sábado, 17 de setembro de 2016

NOSSA CONTRIBUIÇÃO PARA O FUTURO.

Teosofia. Escrito por Dianne K. Kynaston. Na filosofia oriental e nos ensinamentos teosóficos temos os conceitos gêmeos de Karma e Dharma, a lei de Causa e Efeito e Dever ou Lei. Na maior parte do tempo, tendemos a ver o karma sob uma perspectiva pessoal: quando acontecem coisas ao nosso redor, dizemos que são “coisas boas ou más do karma”, mas naturalmente, o karma não tem essas qualidades; é nossa perspectiva que lhe dá essas cores. Dizemos, também, que é karma instantâneo ou “karma de ações em outras vidas”, e isso naturalmente pode ser assim, mas existe uma visão muito mais ampla do karma. Nós, como indivíduos e como parte da raça humana, somos parte do Ser que é a Terra – a Natureza construiu-nos e flui constantemente em nós. Portanto, o tempo todo tudo que fazemos afeta o Todo e isso cria o presente e o futuro. Podemos ver o Dharma como o dever que temos que fazer em nossa vida – a Lei que nos molda e restringe dentro de certos parâmetros, em nosso lugar de nascimento. Contudo, também pode expressar-se como o modelo em nossa vida, as qualidades que vamos adquirir por meio dos esforços para viver. Parece-me que grande parte de nosso dharma é desenvolver novas qualidades e habilidades para trazer expressões mais completas das capacidades que trabalhamos em numerosas vidas. A resposta de Lanthe Hoskins (1912- ), quando certa vez lhe perguntaram “quem sou eu”?, foi: “Você é uma experiência única na evolução da consciência”. Cada um de nós é único; como somos e o que somos é a contribuição de singularidade que temos que dar ao Todo. Ao viver nossas vidas individuais, estamos realizando nosso dharma e operando através  do nosso karma. Os efeitos de cada vida ressoam não apenas em nosso mundo atual mas também no futuro. Podemos investigar em documentos históricos, analisar as vidas de famosos e poderosos e reconhecer os efeitos de longo alcance de suas vidas. Contudo, tanto seus grandes atos como também suas menores ações produzem efeitos que ressoam distante, através do tempo e espaço. Líderes guerreiros como Alexandre o Grande (356 AC 323) ou Júlio César (100 AC 44) podem ter sido brilhantes táticos militares, mas ainda dependiam da habilidade e resistência de seus homens para vencerem suas batalhas. Filósofos como Platão (428 AC 347) e Pitágoras (570 AC 495) certamente inovaram nas ideias básicas da maneira de pensar e ver a vida; no entanto, continuidade desse conhecimento ainda depende dos estudantes e eruditos que por eras guardam vivos seus ensinamentos. Durante um ano estive explorando a vida do monge budista XuanZang (602-664). Era um monge muito erudito que compreendeu que os ensinamentos budistas a que teve acesso na China eram incompletos e muito mal traduzido, e fez então uma incrível viagem à Índia para achar a fonte dos ensinamentos Mahayanas. Essa viagem durou dezesseis anos cobrindo quase 10.000 milhas, viajando por muitos reinos e contatando muitas pessoas. Quando voltou à China despendeu o resto de sua vida traduzindo, ensinando; pode-se dizer que esse foi seu dharma – enriquecer os ensinamentos budistas na China. As consequências karmicas de sua vida ainda ressoam no mundo de hoje. O imperador ordenou-lhe que escrevesse a história de sua épica jornada, publicada como “Grandes Relatos dos Sabores das Regiões Ocidentais”, ainda publicado nos dias atuais. Por meio dele, os chineses conheceram o mundo além de seu reino fortemente protegido, e os historiadores ainda hoje utilizam o conhecimento que ele obteve nos reinos da Ásia Central e no subcontinente da Índia. Um bom exemplo disso é o mundo budista da Índia que floresceu por muitos séculos com muitos mosteiros, templos e lugares sagrados, com consequências karmicas ressoando pelo mundo, até nossos dias. Contudo, muito foi perdido em virtude de várias invasões da Idade Média, do ocidente pelos persas e os mongóis pelo norte. No século XVIII, um oficial britânico começou a explorar um estranho monte fora de Varanasi (ou Benares na Índia) e descobriu que era um lugar