Judaísmo. O tópico das sete Sefirot emocionais é um dos pilares
do estudo da Cabalá. As Sefirot são a forma básica do poder criativo de D'us.
Constituem a estrutura e configuração internas do Universo e servem de ponte
entre o Criador e toda Sua criação. Existem basicamente dez Sefirot, que são os dez
componentes da realidade – das forças Divinas que criam e sustentam o Universo.
A alma humana também possui esses dez atributos Divinos e esta é uma das
explicações para o fato de o homem ter sido criado "à imagem" de
D’us. O Sefer
Yetzirá (o Livro da Formação), considerado a obra mais
antiga sobre a Cabalá, divide as Dez Sefirot em
três matrizes e sete múltiplos. As três matrizes são as três Sefirot básicas,
que são os fundamentos da realidade: são os três componentes da mente que nos
permitem perceber as coisas. São conhecidas como as três "Sefirot intelectuais",
mas, na realidade, são mais do que ferramentas usadas pelo ser humano para a
concepção e compreensão intelectual: elas representam a capacidade da alma de
perceber, assimilar e se relacionar com todas as coisas e situações. Essas
três Sefirot básicas
são Chochmá
(Sabedoria), Biná
(Compreensão), e Daat
(Conhecimento). Os sete múltiplos são conhecidos como as "Sefirot emocionais".
São também chamados de os "sete dias de construção" por serem os
blocos de construção da Criação, incorporados pelos sete dias nos quais D’us
criou o mundo. De fato, a razão para que a semana seja formada por sete dias é
que cada um destes incorpora uma das sete Sefirot emocionais. Similarmente
às três Sefirot intelectuais,
as sete emocionais também são atributos da alma humana. Elas são as sete forças
básicas que motivam o comportamento humano e provocam, dentro de nós, uma
resposta emocional. São, também, um reflexo das qualidades que D’us usa para
fazer funcionar Seu Universo. É importante observar aqui – e isto é discutido
no artigo desta edição, "A Cabalá de Sucot" – que essas sete qualidades por
si sós não são positivas nem negativas: cada uma delas, dependendo de como é
utilizada, pode se prestar a expressões de bondade e santidade, ou de profanação
e maldade. Os cabalistas descrevem as Sefirot como correspondentes a vários
membros e funções do organismo humano. O corpo humano, padronizado a partir do
conjunto das Sefirot,
serve como um paradigma de forças variadas e mesmo opostas que funcionam em
equilíbrio e harmonia sincronizados. De fato, no corpo humano, todos os
sentidos e sistemas biológicos são diferenciados, mas, ainda assim,
interdependentes. De modo similar, cada Sefirá é
um poder ou modo específico pelo qual D’us governa e sustenta Seu universo.
Cada Sefirá funciona
em perfeita harmonia com as outras Sefirot e
contém dentro de si aspectos de todas as demais. A obra fundamental sobre
a Cabalá, Tikunei
Zohar, abre com uma introdução e descrição das sete Sefirot emocionais,
que são também chamadas de Midot (Atributos): Chessed (Amor) é o
braço direito; Guevurá (Contenção)
é o braço esquerdo;Tiferet (Harmonia)
é o tórax; Netzach (Domínio)
é a perna direita; Hod (Submissão)
é a perna esquerda; Yessod (Fundamento)
é o sinal do pacto sagrado (o órgão sexual); e Malchut (Realeza) é a boca. Neste
ensaio, introduziremos, com breve explicação, cada uma das sete Sefirot emocionais. Chessed, Guevurá e Tiferet. A
primeira das sete Sefirot emocionais
é Chessed,
que é comumente traduzida por Amor ou Bondade. Esta tem a conotação de
altruísmo – a doação incondicional, que nada espera em troca. Esta Sefirá engloba as
emoções do amor, atração, generosidade e expansividade, bem como suas várias
derivações e ramificações. É Chessed o
que nos impele a nos aproximarmos do outro, a dar de nós mesmos e de nossas
