Espiritualidade. Texto de Rajneesh Chandra Mohan, mais conhecido
pelo nome de Osho (1931-1990). Ele foi líder religioso de uma seita dármica. É
mundialmente conhecido como mestre na arte de meditação e do despertar da
consciência. O COMUM E O EXTRAORDINÁRIO. “Sudha, é impossível ajudá-la,
porque você não é comum – ninguém o é, ninguém pode ser. Todo mundo é único e
extraordinário. O problema surge quando você começa a tentar ser aquilo que
você já é. Aí você fracassa. Se você fosse comum, não haveria nenhuma
dificuldade em alcançar o extraordinário. Haveria toda possibilidade. Mas, o
peixe está no oceano e ele está tentando estar no oceano. O fracasso será
total, ele está condenado a fracassar. Como você pode ser comum? Toda
essa existência é extraordinária. Cada grão de areia numa praia é
extraordinário, cada folhinha de grama é extraordinária. E eu não estou falando
apenas de lótus e rosas – naturalmente, elas também são extraordinárias – mas
uma flor comum de um capim não é comum. Tudo o que existe é divino, como pode
ser comum? Não tente ser comum, caso contrário você vai fracassar e você
irá criar miséria para si mesma. Eu mesmo não posso ajudar, eu não posso ir
contra o Tao, contra a lei fundamental da vida. Deus só cria o extraordinário.
Toda essa existência é especial. Essas gotas de chuva, essa manhã, as pessoas
ao seu redor – este momento é extraordinário, ele não pode ser repetido
novamente, não, nunca, nem mesmo em toda a eternidade ele poderá ser repetido
novamente. Você nunca encontrará essas gotas de chuva caindo novamente, esse
som, essa manhã, essas pessoas. Toda essa situação é extraordinária. Ela só
acontece uma vez. Em todo o mundo você não encontrará uma outra Sudha.
Você pode seguir procurando, e não apenas neste momento presente, mesmo no
passado ou no futuro, e nenhuma, Sudha jamais será repetida. É assim que nós
somos. E se você começar a tentar ser extraordinária, você estará em
dificuldades. Aceite a si mesma como você é, e aceite o todo como ele é –
se você puder compreender que tudo é extraordinário – então você terá se
tornado comum. Sudha, não é que você queira ser
extraordinária, você quer ser especial, comparada com as outras
pessoas. Isso também é absurdo, nenhuma comparação é possível. Como você pode
ser comparada com outro alguém? Ninguém é como você. Você não compara um
cachorro com um papagaio, ou compara? Não há qualquer similaridade, não há
qualquer semelhança, como você pode comparar um cachorro com um papagaio? Ou
uma árvore com um homem? Ou uma pedra com um rio? Na verdade, dois indivíduos
não são iguais, por isso eles são incomparáveis. Você é você e o outro é o
outro. Compreender isso é ser ambos: comum e extraordinário.
Extraordinário no sentido de que a existência somente cria pessoas únicas e
comuns no sentido de que todo mundo é extraordinário. Não há nada
extraordinário em ser extraordinário, todo mundo é. A comparação desaparece e
quando não há comparação, não existe possibilidade de ego. Você me
pede: por favor, ajude-me a ser feliz (...). Eu só posso ajudá-la a
não ser miserável. Eu não posso ajudar você a ser feliz. Mas se você não for
miserável, você será feliz. Mas nenhum caminho direto é possível para fazê-la
feliz. Se isso fosse possível, eu já teria feito você feliz há muito tempo
atrás. Eu não sou miserável, eu já teria dado isso a você se fosse possível.
Mas não há qualquer possibilidade. A felicidade não é algo que
possa acontecer com você a partir de fora. Uma vez que você pare de ser
miserável, a felicidade acontece, a felicidade brota dentro do seu ser. Ela
simplesmente cresce a partir de você, você começa a florescer e os obstáculos
são removidos. E esse parece ser o seu maior obstáculo: você quer ser
extraordinária. Eu lhe declaro: Sudha, você é extraordinária. Mas lembre-se de
que todo mundo também é. Por isso, agora não há necessidade de se preocupar. Eu
lhe garanto, você não precisa provar isso. Deixe que esse obstáculo desapareça.
Aceite a sua qualidade de ser extraordinária, curta isso, celebre isso. Walt
Whitman (1819-1892) diz: “Eu celebro a mim mesmo, eu canto a mim mesmo (...)”.
Celebre e cante. Você é extraordinária. Deus não fez outra pessoa como você e
nunca fará outra pessoa como você. Somente por uma vez Deus existe como você,
em você, nessa forma. Essa forma não se repete. Então, o que está
faltando? Toda a sua miséria está surgindo porque você está tentando se tornar
extraordinária. E essa já é a qualidade do seu ser. Tornar-se, não se aplica
neste caso. E então, de repente, você verá (...). Se você puder ver o ponto
(...). Não pense a respeito disso, simplesmente veja o ponto – ele é tão
cristalino – e um grande fardo sobre o seu peito irá desaparecer. Assim, você é
extraordinária! Respire fundo, relaxe e, de repente, a felicidade está ali.
