segunda-feira, 31 de outubro de 2016

III. REFLEXÕES SOBRE O CULTO DA IGREJA.



Cristianismo. Texto de Geoffrey Hodson (1886-1983). Capítulo III. OS SANTOS ANJOS. Esta separação é a causa principal de todo sofrimento humano. Podemos, entretanto, libertar-nos da “grande heresia”, como se tem chamado a separação, pela meditação sobre a unidade e pela prática contínua da perfeita cooperação com os anjos e com os outros, em nosso trabalho. Um anjo deu uma vez ao autor conselhos muito úteis sobre este assunto, publicado em seu livro Sede Perfeitos, do qual pode apropriadamente citar: “ A fim de conseguir este grande resultado e ganhar o prêmio da bem aventurança eterna, ele (o aspirante à vida espiritual) precisa empreender a tarefa de emancipar-se da ilusão multissecular da separação. Precisa aprender a rasgar o véu da ilusão e saber que muitas sombras podem ser dissipadas pela única Luz e que embora as sombras sejam incontáveis como as areias da praia, a Luz é Uma. Para esta Luz precisa ele ascender, descobrir-se para ela e libertar-se para sempre da auto identificação com as sombras do mundo sombrio, através das quais tem evoluído. Precisa aprender a passar “do irreal para o real, das trevas para Luz, e da morte para a imortalidade”. Para auxiliá-lo nesta grande tarefa ele precisa praticar constantemente a arte da Unificação, a suprema arte da qual nascem todas as demais. Precisa aprender a ver-se em cada forma, a encontrar-se em cada semelhante, a reconhecer a Luz que é ele próprio atrás de cada sombra projetada sobre as areias sempre movediças do espaço e do tempo. Ele pode principiar com os homens, os animais, os vegetais ou as pedras preciosas; com as rochas, árvores, flores, pássaros, sua própria raça ou outra, os oprimidos, os dacaídos, o santo ou o Salvador. Ele pode tomar a massa ou o indivíduo, a árvore ou simples folha, o oceano ou um simples grão de areia. Em sua longa peregrinação terá encontrado uma afinidade com a Natureza ou com os homens, que poderá servir como um ponto de partida, do qual possa iniciar a jornada da afinidade e desta para a identidade. Utilizando o objeto pelo qual sinta mais atração meditará, procurando encontrar-se nele, conhecer e sentir em e com as mentes e corações dos outros. Meditando, esforçar-se-á por captar o ritmo das vidas de outros, fundindo a sua própria com a deles. Escutará a música, buscará a visão e sentirá o pulsar da alma dos outros, e tendo-os encontrado, os conhecerá como seus próprios. A vida se torna então uma grande experiência para ele, e o mundo, um estúdio no qual pratica a sua arte. Não mais indagará o que pense ou sinta o seu irmão. Não mais se deterá na dor ou forma de uma paisagem ou folha, de uma concha ou dicótomo (que foi separado ou dividido em dois), porque sabe que aquilo que uma vez pareceu revelar, serve agora apenas para ocultar o conhecimento que ele deseja. Ele procura a alma de todas as coisas, grandes ou pequenas; para encontrá-la, precisa tornar-se a concha, o diamante, a haste de grama, a florzinha, a águia ou a pomba. Precisa tornar-se o seu irmão humano, conhece-lo melhor do que a si próprio, e ver mais claramente que ele é a perspectiva de sua vida. Precisa aprender a verter gotas de si mesmo, através dos mundos, nos corações dos demais. Precisa mergulhar nas profundezas das almas dos outros, como um seixo cai numa cisterna. Se o variado grupo da Natureza suscita doce beleza de sua alma, então deve refugiar-se na Natureza. Sentado sob os frondosos galhos de uma velha árvore, pode procurar penetrar sua alma; pode aprender a sentir as forças poderosas que sobem da raiz para o tronco, deste para a haste, da haste à folha e através da folha flui para o espaço, em correntes radiantes e magnéticas. Pode aprender a oscilar com o árvore sob a pressão dos ventos, a sentir a tensão e a guindagem com que sua verticalidade é mantida, pode sentir a evolvente consciência interna, dilatando-se ao longo das linhas de forças que governam seu crescimento, em resposta ao impulso condutor da Vontade Divina. Pode sentir seu poder pulsando através do átomo e da célula. Se uma folha cai da árvore, ele também deve cair, reconhecendo-se uno com a folha, quando ela gira e flutua, colhida pelos remoinhos de vento, ele também deve girar e flutuar, e conhecer a sensação até da mais leve pressão das correntes de ar roçando nas curvaturas internas e externas da folha. Deve afundar-se com a folha, adejando até o chão, e ali achar repouso, imerso ao milhar de outras folhas. Assim, dia a dia, com infatigável paciência, meditará, procurando penetrar no âmago do coração, na própria vida da árvore. Com a intensidade do desejo, com mente concentrada e resoluta, atingirá aquele nível de unidade onde a vida da árvore e a