posses. Sendo a primeira dos sete múltiplos, esta Sefirá faz um
paralelo com o primeiro dia da Criação, o domingo. Como está descrito na Torá,
a principal criação no primeiro dia foi a luz. Uma das propriedades da luz é o
fato de brilhar indiscriminadamente e de ser expansiva, em geral sem limites
bem definidos. A segunda Sefirá da
emoção é Guevurá,
traduzida como Contenção ou Poder. Guevurá é
essencialmente o oposto de Chessed:
traz em si a restrição, o distanciamento. A Guevurá também se manifesta através do
uso da disciplina, justiça, força e reverência. O conceito desta Sefirá é
intimamente ligado a barreiras e fronteiras e é também interpretado como Poder
porque se manifesta sempre que há concentração de força. Um feixe de raios
laser, por exemplo, é muito potente porque concentra luz. O segundo dia da
Criação, segunda-feira, quando foi criado o Firmamento, incorpora a Guevurá. Um firmamento,
que é uma barreira, um limite, é o símbolo desta Sefirá. A Cabalá
ensina que Chessed e Guevurá são as duas
emoções humanas básicas. A primeira delas nos aproxima das pessoas, das coisas,
das situações, ao passo que a segunda faz o oposto. Uma pessoa que é
basicamente caracterizada pela Sefirá de Chessed é propensa
a ser mais carinhosa e generosa. É alguém que se doa; dá de seu tempo, de seu
dinheiro, de seu patrimônio. É alguém que busca os demais e com eles se
preocupa. Por outro lado, aquele que se caracteriza pela Sefirá de Guevurá tende a ser
esquivo e muito contido. É alguém que não ama facilmente nem busca ser amado.
Não compartilha com facilidade e lhe é difícil ser generoso, mesmo consigo
próprio. Ademais, é uma pessoa que crê piamente na lei, na ordem e na justiça.
Não é muito tolerante nem consegue perdoar erros e pecados alheios. Aquele cuja
alma está ligada primordialmente à Sefirá de Guevurá tende a ser
disciplinado: é alguém geralmente centrado e organizado e esta disciplina
extraordinária geralmente resulta em torná-lo eficiente e poderoso, ajudando-o
a dominar qualquer assunto ou empreitada a que se dedique. Claramente,
dependendo de como é empregada, a Sefirá de Guevurá pode ser um
ponto extremamente positivo ou extremamente negativo. O mesmo se pode dizer de
cada uma das outras Sefirot emocionais,
inclusive de Chessed.
A primeira Sefirá emocional
não é necessariamente boa, assim como a segunda não é necessariamente
má. É verdade que o amor é o maior e mais nobre dos sentimentos, e que
deve ser a força que guia nossa vida. Sua importância é destacada pelo fato de
ser a primeira das Sefirot emocionais.
De fato, o principal mandamento no judaísmo é a prática de atos de
generosidade, caridade e bondade – todos estes, manifestações de Chessed. Somos, também,
ordenados a amar a D’us e a servi-Lo e cumprir Seus mandamentos com júbilo. No
entanto, para viver uma vida equilibrada e produtiva, é preciso também
utilizar-se a Sefirá de Guevurá. Aquele que é
quase que praticamente guiado pela Sefirá de Chessed irá viver
uma vida indisciplinada, desorientada, irresponsável e, talvez, não produtiva.
Tentará fazer mais do que consegue e, mais tarde ou mais cedo, estará esgotado
física e mentalmente. Poderá distribuir mais dinheiro do que suas reservas
permitem e, em troca, ter que depender da generosidade alheia. Pode
preocupar-se muito com que os outros pensam, e, ao tentar agradar a todos,
acabará não agradando ninguém. E pode tentar envolver-se com atividades em
excesso e ver-se "em toda parte" – desconcentrado, exausto, sem jamais
conseguir fazer algo bem feito e até o fim. Ademais, como se sente atraído por
todos e por tudo, ele pode deparar-se em meio a situações perigosas e se
envolver em relacionamentos e com pessoas destrutivas. Neste mundo, é preciso
viver-se com limites – com Guevurá.