sagrado budista, mais adiante explorou o mundo budista na Índia. Usou as notas de viagem de Xuan Zang que descreviam detalhadamente vários centros sagrados que havia visitado. Hoje, o templo dedicado a XuanZang fica perto do lugar das ruínas da Universidade de Nalanda. Há muitas outras áreas onde as consequências karmicas da vida de Xuan Zang podem ser medidas, mais particularmente na área da cultura. Sua vida inspirou não apenas os praticantes do budismo, como também ele tornou-se parte da vida cultural da China, com muitos poemas, dramas, melodias e trabalhos artísticos escritos sobre ele. No século XVI, um poeta chamado Wu Cheng (1500-1582) escreveu o livro intitulado HSi YU Chi ou Jornada para o Ocidente que é a história mística de um monge Tripitaka que vai à Índia para obter os ensinamentos budistas sob a guia e proteção da deusa Kwan Yin. Ela lhe fornece quatro companheiros – seres que já haviam entrado no céu, mas que agiram tão mal que voltaram à Terra em forma de semi animais. Esses foram os dragões que se tornaram seus cavalos, Pigsy, Sandy e Monkey. Esse livro é um dos quatro maiores livros clássicos da China e ainda é muito lido, não apenas na China, mas em todo mundo. Contudo, no Ocidente tornou-se muito conhecido pela série da televisão japonesa Sayuky, conhecida no Ocidente como “Macaco”. As consequências karmicas do dharma de Xuan Zang ainda ressoam no mundo após treze séculos. A escritora chinesa Sun Shu yun ficou tão fascinada com a vida de Xuan Zang que repetiu a épica jornada para a Índia, seguindo o melhor que pode a rota que ele fez. Seu livro “Dez Mil Milhas Sem uma Nuvem” oferece-nos um relato das duas jornadas bem como muitos insights dos ensinamentos budistas. Em histórias mais recentes, podemos observar que as ações de várias pessoas mudaram o mundo em que viviam. Suas ações começaram com pequenos acontecimentos, mas logo foram aumentando em ações que reverberaram através das vidas de muitas pessoas. Em 1955, nos Estados Unidos, o Movimento dos Direitos Civis para negros americanos estava adormecido, até que uma mulher, Rosa Parks (1913-2005), fez uma simples ação em sua vida e a chama do Movimento dos Direitos Civis começou a arder intensamente. Nos estados sulistas, os negros americanos eram segregados dos brancos em lugares públicos, escolas e até em ônibus. Os brancos sentavam-se na frente e os negros, atrás, e, caso entrassem mais brancos, o motorista pedia aos negros cederem seus assentos para os brancos. Rosa Parks que voltava do trabalho para casa, recusou-se a ceder seu lugar, um ato simples de desafio ao racismo. Ao final, ela foi retirada do ônibus e presa por “desobediência civil” e, embora não fosse a primeira pessoa a resistir à segregação nos ônibus, Rosa Parks foi um exemplo de desafio à Corte e realçou a insidiosa natureza da segregação. Passaram-se alguns anos para que a segregação fosse retirada das comunidades sulinas (até o regime dos Kennedys). Quando Rosa morreu em 2005, houve, em seu funeral, a presença de pessoas ilustres como Oprah Winfrey (1954 - ) e Condolezza Rice (1954 -  ), que, na época, era Secretária de Estado, um dos cargos mais altos nos Estados Unidos. Ela declarou que não estaria onde estava se não fosse pela ação desafiadora de Rosa Parks. O Congresso dos Estados Unidos declarou Rosa “A Primeira Dama dos Direitos Civis”. Entre 1983 e 1985, a Etiópia e outras áreas do norte da África sofreram uma seca terrível que produziu enorme fome e morte. Um repórter da BBC fotografou a tragédia e postou seu documentário na TV BBC. O cantor de rock, Bob Geldof (1951 -  ), ficou tão impressionado com a situação das pessoas famintas que disse: “Tenho que fazer algo sobre isso”, e fez. O trabalho bem documentado que realizou, não apenas angariou fundos para alimentar os famintos, mas despertou a compaixão em escala global e fez todos nós nos sentirmos responsáveis pelos necessitados. E não foi um ato final. Bob continua trabalhando por essa causa e inspirou muitas pessoas a assumirem uma ação global para muitos outros diferentes fins. Na área