vida do homem se conhecem como uma. Enquanto não se realizar esse efeito, isto deve ser a prática diária de sua vida. Cada ânsia pelo objeto do desejo, cada anelo de união com o objeto do seu amor, que sempre conheceu, deve ser transmitido e dirigido como aspiração flamejante, determinação invencível, para unir-se à vida além de toda forma, encontrar a alma da unidade, a própria essência da união, perder-se no oceano de vida uma, unir-se a Deus. Em todo trabalho de equipe –  e os serviços de nossa igreja podem, como propriedade, ser considerados trabalhos de equipe – faríamos bem começar fazendo uma tentativa deliberada e consciente, para seguir este conselho. Atualmente, somos muitíssimos individualistas em todos os nossos esforços. O anjo que dirige o serviço tem, portanto, que procurar unificar-nos. Ele estende sua aura ao nosso redor, atrai e concentra todas as numerosas correntes de forças separadas e funde-as numa única. O sacerdote, também, deve sentir uma necessidade semelhante de sorte que uma determinada parcela de sua atenção e poder seja desviada do seu outro trabalho a fim de fazer por nós o que deveríamos ter aptidão para fazer por nós mesmos. Podemos, em primeiro lugar, tentar unificar-nos uns com os outros, depois com os sacerdotes e coroinhas (aquele que ajuda o sacerdote nos ofícios divinos), e depois com os anjos, formando deste modo uma unidade, um organismo vivente dedicado ao serviço do Senhor e por último unificado com Ele. Este fato de unificação é uma necessidade fundamental e básica em toda a nossa  vida e trabalho da Igreja. Devemos manter-nos intimamente unidos em termos de consciência, de forma a produzir uma grande corrente de força, a qual ascenderá para Deus, e servirá como perfeito cálice para a recepção e distribuição do poder e bênção espirituais que Ele derrama em resposta. Embora possamos não estar cientes disso, se alguém do grupo não está em harmonia com seus irmãos, sente-se deprimido, crítico ou egocêntrico, pode arruinar seriamente parte do trabalho. Por mais arduamente que trabalhem o resto da congregação, o sacerdote e os anjos, não será possível um resultado perfeito, nestas condições. Nossa responsabilidade, bem como nosso privilégio de membros da Igreja, é, pois, muito grande, e é importante que venhamos para a igreja num espírito de amor, de unidade, de reverência e auto recolhimento para servir e adorar o Senhor. Se falharmos a este respeito, e formos arrastados pela força da devoção alheia, poderemos atuar qual uma droga em todo o serviço, impedindo a consecução daquela beleza e perfeição imaculadas do cerimonial, condição indispensável para atingirmos nosso ideal de verdadeira beleza e perfeição imaculadas do cerimonial, condição indispensável para atingirmos nosso ideal de verdadeira adoração. Se nos esforçarmos para unir nossas consciências com as dos anjos, muito poderemos aprender deles. Por exemplo, a atitude deles para com o Nosso Senhor e Nossa Senhora e com a Santa Eucaristia, é de intensa reverência, humildade, adoração e completa anulação de si próprio ante a presença da glória e esplendor transcendente. A reverência brilha através de todo o seu trabalho, de forma que tudo o que fazem com santidade e beleza, e com aquela indefinível espiritualidade, que é a característica tão marcante das hostes angélicas. Entre mesclada (misturada) com a sua reverência total, há também uma alegria que impregna a sua vida de trabalho. Não poderíamos aprender com eles e tentar conseguir este estado ideal? Muitas vezes, quando estamos reverente não estamos muito alegres, e quando nos sentimos felizes somos propensos a perder nossa reverência. Esquecemos a divindade inerente de todas as pessoas e todas as coisas; os anjos parecem nunca se esquecerem da Presença de Deus Imanente. A divindade e santidade de todas as coisas parecem ser continuamente evidentes para eles. Quer estejam executando uma tarefa puramente religiosa, dirigindo correntes de força, ou trabalhando por um dos outros reinos da Natureza, há sempre está reverência tributada ao Deus interno, que parece ser uma qualidade fundamental de suas consciências. Isto não os faz beatos num sentido vulgar, porque há sempre amor, satisfação e alegria em seus corações. Assim faremos bem, tanto em nossas vidas diárias como em nossa frequência à Igreja, de combinar a reverência com a alegria. Se apenas tentarmos imprimir em nossos caracteres as qualidades que os anjos possuem em um grau tão marcante, a cooperação com eles será muito mais facilmente atingível e todo o trabalho que nos esforçarmos para fazer para Nosso Senhor será vitalizado e enriquecido pela união com nossos irmãos das hostes angélicas. O autor escreveu mais amplamente sobre este assunto em seus livros – A