Quem desrespeita as restrições e os limites o faz por sua própria conta e
risco. No entanto, viver uma vida praticamente governada pela Sefirá de Guevurá tampouco é
aconselhável. Aqueles que não dão muito não se devem surpreender de não receberem
muito – nem dos homens nem de D’us. Aquele que não ama não deve contar com o
amor de ninguém. E aqueles que creem que a lei deve ser aplicada sempre ao pé
da letra devem ter em mente que o Altíssimo julga o homem "medida por
medida": a dizer, quem julga os demais com severidade e rigor será julgado
desta forma pelo Juiz do Universo. O modus vivendi ideal é o do equilíbrio
entre as Sefirot de Chessed e Guevurá. A mistura
dessas duas constitui a terceira Sefirá emocional
–Tiferet.
Esta Sefirá é
definida como Beleza, Compaixão e Harmonia. Se Chessed é branca e Guevurá é vermelha,
então Tiferet é
rosa. A terceira Sefirá da
emoção representa a capacidade de harmonizar e mesclar Chessed com Guevurá. Uma pessoa que
age com Tiferet tende
a levar uma vida equilibrada e harmoniosa. Não doa com exagero nem com
mesquinhez. Não é muito expansivo nem muito retraído. O terceiro dia da
Criação, terça-feira, é associado a Tiferet.
Ainda que a Luz tenha sido criada no primeiro dia e o Firmamento no segundo, no
terceiro dia, D’us separou os mares da terra seca. No terceiro dia da Criação,
terça-feira – o dia mais auspicioso da semana judaica – um equilíbrio
harmonioso foi estabelecido entre os mares e a terra, ambos necessários para a
manutenção da vida. Ademais, a vegetação também foi criada nesse terceiro dia.
Uma planta que brota, nítida manifestação de Chessed, tem também sua parte embutida na
terra, servindo de barreira entre o novo ser e o mundo exterior – um elemento
de Guevurá.
A planta, portanto, combinaChessed com Guevurá, resultando
em Tiferet. A
esta altura desta nossa análise, é importante enfatizar que a Sefirá deTiferet não é uma
substituta para Chessed e Guevurá. (Se tal fosse o
caso, D’us teria criado apenas a Sefirá de Tiferet, e não as outras
duas). O emprego de Tiferet pode
parecer uma escolha segura, mas nem sempre é a ideal. Na vida, com freqüência
temos que agir com Chessed,
doando incondicionalmente, enquanto em outros momentos, temos que agir
com Guevurá,
com total auto-contenção. Mas a vida de uma pessoa, em sua plenitude, deve ser
caracterizada pela Sefirá de Tiferet, pois deve ser
harmoniosa. O grande desafio da vida é que esta requer uma sabedoria
extraordinária e um agudo senso de percepção para se saber quando agir com Chessed, com Guevurá ou
com Tiferet.
Nossos erros na vida ocorrem, em geral, quando empregamos uma Sefirá ao invés de
outra. Netzach,
Hod e Yessod. A
quarta Sefirá da
emoção, Netzach,
é definida de várias maneiras: como Dominância, Vitória, Eternidade e Ambição.
A palavra Netzach advém
de Menatzeach,
conquistar e superar, ou vencer. Na Árvore das Sefirot, Netzach, assim como Chessed, fica do lado
direito; como ensina o Tikunei
Zohar, este Atributo corresponde à perna direita do corpo humano.
Assim sendo, Netzach deriva
do Amor: quanto mais um ser se doa a outro (Chessed),
mais essa pessoa influencia e talvez subjugue o outro. Netzach é
simbolizado por uma perna humana por ser a Sefirá emocional que "nos leva a
lugares". É o que inspira o ser humano a ter ambições e o que o compele a
ir atrás de seus objetivos e sonhos: a vencer os desafios, a conquistar seus
oponentes. Netzach significa
estabelecer sua vontade e, não raro, tentar dominar os outros para que seu
objetivo seja atingido. O treinador de um time esportivo geralmente
emprega Netzach:
sua ambição e objetivo são ser vitorioso e vencer a equipe oponente; e, para
tanto, ele precisa impor sua vontade sobre seus jogadores para que estes ajam
de acordo a seus planos e estratégia. A Sefirá de Netzach corresponde
ao quarto dia da Criação, a quarta-feira, quando as estrelas e os corpos
astronômicos foram criados. D’us os criou e os dispôs onde estão sem qualquer
reciprocidade de parte dos mesmos. D’us impôs Sua Vontade sobre eles para que O
servissem e a Seus propósitos. E assim foi. A quinta Sefirá da emoção
é Hod.
