sexta-feira, 23 de setembro de 2016

VII. O EVANGELHO DE BUDHA.



Budismo. Texto do Yogi Kharishnanda Sarawasti (1922-2001). FUNDAÇÃO DO REINO DA VERDADE. Capítulo Três. O REI PRASENAJIT VISITA BUDHA. O rei Prasenajit, tendo conhecimento da chegada do Senhor Budha, saiu com grande pompa e foi ao bosque de Jevatana, onde ele estava, e de mãos juntas saudou-o, dizendo-lhe: Feliz o meu humilde e indigno reino por ter obtido tão grande favor, pois que perigos, que calamidades poderão ameaça-lo na presença do Senhor do Mundo, do Rei da Lei, do Rei da Verdade: Agora que contemplo seu semblante sagrado, poderei encher o meu vaso com as saudáveis águas de seus ensinamentos. Os bens terrenos são transitórios e o perecíveis. Os bens da verdadeira religião são permanente e eternos. O homem mundano, mesmo que use coroa e empunhe cetro, está inquieto,  enquanto o santo, embora seja vulgar, goza de paz de espírito. O Senhor Budha sabia que o rei Prasenajit era escravo da avareza e amava os prazeres: então, aproveitando a ocasião, disse: Aquele que por seu mau Karma nasce em condição vulgar, respeita o homem virtuoso. Com maior razão deve respeitar um Budha aquele que por merecimentos contraídos em existências anteriores, nascem em leito régio. Escute  atentamente, Oh! Rei, minhas palavras e considere bem o que vou dizer: Nossas boas ou más ações nos seguem constantemente, como a nossa sombra. O mais importante é um coração compassivo. Considere o seu povo como se fosse o seu único filho. Não o oprima nem destrua. Sujeite à sua vontade todos os membros do seu corpo. Fuja das doutrinas perversas e siga o caminho reto. Não se ufane rebaixando-se aos demais. Dê alívio e socorro aos que sofrem. Não dê valor excessivo à dignidade real nem preste ouvido às palavras lisonjeadas dos aduladores. De nada serve mortificar-se com austeridades. Mais vale meditar sobre a lei da Verdade. Estamos encerrados dentro do muro do nascimento, da enfermidade, da velhice e da morte; e só pela meditação e prática da verdadeira Lei poderemos sair de nosso encerramento. Que proveito colhe a iniquidade? Todos os sábios fugiram dos prazeres sensuais. Detestaram a luxúria e ocuparam-se em enaltecer a sua vida espiritual. Como será possível às aves se refugiarem nos ramos de uma árvore em chamas? A verdade é incompatível com a paixão. Quem não sabe disso é ignorante, embora o chamem de sábio. Quem conhece essa ciência está no alvorecer da verdadeira sabedoria, e na aquisição dessa sabedoria prevalecerá o propósito da vida. Quem não a obtém, fracassa. Esta verdade não se destina ao peculiar conhecimento do asceta e do brâmane, porém a todo ser humano, sem exceção nem diferença de castas. Não se faz distinção entre o monge professo e o pai de família em seu lar. Há monges que caem na perdição e humildes pais de família que ascendem à categoria de rishi. A luxúria entende suas redes por toda parte do mundo e a todos ameaça com o mesmo perigo. Quem cai em suas malhas só se salva pela reflexão e conquista da sabedoria. Desde que é impossível evitas as consequências de nossas ações: procedamos sempre em obediência à Lei. Vigiemos nossos pensamentos, porque do pensamento provém a ação, e segundo semearmos assim colheremos. Há muitos caminhos que conduzem das trevas para a luz, e outros há que levam da luz para as trevas. Também há caminhos que da obscuridade conduzem a escuridão, e outros há que da aurora nos levam à luz meridiana. Mostre-se superior pelo exercício da razão e da virtude. Medite profundamente na instabilidade das coisas humanas e na inconstância da vida terrena. Realce o seu espírito com fé sincera e vontade firme. Não quebre as regras da boa conduta nem estabeleça a felicidade em coisas