Fraternidade de Anjos e de Homens – e Assim eu ouvi. A META DA VIDA CRISTÃ. O escopo de todo o culto da Igreja e a meta de todo esforço espiritual é entrar em união como o objetivo da devoção. Para os cristãos, porém, a meta é a atuo identificação como o princípio Crístico em nós, e através dele, com o Próprio Nosso Senhor, e daí com toda a vida manifestada. Não basta desenvolvermos certos poderes ocultos, abrirmos os centros internos ou aprendermos a verter corrente de força. A posse de habilidades especiais aumenta nossa utilidade como servidores do Senhor, porém no desenvolvimento e uso das mesmas nossa atenção nunca deve afastar-se inteiramente do verdadeiro propósito do culto da igreja e da vida Cristã. Enquanto prestamos a devida atenção aos atos externos da adoração, para o fluxo de amor e devoção a Deus como manifestado em Nosso Senhor e Nossa Senhora, na comunhão dos santos e Santos Anjos, é importante que sempre nos recordemos de nossa própria inerente divindade, que é nossa suprema obrigação manifestar continuamente na Terra. Finalmente, devemos estar unidos ao nosso Deus interno, porque somente pelo poder desta recôndita divindade podemos tornar-nos Salvadores do mundo. Para atingir esta meta não há, em realidade, necessidade do culto da igreja, porque Deus está presente em toda a parte. Ele está presente em toda coisa vivente, em nossos lares, nas ruas, no campo ou nas favelas, da mesma forma que Ele está presente, numa medida especial, em Seu Santo Altar. Se alguma vez aprendermos  a vê-lo em qualquer destes lugares, nós O veremos em todas as partes. Não podemos fazer isto, entretanto, enquanto não começarmos a encontra-lo dentro de nós, pois é somente com os olhos do Deus interno que veremos o Deus esterno. Numa escritura hindu, Ele diz dá mais linda forma: “Quem Me vê em todas as coisas e todas as coisas em Mim, Eu jamais o abandonarei nem ele jamais Me abandonará”. Tal visão divina não deve ser confundida com os poderes de cognição ligeiramente dilatados que o psíquico alcança. A não ser que possamos ver Deus no mundo físico, a clarividência não nos auxiliará a vê-lo no mundo super físico. O psiquismo do pensamento e uma capacidade especial para a projeção do poder, são de pequeníssimo valor para nós, adoradores da igreja, se permitirmos que se tornem fins em si a nos esqueçamos de que são apenas degraus, e nem por isso degraus essenciais, na Senda para a divindade. De outro lado, se tivermos sempre a meta em mira, todo o nosso trabalho, seja dos mundos espiritual, físico ou material, será enriquecido por todo novo poder que a Igreja nos ajuda a desenvolver. Nós nos tornaremos mais eficientes em nosso trabalho da Igreja se nos diligenciarmos em realizar a presença vivente de Deus ao redor e no interior de cada um de nós, e procurarmos unificar-nos ali com Ele. O membro ideal de uma congregação é certamente aquele que se esforça continuamente por levar todos os seus poderes e faculdades no maia alto grau de desenvolvimento e perfeição, e que, ao mesmo tempo, se engolfa numa realização cada vez mais profunda do Deus dentro de si e de todos os seres. Se tivermos a visão certa – a visão crística – nós O veremos através dos olhos de todas as pessoas. Por mais baixa ou aparentemente degradante que uma pessoa pareça estar, o Cristo está dentro dela, se pudermos apenas trespassar o véu. O veremos ali; talvez solicitando-nos o serviço de que os decaídos necessitam urgentemente. Tal serviço não é prestado somente à humanidade ignorante e fraca, porém ao Cristo que mora em seu interior e é “a esperança de glória” de toda a espécie humana. Não disse Ele: “Tudo o que fizeste pela menor destas minhas criaturas, vós o fizestes para mim”? Quando esta visão do Cristo no homem começa a despontar em nós, estamos com certeza nos acercando do momento de união e o dia da reconciliação não está muito longe. A Senda Espiritual para esta gloriosa consumação é longa e difícil de palmilhar. A Igreja, entretanto, é nosso guia e apoio infalíveis. Em seus serviços e sua vida podemos obter a necessária elevação e fortaleza, e ano após ano podemos fazer um definido avanço para a meta de nossa existência. A medida que nos elevamos, conduzimos toda a humanidade conosco, como o fez Nosso Senhor. Esplêndido, certamente, será o trabalho da Igreja no mundo, quando ela contar entre os seus seguidores, com um número rapidamente crescente de homens e mulheres de visão espiritual, poder e autoconhecimento. Ela começará então a ocupar seu legítimo lugar na vida das nações, como inspiradora de toda reforma e a fonte inesgotável daquele poder que acelerará a evolução da humanidade. Livro O Lado Interno do Culto Na Igreja. Abraço. Davi.

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