Assim como Guevurá é
o oposto de Chessed, Hod é o oposto
de Netzach.
Se o conceito de Netzach é
afirmar a vontade ou identidade de alguém, Hod se manifesta quando alguém se
anula perante outrem. Com efeito, a palavra hebraica Hod tem a conotação
de Hoda’a, submissão;
ou também a capacidade de "agradecer" mesmo em caso de infortúnio, ou
seja, "admitindo" e aquiescendo em face de um obstáculo. Um
soldado que segue ordens de um superior, sem questionar, se vale da Sefirá de Hod, da mesma forma que
um jogador que confia em seu treinador age exatamente conforme sua orientação.
Na Árvore das Sefirot, Hod fica ao lado
esquerdo, assim como Guevurá. Hod deriva,
portanto, de Contenção: quanto mais alguém se contém (Guevurá), mais ele abre
espaço para as necessidades do outro e, assim, mais ele permite que o outro
afirme sua própria individualidade (Hod). Para
oferecer uma analogia que explique a diferença entre Netzach e Hod, se a vida fosse um
jogo de xadrez, sempre que D’us, Mestre Enxadrista supremo, impusesse a ordem –
não apenas movendo Suas peças do tabuleiro, mas nos forçando a mover nossas
peças segundo Sua Vontade – Ele estaria praticando Netzach. No entanto,
sempre que Ele espera que nós movamos as peças segundo nossa própria vontade,
é Hod que
se manifesta. Esta Sefirá é
representada pelo quinto dia da Criação, quinta-feira, quando foram criadas as
primeiras criaturas vivas, os peixes. Estes foram os primeiros seres que se
puderam mover livremente. Assim como a pessoa necessita empregar
tanto Chessed quanto Guevurá, de igual
maneira terá que agir com Netzach e Hod. Para andar de forma
adequada e, em especial, para correr, são necessárias as duas pernas – que
simbolizam a quarta e a quinta Sefirot emocionais.
Para funcionar adequadamente no mundo, para se "chegar ao destino", é
preciso ser, ao mesmo tempo, assertivo e submisso; às vezes, é preciso liderar;
em outras, ser liderado. É preciso saber quando insistir em nós mesmos e em
nossas ideias, mas também ter a humildade de aceitar a colaboração do outro,
especialmente quando esse outro é mais qualificado ou capacitado do que nós.
Para viver efetiva e produtivamente, é preciso fazer uso de Netzach, formulando
objetivos e metas e se esforçando para vencer limitações e obstáculos – mas é
preciso, também, utilizar Hod no
conselho pedido a um terceiro e na consideração com os que nos cercam. Às
vezes, é preciso utilizar apenas Netzach,
fazendo valer sua própria identidade e vontade; outras vezes, é preciso agir
com Hod,
concordando com os demais. Na maioria das situações, o ideal é um equilíbrio
harmonioso entre essas duas Sefirot.
Tal harmonia ocorre quando a sextaSefirá emocional, Yessod, se manifesta.
Assim como Tiferet é
a combinação de Chessed e Guevurá, Yessod é a mistura
de Netzach e Hod. Yessod denota um
equilíbrio entre a agressividade de Netzach e
a aquiescência passiva de Hod. Yessod, traduzida como
"Fundamento", é basicamente um relacionamento recíproco. A
sexta Sefirá emocional
é a média perfeita entre Netzach e Hod. Não se trata apenas
de uma amálgama física, mas de uma mescla da psique, da emoção e do espírito.
