Espiritualidade.
Texto de Osho (1931-1990). "A coisa
mais difícil, quase impossível, para a mente, é permanecer no meio, é
permanecer equilibrada. E o mais fácil é movimentar-se de um pensamento para o
seu oposto. Movimentar-se de uma polaridade para a polaridade oposta é a
natureza da mente. Isso tem que ser entendido muito profundamente, porque sem
que você entenda isso, nada poderá levar você à meditação. A natureza da mente é movimentar-se de um extremo a
outro, ela depende do desequilíbrio. Se você estiver equilibrado, a mente
desaparece. A mente é como uma doença: quando você está desequilibrado ela está
ali, quando você está equilibrado ela não está ali. É por isso que é fácil para uma pessoa que come
muito fazer jejum. Isso parece sem lógica, porque nós pensamos que uma pessoa
que é obcecada por comida não consegue jejuar. Mas você está errado. Somente
uma pessoa que é obcecada por comida pode jejuar, porque jejuar é a mesma
obsessão no sentido oposto. Na verdade não houve mudança em você. Você continua
obcecado por comida. Antes você comia muito e agora você está faminto - mas o foco
da mente continua na comida, a partir de um extremo oposto. Um homem que tenha se entregue em demasia ao sexo,
pode ser tornar um celibatário muito facilmente. Não há nenhum problema. Mas é
difícil para a mente fazer uma dieta certa, é difícil para a mente estar no
meio. Porque é difícil estar no meio? Isso é exatamente igual ao pêndulo
de um relógio. O pêndulo vai para a direita, e daí se move para a esquerda,
então de novo para a direita, e depois de novo para a esquerda. O relógio
inteiro depende desse movimento. Se o pêndulo parar no meio, o relógio para. E
quando o pêndulo se move para a direita, você pensa que ele está somente indo
para a direita. Mas, ao mesmo tempo que ele está indo para a direita, ele está
juntando momento* para ir para a esquerda. Quanto mais ele se move para a
direita, mais energia ele reúne para se mover para a esquerda, para o oposto.
Quando ele está se movendo para a esquerda ele está de novo reunindo momento
para se mover para a direita. Sempre que você come demais, você está
reunindo momento para fazer jejum. Sempre que você se entrega em demasia ao
sexo, mais cedo ou mais tarde, o celibato, o brahmacharya se tornará atraente
para você. E o mesmo está acontecendo a
partir do polo oposto. Vá e pergunte aos chamados sadhus, aos bhikkhus, aos
sannyasins. Eles firmaram um propósito de permanecer celibatários; e agora a
mente deles está reunindo momento para se movimentar em direção ao sexo. Eles
firmaram um propósito de ficarem com fome, de passar fome e a mente deles está
constantemente pensando em comida. Quando você está pensando muito a respeito
de comida, isso mostra que você está reunindo momento para comer. Pensar
significa momento. A mente começa fazer arranjos para ir ao oposto. A primeira coisa: sempre que você se move, você
também está se movendo para o oposto. O oposto está escondido, ele não é
aparente. Quando você ama uma pessoa, você está reunindo
momento para odiá-la. É por isso que somente amigos podem se tornar inimigos.
Você não pode se tornar um inimigo sem que primeiro você tenha se tornado um
amigo. Amantes discutem e brigam. Só os amantes podem discutir e brigar, porque
a não ser que você ame, como você poderá odiar? A não ser que você tenha se
movido para a extrema esquerda, como você poderá se mover para a direita?
