segunda-feira, 12 de setembro de 2016

I. HOMÚNCULO.



Teosofia. Texto de Geoffrey hodson (1886-1983). Capítulo Três. Parte I. HOMÚNCULOS. Este nome foi escolhido para designar todas as criaturas fantásticas de aparência masculina que não se deixam classificar nem como gnomos, nem como duendes ou elfos, mas que exibem algumas de suas características, juntamente com certos traços que lhes são específicos. Como há de se constatar a partir da descrição oferecida, alguns espíritos da Natureza podem ter a cara de um gnomo, vestir roupas de um duende e ter os pés compridos e pontudos de um elfo. Os homúnculos são encontrados em associação com as árvores, com as sebes, as samambaias, as gramíneas, as urzes e as flores silvestres. Os que preferem as árvores “vivem” geralmente em seus trocos e galhos, logo abaixo da casca por eles transporta para fins de revigoração, bem como de ativação do crescimento e da colocação dos galhos e folhas. Os homúnculos encontrados nas samambaias  e gramíneas quase sempre se vestem de verde; seus rostos são como os de criancinhas de uns três anos da idade, rechonchudos e de expressão alegre e sorridente. Na cabeça, levam quase sempre um capuz verde, seus olhos são redondos e brilhantes e, por vezes, suas orelhas curtas e profundas saem para fora do capuz. Por duas vezes, deparei-me com homúnculos que em nada se pareciam com as amáveis criaturas descritas acima. Seus traços eram marcantes, o nariz comprido e curvo, os olhos estreitos e repuxados para o alto e através deles a consciência se manifesta com uma desagradável expressão de malícia e desconfiança. Tentei comunicar-me com membros isolados da espécie mais cordial, porém sua inteligência era demasiado primitiva – muito mais que a dos animais – não tive muito sucesso. Durante o serviço militar, recebíamos com frequência ordens para “fazer de conta” que estávamos carregando um fuzil ou uma metralhadora, para fins de adestramento. A mesma expressão parece ser a que melhor descreve e “fala” do homúnculo. Eles “fazem de conta” que falam de fato, às vezes, chega mesmo a parecer que estão gritando do modo mais extravagante e, no entanto, nenhum som que me fosse possível distinguir saía de suas bocas muito abertas. Trata-se de algo bastante típico das espécies inferiores de espíritos da Natureza, que imitam inúmeros costumes dos humanos sem a menor compreensão do seu significado e finalidade. Uma destas criaturinhas, cuja descrição será fornecida mais adiante, orgulhava-se das árvores em que vivia e trabalhava, e tentou expressar isso; estava muito contente por ter sido notada e dava o melhor de si para possibilitar a conversação, porém suas limitações naturais frustraram-lhe o intento. Todas as vezes que se demonstrou tentar uma comunicação, ou quando a pequena tribo concedeu a honra de aproximar-se de nós, nenhum deles chegou realmente a introduzir-se na aura humana, permanecendo sempre um pouco além de sua área de irradiação. Se se aproximavam um pouco ou eram submetidos a um exame demasiado intenso, perdiam o seu equilíbrio, tornavam-se confusos e desnorteados para, afinal, desaparecer, retirando-se para uma distância segura ou para uma dimensão superior. Isto, obviamente, se verifica apenas com os homúnculos e não com os gnomos mais estáveis, os duendes mais evoluídos ou as próprias fadas. Certas raças de homúnculos apresentam espécimes dotados de pequenas asas ovais, feitas de uma substância brilhante e translúcida. Não as usam, entretanto, para voar, embora tremulem e se agitam a cada movimento de seu possuidor. A partir de observações feitas em diversas regiões da Inglaterra, cheguei à conclusão de que o homúnculo é a criatura fantástica mais comum nesse país, embora registrem-se muitas variações de uma região para outra. Uma das nossas experiências mais constantes era a de que, enquanto estudávamos outras espécies de espíritos da Natureza, numerosos homúnculos aproximavam-se de nós. Em pé ou sentados, em grupos ou aos pares, ficavam a cerca de vinte e cinco a cinquenta metros de distância nos contemplando com indisfarçável curiosidade. Exemplares desta espécie foram vistos em Kensington Gardens. Quando se comunicam entre si, é possível distinguir algo bastante semelhante ao gorjeio dos pardais, sendo quase sempre evidente que nossas características individuais lhes forneciam assunto inesgotável para a conversação. Quase sempre, são muito destemidos, nem amistosos, nem hostis, chegando-se a nós por mera curiosidade. HOMÚNCULO DAS ÁRVORES. Numa floresta das cercanias de Kendal. Dezembro de 1922. Associados às árvores, perambulando pelo chão em meio a arbustos e folhas caídas, podem-se ver numerosos homúnculos de aspecto semelhante ao dos duendes. Seus rostos se parecem com os de homens de idade avançada; a tez é rubra, as barbas pontuadas e as sobrancelhas cinzentas. Na cabeça, trazem o usual capuz cônico, mas nesse caso a ponta cai ligeiramente para a frente. O rosto é fino, de feições bem marcadas, nisso se distinguidos dos duendes, como também por sua magreza, suas pernas finas e pés pontudos. Vestem um jaleco escuro, de um marrom próximo ao vermelho, que desce folgadamente até a cintura, e sob ele uma peça menor, além de meias rústicas, de cor cinza, com as extremidades em ponta. Parecem não usar botas. São criaturinhas felizes, características que se exprime em seus rostos perpetuamente sorridentes e em seus olhos negros e arredondados. O globo ocular parece feito