Espiritismo. www.institutoandreluiz.org. Texto
de Allan Kardec (1804-1869). DA PROIBIÇÃO DE EVOCAR OS MORTOS. 1 - A Igreja de
modo algum nega a realidade das manifestações. Ao contrário, como vimos nas
citações precedentes, admite-as totalmente, atribuindo-as à exclusiva
intervenção dos demônios. É debalde invocar os Evangelhos como fazem alguns
para justificar a sua interdição, visto que os Evangelhos nada dizem a esse
respeito. O supremo argumento que prevalece é a proibição de Moisés. A seguir
damos os termos nos quais se refere ao assunto a mesma pastoral que citamos nos
capítulos precedentes: "Não é permitido entreter relações com eles (os
Espíritos), seja imediatamente, seja por intermédio dos que os evocam e
interrogam. A lei mosaica punia os gentios. Não procureis os mágicos, diz
o Levítico, nem procureis saber coisa alguma dos adivinhos, de maneira a vos
contaminardes por meio deles. (Cap. XIX, v. 31). Morra de morte o homem ou a
mulher em quem houver Espírito pitônico; sejam apedrejados e sobre eles recaia
seu sangue. (Cap. XX, v. 27) O Deuteronômio diz: Nunca exista entre vós quem
consulte adivinhos, quem observe sonhos e agouros, quem use de malefícios,
sortilégios, encantamentos, ou consultem os que têm o Espírito pitônico e se
dão a práticas de adivinhação interrogando os mortos. O Senhor abomina todas
essas coisas e destruirá, à vossa entrada, as nações que cometem tais
crimes." (Cap. XVIII, vv. 10, 11 e 12). 2 - É útil, para melhor
compreensão do verdadeiro sentido das palavras de Moisés, reproduzir por
completo o texto um tanto abreviado na citação antecedente.
Ei-lo: "Não vos desvieis do vosso Deus para procurar mágicos; não
consulteis os adivinhos, e receai que vos contamineis dirigindo-vos a eles. Eu
sou o Senhor vosso Deus." (Levíticos cap. XIX, v. 31) O homem ou a mulher
que tiver Espírito pitônico ou de adivinho, morra de morte. Serão apedrejados,
e o seu sangue recairá sobre eles." (Idem, cap. XX, v. 27). Quando
houverdes entrado na terra que o Senhor vosso Deus vos há de dar, guardai-vos;
tomai cuidado em não imitar as abominações de tais povos; e entre vós ninguém
haja que pretenda purificar filho ou filha passando-os pelo fogo; que use de
malefícios, sortilégios e encantamentos: que consulte os que têm o Espírito de
Píton e se propõem adivinhar, interrogando os mortos para saber a verdade. O
Senhor abomina todas essas coisas e exterminará todos esses povos, à vossa
entrada, por causa dos crimes que têm cometido. (Deuteronômio cap. XVIII, vv.
9, 10, 11 e 12). 3 - Se a lei de Moisés deve ser tão rigorosamente observada
neste ponto, força é que o seja igualmente em todos os outros. Por que seria
ela boa no tocante às evocações e má em outras de suas partes? É preciso ser
consequente. Desde que se reconhece que a lei mosaica não está mais de acordo
com a nossa época e costumes em dados casos, a mesma razão procede para a
proibição de que tratamos. Demais, é preciso expender os motivos que
justificavam essa proibição e que hoje se anularam completamente. O legislador
hebreu queria que o seu povo abandonasse todos os costumes adquiridos no
Egito, onde as evocações estavam em uso e facilitavam abusos, como se infere
destas palavras de Isaías: "O Espírito do Egito se aniquilará de si mesmo
e eu precipitarei seu conselho; eles consultarão seus ídolos, seus adivinhos,
seus pítons e seus mágicos." (Cap. XIX, v. 3). Os israelitas não deviam
contratar alianças com as nações estrangeiras, e sabido era que naquelas nações
que iam combater encontrariam as mesmas práticas. Moisés devia, pois por
política, inspirar aos hebreus aversão a todos os costumes que pudessem ter
semelhanças e pontos de contato com o inimigo. Para justificar essa aversão,
preciso era que apresentasse tais práticas como reprovadas pelo próprio Deus, e
dai estas palavras: - "O Senhor abomina todas essas coisas e destruirá, à
vossa chegada, as nações que cometem tais crimes." 4 - A proibição de Moisés era assaz
justa, porque a evocação dos mortos não se originava nos sentimentos de
respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um recurso para
adivinhações, tal como nos augúrios e presságios explorados pelo charlatanismo
e pela superstição. Essas práticas, ao que parece, também eram objeto de
negócio, e Moisés, por mais que fizesse, não conseguiu desentranhá-las
dos costumes populares. As seguintes palavras do profeta justificam o
asserto: "Quando vos disserem: Consultai os mágicos e adivinhos que
balbuciam encantamentos, respondei: Não consulta cada povo ao seu Deus? E aos
mortos se fala do que compete aos vivos?" (Isaías, cap. VIII, v. 19).