Em outras palavras, a medida perfeita para se manter a identidade própria sem
abrir mão da mesma. O paradigma deYessod é
o íntimo relacionamento entre um homem e uma mulher. O relacionamento ideal,
segundo o judaísmo, é o casamento onde há uma parceria, onde um cônjuge
completa o outro, e não quando um sempre domina e o outro sempre se submete. A
parte do corpo humano que corresponde a Yessod é
o órgão sexual, que, se usado propriamente, pode unir duas pessoas na mais
íntima de todas as uniões. Yessod representa
o vínculo mais potente que pode existir entre dois indivíduos – um vínculo tão
forte que dá a dois seres humanos a oportunidade de se tornarem, à semelhança
de D’us, criadores da vida. A Sefirá de Yessod é também a
ligação suprema do ser humano com o Divino. O sexto dia da Criação,
sexta-feira, é associado com Yessod,
pois foi o dia em que o homem foi criado. O homem é o fundamento e propósito da
Criação. Em nossa vida, D’us está constantemente nos dando algo (Netzach), pois Ele está
constantemente recriando e sustentando toda a existência. Mas, ao mesmo tempo,
fazendo uso do livre arbítrio que Ele nos deu, nós podemos dar-Lhe algo em
troca (Hod):
podemos trabalhar para aperfeiçoar o Seu mundo e viver de acordo com Sua
Vontade, cumprindo, assim Seu objetivo ao criar o Universo. Desta forma, por
assim dizer, nós Lhe damos prazer. Yessod,
portanto, é um relacionamento de reciprocidade. A relação ideal de Yessod é aquela de
um Tzadik com
D’us. O Tzadik,
o homem justo, é aquele que está constantemente ligado a D’us: ele dedica sua
vida a cumprir a Vontade Divina e D’us atende praticamente todos os seus pedidos. Segundo
um antigo Midrash,
os primeiros seis dias da Criação podem ser vistos como dois blocos de três
dias, sendo que o segundo deles aperfeiçoa e completa o primeiro. Esse Midrash afirma que
no primeiro dia (Chessed),
D’us criou a luz. No quarto dia (Netzach),
três dias mais tarde, Ele criou as luminárias. No segundo dia, Guevurá, D’us criou os
oceanos ao dividir as águas. No quinto dia, Hod, Ele criou os peixes, que são a
perfeição da água. No terceiro dia, Tiferet,
D’us criou a terra seca. No sexto dia, Yessod,
Ele criou o homem, senhor da terra seca. Malchut. As seis primeiras Sefirot emocionais,
de Chessed aYessod, constituem uma
estrutura única, unificada, que é chamada, na Cabalá, de Ze’ir Anpin (Rosto
Pequeno). A sétima e última Sefirá emocional
é Malchut,
traduzida como Realeza. Enquanto as seis primeiras Sefirot emocionais são
"masculinas", Malchut é
uma Sefirá "feminina".
As seis primeiras, Ze’ir
Anpin, são vistas como os poderes básicos de dar e criar, ao passo
que a feminina, Malchut,
representa o poder de receber. Em linguagem cabalística, Malchut é também
chamada de Nukvá
de Ze’ir Anpin (o
feminino de Ze’ir
Anpin). Nukvá
é o termo em aramaico para a palavra hebraica para feminino, Nekevá, e se refere à
noiva de Ze’ir Anpin. A
Criação do universo ocorreu através da Sefirá de
Malchut. Esta última de todas as Sefirot,
intelectuais e emocionais, é comparada ao útero feminino: representa o poder de
receber Ze’ir Anpin,
abrigá-lo e, em algum momento futuro, devolver algo mais completo e perfeito. O
dia da semana que corresponde a Malchut é
o sétimo, o dia sagrado: Shabat. Malchut relaciona-se
ao sétimo dia da Criação, que é o dia que nos dá o poder de recebermos a
energia de todas as Sefirot e
integrá-las em nossa vida. As primeiras seis Sefirot emocionais, além de se
relacionarem aos seis dias da Criação, representam as seis direções básicas do
universo físico tridimensional: Norte-Sul, Leste-Oeste, para cima para abaixo.
Representam, também, os modos fundamentais de se alcançar as seis direções da
Criação. Malchut,
por outro lado, é o eixo ou ponto focal que reside no centro das seis direções,
e de onde, ao invés de olhar para fora, a pessoa olha para dentro de si,
absorvendo iluminação espiritual sobre si própria. Malchut é a ideia
de receber: é a ideia de ser um Keli,
um "receptáculo". Esta Sefirá é
o poder que D’us nos dá para que possamos ter condições de receber d’Ele. E,
mais importante, é em Malchut que
se realiza o propósito de doar: o relacionamento em que o receptor pode
retribuir, tornando-se, assim, doador. Por esta razão, Malchut é vista
como uma Sefirá feminina.