externas, mas na sua individualidade interior. Assim, as futuras gerações bendirão o seu nome, e não lhe faltará a proteção do Tathágata. O rei ouviu de maneira respeitosa as palavras do Budha e gravou-as no seu coração. Capítulo Quatro. DEVADATA. Quando Devadat, filho de Supra Budha e irmão de Yasodhara (esposa do Budha), entrou no discipulado, ele se acreditou capaz de alcançar as mesmas distinções e honras de Gautama Sidharta (Budha). Mas como fracassasse o seu intento, encheu-se de inveja e começou a fazer críticas aos ensinamentos do Senhor Budha, dizendo que eram brandos demais. Devadata foi a Radjagriha e encheu os ouvidos de Ajatásatru, filho do rei Bimbisar. Então Ajatásatru edificou um vihara (templo) para Devadata e este fundou uma seita cujos seguidores deviam observar regras severíssimas com mortificações do corpo. O Senhor Budha foi depois a Radjagriha e parou no vihara de Devatada, que lhe pediu que aprovasse as rigorosas regras de sua seita, cuja observância trazia maior grau de santidade. Disse-lhe Devadata: O corpo se compõe de 32 partes e não tem nenhum atributo divino. É concebido no pecado e nasce destinado a corrupção e sujeito à ilusão e dores passageiras. É o instrumento do Karma proveniente de nossas existências anteriores, e neles se apresentam o pecado, a enfermidade e a morte. Essa é a condição do corpo. Assim, pois, devemos trata-lo como uma simples casca e cobri-lo com farrapos. O Bem aventurado respondeu-lhe: Certamente está o corpo cheio de impurezas e seu destino é transformar-se em simples esqueleto: porém, como é o instrumento do Karma, temos que fazer dele um vaso de verdades e não de pecados. É mau entregar-se aos prazeres do corpo; porém, não é bom negar-lhe a satisfação de suas necessidades e aumentar suas impurezas. Uma lâmpada suja e com pouco óleo se apagará, e um corpo maltratado e consumido pela austeridade e pelas mortificações não será um receptáculo adequado par a luz da verdade. Suas regras não guiarão os seus discípulos pelo caminho do meio que eu tracei. Certamente não e justo proibir a observância de regras rigorosas para aqueles que desejem segui-las; porém, elas não devem ser impostas a ninguém. Desse modo, o Senhor Budha repeliu o pedido de Devadata, que, aborrecido, continuou criticando as regras do Budha, porque as achava suaves demais e sem nenhum mérito para a salvação. Quando o Bem aventurado soube das murmurações de Devadata, disse: Nada existe que os homens não censurem. Censuram os que me silêncio permanecem sentados. Censuram os que falam. Censuram os que também pregam o caminho do meio. Capítulo Cinco. O Senhor Budha disse aos seus discípulos: É preciso, Oh! Discípulos, compreender as quatro nobre verdades e agir de acordo com elas, pois tanto vocês como eu temos gasto muito tempo à procura da felicidade pelos penosos caminho das reencarnações. A alma evolui sucessivamente por meio de todas as formas materiais, do mineral ao vegetal, do vegetal ao animal, do anima. Ao homem, até alcançar perfeição no estado de Budha. Todas as criaturas são o que são devido ao Karma criado em suas existências anteriores, e serão o que foram, segundo suas obras na vida presente. A natureza racional do homem é a chispa de inteligência, a mente, que uma vez adquirida não se perderá nunca mais. Mas necessita passar por vidas sucessivas para chegar à etapa superior de existência, onde recebe a inextinguível luz da verdade. Eu cheguei a esta etapa superior de existência, encontrei a Verdade e indico a vocês o caminho da bem aventurança final. Mostro a vocês o caminho do lago de ambrosia que apaga o pecado. Até mesmo os deuses anelam a felicidade daqueles que, purificados de toda mácula e livre de todas as