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SONHOS. Os sonhos vêm fascinando os homens ao longo da História. Tornaram-se
símbolos de esperança de um futuro melhor, inspiraram místicos e poetas,
cientistas e filósofos. E, desde as mais remotas épocas, o homem tem procurado
entender as mensagens e significados desses fenômenos intrigantes, envoltos em
mistério. Os sonhos vêm fascinando os homens ao longo da História. Tornaram-se
símbolos de esperança de um futuro melhor, inspiraram místicos e poetas,
cientistas e filósofos. E, desde as mais remotas épocas, o homem tem procurado
entender as mensagens E significados desses fenômenos intrigantes, envoltos em
mistério. O que tem variado, ao longo do tempo, é a importância que lhes é
atribuída e a compreensão que se tem dos mesmos. No judaísmo, sempre tiveram um
papel importante. Os profetas da Torá, prediziam o futuro, trazendo advertência
e mensagem divina. Para o Talmud, os sonhos são um meio de comunicação entre o
Divino e os homens. O Zohar leva este conceito mais adiante, afirmando que num
mundo onde não há mais profetas, a Sabedoria Divina pode vir a ser revelada
através dos sonhos. Numa visão mais terrena, mais concreta, são vistos como a
chave para auto avaliação pessoal pois, ainda segundo o Livro do Esplendor - o
Zohar, já citado, tem o potencial de auxiliar em nosso cotidiano. Mas, alertam
nossos sábios, nem todos os sonhos são mensagens e nem todas as mensagens são
verdadeiras. Por isso, antes de adentrar neste mundo e na riqueza de suas
interpretações, precisamos de muita cautela e uma certa desconfiança. A própria
Torá nos exorta a ficar longe de quem usa os sonhos como presságios, bem como
daqueles que afirmam ver a presença Divina em seus sonhos, usando tal argumento
como "prova" para apregoar que D'us os teria investido de algum tipo
de autoridade. Na história. As culturas antigas os consideravam
portadores de importantes mensagens. Diziam que seus ancestrais e deuses se
comunicavam através dos sonhos. Mas, a partir da Era Moderna, do cientificismo,
o homem ocidental abandonou a idéia de que os sonhos podiam ter algum
significado e suas interpretações passaram a ser vistas como meras
superstições. Quando Sigmund Freud (1856-1939) começou a pesquisar a literatura
médica de sua época em busca de informações sobre os sonhos, descobriu que
pouco havia sobre o tema. Em 1899, ao publicar "A interpretação dos
sonhos", foi ridicularizado por seus pares e sua teoria de que continham
significados foi considerada absurda, durante vários anos. Hoje, a ciência
moderna, principalmente a psicologia, vê os sonhos como poderosa ferramenta
para aperfeiçoar o bem-estar emocional e físico do homem. Afinal, o sono e a
produção da mente humana durante esse período desempenham um papel vital em
nossa vida, pois passamos um terço da mesma dormindo e, durante o sono, sonhamos
em um quarto desse tempo. A ciência caminhou bastante no conhecimento dos
mecanismos do sono e seus ciclos. Sabemos que nele há duas fases: A primeira,
chamada NREM - em português, Não-REM, de Non-Rapid Eye Movement, movimentos
oculares não rápidos - que ocupa 75% do tempo que dormimos. Nesta fase, a
pressão sanguínea e o batimento cardíaco decrescem e o cansaço físico é
eliminado. A segunda, a fase REM, de movimentos rápidos dos olhos, ocupa os
restantes 25%. Esta fase é a base de nossa recuperação psíquica e é nela que
ocorrem os sonhos. Após a ciência ter estabelecido que todo homem sonha,
cientistas e psicólogos vêm tentando explicar a razão e o mecanismo que nos
fazem sonhar. Várias são as teorias sobre o assunto. Umas afirmam que sonhar
nos permite processar as experiências de nosso cotidiano; outras que os sonhos
podem, de forma simbólica e em linguagem própria, revelar questões de nossa
personalidade que precisam ser trabalhadas, além de apresentar soluções para os
problemas do cotidiano e regular emoções internas. De forma simplista, os
sonhos são "avisos" de que algo precisa ser feito. Outra linha de
pensamento os vê como uma forma de acessar nosso inconsciente coletivo. Numa
visão mais biológica, o sonhar permite ao sistema nervoso livrar-se de memórias
"desnecessárias" e, ao fazê-lo, estimula a mente. O judaísmo leva
muito a sério este assunto, sendo surpreendente a quantidade de referências que
há sobre o fenômeno, na Torá, no Talmud, no Midrash, assim
como em obras filosóficas, códigos de leis judaicas e especialmente na Cabalá e
na Chassidut. Nestas e em outras obras, os sábios discutem e tentam
responder a perguntas do tipo "como e por quê sonhamos"; "como e
quem pode interpretar um sonho"; "qual a importância que se deve
atribuir aos sonhos", se é que se deve. E, finalmente, "o que fazer
quando ficarmos perturbados por um sonho negativo". O sono: viagem da
alma. De acordo aos textos sagrados do judaísmo, o sono e os sonhos
desempenham um papel importante em nossa vida. O primeiro contribui diretamente
à saúde física e mental. Por isso, o ser humano não deve negar a si próprio um
descanso adequado, pois é através deste que recuperamos energias e abrimos
nossa mente a influências superiores. Além do mais, ensina a Cabalá, o sono tem
um propósito espiritual, como também o têm outras atividades necessárias ao
corpo, tais como comer e beber. Quando dormimos, explica o Zohar, algo
extraordinário nos acontece: a alma - que pode ser comparada a um periscópio
que tudo vê, até mesmo o que os olhos não alcançam - liberta-se das limitações
e vínculos que o corpo lhe impõe enquanto acordado e se eleva em direção à sua
fonte espiritual. Lá se "recarrega" e, ao despertarmos, retorna para
começar um novo dia. Apenas uma pequena parte de nossa alma fica ligada ao
corpo enquanto dormimos. O quanto a alma consegue se elevar e atingir esferas
espirituais superiores depende das ações e conduta do homem, durante o dia.
