Cristianismo.
Texto de Geoffrey Hodson (1886-1983). Capítulo III.
OS SANTOS ANJOS. Esta separação é a causa principal de todo sofrimento humano.
Podemos, entretanto, libertar-nos da “grande heresia”, como se tem chamado a
separação, pela meditação sobre a unidade e pela prática contínua da perfeita
cooperação com os anjos e com os outros, em nosso trabalho. Um anjo deu uma vez
ao autor conselhos muito úteis sobre este assunto, publicado em seu livro Sede
Perfeitos, do qual pode apropriadamente citar: “ A fim de conseguir este grande
resultado e ganhar o prêmio da bem aventurança eterna, ele (o aspirante à vida
espiritual) precisa empreender a tarefa de emancipar-se da ilusão multissecular
da separação. Precisa aprender a rasgar o véu da ilusão e saber que muitas
sombras podem ser dissipadas pela única Luz e que embora as sombras sejam
incontáveis como as areias da praia, a Luz é Uma. Para esta Luz precisa ele
ascender, descobrir-se para ela e libertar-se para sempre da auto identificação
com as sombras do mundo sombrio, através das quais tem evoluído. Precisa
aprender a passar “do irreal para o real, das trevas para Luz, e da morte para
a imortalidade”. Para auxiliá-lo nesta grande tarefa ele precisa praticar
constantemente a arte da Unificação, a suprema arte da qual nascem todas as
demais. Precisa aprender a ver-se em cada forma, a encontrar-se em cada
semelhante, a reconhecer a Luz que é ele próprio atrás de cada sombra projetada
sobre as areias sempre movediças do espaço e do tempo. Ele pode principiar com
os homens, os animais, os vegetais ou as pedras preciosas; com as rochas,
árvores, flores, pássaros, sua própria raça ou outra, os oprimidos, os dacaídos, o santo ou o Salvador. Ele pode tomar a massa ou
o indivíduo, a árvore ou simples folha, o oceano ou um simples grão de areia.
Em sua longa peregrinação terá encontrado uma afinidade com a Natureza ou com
os homens, que poderá servir como um ponto de partida, do qual possa iniciar a
jornada da afinidade e desta para a identidade. Utilizando o objeto pelo qual
sinta mais atração meditará, procurando encontrar-se nele, conhecer e sentir em
e com as mentes e corações dos outros. Meditando, esforçar-se-á por captar o
ritmo das vidas de outros, fundindo a sua própria com a deles. Escutará a
música, buscará a visão e sentirá o pulsar da alma dos outros, e tendo-os
encontrado, os conhecerá como seus próprios. A vida se torna então uma grande
experiência para ele, e o mundo, um estúdio no qual pratica a sua arte. Não
mais indagará o que pense ou sinta o seu irmão. Não mais se deterá na dor ou
forma de uma paisagem ou folha, de uma concha ou dicótomo
(que foi separado ou dividido em dois), porque sabe que aquilo que uma vez
pareceu revelar, serve agora apenas para ocultar o conhecimento que ele deseja.
Ele procura a alma de todas as coisas, grandes ou pequenas; para encontrá-la,
precisa tornar-se a concha, o diamante, a haste de grama, a florzinha, a águia
ou a pomba. Precisa tornar-se o seu irmão humano, conhece-lo melhor do que a si
próprio, e ver mais claramente que ele é a perspectiva de sua vida. Precisa
aprender a verter gotas de si mesmo, através dos mundos, nos corações dos
demais. Precisa mergulhar nas profundezas das almas dos outros, como um seixo
cai numa cisterna. Se o variado grupo da Natureza suscita doce beleza de sua
alma, então deve refugiar-se na Natureza. Sentado sob os frondosos galhos de
uma velha árvore, pode procurar penetrar sua alma; pode aprender a sentir as
forças poderosas que sobem da raiz para o tronco, deste para a haste, da haste
à folha e através da folha flui para o espaço, em correntes radiantes e
magnéticas. Pode aprender a oscilar com o árvore sob a pressão dos ventos, a
sentir a tensão e a guindagem com que sua verticalidade é mantida, pode sentir
a evolvente consciência interna, dilatando-se ao longo das linhas de forças que
governam seu crescimento, em resposta ao impulso condutor da Vontade Divina.