Felicidade não é alguma coisa que tenhamos que fazer ou produzir
por ela. Ela é natural, ela é espontânea. Eu posso ajudá-la a não estar na
miséria. A miséria é criação sua, enquanto a felicidade é criação de Deus.
Miséria é um presente que você tem dado a si mesma, enquanto felicidade é um
presente que Deus tem lhe dado. Mas você se agarra à miséria e quando você se
agarra, você a alimenta com esse agarrar. Abandone isso. Comece a dançar e
cantar e celebrar. Ponha um fim nisso agora. E não diga “amanhã”, porque o
amanhã nunca vem. E não diga “eu vou pensar mais sobre isso”. Pensar não vai
ajudar. Isso é um fato simples. Ou você compreendeu ou você perdeu o ponto.
Deixe-me repetir de novo: todo mundo é extraordinário, assim,
ninguém precisa tentar. Não sofra com essa inferioridade desnecessária. E se
sofrer com isso, você poderá seguir sofrendo anos e anos, e você continuará
criando, e você continuará encontrando novas maneiras e meios. Alguém tem um
nariz mais comprido que o seu, aí você se sentirá inferior. Alguém tem o cabelo
louro, aí você se sentirá inferior. Alguém tem aqueles belos olhos, aí você se
sentirá inferior. Alguém é mais inteligente, aí você se sentirá inferior.
Alguém é um pouco mais alto, aí você se sentirá inferior. Se você continuar
procurando e buscando miséria, ela estará disponível. Você pode encontrá-la em
qualquer pessoa com quem você cruze. Você encontrará uma coisa ou outra que
está faltando em você. Mas é essa sua maneira de ver as coisas que cria a
miséria. Esqueça todo mundo e simplesmente olhe dentro de você, as dádivas
que Deus tem lhe dado. E a gratidão irá surgir. Na verdade não existe razão
alguma, nenhuma razão para essa existência existir, nenhuma razão para essa
chuva, para essa manhã, para essa melodia, para essa bela canção que as nuvens
estão cantando ao seu redor. Se essas coisas não estivessem aí, nós não
poderíamos reclamar. Se essas coisas não estivessem aí, nós não poderíamos
solicitar que elas estivessem. Essas coisas simplesmente estão aí, sem a nossa
solicitação. Elas estão aí. Nós nem mesmo temos que bater na porta, e a porta
está aberta. E milhões de dádivas estão sendo derramadas sobre você,
simplesmente olhe para essas dádivas e você se surpreenderá. Você se
surpreenderá ao ver como você tem perdido essas coisas. Só a alegria de
respirar é suficiente para estar agradecido, só a alegria de encontrar um amigo
é suficiente para estar agradecido, só a alegria de se sentar em silêncio, sem
nada fazer (...). A alegria de uma manhã ou de um entardecer, a alegria de uma
noite (...). Simplesmente siga procurando por essas alegrias e você as
encontrará. Você só encontra aquilo que você procura.
Você tem estado procurando por miséria, daí você ter criado
misérias. Hoje está chovendo e amanhã não estará chovendo, então amanhã você
poderá se sentir miserável. Você dirá: “porque não está chovendo hoje?” E
quando estava chovendo, você não estava agradecido. Comece a se sentir
agradecido. A felicidade estará cada vez mais próxima quanto mais você se
tornar agradecido. A gratidão funciona como um magnetismo. A mente reclamante
repele a felicidade, ela fecha as portas. Tudo depende de você. Eu posso
mostrar para você o caminho, mas é você que terá que caminhar nele. Budha disse
“os Budhas podem apenas apontar o caminho, eles não podem caminhar por você”.
Você terá que caminhar. Eu estou mostrando a você o caminho, mas você se tornou
muito esperta, eficiente em criar miséria para você mesma. Mude a direção de
sua energia, canalize-a em direção à alegria, à beleza (...) esse cuco cantando
lá longe. E pouco a pouco você verá tantas coisas que sempre estiveram ali, mas
que você não as estava vendo. Seus olhos estavam cheios de miséria, por isso
você estava perdendo tudo isso. Seus olhos estavam anuviados, eles estavam
nebulosos, nevoentos. É por isso que você estava perdendo tudo isso. E a pessoa pode perder por uma pontinha, a pessoa pode perder por
um pequeno pensamento. Um pequeno pensamento pode se tornar uma barreira e você
pode perder toda a beleza do vasto Himalaia. Você pode estar ali, observando os
belos picos do Himalaia e o sol se pondo sobre as neves do Himalaia espalhando
um dourado por toda parte, e um pensamento vem à sua mente e o Himalaia
desaparece, o pensamento anuvia você. Você se lembra de alguma coisa: no outro
dia alguém havia insultado você e isso foi o bastante. Ou você começa a fazer
planos para o futuro: “amanhã eu vou ter que partir” e, aí, o Himalaia
desaparece. E o pensamento era tão pequeno, e o Himalaia tão grande (...). Mas
mesmo um pequeno pensamento pode impedir. O pensamento está tão próximo de você
e ele pode se colocar no meio. Uma simples partícula de pó pode cair em seus
olhos, e só uma pequena partícula, quase invisível, pode tornar você cego, e
você não consegue abrir os olhos e não pode ver o sol brilhando. Sudha, faça apenas uma coisa: comece a abandonar esse conceito de
inferioridade, esse conceito de que você tem que ser extraordinária. Veja que
mesmo essa sua pergunta contém isso. Você assinou a pergunta assim: (...) uma
Budha comum, Sudha. Mesmo ali, o ego está reivindicando que “eu
não sou algum Budha comum. Eu sou um Budha comum". Você consegue perceber?