Quanto mais puro for o coração de uma pessoa e quanto mais honesta sua vida,
mais altas serão as esferas com as quais sua alma conseguirá conectar-se.
Enquanto está em sintonia com sua fonte - onde não há limitações de tempo e
espaço impostas por nosso mundo material - a alma recebe avisos ou visões de
eventos futuros. Mas, se a alma não atingir igual pureza e as ações do homem
não tiverem igual retidão, sua alma fica retida em uma esfera mais baixa, onde
forças impuras a impedem de se elevar. Estas próprias forças impuras podem
revelar à alma certos assuntos mundanos e terrenos. Muitas das "revelações"
são falsas, enquanto outras podem conter algum fundo de verdade. Há sábios que
dizem que estas forças negativas são o nosso próprio ego. Todos esses
vislumbres são, em seguida, filtrados de volta para o corpo. E, após serem
mentalmente "processados" e transformados em símbolos, tomam a forma
de sonhos. Tipo de sonhos. Segundo o Talmud, um sonho é uma forma menor
de profecia (Berachot, 57b). Desta afirmação pode-se concluir que o mesmo pode
conter predições ou advertências, mas há que se fazer a respeito importantes
ressalvas. Todos os sonhos, alertam nossos Sábios, mesmo os que vêm das esferas
mais elevadas, contêm alguma coisa inverossímil, algo que não é verdade.
"Assim como é impossível encontrarem-se espigas de milho sem palha",
ensina o Talmud, "assim também não existem sonhos sem aspectos vãos".
Há que se diferenciar, também os sonhos proféticos de outro tipo de sonhos.
Mesmo em se tratando de sonhos decorrentes de alguma conexão da alma com
esferas espirituais superiores, nem todos os sonhos são iguais. Raros são os
sonhos proféticos que transmitem a Voz e a Vontade Divina. Maimônides, em cuja
obra podemos encontrar vasta análise sobre sonhos proféticos, afirmava que
muitos profetas "viram" suas profecias em sonho. Numa categoria
inferior estão os sonhos que contêm visões. Apesar destes terem um significado
básico positivo ou negativo, não têm, como os proféticos, um significado
absoluto. Podem, portanto, ser influenciados de alguma forma pela interpretação
que lhes é atribuída. Como vimos anteriormente, nem todo sonho é de origem
Divina. Alguns ocorrem quando a alma fica à mercê de forças espirituais
negativas, das quais recebe, por assim dizer, "informações". Há uma
outra categoria de sonhos, aqueles que são simples reflexos de nossa mente.
Resultam de pensamentos e acontecimentos do cotidiano de cada um de nós. Nada
mais são do que consequências naturais de nossa constituição psicológica e
física, "incrementadas" pela nossa imaginação. Um acontecimento que
deixe forte impressão, ou uma refeição pesada, podem ser responsáveis por um
sonho perturbador. A maior parte de nossos sonhos é composta por uma mistura de
imagens criadas pela mente com algum vislumbre vivenciado pela alma. Para os
místicos, deve-se atentar mesmo para os sonhos que são reflexos de nossa mente,
já que podem revelar emoções profundas e ocultas que devem ser confrontadas.