"Sou eu quem aponta a falsidade dos prodígios mágicos; quem enlouquece os
que se propõem adivinhar, quem transtorna o espírito dos sábios e confunde a
sua ciência vã." (Cap. XLIV, v. 25) "Que esses adivinhos, que estudam
o céu, contemplam os astros e contam os meses para fazer predições, dizendo
revelar-vos o futuro, venham agora salvar-vos. Eles tornaram-se como a palha, e
o fogo os devorou; não poderão livrar suas almas do fogo ardente; não restarão
das chamas que despedirem, nem carvões que possam aquecer, nem fogo ao qual se
possam sentar. Eis ao que ficarão reduzidas todas essas coisas das quais vos
tendes ocupado com tanto afinco: os traficantes que convosco traficam desde a
infância foram-se, cada qual para seu lado, sem que um só deles se encontre que
vos tire os vossos males." (Cap. XLVII, vv. 13, 14 e 15). Neste
capítulo, Isaías dirige-se aos babilônios sob a figura alegórica "da
virgem filha de Babilônia, filha de caldeus". (v. 1) Diz ele que os
adivinhos não impedirão a ruína da monarquia. No seguinte capítulo dirige-se
diretamente aos israelitas. "Vinde aqui vós outros, filhos de uma
agoureira, raça dum homem adúltero e de uma mulher prostituída. De quem
vos rides vós? Contra quem abristes a boca e mostrastes ferinas línguas? Não
sois vós filhos perversos de bastarda raça; vós que procurais conforto em
vossos deuses debaixo de todas as frontes, sacrificando-lhes os tenros
filhinhos nas torrentes, sob os rochedos sobranceiros? Depositastes a vossa
confiança nas pedras da torrente, espalhastes e bebestes licores em sua honra,
oferecestes sacrifícios. Depois disso como não se acender a minha
indignação?" (Cap. LVII, vv. 3, 4, 5 e 6). Estas palavras são inequívocas
e provam claramente que nesse tempo as evocações tinham como fim a adivinhação,
ao mesmo tempo que constituíam comércio, associadas às práticas da magia e do
sortilégio, acompanhadas até de sacrifícios humanos. Moisés tinha razão,
portanto, proibindo tais coisas e afirmando que Deus as abominava. Essas
práticas supersticiosas perpetuaram-se até à Idade Média, mas hoje a razão
predomina, ao mesmo tempo que o Espiritismo veio mostrar o fim exclusivamente
moral, consolador e religioso das relações de além-túmulo. Uma vez, porém, que
os espíritas não sacrificam criancinhas nem fazem libações para honrar deuses;
uma vez que não interrogam astros, mortos e augures para adivinhar a verdade
sabiamente velada aos homens; uma vez que repudiam traficar com a faculdade de
comunicar com os Espíritos; uma vez que os não move a curiosidade nem a
cupidez, mas um sentimento de piedade, um desejo de instruir-se e melhorar-se,
aliviando as almas sofredoras; uma vez que assim é, porque o é, a proibição de
Moisés, não lhes pode ser extensiva. Se os que clamam injustamente contra
os espíritas se aprofundassem mais no sentido das palavras bíblicas,
reconheceriam que nada existe de análogo, nos princípios do Espiritismo, com o
que se passava entre os hebreus. A verdade é que o Espiritismo condena tudo que
motivou a interdição de Moisés; mas os seus adversários, no afã de encontrar
argumentos com que rebatam as novas ideias, nem se apercebem que tais
argumentos são negativos, por serem completamente falsos. A lei civil
contemporânea pune todos os abusos que Moisés tinha em vista reprimir. Contudo,
se ele pronunciou a pena última contra os delinquentes, é porque lhe faleciam
meios brandos para governar um povo tão indisciplinado. Esta pena, ao demais,
era muito prodigalizada na legislação mosaica, pois não havia muito onde
escolher nos meios de repressão. Sem prisões nem casas de correção no deserto,
Moisés não podia graduar a penalidade como se faz em nossos dias, além de que o
seu povo não era de natureza a atemorizar-se com penas puramente disciplinares.
