do mesmo modo a disciplina do Budha brilha por sua sabedoria entre as pessoas que se atropelam cegamente. Vivamos felizes e sem ódio entre os que nos odeiem. Vivamos sãos ente os enfermos, generosos entre os avaros, abnegados entre os cobiçosos. Brilha o Sol durante o dia; a luz da Lua durante a noite; cintila a armadura do guerreio; resplandece a mente do pensador em meditação; porém, o fulgor de Budha, o Santo, o Iluminado a todos supera. Livro O Evangelho do Budha. Vida e Doutrina de Sidharta Gautama – o inspirador do Budismo. Abraço. Davi.

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