Não é correto ignorá-los ou descartá-los como "irrelevantes". Outra
característica básica dos sonhos é seguirem uma lógica diferente da que
elaboramos quando despertos, na qual podem coexistir opostos, paradoxos e
contradições. Quando estamos acordados, somos seres racionais, realistas, ao
passo que ao sonhar vivemos experiências totalmente diferentes, sem limitações
temporais ou espaciais. Sonhos proféticos na Torá. São de nossos
patriarcas os primeiros sonhos proféticos relatados na Torá. O primeiro é de
Abraão. Ao cair em sono profundo, ouviu D'us lhe prometer que seria pai de uma
grande nação e lhe mostrar o futuro de sua descendência, assegurando-lhe que
deles seria a Terra de Israel. O segundo pertence a Jacó. Enquanto dormia, viu
uma escada que se erguia do solo e cujo topo chegava aos Céus, pela qual anjos
subiam e desciam. No alto, estava o Eterno, que falou a Jacob (Gênese, 28:
12-13). Prometeu-lhe proteção e assegurou-lhe que a terra pertenceria à sua
descendência. Através desse sonho extraordinário, D'us desvenda a Jacob não
apenas o seu próprio destino, mas principalmente o futuro de seus descendentes.
O terceiro sonho profético relatado na Torá é de José, que sonhou com os feixes
nos campos. Chamado por seus irmãos de "sonhador" e "mestre dos
sonhos", José, que tanto em seus sonhos como em suas interpretações via a
Mão de D'us, é sem dúvida o mais famoso interpretador de sonhos de toda a Torá.
Estes têm um papel muito importante em sua vida e, consequentemente, na
história do povo judeu. Se por causa de um sonho iniciaram-se suas
atribulações, a solução do enigma contido em vários outros sonhos funcionou
como um tapete voador em seu caminho rumo ao poder, no Egito. Outras figuras
bíblicas receberam mensagens Divinas em seus sonhos, entre os quais o Rei
David, o Rei Salomão e os profetas Samuel e Daniel. Outros ouviram a Voz de
D'us através de sonhos e receberam mensagens que sustentaram o povo judeu
particularmente no exílio. Ensina o Talmud, "Mesmo que esconda Meu rosto a
Israel, comunicar-Me-ei com ele por meio de sonhos" (Talmud Chaguigá,
5b). Interpretação de sonhos. Se os sonhos têm fascinado os homens
através dos tempos, tentar desvendar suas mensagens constituíram um fascínio
ainda maior. O tratado Berachot, do Talmud, que consagra muitas páginas à sua
interpretação, afirma que "Um sonho não interpretado é como uma carta não
aberta" (Talmud Berachot, 55a). Mas quem estaria habilitado a
interpretá-los? Houve sábios judeus que se dedicaram ao estudo dos sonhos e de
suas interpretações. Os reis da antiga Israel contavam com assessores que
possuíam o dom e o conhecimento para fazê-lo. Sabiam que os sonhos
clarividentes só podiam ser interpretados por alguém com espírito elevado e em
conexão com a Fonte Divina. Pois que é D´s, Ele Mesmo, em Sua Plenitude, quem
provê a chave para se deslindar o segredo dos sonhos. O Todo Poderoso, se
comunica através de imagens e a solução do enigma de cada sonho nele mesmo é
contida. Mas, se a maioria deles não são proféticos, como interpretá-los? O
Talmud ensina que "o sonho segue o poder dos lábios" - ou seja, segue
a interpretação que lhe for dada, contanto que esta seja consistente com seu
conteúdo. Pois está escrito que "assim como nos foi interpretado, assim
aconteceu". Sendo assim, temos que procurar sempre interpretar os sonhos
para o bem. Somente os sonhos proféticos, que transmitem a Voz e Mensagem
Divina, têm significado absoluto. Isto quer dizer que não podem ser mudados por
diferentes interpretações, como no caso dos sonhos dos patriarcas. Por outro
lado, mesmo os que são definidos como "visões" e que contêm avisos e
um significado básico, podem ser, de alguma forma, influenciados por diferentes
interpretações. Os sonhos chamados de "falsos" ou "comuns"
são sujeitos a distintas interpretações. Não podem ser entendidos como
presságio definitivo sobre algum evento futuro, nem como significado único. Têm
uma multiplicidade de significações plausíveis. Neste caso, lhe é atribuída uma
explicação, e, enquanto o sonho não for interpretado, oculto permanecerá o seu
significado. O Talmud relata que na época do Segundo Templo havia em Jerusalém
24 pessoas com o dom de interpretar sonhos. Houve mesmo situações em que para
um mesmo sonho foram dadas 24 interpretações diferentes, todas consistentes -
e, o que mais impressiona - todas se realizaram (Berachot, 55b).
Perguntamo-nos, por quê? Os sábios explicam que a maioria dos sonhos contêm
vários significados possíveis, que são "acionados" por suas
respectivas interpretações. Mas, como é possível que a palavra tenha o poder de
definir o significado de um sonho? Esta pergunta foi amplamente discutida.