Pesquisas modernas dizem que isso que se chama amor é um relacionamento de
íntima inimizade. Sua esposa é a sua inimiga íntima e seu marido é o seu
inimigo íntimo – ambos inimigos e íntimos. Parecem opostos, sem lógica, porque
nós ficamos ponderando como alguém que é íntimo pode ser inimigo? Alguém que é
amigo, como pode também ser o adversário? A
lógica é superficial. A vida vai mais fundo. Na vida, todos os opostos se
juntam, eles existem juntos. Lembre-se disso, porque então meditação se torna
equilíbrio. Budha ensinou oito
disciplinas e para cada disciplina ele usava a palavra certa. Ele dizia: o
esforço certo, porque é muito fácil mover-se da ação para a inação, do
despertar para o dormir, mas permanecer no meio é difícil. Quando Buda usa a palavra
certa, ele estava dizendo: não se mova para o oposto, simplesmente permaneça no
meio. A comida certa – ele nunca disse jejum. Não se entregue em demasia à
comida e não se entregue ao jejum. Ele dizia: comida certa. Comida certa
significa permanecer no meio. Quando
você permanece no meio você não está reunindo momento algum. E essa é a beleza
disso: um homem que não está reunindo momento algum para se mover a qualquer
lugar, pode estar à vontade consigo mesmo, pode se sentir em casa. Você
nunca pode se sentir em casa, porque qualquer coisa que você faz, imediatamente
você terá que fazer o oposto para equilibrar. E o oposto nunca equilibra, ele
simplesmente dá a você a impressão de que você está se tornando equilibrado,
mas você terá que se mover para o oposto de novo. Um Budha não é amigo nem
inimigo de alguém. Ele simplesmente parou no meio – o relógio não está
funcionando (...). Quando a sua mente para, o tempo para, quando o pêndulo
pára, o relógio para (...). O tempo é
criado pelo movimento da mente, exatamente como o movimento do pêndulo. A mente
se move, você sente o tempo. Quando a mente não está se movimentando, como você
pode sentir o tempo? Quando não há qualquer movimento, o tempo não pode ser
sentido. Cientistas e místicos concordam nesse ponto: que o movimento cria o
fenômeno do tempo. Se você não está se movendo, se você está parado, o tempo
desaparece, a eternidade chega à existência. O seu relógio está se movendo
rapidamente e o seu mecanismo é movimento de um extremo ao outro. A segunda
coisa a ser entendida a respeito da mente é que a mente sempre quer o que está
distante, nunca o que está perto. O que está perto é enfadonho, você fica
farto dele. O distante lhe dá sonhos, esperanças, possibilidades de prazer.
Assim, a mente sempre está pensando no distante. É sempre a mulher de alguma
outra pessoa que é atraente e bonita; é sempre a casa de alguma outra pessoa
que o obceca; é sempre o carro de alguma outra pessoa que fascina você. É
sempre o que está distante. Você fica cego para o que está perto. A mente não
consegue ver aquilo que está muito perto. Ela somente pode ver aquilo que está
muito longe. E o que está muito longe, o que está mais distante? O
que está mais distante é o oposto. Você ama uma pessoa – agora o fenômeno mais
distante é o ódio. Você está comendo demais – agora o fenômeno mais distante é
o jejum. Você está celibatário – agora o fenômeno mais distante é o sexo. Você
é um rei – agora o fenômeno mais distante é ser um monge. O que está
mais distante é aquilo com que sonhamos mais. Ele atrai, ele obceca, ele segue
chamando, convidando você e então, quando você tiver alcançado o outro polo,
este local de onde você partiu em caminhada se tornará belo novamente.
Divorcie-se de sua esposa e após uns poucos anos ela terá ganho beleza novamente
(...). Para a mente, o oposto é
magnético e a não ser que, através da compreensão, você transcenda isso, a
mente continuará se movendo da esquerda para a direita, da direita para a
esquerda, e o relógio continua. Ele tem continuado por muitas vidas e é assim
que você tem sido enganado – porque você não compreende o mecanismo. De novo o
distante se torna atraente e de novo você começa uma nova caminhada. E no
momento em que você alcança o seu objetivo, aquilo que antes era seu conhecido
e que agora está distante, de novo se torna atraente, agora se torna uma
estrela, alguma coisa valiosa. Eu
estive lendo a respeito de um piloto que estava voando sobre a Califórnia com
um amigo. Ele lhe disse: "Veja lá embaixo aquele belo lago. Eu nasci perto
dele, ali está a minha vila". Ele apontou para uma pequena vila numa
colina próxima ao lago. E ele disse: "Eu nasci ali e quando eu era criança
eu costumava sentar próximo ao lago para pescar. Pescar era o meu hobby. Mas
naquela época, quando eu era criança e pescava no lago, os aviões sempre
costumavam cortar o céu, passando sobre a minha cabeça, e eu sonhava com o dia
em que eu próprio me tornaria um piloto e estaria pilotando um avião. Aquele
era meu único sonho. Agora ele está realizado e que miséria! Agora eu continuamente
olho para aquele lago lá em baixo e fico pensando no dia em que eu estiver
aposentado para poder ir pescar nele de novo. Aquele lago é tão lindo (...)".