Carecem, portanto, de razão os que se apoiam na severidade do castigo para
provar o grau de culpabilidade da evocação dos mortos. Conviria, por
consideração à lei de Moisés, manter a pena capital em todos os casos nos quais
ele a prescrevia? Por que, então, reviver com tanta insistência este artigo,
silenciando ao mesmo tempo o princípio do capítulo que proíbe aos sacerdotes a
posse de bens terrenos e partilhar de qualquer herança, porque o Senhor é a sua
própria herança? (Deuteronômio, cap. XXVIII, vv. 1 e 2). 5 - Há duas partes distintas na lei
de Moisés: a lei de Deus propriamente dita, promulgada sobre o Sinal, e a lei
civil ou disciplinar, apropriada aos costumes e caráter do povo. Uma dessas
leis é invariável, ao passo que a outra se modifica com o tempo, e a ninguém
ocorre que possamos ser governados pelos mesmos meios por que o eram os judeus
no deserto e tampouco que os capitulares de Carlos Magno (742-814) se moldem à
França do século XIX. Quem pensaria hoje, por exemplo, em reviver este artigo
da lei mosaica: "Se um boi escornar um homem ou mulher, que disso morram,
seja o boi apedrejado e ninguém coma de sua carne; mas o dono do boi será
julgado inocente"? (Êxodo, cap. XXI, vv. 28 e seguintes.) Este artigo, que
nos parece tão absurdo, não tinha, no entanto, outro objetivo que o de punir o
boi e inocentar o dono, equivalendo simplesmente à confiscação do animal, causa
do acidente, para obrigar o proprietário a maior vigilância. A perda do boi era
a punição que devia ser bem sensível para um povo de pastores, a ponto de
dispensar outra qualquer; entretanto, essa perda a ninguém aproveitava, por ser
proibido comer a carne. Outros artigos prescrevem o caso em que o proprietário
é responsável. Tudo tinha sua razão de ser na legislação de Moisés, uma
vez que tudo ela prevê em seus mínimos detalhes, mas a forma, bem como o fundo,
adaptavam-se às circunstâncias ocasionais Se Moisés voltasse em nossos dias
para legislar sobre uma nação civilizada, decerto não lhe daria um código igual
ao dos hebreus. 6 - A esta
objeção opõem a afirmativa de que todas as leis de Moisés foram ditadas em nome
de Deus, assim como as do Sinal. Mas julgando-as todas de fonte divina, por que
ao decálogo limitam os mandamentos? Qual a razão de ser da diferença? Pois não
é certo que se todas essas leis emanam de Deus, devem ser igualmente
obrigatórias? E por que não conservaram a circuncisão, à qual Jesus se submeteu
e não aboliu? Ah!, esquecem, que para dar autoridade às suas leis, todos os
legisladores antigos lhes atribuíam uma origem divina. Pois bem: Moisés, mais
que nenhum outro, tinha necessidade desse recurso, atento o caráter do seu
povo; e se, a despeito disso, ele teve dificuldade em se fazer obedecer, que
não sucederia se as leis fossem promulgadas em seu próprio nome! Não veio Jesus
modificar a lei mosaica, fazendo da sua lei o código dos cristãos? Não disse
ele: "Vós sabeis o que foi dito aos antigos, tal e tal coisa, e eu vos
digo tal outra coisa?" Entretanto Jesus não proscreveu, antes sancionou a
lei do Sinai, da qual toda a sua doutrina moral é um desdobramento. Ora, Jesus
nunca aludiu em parte alguma à proibição de evocar os mortos, quando este era
um assunto bastante grave para ser omitido nas suas prédicas, mormente tendo
ele tratado de outros assuntos secundários. 7 - Finalmente convém saber se a Igreja coloca a lei mosaica acima
da evangélica, ou por outra, se é mais judia que cristã. Convém também notar
que, de todas as religiões, precisamente a judia é que faz menos oposição ao
Espiritismo, porquanto não invoca a lei de Moisés contrária às relações com os
mortos, como fazem as seitas cristãs. 8 - Mas temos ainda outra contradição: Se Moisés proibiu evocar os
mortos, é que estes podiam vir, pois do contrário inútil fora a proibição. Ora,
se os mortos podiam vir naqueles tempos, também o podem hoje; e se são
Espíritos de mortos os que vêm, não são exclusivamente demônios. Demais, Moisés
de modo algum fala nesses últimos. É duplo, portanto, o motivo pelo qual não se
pode aceitar logicamente a autoridade de Moisés na espécie, a saber: primeiro,
porque a sua lei não rege o Cristianismo; e, segundo, porque é imprópria aos
costumes da nossa época. Mas, suponhamos, que essa lei tem a plenitude da
autoridade por alguns outorgada, e ainda assim ela não poderá, como vimos,
aplicar-se ao Espiritismo. É verdade que a proibição de Moisés abrange a
interrogação dos mortos, porém de modo secundário, como acessória às práticas
da feitiçaria. O próprio vocábulo interrogação, junto aos de adivinho e
agoureiro, prova que entre os hebreus as evocações eram um meio de adivinhar;
entretanto, os espíritas só evocam mortos para receber sábios conselhos e obter
alivio em favor dos que sofrem, nunca para conseguir revelações ilícitas.