política, temos Mahatma Gadhi (1869-1948) que foi inspirado pelos ensinamentos teosóficos e lutou pela independência nacional da Índia, não pelo confronto violento, mas pela resistência passiva. Suas ações inspiraram muitos que lutam pela paz no mundo. Um exemplo é Aung San Suu Kyi (1945 -  ) da República de Myanmar que teve atitude passiva contra o regime militar de Myanmar, e encorajou seus seguidores a não “lutar” com os soldados que os atacavam. Essa resistência levou vinte anos, mas Aung venceu – agora está livre e eleita para o governo; Outro defensor da paz é Nelson Mandela (1918-2013), da África do Sul, que começou sua vida como guerreiro, lutando violentamente contra o apartheid, pelo qual foi condenado a muitos anos de prisão. Contudo, quando foi solto, após 27 anos, recomeçou sua luta pela liberdade de seu povo, não pela ação violenta, mas pela negociação pacífica. A contribuição que cada uma dessas três pessoas deu ao mundo é o exemplo de como lidar com questões de confrontos, sem raiva ou ressentimento, mas com amor e harmonia. Eles não foram seres perfeitos e, por isso, tiveram muitas fragilidades de personalidade. Contudo, a ressonância karmica que iniciaram vai reverberar não apenas na época atual como também no futuro e serão brilhantes exemplos, para quem luta por liberdade. No mundo de hoje, estamos inundados com muitas facetas do mundo na internet, que tem muitos aspectos bons e muitos maus aspectos. O ponto mais importante é a assombrosa maneira de ligar as pessoas em todo mundo. Uma organização à qual estou ligada na internet é Avaaz, palavra que significa “voz” em diversas línguas. Avaaz pede que as pessoas assinem petições via e mail em diversos assuntos, desde sociais a ambientais, e agora tem cerca de dezesseis milhões de pessoas de 194 países ligadas a sua rede de petições. Uma exitosa petição recente foi amparar Malala Yousafzai (1997-  ), do Paquistão, em sua luta pelos direitos das meninas paquistanesas à educação. A petição de 886.000 assinaturas foi apresentada ao Presidente Asif All Zardari (1955 -  ) que também a assinou, e agora foi aprovado o fundo para colocar mais três mil crianças nas escolas do Paquistão. Isso mostra como as ações de uma adolescente podem trazer mudanças e dar ao povo não apenas informação, mas um canal em que possam expressar suas preocupações e realmente mudar o mundo. Muitas vezes, quando assinamos uma petição, a tela mostra quem mais está assinando e informa quantas pessoas tem a mesma preocupação que nós. Nossas formas de pensamentos ficam ligadas numa atividade que contribuirá para resolver os problemas mundiais. Nossos ensinamentos teosóficos dizem-nos que o ser humano deve desenvolver a mente. Temos que nos afastar do processo do pensamento baseado no instinto e reação e ir para o estado de pensar que abrange um amplo espectro de toda vida que está a nosso redor. Esse tipo de pensamento é a contribuição que a humanidade deve fornecer para a evolução da vida. Contudo, para os indivíduos, a contribuição é a essência de sua natureza – a destreza e qualidades que desenvolve e compartilha com todos a seu redor. É este nosso dharma ou dever – desenvolver ao máximo nossa habilidade, nossa singularidade que damos ao Todo. Nosso karma é a ressonância da realização de nosso dharma, uma ressonância que ecoa não apenas em nosso mundo individual, mas através do tempo e espaço, na vida no planeta Terra. Lembremos assim, que cada pensamento, cada emoção, cada ação estão moldando o mundo de amanhã. Assim contribuamos de coração e com felicidade com nossa singularidade inerente, enquanto exploramos todas as possibilidades do ser humano neste incrível mundo. Porque, como disse Lanthe Hoskins, cada vida é única e uma experiência, mas todas fazem parte deste maravilhoso processo denominado “Evolução da Consciência”. Da Revista Theosophia. Aos amigos do Mosaico japoneses, hindus, chineses, argentinos, franceses, ucranianos, alemães, russos, americanos e brasileiros. Um ótimo fim de semana. Beijos. Davi.

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