É assim que as coisas acontecem. É assim que
as coisas têm acontecido com você. Na infância você queria crescer depressa
porque as pessoas mais velhas eram mais poderosas. Uma criança quer crescer
imediatamente. As pessoas mais velhas são sábias e a criança sente que qualquer
coisa que ela faça está sempre errado. Pergunte então a uma pessoa mais velha.
Ela sempre acha que quando a infância se foi, tudo foi perdido, o paraíso
estava ali, na infância. E todos os velhos morrem pensando na infância, na
inocência, na beleza, no mundo de sonhos. Qualquer coisa que você tenha,
parece sem utilidade; qualquer coisa que você não tenha parece de grande
utilidade. Lembre-se disso porque senão a meditação não poderá acontecer,
porque meditação significa essa compreensão da mente, do trabalho da mente, do
verdadeiro processo da mente. A mente é
dialética, ela faz com que você se mova repetidas vezes em direção aos opostos.
E isso é um processo infinito, ele nunca se acaba, a não ser que você, de
repente, o abandone, a não ser que, de repente, você se torne consciente do
jogo, a não ser que, de repente, você se torne alerta a respeito da trapaça da
mente, e você pare no meio. Parar no
meio é meditação. A terceira coisa: porque a mente consiste em
polaridades, você nunca é um todo. A mente não pode ser um todo, ela sempre é
metade. Quando você ama alguém, você já observou que você está suprimindo o seu
ódio? O amor não é total, ele não é um todo, exatamente atrás dele todas as
forças escuras estão escondidas e elas podem entrar em erupção a qualquer
momento. Você está sentado em cima de um vulcão. Quando você ama alguém, você simplesmente se esquece de que você tem
raiva, de que você tem ódio, de que você é ciumento. Você simplesmente deixa
tudo isso de lado, como se isso nunca tivesse existido. Mas como você pode
deixar tudo isso de lado? Você pode simplesmente esconder no inconsciente.
Assim, na superfície você pode se tornar amoroso, mas lá no fundo o tumulto
está escondido. Mais cedo ou mais tarde você vai ficar de saco cheio, o amado
terá se tornado familiar. Dizem que a familiaridade cria desprezo, mas não é
que a familiaridade cria desprezo – a familiaridade faz você ficar de saco
cheio. O desprezo esteve sempre ali, escondido. Ele vem à tona, ele só estava
esperando o momento certo, a semente estava ali. A mente sempre tem o oposto
dentro dela e esse oposto vai para o inconsciente e fica ali esperando
pelo seu momento para vir à tona. Se você observar minuciosamente, você sentirá
isso a todo momento. Quando você diz para alguém "eu te amo"
feche os seus olhos, seja meditativo, e sinta – existe algum ódio escondido?