Certo, se os hebreus usassem das comunicações como fazem os espíritas, longe de
as proibir, Moisés acoroçoá-las-ia, porque o seu povo só teria que lucrar. 9 - É certo que alguns críticos
jucundos ou mal-intencionados têm descrito as reuniões espíritas como
assembleias de necromantes ou feiticeiros, e os médiuns como astrólogos e
ciganos, isto porque talvez quaisquer charlatães tenham afeiçoado tais nomes às
suas práticas, que o Espiritismo não pode, aliás, aprovar. Em compensação, há
também muita gente que faz justiça e testemunha o caráter essencialmente moral
e grave das reuniões sérias. Além disso, a Doutrina, em livros ao alcance de
todo o mundo, protesta bem alto contra os abusos, para que a calúnia recaia
sobre quem merece. 10 - A
evocação, dizem, é uma falta de consideração para com os mortos, cujas cinzas
devem ser respeitadas. Mas quem é que diz tal? São os antagonistas de dois
campos opostos, isto é, os incrédulos que nas almas não creem, e os crédulos
que pretendem que só os demônios, e não as almas, podem vir. Quando a evocação
é feita com recolhimento e religiosamente; quando os Espíritos são chamados,
não por curiosidade, mas por um sentimento de afeição e simpatia, com desejo
sincero de instrução e progresso, não vemos nada de irreverente em apelar-se
para as pessoas mortas, como se fizera com os vivos. Há, contudo, uma outra
resposta peremptória a essa objeção, e é que os Espíritos se apresentam espontaneamente,
sem constrangimento, muitas vezes mesmo sem que sejam chamados. Eles também dão
testemunho da satisfação que experimentam por comunicar-se com os homens, e
queixam-se às vezes do esquecimento em que os deixam. Se os Espíritos se
perturbassem ou se agastassem com os nossos chamados, certo o diriam e não
retornariam; porém, nessas evocações, livres como são, se se manifestam, é
porque lhes convém. 11 - Ainda
uma outra razão é alegada: As almas permanecem na morada que a justiça divina
lhes designa, o que equivale dizer no céu ou no inferno. Assim, as que estão no
inferno, de lá não podem sair, posto que para tanto a mais ampla liberdade seja
outorgada aos demônios. As do céu, inteiramente entregues à sua beatitude,
estão muito superiores aos mortais para deles se ocuparem, e são bastante
felizes para não voltarem a esta terra de misérias, no interesse de parentes e
amigos que aqui deixassem. Então essas almas podem ser comparadas aos nababos
que dos pobres desviam a vista com receio de perturbar a digestão? Mas se assim
fora essas almas se mostrariam pouco dignas da suprema bem-aventurança,
transformando-se em padrão de egoísmo! Restam ainda as almas do
purgatório, porém, estas, sofredoras como devem ser, antes que doutra coisa,
devem cuidar da sua salvação. Deste modo, não podendo nem umas nem outras almas
corresponder ao nosso apelo, somente o demônio se apresenta em seu lugar. Então
é o caso de dizer: se as almas não podem vir, não há de que recear pela
perturbação do seu repouso.