de vidro e inteiramente negro ou marrom escuro; não vejo nenhum de cor branca. Caminham lentamente e, pelo visto, sem qualquer finalidade; as vezes, um pequeno grupo se forma para alguma brincadeira. Quatro homúnculos surge de um atalho, dão-se as mãos e passam a girar, no sentido horário, durante cerca de vinte segundos, para, em seguida, ainda de mãos dadas, sobrevoarem os bosques. Alguns membros da tribo parecem mais idosos e menos ativos do que os outros. Deparei-me com um espécime bastante idoso sentado ao pé de um freixo, com as pernas magras esticadas a sua frente; parecia realmente cansado. Sua capa, que tinha uma gola larga e pregueada na barra, estreitava-se ligeiramente à altura da cintura, presa por um cinto marrom que parecia de couro. Enquanto o observava, ele evolou-se para dentro da árvore, propiciando-me ocasião de acompanhar o processo de desintegração da forma, que pareceu pairar no espaço por uma fração de segundo ainda, após ter sido abandonada por seu ocupante. Ele não a dissipou quando ainda estava em seu interior – mas abandonou, saindo pela cabeça. Algum resquício dessa forma continua apegado a ele, pois vi perfeitamente os contornos de duas longas pernas a segui-lo até o interior da árvore. Um  exame mais atento mostrou que a forma não havia desaparecido por completo e que seu contorno permaneceu, enquanto sua estrutura e cor despareceram; na verdade, ele parecia um duende fantasmagórico, cujas formas se delineavam numa luz acinzentada, e que permanecia sentado no mesmo lugar, tal como havia sido deixado. Enquanto observava a forma, perdi o contato com sua consciência, que se retirou para dentro do tronco da árvore e, por assim dizer, propagou-se para a sua célula vital incorpórea. Dez minutos depois o homenzinho que havia desaparecido no interior da árvore ressurge, agora inteiramente rejuvenecido, cheio de animação. No momento em que eu estava descrevendo outra coisa qualquer, minha atenção foi atraída para o seu reaparecimento por uma luz que brilhou ao pé da árvore e que, ao ser examinada, comprovou ser o mesmo homenzinho de antes, desta vez plenamente revigorado  e desejando, segundo todas as evidências, chamar a nossa atenção para o fato. Agora, ele vem ao nosso encontro dançando de maneira bizarra, chegando a percorrer metade dos cinquenta metros que nos separam da árvore, para novamente recuar, inclinando a cabeça para o lado e estendendo graciosamente as pernas à medida que caminha. Demonstra muito orgulho. A atmosfera de magia da floresta manifesta-se em todo o seu encanto, e a criaturinha acena-me, ao se retirar, convidando-me a acompanha-lo ao Reino da Fantasia. Faz um sinal com o braço direito na direção da floresta, tal como um anfitrião precedendo os convidados em seu jardim encantado. HOMÚNCULOS DAS ÁRVORES. Outubro de 1922. Sobre os galhos e folhas de uma grande faia, podem-se ver inúmeros homenzinhos trabalhando. De quando em quando, alguns deles voam até o solo, e retornam à árvore, como se estivessem levando alguma substância para urdir a textura dos galhos e folhas menores. Sua altura varia aproximadamente de um metro e meio a um metro e oitenta, embora sejam mutáveis e dotados de formas elásticas. Assemelham-se muito a homenzinhos. Usam um capuz longo e pontudo e uma capa curta de gola bem larga, tão larga que chega a parecer um manto caindo sobre os ombros, e pequenos calções que descem até os joelhos. Seus rostos são bronzeados, curtidos pelo sol e pela chuva; os olhos são oblíquos e sua expressão, inumana. Um deles tenta dialogar comigo; aponta para a árvore com grande orgulho, como se dissesse: Eis a nossa obra! Caminha com passadas curtas, com meneios um tanto afetados. É algo muito divertido contemplá-lo. Ele grita, sem nenhum propósito, para uma das árvores, não recebendo qualquer resposta que me fosse possível distinguir. Gesticula, nos seus esforços para comunicar-se, com toda a certeza querendo dar-me a entender que a árvore acha-se em toda a sua extensão sob a influência e os cuidados dele e dos seus companheiros. As vezes, um deles surge repentinamente da árvore, paira no ar por alguns instantes e, em seguida, retorna à árvore. Será que eles absorvem a essência vital da atmosfera para doá-la a árvore? A chegada do outono, modificando a coloração das folhas, parece ser um acontecimento importante para eles, pois todos se mostram intensamente ocupados. Os processos de coloração parecem merecer especial atenção por parte deles, porém escapa-me o método por eles adotado. Mesmo que fosse possível comunicar-nos à base de perguntas e respostas, o homenzinho seria incapaz de prestar-me qualquer informação acerca do seu modus operandi, pois trata-se, para eles, de algo tão óbvio que não lhes ocorre fornecer qualquer explicação; eles nem sequer refletem sobre os seus atos – se o fizessem, eu conseguiria captar-lhes os pensamentos. A maior parte de suas atividades no solo não possui qualquer finalidade, reduzindo-se a mera cópia e imitação dos atos dos seres humanos sem nenhuma compreensão de seu sentido. As folhas e galhos das árvores constituem suas moradas, e é para aí que convergem todas as suas energias e atenção, muito embora suas ações não se limitem em absoluto a apenas uma árvore, pois vejo-os “voando” até uma árvore vizinha, da mesma espécie. Do Livro O Reino dos Devas e dos Espíritos da Natureza. Abraço. Davi.                      

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