Por outro lado, Malchut é
o "receptáculo" mais sublime, que foi criado para conter a Luz
Divina. Representa a epítome (resumo, modelo ideal) do ato de receber, sendo,
portanto, caracterizada como a Sefirá que
"não possui nada de seu". Malchut literalmente
precisa receber tudo o que possui das Sefirot que
a precedem. Mas, por outro lado, representa o poder que, em última instância,
unifica todos os diferentes poderes das Sefirot,
mantendo-os todos unidos. Sem Malchut,
a Criação estaria incompleta. O Sefer
Yetzirá ensina que os seis dias da semana, que são
masculinos, são as seis direções que apontam para o exterior. O Shabat, por sua vez, que
é feminino, é o pólo que atrai todos os seis pontos, unindo-os. Durante toda a
semana, em nosso empenho para adquirir a espiritualidade, permanecemos no nível
"masculino". No Shabat,
chegamos ao nível "feminino" porque conseguimos absorver os frutos de
todo o empenho da semana que transcorreu. Sem o Shabat, não teríamos
condições de receber a espiritualidade: isto pode ser comparado a uma situação
em que nos empenhamos por algo, sem nunca atingi-lo. Daí a importância suprema
do Shabat (sábado) para
o judaísmo. Ensinam-nos, pois, que este dia é a fonte de todas as bênçãos: é o
dia que recebe o trabalho espiritual realizado durante os dias da semana,
gerando, assim, ainda mais bênçãos para a semana vindoura. O Shabat pode ser
comparado ao solo onde se planta uma semente. Sem o solo, a semente não poderá
virar uma planta. A dinâmica entre as seis primeiras Sefirot emocionais
(Ze’ir Anpin)
e Malchut (Nukvá) pode ser
comparada ao relacionamento biológico entre um homem e uma mulher que geram a
vida: o homem é o doador, mas é a mulher quem recebe e acalenta, e, ao gerar um
ser humano, acaba doando muito mais do que o início plantado pelo homem. Malchut é, pois,
não apenas um vaso contentor, que apenas recebe: para ser perfeita, precisa
também dar daquilo que recebe. O receptor precisa se transformar em doador. Em
termos monárquicos, por exemplo, Malchut poderia
representar a aceitação pelo povo da soberania do rei, bem como do fato de ele
ser o seu provedor. Eles seriam dependentes de seu rei, mas se este quisesse
que seus súditos interagissem com ele, teria que dar-lhes alguma forma de
liberdade e autonomia. Tornar-se-iam, assim, seus parceiros na condução do reino. Nosso
Rei verdadeiro e eterno é D’us. Como Ele é a Origem de tudo, estamos
constantemente recebendo tudo d’Ele. Mas somos, também, obrigados a fazer nossa
parte na obra de aperfeiçoar o Seu mundo. Se tomarmos o que D’us nos dá –
recursos, talentos e oportunidades que nos são ofertados – e os utilizarmos
para nos aperfeiçoarmos, bem como ao mundo, estaremos fazendo bom uso de Malchut. Malchut é associada
à boca, pois, para verdadeiramente liderar, é preciso comunicar-se bem para
servir de inspiração a seus adeptos. A Realeza está intimamente ligada às
palavras, como se comprova no fato de que D’us, Rei do Universo, criou e
continua a recriar o Universo através da Fala Divina. Ademais, o homem é rei na
Terra porque ele, mais do que qualquer outra criatura, pode, de fato,
comunicar-se de forma efetiva e sofisticada. Concluímos aqui este estudo
introdutório ao assunto das sete Sefirot emocionais.
Alguns trechos desta discussão podem parecer técnicos ou esotéricos, mas, na
realidade, além de ser um pilar para o estudo da Cabalá, o estudo das Sefirot é um manual
para uma maior auto-conscientização e aperfeiçoamento de nosso caráter e
comportamento. No artigo "A Cabalá de Sucot", analisamos algumas das
aplicações práticas e cotidianas das sete Sefirot emocionais.
www.morasha.com.br.www.morasha.com.br. Abraço.
Davi.
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