Pode sentir seu poder pulsando através do átomo e da célula. Se uma folha cai
da árvore, ele também deve cair, reconhecendo-se uno com a folha, quando ela
gira e flutua, colhida pelos remoinhos de vento, ele também deve girar e
flutuar, e conhecer a sensação até da mais leve pressão das correntes de ar
roçando nas curvaturas internas e externas da folha. Deve afundar-se com a
folha, adejando até o chão, e ali achar repouso, imerso ao milhar de outras
folhas. Assim, dia a dia, com infatigável paciência, meditará, procurando
penetrar no âmago do coração, na própria vida da árvore. Com a intensidade do
desejo, com mente concentrada e resoluta, atingirá aquele nível de unidade onde
a vida da árvore e a vida do homem se conhecem como uma. Enquanto não se
realizar esse efeito, isto deve ser a prática diária de sua vida. Cada ânsia
pelo objeto do desejo, cada anelo de união com o objeto do seu amor, que sempre
conheceu, deve ser transmitido e dirigido como aspiração flamejante,
determinação invencível, para unir-se à vida além de toda forma, encontrar a
alma da unidade, a própria essência da união, perder-se no oceano de vida uma,
unir-se a Deus. Em todo trabalho de equipe – e os serviços de nossa
igreja podem, como propriedade, ser considerados trabalhos de equipe – faríamos
bem começar fazendo uma tentativa deliberada e consciente, para seguir este
conselho. Atualmente, somos muitíssimos individualistas em todos os nossos
esforços. O anjo que dirige o serviço tem, portanto, que procurar unificar-nos.
Ele estende sua aura ao nosso redor, atrai e concentra todas as numerosas
correntes de forças separadas e funde-as numa única. O sacerdote, também, deve
sentir uma necessidade semelhante de sorte que uma determinada parcela de sua
atenção e poder seja desviada do seu outro trabalho a fim de fazer por nós o
que deveríamos ter aptidão para fazer por nós mesmos. Podemos, em primeiro
lugar, tentar unificar-nos uns com os outros, depois com os sacerdotes e
coroinhas (aquele que ajuda o sacerdote nos ofícios divinos), e depois com os
anjos, formando deste modo uma unidade, um organismo vivente dedicado ao
serviço do Senhor e por último unificado com Ele. Este fato de unificação é uma
necessidade fundamental e básica em toda a nossa vida e trabalho da
Igreja. Devemos manter-nos intimamente unidos em termos de consciência, de
forma a produzir uma grande corrente de força, a qual ascenderá para Deus, e
servirá como perfeito cálice para a recepção e distribuição do poder e bênção
espirituais que Ele derrama em resposta. Embora possamos não estar cientes
disso, se alguém do grupo não está em harmonia com seus irmãos, sente-se
deprimido, crítico ou egocêntrico, pode arruinar seriamente parte do trabalho.
Por mais arduamente que trabalhem o resto da congregação, o sacerdote e os
anjos, não será possível um resultado perfeito, nestas condições. Nossa
responsabilidade, bem como nosso privilégio de membros da Igreja, é, pois,
muito grande, e é importante que venhamos para a igreja num espírito de amor,
de unidade, de reverência e auto recolhimento para servir e adorar o Senhor. Se
falharmos a este respeito, e formos arrastados pela força da devoção alheia,
poderemos atuar qual uma droga em todo o serviço, impedindo a consecução
daquela beleza e perfeição imaculadas do cerimonial, condição indispensável
para atingirmos nosso ideal de verdadeira beleza e perfeição imaculadas do
cerimonial, condição indispensável para atingirmos nosso ideal de verdadeira
adoração. Se nos esforçarmos para unir nossas consciências com as dos anjos,
muito poderemos aprender deles. Por exemplo, a atitude deles para com o Nosso
Senhor e Nossa Senhora e com a Santa Eucaristia, é de intensa reverência,
humildade, adoração e completa anulação de si próprio ante a presença da glória
e esplendor transcendente. A reverência brilha através de todo o seu trabalho,
de forma que tudo o que fazem com santidade e beleza, e com aquela indefinível
espiritualidade, que é a característica tão marcante das hostes angélicas.
Entre mesclada (misturada) com a sua reverência total, há também uma alegria
que impregna a sua vida de trabalho. Não poderíamos aprender com eles e tentar
conseguir este estado ideal? Muitas vezes, quando estamos reverente não estamos
muito alegres, e quando nos sentimos felizes somos propensos a perder nossa
reverência. Esquecemos a divindade inerente de todas as pessoas e todas as
coisas; os anjos parecem nunca se esquecerem da Presença de Deus Imanente. A
divindade e santidade de todas as coisas parecem ser continuamente evidentes
para eles. Quer estejam executando uma tarefa puramente religiosa, dirigindo
correntes de força, ou trabalhando por um dos outros reinos da Natureza, há
sempre está reverência tributada ao Deus interno, que parece ser uma qualidade
fundamental de suas consciências. Isto não os faz beatos num sentido vulgar,
porque há sempre amor, satisfação e alegria em seus corações. Assim faremos
bem, tanto em nossas vidas diárias como em nossa frequência à Igreja, de combinar
a reverência com a alegria. Se apenas tentarmos imprimir em nossos caracteres
as qualidades que os anjos possuem em um grau tão marcante, a cooperação com
eles será muito mais facilmente atingível e todo o trabalho que nos esforçarmos
para fazer para Nosso Senhor será vitalizado e enriquecido pela união com
nossos irmãos das hostes angélicas. O autor escreveu mais amplamente sobre este
assunto em seus livros – A Fraternidade de Anjos e de Homens – e Assim eu ouvi.