Você irá senti-lo. Mas você não quer encarar isso porque a verdade é muito feia
– a verdade que você sente ódio pela pessoa que você ama - por isso você engana
a si mesmo. Você quer escapar da realidade, assim você esconde. Mas, esconder
não vai ajudar, porque assim você não está enganando à outra pessoa, você está
enganando a si mesmo. Assim, sempre que
você sentir alguma coisa, feche os olhos e vá para dentro de si mesmo para
encontrar o oposto em algum lugar. Ele está ali. E se você puder ver o oposto,
isso dará a você um equilíbrio. Então você não irá dizer "eu amo
você". Se você for uma pessoa verdadeira você irá dizer: "meu
relacionamento com você é de amor e ódio". Todos os relacionamentos
são relacionamentos de amor/ódio. Nenhum relacionamento é puro amor e nenhum
relacionamento é puro ódio. Ele é ambos: amor e ódio. Se você for
verdadeiro você estará em dificuldades. Se você disser para uma garota:
"meu relacionamento com você é ambos: amor e ódio. Eu amo você como nunca
amei alguém e eu odeio você como nunca eu odiei alguém", será difícil para
você se casar, a não ser que você encontre uma garota meditativa, que possa
compreender a realidade, a não ser que você possa encontrar uma amiga que possa
compreender a complexidade da mente. A mente não é um mecanismo simples. Ela é
muito complexa e através da mente você nunca pode se tornar simples, porque a
mente segue criando enganos. Ser meditativo significa estar alerta para o fato
de que a mente está escondendo alguma coisa de você, de que você está fechando
os olhos para alguns fatos que estão perturbando. Mais cedo ou mais tarde
aqueles fatos perturbadores virão à tona, vão se apoderar de você, e você irá
em direção ao oposto. E o oposto não está lá longe, num lugar distante, em
alguma estrela. O oposto está escondido atrás de você, dentro de você, em sua
mente, no próprio funcionamento da mente. Se você puder compreender isso, você
irá parar no meio. Se você puder ver o eu
amo e o eu odeio, de repente, ambos
irão desaparecer, porque ambos não podem existir juntos na consciência. Você
tem que criar uma barreira: um terá que existir no inconsciente e o outro no
consciente. Ambos não podem existir na consciência, eles irão negar um ao
outro. O amor destruirá o ódio, o ódio destruirá o amor, eles terão que
equilibrar um ao outro e eles simplesmente irão desaparecer. A mesma quantidade
de ódio e a mesma quantidade de amor irão negar um ao outro. De repente eles
irão evaporar – você estará ali, mas nenhum amor e nenhum ódio. Então você
estará equilibrado. Quando você está equilibrado, a mente não está lá - então
você é um todo. Quando você é um todo, você é sagrado, mas a mente não está lá.
Assim, meditação é um estado de não-mente. Através da mente esse estado não é
alcançado. Através da mente, qualquer coisa que você fizer, ele nunca será
alcançado. Então, o que você está fazendo quando você está meditando? Pelo fato de você ter criado tanta tensão em sua
vida, você agora está meditando. Mas isso é o oposto da tensão, não a
verdadeira meditação. Você está tão tenso que a meditação se tornou atraente. É
por isso que no Ocidente a meditação atrai mais do que no Oriente. É porque no
Ocidente existe mais tensão do que no Oriente. O Oriente ainda está relaxado,
as pessoas não estão tão tensas, elas não estão se enlouquecendo tão
facilmente, elas não cometem suicídio tão facilmente. Elas não são tão
violentas, tão agressivas, tão apavoradas, tão amedrontadas - não, elas não
estão tão tensas. Elas não estão vivendo essa correria louca onde nada além de
tensão é acumulado. Assim, se o Maharishi mahesh Yogi (1918-2008) vier à
Índia, ninguém o escutará. Mas na América, as pessoas ficam loucas com ele.
Quando existe muita tensão, a meditação atrai. Mas essa atração é de novo a
mesma armadilha. Isso não é verdadeira meditação, isso é de novo um engano.