ilusões, abandonam os incentivos das paixões e entram no nirvana. Quem segue o caminho reto, mesmo que viva no mundo não vive segundo o mundo nem mancha o seu coração de desejos mundanos. Como uma mãe protege o seu filho único e por ele arrisca a própria vida, do mesmo modo aquele que segue o reto caminho fomenta e estimula a boa vontade entre os homens. Nesta disposição de ânimo deve estar o homem, acordado ou dormindo, são ou enfermo, em todas as circunstâncias dá vida, pois não há no mundo nada que a supere. Aquele que não compreendeu as quatro nobres verdades, tem que seguir um longo caminho de repetidos nascimentos através dos desertos da ignorância, das ilusões e do pecado. Porém, quem aprende, compreende e pratica as quatro nobres verdades esgota o mau Karma das existências anteriores, elimina o egoísmo e entra no nirvana. Esse é o fim da evolução. Essa é a libertação final. Essa é a eterna bem aventurança. Capítulo Seis. CONTRA OS MILAGRES. Vivia em Radjagriha um pai de família chamado Jiotichka, filho de Subhadra. Ele recebeu de presente uma magnífica tigela de sândalo, guarnecida de pedras preciosas, e colocou-a na ponta de uma vara erguida na porta de sua casa, com os seguintes dizeres: Se um monge alcançar esta tigela por seu mágico poder, sem escada nem pau, ser-lhe-á dado tudo o que desejar. As pessoas se aproximaram então do Senhor Budha e disseram-lhe admiradas: Grande é o Tathágata. Seus discípulos fazem milagres. Kasyapa, o discípulo de Budha, viu a tigela na ponta da vara de Jiotichka e, juntanto as mãos, fez com que ele a descesse até elas e levou-a ao vihara. Então, o Senhor Budha quebrou a tigela e disse a Kasyapa e aos outros discípulos que no futuro se abstivessem de fazer milagres. Algum tempo depois, na estação das chuvas, muitos discípulos se estabeleceram na comarca de Vriji, desolada pela fome. Um dos discípulos propôs aos seus irmãos que se elogiassem mutuamente perante as pessoas dizendo: Este monge é um santo; teve visões celestes. Possui faculdades sobrenaturais e consegue fazer milagres. E os aldeões diriam: Certamente é uma felicidade que estes santos varões venham entre nós na estação da chuva. E, assim, eles lhes dariam esmolas de boa vontade e não sofreriam fome. Quando o Senhor Budha soube disso, mandou que Ananda reunisse todos os discípulos, e disse-lhes: Digam-me, Oh discípulos, quando é que um discípulo deixa de o ser? Sariputra respondeu-lhe: O bom discípulo não deve quebrar o voto de castidade; se o quebra, não é discípulo de Sakyamuni. O bom discípulo não deve tirar a vida de nenhum ser inofensivo, nem sequer a de um verme ou formiga. As duas maiores máximas são as que declaro agora: Um bom discípulo não deve vangloriar-se de virtude nem de nenhuma qualidade sobre humana. O discípulo que, por egoísmo ou proveito pessoal, se envaidece de possuir faculdades extraordinárias, de ter visões celestes ou de agir por meio de milagres, não é discípulo de Sakyamuni. Assim, Oh discípulos, vocês não devem recorrer a feitiços ou a orações, porque são inúteis, já que tudo é regido pela lei do Karma. Quem tenta fazer milagres não compreendeu a doutrina do Tathágata. Capítulo Sete. INSTRUÇÕES PARA OS NOVIÇOS. Os noviços se aproximaram do Budha e perguntaram-lhe a quais preceitos deviam obedecer. Assim disse o Bem aventurado. Aqueles que desejam entrar no caminho para ser discípulos fieis de Budha devem observar quatro preceitos fundamentais: 1. Procurar boas companhias. 2. Entender a Lei. 3. Fortalecer a mente por meio da reflexão. 4. Praticar a virtude. Essas são, Oh! Noviços, as quatro primeiras etapas do caminho. No entanto, quanto à norma de conduta dou os dez mandamentos, que são: 1. Não matar. 2. Não roubar. 