“Os Budhas são pessoas extraordinárias. Eu não sou como eles. Eu sou um Budha
comum”. Isso é reivindicar ser extraordinário. Ajude-me a ser comum.
Você quer ser extraordinariamente comum. O ego pode continuar
jogando, jogos sutis. Você terá que olhar completamente, do início ao fim.
Simplesmente lembre-se de duas coisas: uma, que você já é aquilo que quer ser,
então não há necessidade de fazer qualquer coisa para isso. Você pode chamar
isso de comum ou pode chamar de extraordinário, não faz qualquer diferença.
Você já é isso e você não conseguirá ser nada além disso. Como você chama isso,
não importa. Se você está amando a palavra “comum” então todo mundo é comum. Se
você estiver amando a palavra “extraordinário” então todo mundo é
extraordinário. Lembre-se de mais uma coisa: o que quer que seja que você
esteja reivindicando para você, você terá que reivindicar para o todo. E esse é
o problema, você gostaria de ser especial, não ser como todo mundo. Existe
uma bela parábola (...). Um homem adorava Deus por muitos anos e sempre ele
pedia “satisfaça apenas um de meus desejos”. Deus já devia estar cansado,
aborrecido. Um dia ele apareceu e lhe disse: “OK, você não me deixa em paz. De
manhã, de noite, você segue batendo na mesma tecla satisfaça um de meus
desejos. OK, eu estou aqui, qual é o seu desejo?”. E o homem disse: o que quer que eu peça, deverá imediatamente ser
dado a mim, esse é o meu desejo. O homem era muito esperto! Deus, em sua
inocência, deve ter pensado que ele iria pedir uma só coisa, mas ele pediu
tudo. Ele disse que só tinha um pedido e que era "o que quer que eu peça
deverá ser dado imediatamente a mim”. Mas você não pode derrotar Deus, porque a
esperteza nunca derrota a inocência. Deus disse: “perfeitamente certo, será
como você pede, mas lembre-se de uma coisa, o que quer que você pedir, ao seu
vizinho será dado em dobro”. Agora o homem estava acabado.
Meses se passaram e Deus retornava sucessivas vezes. “Você nada pede (...)” Ele
parou de rezar e Deus continuava retornar várias vezes, de manhã, de tarde e
ele dizia: O que? Você ainda não pediu? E o homem ficou muito cheio de Deus.
Ele pensou e pensou, mas qualquer coisa que ele tivesse, os vizinhos teriam em
dobro. Isso não terá fim. Ele sempre quis ter um belo palácio, mas qual é o
sentido agora? Os vizinhos terão grandes palácios em dobro. Uma simples ideia
estava esmagando ele, estava matando ele. Ele perdeu toda a alegria de viver.
Agora não havia qualquer possibilidade de um dia ser feliz, e esse Deus voltava
de manhã e de tarde para torturá-lo. Assim, um dia ele disse: OK, me dê um belo
palácio dourado. Imediatamente a sua choupana se tornou um palácio dourado, e
ele viu que toda a cidade ficou cheia de palácios dourados – palácios maiores,
palácios duplos, todos dourados – e o seu era o mais pobre de todos. Ele procurou então por um advogado, porque a quem você recorre
quando algum problema legal surge? O advogado lhe disse: não se preocupe. E
naturalmente Deus não poderia vencer um advogado. O advogado lhe disse: você
peça; faça agora um grande poço em frente à minha casa, sem um muro. Assim um
grande poço apareceu diante de seu palácio e dois poços apareceram diante dos
palácios dos demais. O advogado disse: agora peça; faça com que um dos meus
olhos desapareça. O homem disse: o que você está dizendo? E o advogado disse:
simplesmente espere. Lei é lei. Um de seus olhos desapareceu e ambos os olhos
de seus vizinhos desapareceram. Agora, toda a cidade ficou cega (,,,) e com
dois poços diante de cada palácio dourado (...) as pessoas começaram a cair nos
poços e as pessoas começaram a morrer. E o homem ficou muito feliz. Ele disse
agora o meu desejo foi satisfeito. Assim, eu sei Sudha, que você
estará em dificuldades, pois eu declaro que você é extraordinária, mas todo
mundo, todos os seus vizinhos, inclusive o Pramod, são duplamente
extraordinários. E, por favor, não procure por um advogado”. www.oshobrasil.com.br.
Beijo a todos. Davi.
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