Você medita por uns poucos dias, você se torna relaxado e, quando você se torna
relaxado, de novo surge a necessidade de atividades. Você fica de saco cheio e
a mente começa a pensar em fazer alguma coisa, em se movimentar. As pessoas chegam a mim e dizem: "nós meditamos
por alguns anos mas agora isso ficou chato, perdeu a graça". Há poucos
dias uma garota veio a mim e disse: "agora a meditação não tem mais graça
alguma, o que eu devo fazer?" Agora
a mente está procurando por alguma outra coisa, agora ela já teve bastante
meditação. Agora que ela já está relaxada, a mente está pedindo por mais
tensões - alguma coisa que possa perturbá-la. Quando ela diz que agora a
meditação não tem mais graça, ela quer dizer que agora não há mais tensão,
assim como pode a meditação ter graça? Ela terá que ir atrás de tensões
novamente, aí a meditação de novo se tornará algo valioso. Veja o absurdo da mente: você tem que ir embora para
chegar perto, você tem que se tornar tenso para ser meditativo. Mas isso não é
meditação, de novo isso é uma trapaça da mesma mente. Numa nova dimensão, o
mesmo jogo continua. Quando eu digo meditação, eu quero dizer: ir além das
polaridades opostas, deixar de lado todo o jogo, olhar para o absurdo disso e transcendê-lo.
A própria compreensão se torna transcendência. A mente forçará você a se
mover para o oposto – não se mova para o oposto. Pare no meio e veja que isso
tem sido sempre uma trapaça da mente. É assim que a mente tem dominado você através
do oposto. Você já percebeu isso? Depois
de fazer amor com uma mulher, você de repente começa a pensar em abstinência
sexual, brahmacharya e isso exerce uma fascinação tão persuasiva que naquele
momento você sente como se nada mais existisse para ser alcançado. Você se
sente frustrado, enganado, você sente que não havia nada naquele sexo e que
somente bramacharya contém a felicidade. Mas depois de vinte e quatro horas, o
sexo de novo se torna importante, e de novo você se move para ele. O que a
mente está fazendo? Depois do ato sexual ela começa a pensar no oposto, o qual,
de novo, cria a vontade do sexo. Um
homem violento começa a pensar na não violência, então ele poderá facilmente se
tornar violento de novo. Um homem que fica raivoso repetidamente, sempre pensa
em não ter raiva, sempre decide não ficar raivoso novamente. Essa decisão
ajuda-o a ficar com raiva de novo. Se
você realmente não quiser ficar raivoso de novo, não tome decisão contra a
raiva. Simplesmente olhe para a raiva e olhe para essa sombra da raiva que você
pensa que é não ter raiva. Olhe para o sexo e para essa sombra do sexo que você
pensa que é brahmacharya, abstinência sexual. Isso é só negatividade, ausência.
Olhe para o excesso do comer e para a sua sombra que é o jejum. Jejuns sempre
seguem o comer demais, a indulgência demasiada é sempre seguida por votos de
celibato; a tensão é sempre seguida por algumas técnicas de meditação. Olhe
para essas coisas juntas, sinta como elas estão relacionadas, como elas são
parte de um só processo. Se você puder
compreender isso, a meditação acontecerá em você. Na verdade, ela não é algo a
ser feito, ela é uma questão de compreensão. Ela não é um esforço, ela não é
algo a ser cultivado. Ela é algo a ser profundamente compreendido.