A META DA VIDA CRISTÃ. O escopo de todo o culto da Igreja e a meta de todo
esforço espiritual é entrar em união como o objetivo da devoção. Para os
cristãos, porém, a meta é a atuo identificação como o princípio Crístico em nós, e através dele, com o Próprio Nosso
Senhor, e daí com toda a vida manifestada. Não basta desenvolvermos certos
poderes ocultos, abrirmos os centros internos ou aprendermos a verter corrente
de força. A posse de habilidades especiais aumenta nossa utilidade como
servidores do Senhor, porém no desenvolvimento e uso das mesmas nossa atenção
nunca deve afastar-se inteiramente do verdadeiro propósito do culto da igreja e
da vida Cristã. Enquanto prestamos a devida atenção aos atos externos da
adoração, para o fluxo de amor e devoção a Deus como manifestado em Nosso
Senhor e Nossa Senhora, na comunhão dos santos e Santos Anjos, é importante que
sempre nos recordemos de nossa própria inerente divindade, que é nossa suprema
obrigação manifestar continuamente na Terra. Finalmente, devemos estar unidos
ao nosso Deus interno, porque somente pelo poder desta recôndita divindade
podemos tornar-nos Salvadores do mundo. Para atingir esta meta não há, em
realidade, necessidade do culto da igreja, porque Deus está presente em toda a
parte. Ele está presente em toda coisa vivente, em nossos lares, nas ruas, no
campo ou nas favelas, da mesma forma que Ele está presente, numa medida
especial, em Seu Santo Altar. Se alguma vez aprendermos a vê-lo em
qualquer destes lugares, nós O veremos em todas as partes. Não podemos fazer
isto, entretanto, enquanto não começarmos a encontra-lo dentro de nós, pois é
somente com os olhos do Deus interno que veremos o Deus esterno. Numa escritura
hindu, Ele diz dá mais linda forma: “Quem Me vê em todas as coisas e todas as
coisas em Mim, Eu jamais o abandonarei nem ele jamais Me abandonará”. Tal visão
divina não deve ser confundida com os poderes de cognição ligeiramente
dilatados que o psíquico alcança. A não ser que possamos ver Deus no mundo
físico, a clarividência não nos auxiliará a vê-lo no mundo super
físico. O psiquismo do pensamento e uma capacidade especial para a projeção do
poder, são de pequeníssimo valor para nós, adoradores da igreja, se permitirmos
que se tornem fins em si a nos esqueçamos de que são apenas degraus, e nem por
isso degraus essenciais, na Senda para a divindade. De outro lado, se tivermos
sempre a meta em mira, todo o nosso trabalho, seja dos mundos espiritual,
físico ou material, será enriquecido por todo novo poder que a Igreja nos ajuda
a desenvolver. Nós nos tornaremos mais eficientes em nosso trabalho da Igreja
se nos diligenciarmos em realizar a presença vivente de Deus ao redor e no
interior de cada um de nós, e procurarmos unificar-nos ali com Ele. O membro
ideal de uma congregação é certamente aquele que se esforça continuamente por
levar todos os seus poderes e faculdades no maia alto grau de desenvolvimento e
perfeição, e que, ao mesmo tempo, se engolfa numa realização cada vez mais
profunda do Deus dentro de si e de todos os seres. Se tivermos a visão certa –
a visão crística – nós O veremos através dos olhos de
todas as pessoas. Por mais baixa ou aparentemente degradante que uma pessoa
pareça estar, o Cristo está dentro dela, se pudermos apenas trespassar o véu. O
veremos ali; talvez solicitando-nos o serviço de que os decaídos necessitam
urgentemente. Tal serviço não é prestado somente à humanidade ignorante e
fraca, porém ao Cristo que mora em seu interior e é “a esperança de glória” de
toda a espécie humana. Não disse Ele: “Tudo o que fizeste pela menor destas
minhas criaturas, vós o fizestes para mim”? Quando esta visão do Cristo no
homem começa a despontar em nós, estamos com certeza nos acercando do momento
de união e o dia da reconciliação não está muito longe. A Senda Espiritual para
esta gloriosa consumação é longa e difícil de palmilhar. A Igreja, entretanto,
é nosso guia e apoio infalíveis. Em seus serviços e sua vida podemos obter a
necessária elevação e fortaleza, e ano após ano podemos fazer um definido
avanço para a meta de nossa existência. A medida que nos elevamos, conduzimos
toda a humanidade conosco, como o fez Nosso Senhor. Esplêndido, certamente,
será o trabalho da Igreja no mundo, quando ela contar entre os seus seguidores,
com um número rapidamente crescente de homens e mulheres de visão espiritual, poder
e autoconhecimento. Ela começará então a ocupar seu legítimo lugar na vida das
nações, como inspiradora de toda reforma e a fonte inesgotável daquele poder
que acelerará a evolução da humanidade. Livro O Lado Interno do Culto Na
Igreja. Abraço. Davi.
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