3. Não falar mal dos outros. 4. Não mentir. 5. Não comer fora das horas pré fixadas e abster-se de bebidas alcoólicas. 6. Não comparecer a bailes e espetáculos. 7. Abster-se de perfumes, unguentos, adornos e grinaldas. 8. Não cobiçar nada de ninguém. 9. Evitar a moleza dos leitos macios e poltronas fofas. 10. Abster-se de receber esmolas em dinheiro. Prescrevo esses dez mandamentos para o noviciado, Oh! Discípulos. Capítulo Oito. SEGREDO E PUBLICIDADE. Assim falou o Senhor Budha. Três coisas, discípulos, se mantêm secretas: os negócios do amor, a sabedoria sacerdotal e os extravios do caminho da Verdade. As mulheres enamoradas, Oh discípulos, buscam a solidão e fogem das pessoas; os sacerdotes que anelam revelações especiais buscam a solidão e fogem das pessoas; todos os que se afastam do reto caminho, Oh discípulos, evitam a publicidade. Três coisas, Oh! Discípulos, brilham ante o mundo e não se ocultam: a Lua, que ilumina o mundo e não se esconde; o Sol, que ilumina o mundo e não se esconde; a Verdade, proclamada pelo Tathágata, ilumina o mundo e nunca se oculta. Essas três coisas iluminam o mundo e nunca se ocultam, Oh discípulos. Não há segredo para elas. Capítulo Nove. A REGRA DA ORDEM. Disse o Senhor Budha: Qual é o homem de bem? O religioso é o home de bem. E quem é o religioso? É aquele que segue o caminho da Verdade. Qual é o homem forte? O homem pacífico é forte, porque venceu a personalidade e seus incitamentos. Está tranquilo e sem mancha. Quem é o sábio? É aquele que conseguiu conhecer a sua natureza interior. É aquele que se mantém limpo de toda mancha e vive retamente. E o Senhor Budha reuniu os discípulos, e lhes deu estas regras de conduta: Não destruam nenhuma forma de vida. Não tomem o que não lhes foi dado. Não mintam. Não se embriaguem. Não cometam adultério. Dou a vocês esses cinco mandamentos. Para os professores acrescentou outros três: Não comam à noite. Não usem enfeites nem perfumes. Não durmam em leito macio, mas num enxergão estendido no chão. E quem for piedoso, observará o Upavasatha, e se sentirá feliz por prover de alimentos a Ordem. Capítulo Dez. A EXTINÇÃO DO SOFRIMENTO. Assim falou o Senhor Budha: Que é o pecado? Matar é pecado, roubar é pecado, a luxúria é pecado, a inveja é pecado, o ódio é pecado, seguir falsa doutrina é pecado. Todas essas coisas, meus amigos, são pecados. E qual é a raiz do pecado? O desejo é a raiz do pecado; a paixão e a ilusão são raízes do pecado. Essas coisas são raízes do pecado. Então, o que é bom? Não furtar é bom, a castidade é boa, não mentir é bom, não caluniar é bom, abster-se de murmurar é bom, não invejar é bom, não odiar é bom, e bom é obedecer a Verdade. Todas essas coisas são boas. E qual é, meus amigos, a raiz do bem? A liberação do desejo, da paixão, da ilusão é a raiz do bem. O que é, meus irmãos, o sofrimento? Qual é a sua origem? Como se extingue? Nascer é sofrer, envelhecer é sofrer, adoecer é sofrer, a dor e a miséria são sofrimentos, a aflição e o desespero são sofrimentos. O apego aos vis prazeres é sofrimento, a perda do amado e não alcançar o desejado. Todas essas coisas ocasionam sofrimento. Todas elas dão origem ao sofrimento. Todas elas, Oh irmãos, são dores. E qual é, Oh irmãos, o caminho que conduz à extinção do dor? O caminho Óctuplo nos conduz a extinção da dor. Quando o homem conhece a dor, a origem da dor, e sabe como extinguir a dor, abandona suas paixões, desvanece o conceito da personalidade, dissipa a ignorância e alcança a suprema iluminação que extingue a dor. Livro O Evangelho de Budha. Vida e Doutrina de Sidharta Gautama - o Inspirador do Budismo. Ótimo final de semana. Beijo à todos os amigos do Mosaico. Davi.

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