Segundo o Zohar e o Talmud, sua interpretação tem um papel decisivo em seu
significado porque o sonho é uma "profecia menor" - ou, para sermos
mais exatos, o sonho é o nível mais baixo da Revelação Divina. Sua mensagem
resulta de uma mistura de "revelações" com os produtos de nossa
imaginação. É sobre este último aspecto do sonho que o poder da palavra exerce
influência determinante. A palavra, arma potente que pode ser usada pelo homem
tanto para o bem como para o mal, tem o poder de influenciar o aspecto
espiritual da realidade. No caso dos sonhos, a palavra os concretiza, dá-lhes
forma e "direção". É como se fosse o primeiro passo para sua
materialização. Isto posto, não é difícil entender por que nossos sábios nos
alertam sobre com quem devemos compartilhá-los. Não devemos fazê-lo com
qualquer pessoa, pois, como vimos, sua importância depende não só da
compreensão de quem os sonhou, como também da interpretação que outros lhe
possam acrescentar. O Zohar nos exorta a revelar nossos sonhos apenas ao amigo
mais próximo, a alguém que zele por nosso bem. Tamanha cautela decorre do medo
de que o ouvinte perverta seu significado. Um sonho ruim pode transformar-se em
bom, desde que seja interpretado para o bem - e vice-versa. A preocupação com a
inveja, o charlatanismo e o "comércio da espiritualidade" está
presente nessas advertências. Ao ler as páginas do Talmud, podemos observar que
a interpretação dos sonhos sempre foi "um bom negócio", como na
história de Bar Hedia (Berachot, 56a). Especializado em interpretar
sonhos, ele o fazia de uma forma bem peculiar: quanto melhor o pagamento, mais
favorável a revelação do sonho (...). Transformando Sonhos. Uma das
perguntas mais frequentes é o que se deve fazer ao ter um sonho bom. E quando
for ruim? Ensina o Zohar que se o sonho é bom, devemos lembrá-lo para que se
realize, pois "um sonho esquecido nunca se cumpre". Mas, nunca se
cumprirá em sua totalidade, pois como Rav Chisda afirmava, "um sonho
positivo não se destina a se realizar em toda a sua plenitude, assim como um
negativo tampouco se cumprirá em sua totalidade (Berachot, 55a)". E
os sonhos ruins? Como vimos acima, há sonhos que nada significam, são simples
fruto de nossa imaginação ou de algum mal-estar físico. Aliás, os sábios
alertam que, se durante o dia tivermos sérias preocupações ou motivos para
angústia, não devemos preocupar-nos com um eventual sonho negativo. Além do
mais, até que seja interpretado, o sonho não é nem positivo nem negativo.
Relata o Talmud: quando Samuel tinha um sonho ruim, recitava o seguinte verso
"Os sonhos contam-nos mentiras". E, com isso, desmistificava a noção
de que tinham um significado. Por outro lado, quando se via diante de um sonho
positivo, dizia: "Mas será que mentem os sonhos? Pois que está escrito que
'Em um sonho Eu falarei a ele (...)' - o que implícita que os sonhos podem
conter mensagens verdadeiras". Há, também, inúmeros exemplos no Talmud do
que dissemos acima, que um sonho negativo pode ser transformado em positivo
pela interpretação que recebe, e vice-versa. Por exemplo, há uma passagem em
que Bar Kapará disse ao Rebi: "Em sonhos, vi que minhas mãos haviam sido
cortadas". E Rebi lhe respondeu que "isto significa que você não mais
precisará do trabalho de suas mãos". Em outras palavras, ele ia prosperar
e, no futuro, não precisaria executar trabalho manual para garantir seu
sustento. Mesmo os sonhos negativos têm, na literatura rabínica, o seu lado
positivo. Podem levar-nos a uma autoanálise, a rever nossas ações. Consta,
também, que a tristeza ou o sofrimento mental que sentimos no decorrer do sonho
serve como forma de expiação de nossas falhas. Mas, se apesar de todas essas
explicações - de certa forma "aliviadoras" - a pessoa continua
impressionada com algum sonho, há várias formas de se despreocupar. Entre
outras, a oração e a tzedaká, pois ambas têm o poder de afastar "decretos
negativos". Há também uma oração descrita no Talmud para
"remediar" os supostos maus desígnios contidos em um sonho. Durante a
oração intitulada Hatavat Chalom - o "aperfeiçoamento do
sonho" - aquele que teve um sonho ruim apresenta-se diante de três amigos
que, por meio de fórmulas rabínicas e combinações dos Salmos, simbolicamente
"revertem" o aspecto negativo do sonho, restaurando a confiança na
pessoa angustiada. www.morasha.com.br.
Abraço. Davi
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