segunda-feira, 20 de agosto de 2018

O PODER TRANSFORMADOR DAS VIRTUDES


Editor do Mosaico. O Poder Transformador das Virtudes. Vamos refletir sobre o texto bíblico de Mateus 19,16 - 22. "Eis que alguém aproximando, lhe perguntou: Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna? Ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtaras, não dirás falso testemunho. Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; o que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. E vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, por que possuía muitas propriedades". O filósofo Sócrates (469 AC 399) fez uma clássica definição de virtude, "é a arte da capacidade de perceber e realizar o bem". Um dito popular que podemos aplicar ao jovem rico é o que diz: "a mente, mente, descaradamente". O jovem da parábola, enganava-se, imaginando que por cumprir os mandamentos estaria apto para entrar na vida eterna. Quando refletimos em virtude podemos dizer: "falar do bem e do belo é bom e só faz bem". O perceber o bem é um primeiro passo para trilhar uma vida virtuosa. Uma ilustração disso é sabermos que uma flor desabrochará em um momento determinado. Mas, vendo este evento o desejo da beatitude é realizado. Assim, a virtude é uma ação motivada pelo coração. Conta uma lenda persa, que um jovem foi a procura de sua amada. Encontrou-a em uma casa trancada num dos quartos. Ele várias vezes bateu na porta, pedindo que ela abrisse, mas a súplica foi negada. Então decidiu percorrer a periferia da aldeia onde morava procurando os pobres e necessitados para ajudá-los conforme pudesse. Platão (428 AC 328) e seus discípulos reconheciam que a virtude tinha como componentes (prudência, sabedoria, coragem e verdade) quatro aspectos. A prudência (cautela e cuidado) como a primeira categoria, mostra a necessidade de se evitar tudo o que possa ser prejudicial ou inconveniente. Também é revelada quando usamos o bom senso e o comedimento. É difícil precisar o termo sabedoria que é o segundo requisito. Ela está ligada a temperança (moderação nos desejos e apetites), tendo sobriedade nas escolhas e decisões. A sabedoria é adquirida pela experiência de vida humana, além do conhecimento acumulado ao longo do tempo. A coragem como o terceiro item, é a força ou energia moral diante do perigo ou de situações adversas. Uma atitude de ânimo e bravura frente aos desafios da vida. A verdade como o quarto elemento é a realidade para além dos sentidos e da percepção. As filosofias e religiões buscam a "verdade" para iniciarem seus processos de desvelamento dos mistérios exotéricos (externos, abertos ao público) e os esotéricos (internos, ocultos, só aos iniciados). A "verdade" é a base da virtude quando praticada com ética e moral nos contextos humanos. O jovem do conto persa, após suas andanças exercitando a virtude, volta à casa da amada, bate novamente na porta onde ela está trancada. Com alegria, vê a porta abrir-se, e recebe um apertado abraço da moça. Mateus 7, 7 "Pedi, e vos dará, buscai e achareis, batei e vos abrirá. Pois, aquele que pede recebe, o que busca encontra, e a quem bate se abrirá". Nossa condição é de ambiguidade em relação a virtude. Bem e mal residem em nossa personalidade. O bem está em nossa parte superior chamada de individualidade, composta da vontade, intuição e consciência. Essa é a tríade superior, que na filosofia hindu é manas, buddhy e atman, sendo a instância que conecta nossa alma espiritual a Divindade Eterna. O mal é manifestado em nossa parte inferior chamada de personalidade, tendo como itens o corpo físico, a energia sutil, as emoções e a mente concreta apegada ao materialismo. É a esfera dos desejos mundanos e vontades egoístas. Aqui nestes dois aspectos temos a dualidade (luta mortal) do ego inferior com o ego superior. Se em nossa experiência cotidiana permitirmos a preponderância de nossa individualidade espiritual, praticaremos atos de justiça. Apocalipse 19,8 "pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos". Esses "atos" representam as elevadas virtudes humanas. Os místicos das várias tradições religiosas (judaica, budista, hindu, islâmica e cristã) cogitam a pessoa virtuosa como aquele que é capaz de separar as coisas materiais das espirituais. O joio do trigo. Algo dificílimo, pois o joio é cópia fiel do trigo, diferenciando-se apenas na época da colheita. Caso, o inepto, se atreva a ceifá-lo antes, constatará a triste realidade de ter jogado o trigo no fogo. Romanos 8,6 "Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz". Esse ensinamento dos místicos leva o iniciado na Senda a alcançar um considerável nível de pureza e santidade. Ser puro é a qualidade de não estar misturado a elementos mundanos. É o exercício de um alto padrão de moralidade, ética e fraternidade. Mateus 19,18-19 "Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe e, amarás o teu próximo como a ti mesmo". O jovem rico da parábola inicial, cumpria esses quesitos de pureza, contudo é necessário ser também uma pessoa santa. A santidade é uma entrega do coração pelo exercício do altruísmo e abnegação à favor do próximo. Uma experiência não de troca (cambio) pelo merecimento, mas atitudes e comportamentos desprovidos de uma futura recompensa. Um bom exemplo dessa santidade é São Francisco de Assis (1182-1226) que com os seus três votos (pobreza, castidade e obediência) mostrou seu compromisso com os desamparados e desprotegidos da sociedade. Ele considerava a pobreza como sua esposa. A castidade como sua irmã e a obediência era sua senhora. Entendam que é uma citação, do santo, que tinha esse propósito desde o início de sua conversão quando na visão da capela, percebendo a imagem do Cristo crucificado. A santidade hoje, podemos explicar como um compromisso de vivermos conectados a Alma Universal laborando pelo interesse da fraternidade humana. Ao final da sua vida São Francisco, "estigmatizado" pelas feridas do Mestre Jesus, confidencia à sua íntima amiga Santa Clara (1194-1253); sua tristeza por ver o Movimento Franciscano desviando-se completamente de seus objetivos primordiais. Depois da grande expansão (Europa, Ásia e África) os franciscanos se organizaram, sistematizaram-se, fundaram escolas, universidades e, hierarquizando-se criaram bancos de investimentos. Seus teóricos formularam conceitos de propriedade pública e privada. Tudo isso no século XII e XIII. Essa não era a visão original de São Francisco quando os primeiros discípulos se agregaram. Santa Clara teria dito que ele deveria fazer um último voto: abrir mão do movimento e deixá-lo seguir seu próprio caminho. A ideia do apego, tão combatida nas principais tradições, retrocede nossa pureza ao objetivo divino, mesmo que ela tenha boas intenções e dignifique os objetivos pelos quais iniciamos o projeto que Deus nos capacitou a fazê-lo. A santa, queria dizer, que tudo vêm de Deus e nenhuma glória, mesmo que mínima podemos atribuir ao nosso esforço ou dedicação. O Mestre Jesus ensinou ao jovem rico que suas atitudes apesar de puras, manifestavam um coração impuro, pois ele comparava as coisas espirituais com "negócios" terrenais onde lucros e dividendos deveriam ser creditados ou diminuídos. Enxergava as "obras" que realizava como "cotas" para aumentar seu capital na empresa "celestial". Ele, como nós, devemos assumir uma postura de pureza e santidade. Um despojar de nosso egoísmo e mesquinhez materialista, para uma entrega; contribuindo com o que temos e o que somos para a grande família humana através da irmandade universal. Davi.

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