Compreensão dá liberdade. Conhecer todo o
mecanismo da mente é transformação. Então, de repente, o relógio para, o tempo
desaparece. E parando o relógio, não existe mente. Parando o tempo, onde você
está? O barco está vazio. O homem do
Tao age sem impedimentos (....). Você
age sempre com impedimentos, o oposto está sempre ali criando o impedimento,
você não é um fluxo. Se você ama, o
ódio está sempre ali como um impedimento. Se você se movimenta, alguma coisa
está puxando você para trás, você nunca se move totalmente, alguma coisa sempre
fica para trás, o movimento não é total. Você se move com uma perna, mas
a outra perna não se move. Como você pode se mover? O impedimento está
ali. A sua angústia, a sua ansiedade é esse impedimento, é essa contínua
movimentação de uma metade e não movimentação da outra metade. Por que você
está tão angustiado? O que cria tanta angústia em você? Qualquer coisa que você
faz, porque você não fica feliz fazendo aquilo? A felicidade somente pode
acontecer para o todo, nunca para a parte. Quando o todo se movimenta sem
qualquer impedimento, o próprio movimento é felicidade. Felicidade não é alguma
coisa que vem de fora - ela é uma sensação que vem quando o seu Ser como um
todo se movimenta, o próprio movimento do todo é felicidade. Não é alguma coisa
acontecendo para você, ela surge a partir de você, ela é uma harmonia no seu
Ser. Se você está dividido - e você
está sempre dividido: metade se movendo, metade segurando; metade dizendo sim,
metade dizendo não; metade amando, metade odiando. Você é um reino dividido, existe
um conflito constante dentro de você. Você diz alguma coisa mas aquilo nunca é
o que você quer dizer, porque o oposto está ali impedindo, criando uma barreira
(...). A mente entra quando você está
dividido. A mente se alimenta com a divisão. É por isso que Jiddu Krishnamurti
(1895-1986) segue dizendo que quando o observador se torna o observado, você
está em meditação (...). Sempre que a
mente entra, ela entra como uma força controladora, um administrador. Ela não é
o mestre, ela é o administrador. E você não chega até o mestre se o
administrador não for colocado de lado. O administrador não permite que você
alcance o mestre, o administrador sempre se mantém de pé diante da porta,
controlando. E todos os administradores administram mal - a mente tem feito um grande
trabalho de má administração... Lao Tze
(531 AC) disse: quando não havia nem um simples filósofo, tudo se resolvia, não
haviam perguntas e todas as respostas estavam disponíveis. Quando os filósofos
surgiram, as perguntas vieram e as respostas desapareceram. Sempre que há uma
pergunta, a resposta está muito longe. Sempre que você pergunta, você nunca
obtém a resposta, mas quando você para de perguntar, você descobrirá que a
resposta sempre esteve ali (...). O que
é felicidade? Felicidade é a sensação que surge em você quando o observador se
torna o observado. Felicidade é a sensação que surge em você quando você está
em harmonia, não fragmentado, uma unidade, não desintegrado, não dividido. Essa
sensação não é algo que vem de fora. Ela é a melodia que cresce em você a
partir da sua harmonia interior (...). O
sol está nascendo (...) de repente você olha e o observador não está ali. O sol
não está ali e você não está ali. Não há nenhum observador e nenhum observado.
Simplesmente o sol está nascendo e a sua mente não está ali para controlar.
Você não vê e diz: "o sol está lindo". No momento que você disser, a
felicidade foi perdida. Então já não existe nenhuma felicidade, ela já se
tornou passado, ela já se foi. De
repente você vê o sol nascendo e aquele que vê não está ali, aquele que vê
ainda não entrou, ainda não se tornou um pensamento. Você ainda não olhou, não
analisou, ainda não observou. O sol está nascendo e ali não existe ninguém, o
barco está vazio, existe felicidade, um vislumbre. Mas a mente imediatamente
entra e diz "o sol está lindo, esse nascer do sol está lindo". A
comparação entrou e a beleza foi perdida. Aqueles que sabem, dizem que
sempre que você diz: "eu te amo" para uma pessoa, o amor foi perdido.
O amor se foi porque o amante entrou. Como pode existir amor quando a divisão,
o controlador entra? É a mente que diz: "eu te amo", porque, na
verdade, no amor não existe nenhum eu e nenhum tu. No amor não existem
indivíduos. O amor é uma fusão, uma dissolução, eles não são dois. O amor existe, não os amantes. No amor, o amor
existe, não os amantes, mas a mente entra e diz: "eu estou amando, eu te
amo". Quando o "eu" entra, a dúvida entra, a divisão entra e o
amor não está mais ali. Muitas vezes em meditação você tem alguns
vislumbres. Lembre-se: sempre que você sentir tais vislumbres, não diga:
"quão belo é", não diga "quão amoroso é", porque é assim
que você perde o vislumbre. Sempre que o vislumbre vier, deixe que ele esteja
ali (...). Quando em meditação você tiver um vislumbre de algum êxtase, deixe que
ele aconteça, deixe-o ir fundo. Não reparta a si mesmo. Não faça qualquer
declaração, senão o contato será perdido”. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi.
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