12 - Mas aqui reponta uma outra dificuldade. Se as almas
bem-aventuradas não podem deixar a mansão gloriosa para socorrer os mortais,
por que invoca a Igreja a assistência dos santos que devem fruir ainda maior
soma de beatitude? Por que aconselha invocá-los em casos de moléstia, de
aflição, de flagelos? Por que razão e segundo essa mesma Igreja os santos e a
própria Virgem aparecem aos homens e fazem milagres? Estes deixam o céu para
baixar à Terra; entretanto os que estão menos elevados não o podem fazer! 13 - Que os céticos neguem a
manifestação das almas, vá, visto que nelas não acreditam; mas o que se torna
estranhável é ver encarniçar-se contra os meios de provar a sua existência,
esforçando-se por demonstrar a impossibilidade desses meios, aqueles mesmos
cujas crenças repousam na existência e no futuro das almas! Parece que seria
mais natural acolherem como benefício da Providência os meios de confundir os
céticos com provas irrecusáveis, pois que são os negadores da própria religião.
Os que têm interesse na existência da alma deploram constantemente a avalancha
da incredulidade que invade, dizimando-o, o rebanho de fiéis: entretanto,
quando se lhes apresenta o meio mais poderoso de combatê-la, recusam-no com
tanta ou mais obstinação que os próprios incrédulos. Depois, quando as provas
avultam de modo a não deixar dúvidas, eis que procuram como recurso de supremo
argumento a interdição do assunto, buscando, para justificá-la, um artigo da
lei mosaica do qual ninguém cogitara, emprestando-lhe, à força, um sentido e
aplicação inexistentes. E tão felizes se julgam com a descoberta, que não
percebem que esse artigo é ainda uma justificativa da Doutrina Espírita. 14 - Todas as razões alegadas para
condenar as relações com os Espíritos não resistem a um exame sério. Pelo ardor
com que se combate nesse sentido é fácil deduzir o grande interesse ligado ao
assunto. Daí a insistência. Em vendo esta cruzada de todos os cultos contra as
manifestações, dir-se-ia que delas se atemorizam. O verdadeiro motivo poderia
bem ser o receio de que os Espíritos muito esclarecidos viessem instruir os
homens sobre pontos que se pretende obscurecer, dando-lhes conhecimento, ao
mesmo tempo, da certeza de um outro mundo, a par das verdadeiras condições para
nele serem felizes ou desgraçados. A razão deve ser a mesma por que se diz à
criança: "Não vá lá, que há lobisomens." Ao homem dizem: "Não
chameis os Espíritos: São o diabo." Não importa, porém: impedem os homens
de os evocar, mas não poderão impedi-los de vir aos homens para levantar a
lâmpada de sob o alqueire. O culto que estiver com a verdade absoluta nada terá
que temer da luz, pois a luz faz brilhar a verdade e o demônio nada pode contra
esta. 15 -
Repelir as comunicações de além-túmulo é repudiar o meio mais poderoso de
instruir-se, já pela iniciação nos conhecimentos da vida futura, já pelos
exemplos que tais comunicações nos fornecem. A experiência nos ensina, além
disso, o bem que podemos fazer, desviando do mal os Espíritos imperfeitos,
ajudando os que sofrem a desprenderem-se da matéria e a se aperfeiçoarem.
Interdizer as comunicações é, portanto, privar as almas sofredoras da
assistência que lhes podemos e devemos dispensar. As seguintes palavras de
um Espírito resumem admiravelmente as consequências da evocação, quando
praticada com fim caritativo: "Todo Espírito sofredor e desolado vos
contará a causa da sua queda, os desvarios que o perderam. Esperanças, combates
e terrores; remorsos, desesperos e dores, tudo vos dirá, mostrando Deus
justamente irritado a punir o culpado com toda a severidade. Ao ouvi-lo, dois
sentimentos vos acometerão: o da compaixão e o do temor! Compaixão por ele,
temor por vós mesmos. E se o seguirdes nos seus queixumes, vereis então que
Deus jamais o perde de vista, esperando o pecador arrependido e estendendo-lhe
os braços logo que procure regenerar-se. Do culpado vereis, enfim, os
progressos benéficos para os quais tereis a felicidade e a glória de
contribuir, com a solicitude e o carinho do cirurgião acompanhando a
cicatrização da ferida que pensa diariamente." (Bordéus, 1861.). Livro O
Céu E O Inferno. www.institutoandreluiz.org.
Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário